quinta-feira, 28 de março

Um coração entendido

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“Pede-me o que queres que eu te dê”, disse o Senhor ao rei Salomão (1 Rs 3.5). E o filho de Davi pediu um “coração entendido” (v. 9-ARC). Ele não pediu os dons mais elevados, nem o que seu pai teria pedido (Sl 27.4). Salomão pediu coisas valiosas — perspicácia, bom senso, entendimento, a capacidade de compreender as pessoas e situações, sabedoria prática para “julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal”.

E lemos: “Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa” (v. 10). Discernimento é o que muitos crentes também parecem carecer intensamente.

Por que buscar um coração entendido?

As razões de Salomão para querer discernimento ainda são válidas. As responsabilidades dele eram pesadas — “Teu servo está no meio do teu povo… povo grande, tão numeroso, que se não pode contar… quem poderia julgar a este grande povo?” (vv. 8, 9.)

Ele estava ciente de suas limitações pessoais: “Não passo de uma criança, não sei como conduzir-me” (v. 7). Conforme ilustrado no caso dos bebês das prostitutas (vv. 16-28), Salomão precisava tomar decisões a respeito de assuntos desconcertantes e complexos.

De modo semelhante, os líderes cristãos cumprem responsabilidades importantes em situações pastorais complicadas, conscientes de sua própria incapacidade. Como sabemos quando podemos fazer concessões e quando devemos permanecer firmes?

Como discernimos, em um caso específico, quanto ocorreu por causa do pecado e quanto por causa de ignorância? Como podemos encontrar as pessoas onde elas estão e trazê-las aonde desejamos que estejam?

Todo crente precisa de entendimento — ou como pai, ou no lugar de trabalho, ou na vida da igreja. E um bom começo é admitir esta necessidade. Tenha cuidado com a pessoa que não tem dúvidas sobre si mesma (Pv 28.26). Matthew Henry comentou: “Absalão, que era tolo, quis ser juiz por conta própria. Salomão, que era sábio, tremeu ante à sua incumbência e duvidou que estivesse preparado para desempenhá-la”.

Como podemos obter um coração entendido?

Um dos meus professores de teologia costumava começar a ano letivo com uma advertência a respeito das limitações do currículo: “Rapazes, podemos ensinar grego a uma pessoa, mas não podemos lhe ensinar discernimento”.

É verdade. Algumas pessoas são dotadas com perspicácia, enquanto outras deixam uma trilha de danos em seu caminho — sentimentos magoados, mal-entendidos, ofensas. Elas não pretendiam isso, mas é a maneira como elas são. Não importa quais sejam nossos dons naturais, todos podemos obter mais discernimento.

Como? Peça a Deus um coração entendido. A oferta de Deus a Salomão não foi exclusiva, pois temos a promessa: “Pedi, e dar-se-vos-á” (Mt 7.7).

Tiago é mais específico: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5). Devemos orar fervorosamente ao nosso Pai celestial pedindo-Lhe grande medida de discernimento, a fim de que trabalhemos mais eficazmente com as pessoas.

A Bíblia nos fornece muito “senso comum”, pois “o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento” (Pv 2.6). A seção das Escrituras descrita como “Literatura de Sabedoria” tem este título apropriadamente, e um cristão que assimila, de modo regular, o livro de Provérbios, cresce especialmente por meio de uma fonte de tesouros de perspicácia prática.

Professores valiosos

A experiência — a nossa ou a de outros — é um professor valioso para aqueles que estão dispostos a aprender dela. Suas lições podem ser severas — erros cometidos e sofrimentos a serem suportados. Mas são singularmente valiosas. Algumas das pessoas de mais discernimento que já conheci sofreram provação, em algum grau, no passado. E o tempo de provação tornou-as mais sábias.

Também podemos aprender muito por ouvir. As palavras traduzidas “coração entendido” significam “um coração que tem a capacidade de ouvir”. Você é um bom ouvinte? Aqueles que não têm discernimento raramente o são. Eles são muito absorvidos por si mesmos para ouvir os outros com atenção.

Zenão, o filósofo estóico, não era cristão, mas não era um tolo. “Temos dois ouvidos e uma boca”, ele disse, “para que ouçamos duas vezes mais do que falamos”. Talvez o caminho mais proveitoso para obter discernimento é colocar-se no lugar da outra pessoa.

Esta foi a maneira como Salomão chegou à sua brilhante solução no caso dos dois bebês, um morto e o outro vivo. Que difícil julgamento ele teve de fazer! Testemunhos desconfiáveis, evidências conflitantes, nenhum modo claro de provar a qual mulher o bebê pertencia.

Até que ele assumiu imaginariamente o lugar da verdadeira mãe. “Como eu me sentiria”, perguntou a si mesmo, “se eu fosse a mãe do bebê vivo?” E concebeu o teste cruel, mas eficaz, para descobrir onde estava o instinto maternal.

O lugar do outro

Este é o caminho que nos leva a um coração entendido, que nos capacita a cumprir eficazmente as nossas responsabilidades. Marido, coloque-se no lugar de sua esposa, quando você retorna ao lar, vindo do trabalho. O que você acha que ela espera de você. Mãe, lembre o que é ser um adolescente, antes de conversar com sua filha a respeito de roupas ou amigos.

Pastores, enquanto realizam aquela difícil visita para disciplinar alguém, pare e, em oração, imagine os sentimentos daqueles com os quais você se encontrará. Eles ficarão amedrontados, com raiva, apáticos e procurarão se defender? O que lhe dizem o seu conhecimento e experiência a respeito deles?

Pregadores, enquanto preparam o sermão, tenham diante de si aquela viúva idosa, o atarefado homem de negócios, o adolescente confuso — todos os que ouvem a mensagem de vocês. Se estivessem no lugar deles, que tipo de sermão os ajudaria?

Coloque-se no lugar da outra pessoa. Este é o modo como desenvolvemos discernimento. Freqüentemente o chamamos de regra áurea: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lc 6.31).

É proveitoso porque, em efeito, é uma substituição — e a substituição é o âmago da realidade eterna. É uma força restauradora e libertadora porque se molda nAquele que tomou o nosso lugar — “o Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).


Autor: Edward Donnelly

Edward Donnelly foi criado na Igreja Reformada Presbiteriana e se formou na Queen's University e em Teologia na RP Seminary, Pittsburgh, USA. Donney já escreveu alguns livros. Ele também é diretor e professor de Antigo Testamento na Reformed Presbyterian College, em Belfast.

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