quinta-feira, 28 de março

O que significa a ressurreição para o antigo testamento

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O texto abaixo foi extraído do livro Por que confiar na Bíblia?, de Greg Gilbert, Série Nove Marcas, da Editora Fiel.

 

Mas o que a ressurreição de Jesus e sua autoidentificação como o Cristo têm a ver com a Bíblia? Tudo. O Antigo Testamento ensinava que a autoridade do Messias englobaria tudo, seria multifacetada, universal e absoluta. Ele dominaria todas as áreas da vida e da existência. Mas uma área em especial em que ele teria autoridade era no falar da parte de Deus Pai. Em outras palavras, ele seria profeta par excellence. Deus até mesmo disse que enviaria um profeta como Moisés e prometeu: “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Dt 18.18). Isso porque Jesus podia dizer algo ousado como: “Em verdade, em verdade, vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz” (João 5.19). E por isso João diria sobre Jesus: “Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida” (João 3.34). O Cristo era também o Profeta, Aquele que revela perfeitamente quem é Deus e o que Deus diz. Entendendo isso, é surpreendente ver como Jesus – o Cristo, o Profeta, Aquele que tem perfeita autoridade para falar da parte de Deus – tratava do Antigo Testamento em todo o seu ministério. Tome, por exemplo, o relato de Lucas sobre o que Jesus disse a seus discípulos depois da ressurreição:

A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (Lc 24.44)

Ora, os judeus frequentemente usavam um termo mais curto para se referir aos livros de seu Antigo Testamento: ou “a Lei, os Profetas e os Escritos” ou simplesmente “a Lei e os Profetas”. Assim, quando Jesus falou sobre “a Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (o livro dos Salmos representando os Escritos, como o maior livro dessa coleção) terem de ser cumpridos, estava endossando e ratificando a autoridade de todo o Antigo Testamento, do começo ao fim. (Incidentalmente, ele também definia o escopo do cânone do Antigo Testamento como os trinta e nove livros tradicionalmente reconhecidos pelos judeus.) Mas o testemunho de Jesus quanto ao Antigo Testamento vai ainda mais fundo. Não somente ele o considerava autoridade, como também disse que era a própria Palavra de Deus. Veja esta passagem de Mateus 19.

Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. (Mt 19.3-6)

A história aqui é que alguns dos líderes de Israel estavam perguntando a Jesus sobre seu entendimento da Escritura. Está claro que eles não estavam muito interessados no que ele tinha a dizer; eles queriam era pegá-lo em uma armadilha para desacreditá-lo. Como ocorreu esse diálogo em si é fascinante, mas eu quero que você entenda que Jesus identificou o que dizia “Portanto, deixa o homem seu pai e sua mãe” como “aquele que os criou”. O interessante é que, se você olhar para trás, para Gênesis, notará que a frase não foi atribuída a Deus. Pelo contrário, é um comentário sobre essa situação pelo autor humano de Gênesis. Mas aqui está o ponto: Jesus entendia até mesmo as partes do Antigo Testamento nas quais Deus não estava falando como as palavras de Deus.

Podemos ver o mesmo em Marcos 12.36, onde Jesus cita um salmo escrito por Davi, mas inicia assim: “O próprio Davi, pelo Espírito Santo, declarou…” Veja só! Do começo ao fim, Jesus, o Messias, endossou e confirmou que toda palavra do Antigo Testamento era a Palavra de Deus e, portanto, era a verdade do começo ao fim. Foi esse o caso em seu ensino sobre Deus, e, de acordo com Jesus, era também o caso de suas reivindicações históricas. Em algum ponto nos quatro Evangelhos, Jesus fala e trata como historicamente corretas todas as pessoas e histórias do Antigo Testamento: Adão e Eva, Caim e Abel, Noé, Abraão, Sodoma e Gomorra, Isaque, Jacó, Moisés, o maná caindo no deserto, a serpente de bronze, Davi e Salomão, a Rainha de Sabá, Elias e Eliseu, a viúva de Sarepta, Naamã, Isaías, Jeremias, Zacarias e até Jonas sendo engolido por um peixe gigante. Ele cria em tudo isso em todos os detalhes. Isso é importante porque ele era o Cristo.

Ora, às vezes as pessoas tropeçam neste ponto dizendo: “Mas Jesus não corrigiu alguns lugares do Antigo Testamento? Ele não achava que alguns lugares estavam errados ou eram inadequados, e mandou seus seguidores crerem em outra coisa diferente?”. Bem, não. Havia ocasiões em que Jesus dizia coisas como: “Ouvistes o que foi dito… eu, porém, vos digo…”. Não temos tempo para examinar em detalhes essas ocasiões (você poderá encontrar explanações completas em qualquer bom comentário da Bíblia), mas precisamos reconhecer que, em cada um desses pontos, Jesus não estava corrigindo o Antigo Testamento. Ele estava corrigindo as tentativas erradas, falsas e até maliciosas por parte dos fariseus de fugirem do verdadeiro significado do Antigo Testamento ou de formularem exceções absurdas para si mesmos. Longe de corrigir o Antigo Testamento, Jesus estava realmente exercendo sua autoridade profética de rei, de dizer o que o Antigo Testamento realmente dizia em primeiro lugar, ou seja, reafirmando seu poder, sua autoridade e a verdade na vida dos israelitas. As- sim, ele explicou pouco antes de começar seu famoso Sermão do Monte: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17).

É claro que ainda haverá perguntas sobre a hermenêutica e a interpretação, como devemos entender isso e como isso se encaixa na vida cristã, as alianças e as dispensações e tudo o mais. Além disso, o Antigo Testamento apresenta suas próprias questões singulares no que diz respeito à transmissão, à canonização e à autoria, e você pode ler grandes livros escritos por acadêmicos cristãos sobre todos esses tópicos. Mas aqui há algo importante: por que todos esses grandes livros começam com a crença de que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus? Porque Jesus, o Messias ressuscitado, disse assim. Portanto, nós cremos nisso.

 


Autor: Greg Gilbert

Greg Gilbert é o pastor principal da ­Third Avenue Baptist Church, em Louisville (Kentucky). É formado pela universidade de Yale e obteve seu mestrado em teologia pelo Southern Theological Seminary. É preletor de conferências teológicas e escreve frequentemente para o Ministério 9 Marcas.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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