Fui recentemente chamado para minha avaliação semestral onde trabalho como consultor financeiro. Meu gerente regional estava fazendo seu trabalho de me engajar falando amenidades sobre vida e família, quando eu casualmente mencionei que eu estaria pregando em minha igreja local no próximo domingo.
Como se isso fosse uma deixa, meu gerente sorriu, apoiou-se novamente no encosto de sua cadeira de couro e deu início a um monólogo sobre como pregadores podem ser maravilhosos consultores financeiros pelo fato de terem um “jeito com palavras e com pessoas”. Pregadores são “os melhores contadores de história” etc.
Com tristeza, notei sua concepção de pregadores como “contadores de histórias”, mas eu educadamente acenei com a cabeça e genuinamente reconheci seu desejo de se conectar comigo. Então, ele lamentou pelos pobres “pregadores” que tinha ouvido em seu contexto judaico reformado. Além disso, ele prosseguiu dizendo que estava confiante de que eu havia feito um trabalho melhor em “motivar os outros a serem pessoas melhores”, já que “a questão, na verdade, se trata disso”.
Não querendo perder uma oportunidade de pregar o evangelho (e talvez apesar daquela noção de pregadores como meros contadores de história), eu tentei, embora timidamente, fazer uma analogia entre o que eu busco fazer na pregação e o que eu busco fazer na consultoria financeira. Na consultoria, eu analiso o status financeiro da pessoa, avalio os perigos e possíveis armadilhas da sua atual posição e, então, tento direcioná-la para um caminho de segurança financeira. “A tarefa da pregação pode ser semelhante”, eu notei. “Eu as ajudo a ver algo sobre Deus e a posição precária em que elas se encontram estando longe dele. Então, eu as aponto em direção às boas novas do evangelho em Jesus Cristo”.
Minha analogia não teve o efeito pretendido, ou talvez teve, já que ele rapidamente replicou: “Você não está realmente tentando converter as pessoas, está?”.
Eu posso dizer, pela reposta dele, que eu tinha passado do limite e confirmado seu maior medo: Eu era um daqueles cristãos. Você sabe, o tipo que não respeita as crenças das outras pessoas, que interfere insensivelmente na vida de outras pessoas e que arrogantemente presumem que você tem que pensar como eles — ou quase.
Ele não disse tudo isso, mas estava escrito em seu rosto. Com um sorriso, eu respondi: “Claro que estou. Isso lhe surpreende?”.
Ele não sabia muito como responder, então nos minutos subsequentes eu tentei ajudá-lo a entender que o evangelho não se trata meramente de fazer as pessoas se comportarem melhor externamente, mas de nascerem de novo a partir de dentro (João 3). Um cristão é alguém que se arrepende de seus pecados e crê em Cristo (cf. Marcos 1.14). Infelizmente, o que meu amigo judeu achou tão desagradável não foi Cristo requerer a vida dele e que ele se arrependesse e cresse, mas que eu realmente pregasse essa mensagem de conversão para os outros.
Conversão — um palavrão?
Qual é o ponto da história? Conversão é uma palavra suja. É escandaloso, no mundo relativista e pluralista de hoje, lutar por uma verdade religiosa que seja superior e contrária a outra. Isso soa como orgulho, arrogância, desrespeito, talvez ódio ou até mesmo violência.
Esse é o consenso entre muitos da elite secularizada. Personalidade da televisão popular, Bill Maher crê que o cristianismo só pode ser explicado como uma “desordem neurológica”[1]. Somente os neandertais não esclarecidos, não educados e não vestidos poderiam tanto crer em uma conversão a uma fé religiosa quanto lutar por ela, especialmente sendo essa fé o Cristianismo. Ela é absolutamente aquilo de que o homem moderno não precisa.
E Maher simplesmente representa o que o humanismo secular como um movimento vem dizendo há muito tempo. Citando o próprio manifesto deles, “teísmo tradicional… e salvacionismo… baseados em meras afirmações são prejudiciais, desviando as pessoas com falsas esperanças de um céu no futuro. Mentes razoáveis olham para outros meios de sobrevivência”[2]. Mentes razoáveis… você pode até ouvir o condescendente gotejar que sai da caneta.
Alguns vão além, é claro. Eles dizem que tais tentativas de desvio (i.e. conversão), na verdade, geram violência. Em uma carta aberta ao Papa João Paulo II, o erudito hindu Swami Dayananda Saraswati argumentou que “a conversão religiosa destrói comunidades centenárias e incita a violência pública. Ela é uma violência e gera violência”[3].
Há um sentido em que eu concordo com Saraswati. A conversão forçada a fio de uma espada – seja no moderno Islã ou no “Cristianismo” do século IX — vai incitar a violência. Mas é claro que para Saraswati e para o establishment acadêmico liberal, isso não é menos violento, humilhante e desprezível simplesmente do que dizer as seguintes palavras em alta voz: “o inferno, sim, existe e as pessoas irão sofrer conscientemente pela eternidade por conta de seus pecados”. Esse é o mundo confuso em que vivemos.
É claro, um cristão não deveria estar tão surpreso quando o mundo despreza ou ridiculariza sua mensagem (embora também não devamos gerar uma inútil oposição ao evangelho e então nos gloriarmos em nossa perseguição como cristãos como uma medalha de honra). A nós é prometido que a mensagem da cruz não é nada além de loucura para aqueles que se perdem (cf. 1Coríntios 1.18). Ainda assim, há um senso de embaraço, em alguns círculos ditos cristãos, em relação a uma teologia “conversionista”. Vergonhosos de sua herança, esses que se auto intitulam cristãos tentam acender um novo (i.e. melhor) e mais respeitável caminho adiante.
Só em meses recentes que o Vaticano e o Conselho Mundial de Igrejas – que incluem mais de 350 das principais igrejas protestantes, ortodoxas e outras igrejas correlatas — começou a trabalhar em um “código comum para conversões religiosas”. Também tem sido requerida a entrada dos líderes mulçumanos.
O fato de que vários dos delegados dentro desse grupo abraçam evangelhos diferentes deve nos causar suspeita imediatamente. No entanto, a esperança deles é “distinguir entre testemunhar e fazer proselitismo, tornando o respeito pela liberdade de pensamento, consciência e religião dos outros uma preocupação primária em qualquer encontro entre pessoas de diferentes crenças”[4].
As definições e recomendações específicas dessa comissão não estarão completas por alguns poucos anos, mas algumas coisas estão patentemente claras. Para os iniciantes, o “respeito” é algo celebrado e premiado sobre tudo, inclusive sobre a verdade. E a forma de mostrar respeito para com outros é não fazer proselitismo sobre eles (buscar a conversão deles), mas testemunhar para a verdade de uma pessoa enquanto se aprecia a própria verdade dela.
Em resumo, o que costumava ser entendido como uma necessidade radical de regeneração e conversão tem sido dilacerado. Nós podemos dizer que esse código comum para a conversão religiosa é, na verdade, somente um código comum para a não conversão.
Além disso, parece que a conversão está sob ataque até mesmo entre alguns que professam ser evangélicos. Isso deveria nos chocar como algo completamente sem sentido. Nossa palavra em português para “evangélico” vem de uma palavra grega que significa “boas notícias”. Que boas notícias são essas? São que nós, que estamos em inimizade com Deus em nossos pecados, podemos agora ser reconciliados com ele por conta da morte e ressurreição de Cristo. Isso quando nos arrependemos dos nossos pecados e cremos em Cristo. Uma conversão da nossa forma antiga de viver e de pensar em direção ao Cristianismo é exigida de nós. Isso tudo deveria ser claramente óbvio.
Contudo, Brian MacLaren, talvez o mais proeminente líder dentro do movimento da igreja emergente, faz um chamado à reconsideração da conversão, se não uma completa rejeição dela. Ele escreve em Uma Ortodoxia Generosa [A Generous Orthodoxy]:
“Eu devo acrescentar que eu não acredito que fazer discípulos seja igual a fazer aderentes da religião cristã. Pode ser aconselhável, em muitas (embora não em todas) circunstâncias, ajudar as pessoas a se tornarem seguidoras de Jesus e permanecerem dentro de seus contextos do budismo, do hinduísmo ou do judaísmo. “Isso será difícil”, você pode dizer, e eu concordo. Mas, francamente, definitivamente também não é fácil ser um seguidor de Jesus em muitos contextos religiosos ‘cristãos’”[5].
Falam-nos para abraçar as outras crenças “de boa vontade, e não de má vontade. Para ser justo, McLaren afirma a singularidade do Cristianismo como sendo uma religião distinta das outras[6]. Contudo, sua crença em “um evangelho que é universalmente eficaz para toda a terra”, sua relutância em “colocar limites no poder salvífico de Deus” em relação aos não evangelizados, e sua crença de que temos que continuamente ter uma expectativa de “redescobrir o evangelho” à medida que encontramos outras tradições religiosas, “o que nos leva àquele novo lugar onde nenhum de nós já esteve antes”, é o que levanta graves e significantes questionamentos[7]. Francamente, eu tenho dificuldades em ver que ele esteja recomendando algo que seja, de alguma forma, cristão, muito menos ortodoxo. Enfim, suas propostas são estranhamente semelhantes àquelas que estão sendo estabelecidas pelo Vaticano e pelo Conselho Mundial de Igrejas.
Conversão — uma ideia bíblica?
Dado o fato de a conversão parecer algo tão intolerante e intransigente para a mente moderna, deveríamos lutar por isso como cristãos? Em outras palavras, a doutrina da conversão é biblicamente indispensável?
Sim, completamente. Embora a palavra seja rara no Novo Testamento (cf. Mateus 23.15; Atos 6.5; 15.3; 1Timóteo 3.6), a ideia de conversão é central para o enredo da Escritura.
Palavras comuns do Hebraico (shub) e do Grego (epistrephô) que figuram a conversão são regularmente traduzidas como “converter-se”, “voltar-se”, “retornar” ou “restaurar” no nosso texto em Português. Nós lemos em Ezequiel 33.11: “Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?
De modo semelhante, em Isaías 55.7: “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.
No Novo Testamento, Paulo diz que Cristo o enviou aos gentios “para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (Atos 26.18). Ele também relata sobre a igreja em Tessalônica: “deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro” (1Tessalonicenses 1.9).
Lucas diz de João Batista: E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. (Lucas 1.16).
Essa figura de conversão como “voltar-se” ou “retornar” também é vista no chamado regular de Jesus “siga-me”, como quando ele diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (cf. Mateus 16.24; Marcos 8.34; Lucas 9.23). Ou: “e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mateus 10.38). Seguir a Cristo é algo custoso. Tomar a sua cruz significa abrir mão de tudo. Para aquele homem escravo de sua própria riqueza, por exemplo, Jesus diz: “Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (Marcos 10.21). Para o discípulo que queria enterrar o próprio pai, Jesus ordena: “Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Mateus 8.22).
Conversão — o que é e o que não é
Então, o que exatamente significa conversão? Como poderíamos resumi-la?
Arrependimento e fé
Primeiro, essa figura de conversão como virar as costas para o eu e humildemente seguir a Deus pode ser capturada em duas palavras: arrependimento e fé. Conversão é igual a arrependimento e fé. Na conversão, nós voltamos nossa mente, nossas emoções e vontades do serviço de um ídolo (isto é, o eu) para o serviço de outro ídolo (Deus). Pela fé, nós confiamos em Deus e em sua palavra, crendo como Abraão e todos os outros santos de Deus que aquele que prometeu é fiel. Nesse sentido, conversão e arrependimento são intrinsecamente ligados. Como um autor coloca de forma muito útil:
Arrependimento, o abandono do pecado e o cultivo de uma nova esperança, e fé, o voltar-se para Cristo em fé e confiança, estão relacionados um ao outro como dois lados de uma moeda. Os dois são respostas interdependentes, cada um sendo incompleto sem o outro. Assim, a conversão envolve um arrependimento fiel e em uma fé contrita[8].
Radical e custoso
Segundo, o chamado para a conversão é tanto radical como custoso. É custoso porque necessita de uma negação do próprio eu. Seguir a Cristo é subjugar todos os prazeres terrenos e todos os desejos diante da vontade dele. Nós mesmos, até mesmo nossa família, enfim, tudo fica em segundo plano diante desse firme compromisso como o nosso rei.
É radical porque troca a escuridão pela luz, os ídolos mortos pelo Deus vivo, a efêmera riqueza desta vida pelas perenes riquezas do céu. A natureza radical da conversão também é testemunhada em uma das mais extraordinárias conversões relatadas no livro de Atos (cf. Paulo no capítulo 9; Cornélio no capítulo 10; o carcereiro de Filipos no capítulo 16). Mesmo que o processo seja lento e que nós não possamos indicar um ponto no tempo quando o Senhor nos trouxe do reino das trevas para o reino da luz, isso não significa que a mudança tenha sido, de alguma forma, menos dramática ou menos nítida. Alguém não é mais filho do diabo, mas foi adotado como um filho de Deus (cf. 1João 3.10).
Não é um mero diálogo
Terceiro, a conversão não é um mero diálogo ou uma mera conversa. Infelizmente, isso é algo comumente mal entendido. O diálogo é geralmente apresentado como quase um fim em si mesmo. Eu compartilho minhas experiências cristãs, você compartilha suas experiências budistas, e nós dois nos tornamos melhores por conta disso, já que “somos todos recebedores da mesma misericórdia, compartilhando do mesmo mistério”[9].
Mas o diálogo não é o fim, a conversão é. Obviamente, nenhuma conversão acontece sem um diálogo respeitoso e nenhuma conversão é possível a não ser que Deus inicie uma mudança sobrenatural no coração. No entanto, nós não saímos felizes de um diálogo se nosso amigo ainda rejeitar a Cristo. Ao invés disso, como os profetas do Antigo Testamento, como Cristo e como Paulo, nós choramos e lamentamos por aqueles que permanecem em seus pecados e se recusam a seguir a Deus (cf. Mateus 23.7).
Não é apenas uma jornada
Quarto, conversão não é uma jornada. Em uma jornada, alguém pode vaguear e nunca chegar. Ele pode aprender, mas nunca chegar à conclusão alguma. Muitos hoje dizem que a jornada (somente aprender) é suficiente em si mesma.
Mas só seguir na jornada não é o suficiente. Nós precisamos entrar no reino de Deus. Nós precisamos alcançar o destino final, pois chegará um tempo em que o noivo virá e aqueles que não estiverem com ele serão expulsos do banquete do casamento (Mateus 25.10).
Não é opcional
Quinto, o chamado para a conversão não é nem opcional nem negociável. Os autores bíblicos não meramente encorajam, mas ordenam nos termos mais inequívocos que todos devem se converter e seguir a Deus em Cristo. Note quantas das ordens acima são acompanhadas de uma advertência correspondente. Falhar em arrepender-se e converter-se a Deus não é um problema menor. É ter a vida confiscada e receber a morte, o juízo e o inferno.
Ainda assim, o chamado para a conversão nunca será acompanhado de força física, manipulação ou coerção. Os cristãos devem persuadir e argumentar com palavras e nada mais (2Coríntios 4.1-2). A única “espada” deles é a palavra de Deus e o testemunho de suas vidas. Nada pode ser mais preciso e mais eficaz (cf. Hebreus 4.12).
Então, quanto exatamente a conversão é biblicamente necessária? Quando Paulo e Barnabé estavam em Listra e Derbe, as pessoas testemunharam os milagres que eles fizeram e os confundiram com os deuses gregos Zeus e Hermes. A resposta de Paulo e Barnabé é bem instrutiva:
Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando: Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles” (Atos 14.14-15).
Não deveria haver nenhum sincretismo ou fusão do evangelho cristão com a mitologia grega (ou com o Budismo, Hinduísmo ou qualquer outra coisa semelhante). Paulo e Barnabé insistiram que todos deveriam converter-se daqueles falsos ídolos inúteis para o Deus vivo. Eles insistiram em nada menos do que uma conversão radical, de todo o coração.
Benefícios para os cristãos
A conversão se encontra no cerne no Cristianismo. Sacrificá-la significa sacrificar nada menos que o evangelho e as boas novas que ele promete a todos. Isso é, certamente, razão o bastante para defender um entendimento que seja claro e robusto acerca da conversão bíblica. Se Deus quiser, nós vamos pensar mais sobre essa doutrina e suas implicações em nosso próximo artigo.
Mas nós precisamos dizer algo mais? Aqui estão somente duas razões pelas quais um correto entendimento da conversão é importante não somente para Deus e para os não convertidos em nosso meio, mas também para o nosso próprio bem-estar espiritual como cristãos.
Humildade
Primeiro, o entendimento correto de conversão promove a humildade e torna a graça significante. Paulo escreve: “E a vós outros também que, outrora, éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras malignas, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis” (Colossenses 1.21-22ss).
Ou considere o que diz Pedro: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1Pedro 3.18).
O que nós éramos? Antes da conversão, nós éramos transgressores, separados e inimigos de Deus. E isso não se trata de uma hipérbole ou de outra figura de linguagem. Nós nos preocupamos com ataques terroristas, investimos em sistemas de alarme caros para nossas casas, morremos de preocupação sobre o fato de nossos carros terem ou não air bags laterais — tudo em uma tentativa de nos sentirmos seguros e protegidos. Mas imagine um momento como seria ter o próprio Deus do universo como seu inimigo. A Bíblia diz que nós realmente estávamos em inimizade com Deus. Sendo mais preciso, ele estava em inimizade conosco (cf. Tiago 4.4)!
De que outra forma poderíamos explicar a dor, a agonia e a ira da cruz, senão pelo fato de Deus estar propiciando sua própria ira que deveria vir em direção a nós, inimigos de sua santidade e justiça?
Se a conversão não é necessária, a cruz também não o é.
Nós temos que pregar o evangelho para nós mesmos de novo e de novo, lembrando-nos humildemente daquilo que merecíamos e, então, nos regozijarmos na extraordinária graça que Deus mostrou ao nos reconciliar com ele através da cruz de Cristo.
Missões
Segundo, um entendimento correto da conversão abastece nossos esforços missionários. O mundo está em perigo. Há uma batalha espiritual em que as almas dos homens se encontram. Satanás não se satisfará com nada menos do que ver a igreja de hoje tranquila em complacência por sugerir que uma conversão radical ao Cristianismo finalmente não é necessária. “Claro”, as vozes do inclusivismo e do universalismo dirão, “é preferível que haja um chamado para conversão, mas será isso realmente necessário? Um assento de primeira classe no avião é preferível a um bilhete do ônibus, mas ambos, no final, chegarão ao mesmo destino, certo? Então deixem as pessoas permanecerem onde estão”. Por definição, tanto o inclusivismo (que diz que alguns “cristãos anônimos” podem ser salvos através de Cristo, mesmo que não tenham conscientemente se arrependido e crido nele) quanto o universalismo (que diz que toda a humanidade será salva) destrói o testemunho bíblico e o nosso ímpeto para missões mundiais.
Ao invés disso, fazemos bem em lembrar essas palavras de Cristo:
O reino dos céus é ainda semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. E, quando já está cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora. Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes (Mateus 13.47-50).
Somente em Cristo, todos são vivificados e reconciliados com Deus (cf. 1Coríntios 15.22). Portanto, é completamente responsabilidade de qualquer cristão pregar esse chamado à conversão implorando que todos se reconciliem com Deus através de Cristo (cf. 2Coríntios 5.17-21).
Conclusão: um daqueles cristãos?
“Você não está realmente tentando converter as pessoas, está?”. Aquele momento com meu chefe foi muito desconfortável. Ninguém quer compartilhar o evangelho somente para receber aquele olhar de morte e de horror que grita: “você honestamente crê nisso acerca… de Deus… de mim? Como você pode?!”.
Mais do que ninguém, eu não gosto de ser divisivo. Mas, ainda assim, o evangelho apresenta duas formas de vida dialeticamente opostas. Ou nós somos salvos ou somos não salvos, convertidos ou não convertidos, ovelhas ou bodes, adoradores de Deus ou de ídolos, filhos de Deus ou filhos do diabo, no caminho estreito ou no caminho largo, no reino da luz ou das trevas, destinados para o céu ou condenados ao inferno. Nós negligenciamos ou rejeitamos essa doutrina por nossa própria conta e risco.
Robert Duncan Culver disse muito bem:
A conversão é tão importante para a experiência e para o ministério de qualquer ministro da Palavra e para o testemunho de qualquer cristão genuíno como o nascimento é importante para o bebê e o oxigênio é importante para o fogo. Sem isso, não somos nada no reino de Deus e somos, como Jesus disse, que destinados a sermos lançados, como joio que é colhido na época da ceifa, e que será removido do campo e queimado no fogo, “onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 13.36-42)[10].
Não seja como aqueles que precisam ficar pedindo desculpas. Seja um daqueles cristãos. A conversão pode ser uma palavra suja, mas, se é assim, então é a única palavra suja que o cristão tem que pregar com toda ousadia e paixão.
Além disso, qual é a alternativa? Dizer as pessoas que esse mundo é o bastante? Que suas vidas fúteis, vãs, egoístas e levadas pelo vício estão muito bem do jeito que estão? Que ser renovado à imagem de Deus não é lá tudo isso?
Eu não consigo imaginar nada mais desencorajador — e condenatório!
Notas:
1. Veja http://www.worldnetdaily.com/news/article.asp?ARTICLE_ID=42906.
O contexto mais amplo é o que segue. “Nós somos uma nação que é obscurecida por conta da religião. Eu realmente acredito nisso. Eu creio que a religião faz as pessoas pararem de pensar. Eu acredito que ela justifica loucuras. Acredito que aviões que batem em prédios são uma iniciativa baseada na fé. Acredito que a religião é uma desordem neurológica”. Em uma entrevista Maher prossegue dizendo: “Eu não odeio a América. Eu amo a América. Eu só me envergonho de que ela tenha sido tomada por pessoas como os evangélicos, por pessoas que não acreditam na ciência e na racionalidade. Esse é o século 21. E eu vou lhe dizer, meu amigo. O futuro não pertence aos evangélicos”.
2. Veja http://www.americanhumanist.org/about/manifesto2.html.
3. Veja http://www.maaber.50megs.com/eighth_issue/open_letter_e.htm.
4. Veja o comunicado oficial deles em http://www2.wcc-coe.org/pressreleasesen.nsf/index/pr-06-12.html.
5. Brian MacLaren, A Generous Orthodoxy: Why I Am a Missional, Evangelical, Post/Protestant, Liberal/Conservative, Mystical/Poetic, Biblical, Charismatic/Contemplative, Fundamentalist/Calvinist, Anabaptist/Anglican, Methodist, Catholic, Green, Incarnational, Depressed-yet-Hopeful, Emergent, Unfinished CHRISTIAN (Grand Rapids: Zondervan, 2004 Paperback), 293.
6. Ibid, 283 and 295.
7. Ibid, 124, 294, 293. Somado a isso, quando perguntado sobre a exclusividade do evangelho (que necessitaria de uma conversão a Cristo em contraste a um evangelho “inclusivo” ou “universal” que ofereça esperança a todos, incluindo os não convertidos nessa vida), McLaren simplesmente diz que tais questões são “armas de distração em massa”. Ele dispensa a pergunta e se recusa a responder. Infelizmente, esse não responder já é uma resposta. Veja A Generous Orthodoxy, 42
8. Bruce Demarest, The Cross and Salvation (Wheaton: Crossway Books, 1997), 263-4.
9. Brian McLaren, A Generous Orthodoxy, 291.
10. Robert Duncan Culver, Systematic Theology, (Christian Focus Publications, 2005), 700.