sexta-feira, 19 de abril

Quando nossas esperanças são frustradas

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*O trecho abaixo foi extraído com permissão do Livro Depressão e Graça, de Wilson Porte Jr, Editora Fiel.

É praticamente impossível definir certas virtudes presentes no cristianismo. Como definir o amor? Como definir graficamente o perdão? E, entre tantos outros benefícios que o Espírito Santo traz ao coração dos que amam a Deus, a esperança talvez seja a mais difícil de se definir.

Os brasileiros costumam dizer que “a esperança é a última que morre”. Esperança é a palavra que muitos usam na política para angariar votos. Esperança é a palavra mais usada pelas religiões. Todavia, hoje em dia, há um grande número de pessoas em depressão por causa de alguma esperança frustrada.

A esperança está sempre ligada ao futuro. E, como o futuro de tudo e de todos é incerto, a esperança sempre estará ligada ao indescritível. Todos nós precisamos dela. Todos, em alguma medida, lidamos com a esperança ou com sua ausência. E, assim, todos devemos compreender o que a Sagrada Escritura diz sobre nossa segurança quanto ao futuro.

Esperança é o ato de esperar. E esperar não é fácil! Ainda mais quando se espera tanto por algo que, depois de um longo tempo, acontece de uma forma completamente diferente daquela que sonhamos ou imaginamos. Nesse momento, ficamos frustrados… “a esperança é a última que morre”, mas, para alguns, aparentemente já morreu.

Frustrando-se com quem você menos imagina
Uma história na Bíblia sobre esperança frustrada sempre me chamou muito a atenção. Ela nos fala de dois jovens que nutriam grande esperança quanto à vida e ao ministério de Jesus, mas que, no dia da crucificação, tudo acabou se desmoronando. Eles imaginavam que Jesus Cristo libertaria os judeus do jugo do Império Romano. Esperavam que o Messias fosse um grande libertador nacional. Seguiram-no, confiaram nele e, sinceramente, esperavam que a vida dele não terminasse daquela forma: recebendo a pior e mais terrível pena de morte da época: a crucificação. Leia atentamente essa história e veja como o Senhor lhes abriu os olhos para que compreendessem a verdadeira esperança que Deus deseja que todos nós tenhamos.

Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem haveria de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam. É verdade também que algumas mulheres, das que conosco estavam, nos surpreenderam, tendo ido de madrugada ao túmulo; e, não achando o corpo de Jesus, voltaram dizendo terem tido uma visão de anjos, os quais afirmam que ele vive. De fato, alguns dos nossos foram ao sepulcro e verificaram a exatidão do que disseram as mulheres; mas não o viram. Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.

Quando se aproximavam da aldeia para onde iam, fez ele menção de passar adiante. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica conosco, porque é tarde, e o dia já declina. E entrou para ficar com eles. E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e outros com eles, os quais diziam: O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão! Então, os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão.

Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco! Eles, porém, surpresos e atemorizados, acreditavam estarem vendo um espírito. Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dúvidas ao vosso coração? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: Tendes aqui alguma coisa que comer? Então, lhe apresentaram um pedaço de peixe assado [e um favo de mel]. E ele comeu na presença deles.

A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.

Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu. Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus. (Lc 24.13-53)

Esse evento teve lugar no dia em que Cristo ressuscitou, no primeiro dia de um novo mundo que ressuscitou com ele. No entanto, as bênçãos desse novo mundo estavam atadas a um grupo muito pequeno que havia seguido e aprendido com Jesus de Nazaré. E, mesmo entre estes, a esperança que tinham sobre esse novo mundo foi frustrada quando o grande libertador e Messias acabou sendo morto da maneira mais trágica possível no primeiro século da era cristã.

Esperanças frustradas
Esse texto nos apresenta a história de dois jovens cujas esperanças haviam sido frustradas naquele dia. Eles estavam tristes. Haviam sido discípulos de Jesus, cheios de esperança de que ele seria aquele que devolveria a Israel um reino independente e soberano. Pois Cristo era tido por muitos como aquele que devolveria o reino a Israel. Cristo havia falado sobre o reino. Havia feito milagres e ensinado coisas que o apontavam como o Messias esperado. Havia uma grande expectativa sobre o Nazareno. Todavia, quando o viram crucificado, pairou a seguinte dúvida: será ele mesmo o filho de Deus que viria ao mundo? Não era ele quem restauraria o reino em Israel? E como, então, fora crucificado, morto e sepultado?!

Com a morte de Cristo, muitos se frustraram e se entristeceram. Até os onze apóstolos ficaram cheios de dúvida e medo de acabarem mortos também. É quando Cleopas e seu amigo estão a caminho para a pequena aldeia chamada Emaús, que ficava a pouco mais de onze quilômetros de Jerusalém. Enquanto caminhavam, dizem as Escrituras, o próprio Jesus aproximou-se deles e começou a acompanhar a conversa, perguntando-lhes: “Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós?”. E, nesse momento, Cleopas para e, muito entristecido (v.17), e estranhando sua pergunta, responde: “És tu o único peregrino em Jerusalém que não soube das coisas que nela têm sucedido nestes dias?”. E, Jesus, chamando-os para a conversa, pergunta: “Quais?”.

Daí, então, percebemos a tristeza de Cleopas e seu amigo por causa de uma esperança frustrada. No verso 21, eles confessam o que esperavam do tal Jesus de Nazaré: “Ora, esperávamos que fosse ele quem havia de remir Israel”. Porém, já era domingo, e Jesus fora crucificado na sexta-feira, às nove da manhã. Às três da tarde, estava morto, sendo rapidamente sepultado antes das seis da tarde. Era domingo de Páscoa! O próprio Jesus ressuscitado estava ali ao lado deles, e eles não se deram conta disso. Com frequência, eventos que parecem ser devastadores são fundamentais para a ação e o propósito de Deus em nossas vidas.

Após exporem àquele peregrino desconhecido sobre o que havia acontecido em Jerusalém naqueles últimos dias, e a razão pela qual estavam tão tristes e frustrados, Jesus lhes diz:

Ó néscios, e tardos de coração para crerdes em tudo o que os profetas disseram! Porventura não importa que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.

Foi assim que teve início a pregação mais fantástica de toda a história da humanidade. O próprio Jesus pregou para uma audiência de duas pessoas sobre si mesmo, o Messias, expondo, durante horas, todo o Antigo Testamento. Quanto eu gostaria de ter estado ali, ouvindo a voz doce e suave do Redentor, e ter meu coração aquecido por palavras tão puras, tão santas, tão libertadoras e tão sábias!

Mas, dentro dos propósitos de Deus, a pregação daquele dia estava destinada apenas àqueles dois jovens frustrados. E, assim, ambos ouviram tudo com muita atenção, até chegarem ao seu destino. Não sei se você já conhecia essa história e se já havia parado para pensar em suas implicações. Vamos refletir um pouco mais.

Uma pregação mais do que fantástica!
Deve ter sido a pregação mais fantástica de toda a história. Jesus, pregando em todo o Antigo Testamento, para aqueles dois apenas ouvirem! Que maravilhoso deve ter sido para aqueles jovens ouvirem da boca do próprio Cristo a mensagem da salvação! E Lucas nos diz que, quando eles estavam se aproximando de Emaús, Jesus simulou que caminharia para mais longe. Os discípulos, porém, insistiram para que ele ficasse, jantasse e dormisse na casa deles. E Jesus aceitou. Assim, na hora da refeição, após Jesus ter dado graças pelo alimento, os olhos de ambos foram “abertos” para perceberem que aquele peregrino era o próprio Jesus que havia sido morto. E, então, Jesus desapareceu.

Eles correram de volta os onze quilômetros até Jerusalém para contar tudo isso aos onze apóstolos e, enquanto contavam, eis que Jesus novamente apareceu no meio deles, deixando a todos com um misto de medo, alegria e espanto. Agora não havia mais dúvida para ninguém: Jesus havia ressuscitado!

Da mesma forma que aqueles discípulos no caminho de Emaús, também nós não estamos livres de nos frustrarmos com esperanças e expectativas em nossa vida espiritual. Deus nos deixou muitas promessas. E nós, quando as conhecemos, agarramo-nos a todas. E, como as promessas de Deus para nós são de vida eterna, abundante, maravilhosa, às vezes não entendemos o porquê das dificuldades e dos sofrimentos.


Autor: Wilson Porte

É bacharel em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida e mestre em Teologia-histórica pelo Centro de Pós Graduação Andrew Jumper. É pastor da Igreja Batista Liberdade (SP) e professor no Seminário Martin Bucer e na Sociedade de Estudos Bíblicos Interdisciplinares. Wilson Porte é casado com Rosana e pai de Natan e Ana.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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