terça-feira, 19 de março

Somos todos medrosos

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Desde que o pecado adentrou a humanidade, o medo passou a fazer parte dela. Adão e Eva, tão logo ouviram a voz de Deus após terem desobedecido a Ele, tiveram medo (Gn 3:10). Desde então temos convivido com o medo. Alguns têm medo de uma coisa, outros de outra. Há pessoas que têm medo da violência dos homens, outros têm medo de doenças, outros têm medos espirituais, tais como de ataques de demônios. Há pessoas que podem dizer que não têm um determinado medo, mas afirmam ter outro. Assim, os tipos de medo variam de pessoa para pessoa, e todos padecem de alguma espécie dele. Mesmo aqueles que afirmam não ter medo de nada defendem sua própria vida, demonstrando assim um medo de perdê-la.

Não é difícil reconhecermos que há vários tipos de medo e que todos são acometidos por, pelos menos, um destes tipos. O que é difícil é reconhecermos que há um tipo específico de medo que acomete todos os seres humanos. Há uma modalidade específica, da qual nenhum ser humano está livre. Esta é o medo do homem. Nem todos estão dispostos a admitir, mas a Bíblia afirma que todos tememos o homem. Não é um temor da violência do homem, como já foi mencionado aqui; é um temor do pensamento do homem.

Notemos, por exemplo, os adolescentes. Eles se vestem, falam, se comportam, escolhem seu entretenimento como resultado da pressão de outros sobre eles. A decisão de ser membro do grupo ou o medo de ser diferente é uma demonstração clara de que eles temem o homem. Este temor exerce controle sobre suas vidas, ainda que não vejam desta forma ou não admitam isso.

Não é diferente com os mais velhos. Nós também estamos o tempo todo sendo pressionados pelo temor do pensamento das outras pessoas a nosso respeito. Quando falamos de moda, por exemplo, tememos nos vestir de maneira a parecermos ridículos para os outros, assim os outros determinam como temos que nos vestir. Não estou estimulando que devemos nos vestir sem nos preocuparmos com os outros, mas apenas demonstrando que temos medo do pensamento dos outros. Nos preocupamos o tempo todo com o que estão pensando de nós. Isso é temer o homem. Temos que admitir: existem medos variados, mas o medo do pensamento do homem acomete a todos.

O temor do homem é resultado do pecado e Jesus afirmou que veio nos libertar do pecado (Jo 8:32,36). Assim, a obra da nossa salvação nos transforma de tal maneira que temos condições de vencer o temor do homem. Além disso, a Bíblia é enfática em nos dizer que devemos temer somente a Deus. Tudo que fazemos então deve ser pelo temor a Deus, tudo deve ser feito de maneira que Ele seja glorificado.

O ensino de Jesus em Mateus 23:1-12 nos ajuda a lidar com o medo que temos das outras pessoas. Jesus estava no templo em Jerusalém, dias antes de sua morte, e passou a falar às multidões e aos seus discípulos. Ele falou que eles deveriam fazer e guardar o que os escribas e fariseus falavam, mas não deveriam imitá-los em suas obras, porque falavam, mas não faziam (vv.1-3).

Jesus define a motivação dos escribas e fariseus no versículo 5: Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens… Os escribas e fariseus tinham medo dos homens, certamente não admitiam, mas temiam o julgamento dos homens. Jesus afirma que não devemos agir como eles, por isso temos que admitir que nossa tendência é a mesma: fazemos as coisas para sermos vistos pelos homens. Todo mandamento na Bíblia nos faz atentar para o fato de que somos susceptíveis a desobedecê-los. Se Jesus afirma que não devemos ser como os escribas e fariseus é porque temos a tendência de sermos como eles. Devemos observar as palavras de Jesus sobre os escribas e fariseus e ter o cuidado de não agirmos como eles. Podemos enumerar três cuidados que devemos ter para que nosso temor seja dirigido somente a Deus.

Primeiro, devemos ter cuidado com a demonstração de espiritualidade aos homens. Ainda no versículo 5 Jesus diz que eles alargavam seus filactérios e alongavam suas franjas. Deus havia ordenado que a Lei fosse atada perante os olhos e na mão (Dt 6:8). A ordem de Deus era um simbolismo de obediência total. A Lei na cabeça, entre os olhos, simbolizava todo pensamento voltado para Deus, e na mão todas as atitudes. Para isso, foi criada uma caixinha de couro onde quatro textos da Lei seriam colocados. Esta caixinha era o filactério. Deus também ordenou que se atassem borlas nos cantos das vestes para que se lembrassem de sua Lei (Nm 15:39). Os líderes judeus transformaram estes dois mandamentos de Deus em uma tradição vazia de significado, que servia apenas para manter as aparências perante as pessoas. Por isso, eles aumentavam o tamanho de seus filactérios e alongavam as franjas de suas vestes, assim pareceriam mais espirituais.

Temos a mesma tendência. Em Mateus 6:1 Jesus nos advertiu: Guardai-vos de exercer a vossa justiça perante os homens, com o fim de serem vistos por eles. Quando nos convertemos e somos incluídos na Igreja do Senhor Jesus, corremos o sério risco de fazermos as coisas para sermos vistos pelos outros. Queremos parecer espirituais para nossos irmãos. Os crentes não querem que outros saibam que eles assistem a novelas, ou veem qualquer outra coisa, tanto na TV quanto na internet, porque isso os envergonharia perante as pessoas. Na verdade acabam mais preocupados com o pensamento dos outros do que com o de Deus. Muitas vezes, vivemos administrando nossa vida espiritual para os outros e não para Deus. Cuidemos para que o zelo por nossa vida espiritual não seja para sermos vistos pelos outros.

Segundo, Jesus nos adverte a ter cuidado com a busca por posição perante os homens. No versículo 6, ele afirma que os escribas e fariseus amavam o primeiro lugar nos banquetes e nas sinagogas. Eles queriam ser sempre o centro das atenções, gostavam de ter o respeito das pessoas. Os próprios discípulos também viviam disputando para ver quem era o mais importante. Tiago e João, por meio de sua mãe, pediram a Jesus para sentarem um à direita em o outro à esquerda de Jesus quando este viesse em seu reino (Mt 20:20-24); e os outros ficaram indignados com eles, pois também se achavam dignos destes lugares. Assim somos nós, queremos posição entre os homens. Se não tivermos o reconhecimento das pessoas, tememos o que pensarão de nós. Não gostamos de ser diminuídos em nada. Quantos de nós não se sentem ofendidos porque nossa data de aniversário não apareceu no boletim da igreja? Muitos são capazes de entrar em atrito com o secretário da igreja por causa disso. Por que isso acontece? Porque gostamos de estar em evidência, amamos os primeiros lugares. Gostamos de ver nosso nome aparecer. Jesus afirma que devemos lutar contra isso. Precisamos ficar satisfeitos quando, por algum motivo, somos diminuídos. Isso faz com que Deus seja engrandecido em nossas vidas.

Em terceiro lugar, Jesus nos adverte a ter cuidado com a procura de títulos reconhecidos pelos homens. No versículo 7, Jesus diz que os escribas e fariseus gostavam das saudações nas praças e de serem chamados mestres pelos homens. Eles adoravam quando as pessoas se referiam a eles por seus títulos. Assim como eles, nós também temos paixão por títulos. Nosso coração deseja que nosso nome seja aumentado com um título. O título eleva o ego, nos engrandecemos com ele. Com os títulos nos sentimos superiores aos outros. Sem perceber, ficamos distantes do que Paulo escreve em Fl 2:3:“Cada um considere os outros superiores a si mesmos”.

Somos chamados para sermos servos. Servos sequer tinham nomes, não perguntavam de quem eram filhos, não queriam saber sobre seu passado, apenas designavam-lhes tarefas para serem executadas. Por que muitos crentes não querem executar trabalhos simples na igreja? Porque isso não lhes confere nenhum título. Gostamos de fazer coisas que aparecem, muitos querem ser chamados de professores, pastores, líderes. Sem perceber, nos assemelhamos muito aos escribas e fariseus. Devemos ter cuidado para não desejarmos ser chamados mestres pelos homens. Tememos as pessoas e queremos que nos vejam por meio dos títulos.

Vemos nestas palavras de Jesus a luta que devemos travar contra nós mesmos. Somos tomados pelo medo dos homens. Temos medo de que pensem que não somos tão espirituais quanto queremos que eles pensem. Temos medo de não parecermos importantes para eles. Queremos ter uma posição elevada perante eles. Desejamos ser respeitados pelos homens e temos o medo de não sermos reconhecidos por eles. Assim amamos os títulos. Isso tudo resume o temor para com o homem.

Todos padecem deste mal, mas em Cristo recebemos tudo o que precisamos para vencê-lo. E a vitória virá quando entendermos que fomos chamados para sermos diminuídos. O maior para Deus será o servo (v.11), literalmente o escravo, o mais baixo em uma casa. Somos chamados para humilharmos a nós mesmos (v.12). A estes, Deus exaltará. Reconheçamos nosso medo dos homens, lutemos contra ele para que temamos somente a Deus. O caminho para isso é a humildade!


Autor: Clodoaldo Machado

É casado com Patrícia Renata e pai de dois filhos, Nathan e Nathalia. Natural de São José dos Campos, SP, onde pastoreia a igreja Batista Parque Industrial há seis anos. Formado em Bacharel em Teologia pelo Cetevap (Centro de Estudos Teológicos do Vale do Paraíba), exerce seu ministério com ênfase na pregação expositiva e aconselhamento bíblico.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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