quinta-feira, 28 de março

A responsabilidade dos pais e o papel do professor na educação escolar cristã

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O texto abaixo foi extraído do livro: O Que Estão Ensinando aos Nossos Filhos, de Solano Portela, da Editora Fiel

A Quem Pertence a Responsabilidade de Educar?

Tendo verificado o conceito de Educação Escolar Cristã, necessitamos examinar a questão das responsabilidades e divisão de funções, na difícil tarefa de educar. Essa responsabilidade é tripla: é dos pais, da escola e dos professores.

A Responsabilidade dos Pais

A Bíblia apresenta a responsabilidade de educar como uma determinação primordial aos pais. Não existem dúvidas a este respeito, basta verificarmos as seguintes passagens bíblicas:

• 1 Timóteo 5.8 – “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente”. Este verso mostra a responsabilidade dos chefes de família para com os seus, em todos os aspectos, envolvendo, certamente, a responsabilidade de educar e instruir os seus filhos.

• Provérbios 22.6 – “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele”. Este é um versículo certamente dado aos pais. Frequentemente é interpretado como uma admoestação à instrução religiosa, mas, como já observamos, a instrução verdadeira não cobre apenas o aspecto especificamente “religioso”, mas deve abranger o ensino pertinente a todas as áreas da vida.

• Efésios 6.4 – “E vós, pais,… criai os [vossos filhos] na disciplina e na admoestação do Senhor”. Isto é, aprendendo a ver a Deus e a respeitá-lo em todas as áreas de sua vida, em tudo que possa vir a aprender. Mais uma vez, a responsabilidade da criação e da instrução é particularizada aos pais.

• Deuteronômio 6.6 e 7 – “Estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te”. Aqui temos o princípio didático da repetição, para eficácia na assimilação (retratado ainda nos versículos 8 e 9). Os pais tinham a responsabilidade de educar os filhos eficazmente no temor do Senhor. No versículo 2 deste trecho, vemos que o conteúdo a ser ensinado aos filhos, era os mandamentos detalhados do Senhor, nos quais o relacionamento destes com as tarefas da vida diária de cada um eram delineados. Assim fazendo, as suas vidas seriam prolongadas e abençoadas à medida que os Estatutos do Senhor fossem nelas observados e refletidos nas vidas dos filhos.

• Salmo 78.1 a 4 – Nesta conhecida passagem, nós vemos a responsabilidade da transmissão das verdades divinas de pai para filho ordenada por Deus. Todo o Salmo é bem explícito no que diz respeito ao conteúdo a ser transmitido, demonstrando que a tarefa dos pais no sentido de educar não diz respeito somente à comunicação de princípios teológicos, aquilo que comumente chamamos de “educação religiosa”. No caso aqui apresentado, vemos uma exposição da mão de Deus na história, efetivando os seus propósitos e desígnios, em todas as esferas da vida. Este tipo de relacionamento, próprio da Educação Escolar Cristã, isto é, a apresentação dos fatos históricos ou científicos como obra de Deus, também está colocado sob a área de responsabilidade dos pais.

Temos assim explicado este dever principal dos pais. A negligência nesta determinação divina pode causar o descaso na execução desta responsabilidade. A criança necessita da segurança e do amparo oferecido pelo lar e pela família. É ali que o amor genuíno deve ser experimentado, acompanhando passo a passo a maturação intelectual das crianças. O amor aliado à formação integral da criança é um relacionamento humano insubstituível entre pais e filhos. Nessa tarefa de educar, os pais procuram encorajar, enquanto ensinam; demonstram o resultado dos esforços de cada criança, definem limites, obrigações e privilégios, enfatizam o respeito às demais pessoas – superiores, pares e inferiores, seguindo em todos esses aspectos, com sabedoria, as abundantes diretrizes bíblicas do relacionamento interpessoal determinado por e que agrada a Deus. Todos esses aspectos podem e devem ser emulados pela escola e pelos educadores, sem a pretensão de substituição da autoridade paternal.

O Papel da Escola

O fato da responsabilidade de educar pertencer aos pais não significa que estes não possam se organizar para o cumprimento desta tarefa. A formação de instituições e a busca do devido auxílio é uma procura legítima. Isto lhes possibilitará não apenas imprimir o melhor direcionamento, mas também obter o melhor conteúdo e as formas mais eficazes de transmissão de conhecimentos. Na realidade, por causa da complexidade da vida moderna e da multiplicação das disciplinas a serem ministradas, os pais precisam de bastante ajuda e organização. Antigamente a sociedade agrária, que era mais limitada e restrita, possibilitava que os pais ensinassem aos filhos as próprias profissões que haveriam de seguir. Naquela época não era incomum a existência de várias gerações dedicadas ao mesmo tipo de atividades. Esta situação já não mais existe; as condições de trabalho e da vida em sociedade mudaram bastante. Neste contexto a educação escolar cristã adquire uma importância toda especial, ministrada por uma instituição alinhada com os propósitos divinos, empregada como uma ferramenta, pelos pais, na difícil tarefa de educar.

Em um sentido específico, a Escola Cristã deve ser considerada uma extensão do lar cristão. Ela deve estar sempre consciente de que a justificativa para a sua existência é o mandato concedido pelos pais. Os pais e a escola, juntos, trabalham com um só propósito, que é o de conceder à criança a possibilidade de atingir a maturidade cultural e espiritual. Isto capacitará as pessoas a entrarem numa vida de adoração e serviço ao Deus soberano, com humildade e fé, destacando-se como bons especialistas e cidadãos nas atividades para as quais demonstraram talentos naturais e nas quais receberam o melhor treinamento. Neste sentido ela tem de ser devidamente equipada e contar com o pessoal mais qualificado possível.

O Papel do Professor Cristão

As considerações acima nos trazem até ao professor cristão. O professor, ou a professora:

a. Certamente deve ser uma pessoa que reúna qualificações profissionais e acadêmicas, de tal forma que possa ser um testemunho vivo de que aquilo que é de melhor qualidade deve ser colocado a serviço do Senhor.

b. Deve ser uma pessoa comprometida a viver uma vida de serviço fiel para Deus, em Cristo, e de dedicação ao homem por amor a Deus.

c. Deve possuir equilíbrio e integração em todas as áreas de sua personalidade para que possa transmitir segurança aos jovens.

d. Deve estar bem consciente de que a sua tarefa lhe foi comissionada pelos pais. O professor não é um substituto destes, nem como centro de afeições, nem como formulador das diretrizes. Deve se considerar um auxiliador dos pais, tendo como missão orientar a aquisição de conhecimentos e o treinamento dos talentos naturais de seus alunos, fortalecendo a família, sob o temor do Senhor.

e. Deverá, por último, conhecer o significado verdadeiro do que é a Educação Escolar Cristã; os seus preceitos e as suas bases, devendo formular os seus ensinamentos dentro da estrutura que definimos nas páginas precedentes.

Poderíamos dizer, na realidade, que o professor cristão é a chave do sucesso da Escola Cristã, bem como o seu requisito principal. Sem ele de nada adiantará a correta orientação filosófica, pois esta não conseguirá ser transmitida adequadamente aos alunos. Como uma peça chave, será também a de mais difícil aquisição e formação. Durante anos o professor cristão tem recebido o treinamento severo e continuo das instituições seculares e bebido todas as filosofias anti-Deus que estão sorrateiramente camufladas em materiais didáticos pseudo-objetivos.

Poderíamos dizer que o primeiro passo no estabelecimento de uma escola verdadeiramente cristã, seria o de recrutar professores qualificados e dedicados, dentro do campo evangélico, e efetivar com estes um longo período de treinamento filosófico cristão. Ao fim deste treinamento uma seleção deve ser efetivada, com o aproveitamento dos que compreendam as bases corretas do trabalho a ser desenvolvido. Não deverá constituir nenhuma surpresa se, ao final de tal programa, esbarrarmos com uma ou mais pessoas que não conseguem traduzir a sua fé e dedicação cristã, por mais piedosas que sejam, em princípios que orientem a tarefa diária que as espera. Todos nós, cristãos, temos sido induzidos, uns de forma mais direta do que outros, a realizar as nossas atividades de forma errônea, como se elas subsistissem em compartimentos estanques, isoladas umas das outras. Assim procedendo, inibimos a influência prática e filosófica do evangelho em nossas atividades diárias, consideradas como “seculares”. Os professores não se constituem exceção a esta regra. Como já mencionamos, eles também foram exercitados por Satanás, em sua filosofia (utilizamos aqui o termo “exercitar” conforme empregado em 2 Pedro 2.14 – no original a palavra grega é “gymnazo”, de onde extraímos o nosso vocábulo “ginásio”, de exercícios ou de esportes). Diante disso, o professor cristão, de modo geral, necessita hoje ser treinado e exercitado pela orientação da Palavra da Verdade.


Autor: Solano Portela

Presbítero e membro da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, São Paulo, graduado em Ciências Exatas (B.A em Artes 1971), fez o mestrado (Th. M) em Teologia Sistemática no Bíblical Tehological Seminary (EUA, 1974). Solano Portela, além de suas atividades no campo empresarial, em São Paulo, é professor, escritor, educador, tradutor e conferencista. É casado co Elizabeth Zekveld Portela e tem 3 filhos (David, Daniel e Darius) e uma filha (Grace).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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