terça-feira, 16 de abril

Refúgio divino

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Os filhos de Israel, enquanto estiveram no Egito e peregrinaram pelo deserto, eram uma figura visível da igreja de Deus na terra. Nessa passagem, Moisés estava falando, primariamente, sobre eles, todavia, em segundo plano, se referiu a todos os eleitos de Deus, em todas as épocas. Ora, assim como Deus era a habitação de seu povo de Israel, Ele tem sido o refúgio de todos os seus santos durante todos os séculos. Deus era a habitação de Israel especialmente quando eles estavam em escravidão e seu jugo era pesado. Quando eles tiveram de fazer tijolos sem receberem palha, e os superintendentes de Faraó os oprimiram, eles clamaram ao Senhor. Deus ouviu o clamor dos filhos de Israel e enviou-lhes seu servo Moisés.

De maneira semelhante, freqüentemente nos surgem épocas quando começamos a nos sentir oprimidos por Satanás. Creio que muitos crentes piedosos sentem a escravidão resultante da posição que ocupam. Mesmo alguns daqueles que nunca se converteram ao Senhor têm bastante sensibilidade para reconhecer que, às vezes, o serviço a Satanás é muito árduo, produz pouquíssima satisfação e envolve riscos terríveis. Alguns homens não podem fazer tijolos sem palha, por muito tempo, e não se tornarem relativamente conscientes de que estão em uma casa de servidão. Esses, que não fazem parte do povo de Deus, encontrando-se sob a pressão mental resultante da descoberta parcial de seu estado, voltam-se para algum tipo de justiça própria ou de prazer, a fim de esquecerem seu fardo e seu jugo.

No entanto, o povo eleito de Deus, movido por um poder superior, foi levado a clamar ao seu Deus. Este é um dos primeiros sinais de uma alma eleita: ela parece saber, por meio de um instinto divino, onde se encontra o verdadeiro refúgio. Você recorda que, embora soubesse pouco a respeito de Cristo, tivesse pouca compreensão dos assuntos doutrinários e não entendesse a sua necessidade, alguma coisa o permitiu ver que somente no trono de misericórdia você poderia encontrar refúgio.

Antes de tornar-se um crente, seu leito testemunhou muitas lágrimas, quando seu coração magoado se derramava diante de Deus, em palavras assim: “Ó Deus, eu quero alguma coisa. Não sei o que eu desejo, mas sinto uma opressão de espírito. Minha mente está sobrecarregada e percebo que somente o Senhor pode me dar alívio. Reconheço que sou um pecador. Oh! perdoa-me! Não entendo bem o plano de salvação, mas eu sei que desejo ser salvo. Eu me levanto e vou ter com meu Pai. Meu coração anela tornar-Te o meu refúgio”. Digo que esta é uma das primeiras indicações de que essa pessoa é um dos eleitos de Deus. É verdade que, assim como aconteceu com o povo de Israel no Egito, Deus é o refúgio de seu povo, mesmo quando eles estão sob opressão.

Quando termina o cativeiro, Deus se torna o lugar para que seu povo se refugie de seus pecados. Os israelitas foram tirados do Egito. Eles ficaram livres. Os israelitas não sabiam para onde estavam marchando, mas as algemas haviam sido despedaçadas. Eles foram emancipados e não precisavam mais chamar ninguém de “Senhor”. Porém, vejam, Faraó ficou irado e os perseguiu. Com seus cavalos e seus carros, ele saiu apressadamente atrás dos israelitas. O inimigo disse: “Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; a minha alma se fartará deles” (Êxodo 15.9).

De maneira semelhante, existem épocas da vida espiritual em que o pecado se esforça para reconquistar o pecador recém-libertado de suas garras. Assim como exércitos preparados para a batalha, todo o passado de iniqüidades do pecador corre atrás dele e o vence em um lugar onde seu caminho está cercado. O pobre fugitivo deseja escapar, mas não pode. Então, o que ele deve fazer? Lembre-se que, naquelas circunstâncias, Moisés clamou ao Senhor. Quando nada poderia oferecer refúgio aos pobres fugitivos, quando o mar Vermelho rugia diante deles e as montanhas os encerravam, em ambos os lados, e um inimigo furioso os perseguia, havia um caminho que não estava obstruído. Era o caminho do trono do Rei celestial, o caminho do Deus dos israelitas. Por isso, eles começaram imediatamente a andar por esse caminho, erguendo seus corações em humilde oração a Deus, crendo que Ele os livraria. Você conhece a história: como o cajado erguido separou as águas profundas; como o povo passou pelo meio do mar, à semelhança de um cavalo no deserto, e como o Senhor trouxe todas as hostes do Egito às águas profundas, a fim de que elas as destruíssem completamente e nenhum daqueles egípcios ficasse vivo e não fossem mais vistos por aqueles que os viram.

Neste sentido, Deus ainda é o refúgio de seu povo. Nossos pecados, que nos perseguiam com tanto ardor, foram mergulhados nas profundezas do sangue do Salvador. Atingiram o fundo do abismo como pedras, as profundezas os encobriram totalmente. Nós, permanecendo firmes na praia em segurança, podemos cantar triunfantemente sobre os nossos pecados: “Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; [todas as nossas iniqüidades] lançou no mar…” (Êxodo 15.1).

Assim, Deus é o refúgio de seu povo, quando este se encontra sob opressão; e, quando o pecado tenta vencê-los, Deus também é o refúgio deles em tempos de necessidade. Os filhos de Israel viajaram pelo deserto, mas ali não havia alimentos para eles. A terra árida não produzia alho, nem pepino, nem melão. Não havia rios, como o Nilo, para satisfazer a sede dos filhos de Israel. Eles teriam morrido de fome, se tivessem sido entregues à dependência do que o solo produzia. Eles chegaram a Mara, onde a água era bastante amarga. Em outras ocasiões, não havia nem águas amargas. O que eles deveriam fazer? O refúgio infalível do povo de Deus no deserto era a oração. Moisés, o representante deles, sempre se dirigia ao Altíssimo, às vezes caindo sobre o seu rosto, em agonia; em outras vezes, subindo ao topo do monte, para rogar, em solene comunhão com Deus, que Ele trouxesse alívio ao seu povo.

Você já ouviu que os israelitas se alimentaram de pão dos anjos, já ouviu que Jeová fez chover pão do céu sobre o seu povo, naquele horrível deserto, e que Ele fendeu a rocha, para que a água jorrasse. Você ainda não esqueceu como o vento forte soprou, trazendo-lhes carne, de modo que comeram e ficaram satisfeitos. Nenhuma de suas necessidades deixou de ser atendida. Suas vestes não se desgastaram. Embora houvessem viajado pelo deserto, os pés deles não se esfolaram. Deus supriu todas as necessidades dos israelitas. Em nosso país, temos de ir à padaria, ao açougue, às lojas de roupas, para conseguirmos as coisas necessárias, mas os israelitas recorreram ao seu Deus para todas as coisas. Temos de acumular nosso dinheiro e comprar isto em um lugar e aquilo em outro lugar. No entanto, o Deus eterno era o refúgio e o abrigo dos israelitas, para todas as necessidades. Em todas as circunstâncias de necessidade, eles tiveram apenas de levantar sua voz a Deus.

Ora, é exatamente essa a nossa condição hoje. A fé nos faz ver que nossa posição hoje é semelhante à dos filhos de Israel naquela época. Não importa quais sejam as nossas necessidades, “o Deus eterno é” nosso refúgio. Deus prometeu que seu pão e suas águas lhe serão dadas. Aquele que supre as necessidades espirituais não recusará as necessidades materiais. O poderoso Senhor nunca permitirá que você pereça, enquanto Ele tiver o poder de socorrê-lo. Não importa qual é o tipo de fardo que pesa sobre você, busque a Deus. Não imagine que seu caso é muito complicado, pois nada é impossível para o Senhor.

Não pense que Ele se recusará a satisfazer necessidades materiais. Ele se preocupa com você em todos os aspectos de sua vida. Dê graças a Deus por tudo que você é, e através da súplica e da oração você pode tornar as suas necessidades conhecidas diante dEle (ver Filipenses 4.6). Em tempos quando a vasilha de óleo está prestes a secar e as refeições, escassas, busque o Deus todo-suficiente. Você descobrirá que nada falta aos que confiam nEle.

Além disso, nosso Deus é o refúgio de seus santos quando seus inimigos se enfurecem. Quando as hostes do povo de Israel estavam peregrinando pelo deserto, foram atacadas repentinamente pelos amalequitas. Sem haverem sido provocados, esses saqueadores do deserto se lançaram contra os israelitas e derrubaram alguns deles. Mas o que Israel fez? O povo não rogou que um forte destacamento de cavaleiros alugados do Egito se tornasse o refúgio deles. Ainda que realmente houvessem desejado isso, aquele que era o líder sábio deles, Moisés, olhou para outro braço mais forte do que o do homem, pois clamou a Deus. Quão maravilhoso é o quadro de Moisés, com as mãos erguidas ao céu, sobre o cume do monte, proporcionando vitória a Josué, na planície. Aqueles braços erguidos foram mais valiosos do que dez mil homens, para as hostes de Israel. Vinte mil homens não conquistariam a vitória tão facilmente como aqueles braços erguidos, que fizeram descer do céu a própria Onipotência. Esta foi a principal arma de guerra dos israelitas: a sua confiança em Deus. Josué saiu com um poderoso exército, mas o Senhor, Jeová Nissi, é a bandeira e o doador da vitória.

Assim, “o Deus eterno é” nosso refúgio. Quando nossos inimigos se enfurecem, não precisamos temer a sua fúria. Não procuremos estar sem inimigos, mas tomemos o nosso caso e o apresentemos ao Senhor. Enquanto permanecer a promessa: “Toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás” (Isaías 54.17), nunca estaremos em tal posição que as armas de nossos inimigos nos poderão ferir. Embora a terra e o inferno se unam em malícia, o Deus eterno é nosso castelo e fortaleza, assegurando-nos um refúgio eterno.


Autor: Charles H. Spurgeon

C. H. Spurgeon (1834-1892) era pregador, autor e editor britânico. Foi pastor do Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, desde 1861 até a data de sua morte. Fundou um seminário, um orfanato e editou uma revista mensal chamada “Sword and Trowel”. Conhecido como “Príncipe dos Pregadores”, Spurgeon escreveu muitos livros e artigos, particularmente na área devocional.

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