terça-feira, 24 de dezembro
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Submissão à disciplina de Deus

Por natureza, não somos inclinados à submissão. Nascemos neste mundo possuídos por um espírito de insubordinação. Somos descendentes de nossos primeiros pais rebeldes e, por isso, herdamos a natureza deles. O homem nasce com uma natureza rebelde, semelhante à de um jumento selvagem (cf. Jó 11.12). Isto é muito desagradável e humilhante, mas é verdadeiro. Isaías 53.6 nos diz: “Cada um se desviava pelo caminho”, que é um caminho de oposição à vontade revelada de Deus. Mesmo na conversão, a nossa natureza rebelde e voluntariosa não é erradicada. Recebemos uma nova natureza, mas a velha natureza continua lutando contra a nova; por isso, necessitamos de disciplina e correção. E o grande propósito da disciplina e da correção é trazer-nos à sujeição ao Pai dos Espíritos. Procuraremos atingir dois objetivos: explicar o significado da expressão “estar em… submissão ao Pai” e enfatizar este fato com as razões apresentadas no texto bíblico onde a expressão se encontra (Hb 12.9).

I. A Submissão Idealizada

Estar em “submissão ao Pai” é uma expressão de significado abrangente; portanto, convém que compreendamos suas várias conotações.

1. Significa uma aquiescência ao soberano direito de Deus em fazer conosco aquilo que Lhe agrada.

(Veja Salmo 39.9: “Emudeço, não abro os meus lábios porque tu fizeste isso” .) O crente tem o dever de ficar calado quando estiver sob a vara da disciplina e em silêncio quando estiver passando pelas mais intensas aflições. Todavia, isto é possível somente se pudermos ver a mão de Deus em tais aflições. Se a mão de Deus não for vista na aflição, o coração do crente não fará nada além de queixar-se e irritar-se. Leia 2 Samuel 16.10-11: “Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o Senhor lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisai e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou”. Que belíssimo exemplo de completa submissão à soberana vontade do Altíssimo! Davi reconheceu que Simei não o podia amaldiçoar sem a permissão de Deus.

“Isto fará o meu coração sossegar: o que meu Deus designar é o melhor!”

No entanto, com raras exceções, a disciplina é necessária, para trazer-nos a este nível de espiritualidade e manter-nos ali.

2. Significa renúncia da vontade própria.

Estar em submissão ao Pai pressupõe uma entrega e uma resignação de nós mesmos a Ele. Uma excelente ilustração deste fato se encontra em Levítico 10.1-3: “Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puserem neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou”. Eles poderiam crescer ao andar em constante comunhão com Deus e em obediência à sua Palavra.

Considere as circunstâncias. Os dois filhos de Arão, provavelmente embriagados na ocasião, foram repentinamente mortos pelo julga-mento divino. O pai deles não havia recebido qualquer conselho que o preparasse para tal aflição. Apesar disso, “Arão se calou”. Oh! Não contenda com Jeová! Seja o barro nas mãos do Oleiro. Tome sobre si o jugo de Cristo, aprendendo dEle, que era “manso e humilde de co-ração” (Mt 11.29).

3. Significa um reconhecimento da justiça e da sabedoria de Deus em todos os seus lidares conosco.

Temos de justificar a Deus. Foi isto que o salmista fez, ao dizer: “Bem sei, ó Senhor, que todos os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste” (Sl 119.75). Estejamos sempre certos de que a Sabedoria é justificada por seus filhos. Que a nossa confissão a respeito da Sabedoria seja: “Justo és, Senhor, e retos, os teus juízos” (Sl 119.137). Em todas as circunstâncias que nos sobrevierem, temos de atribuir justiça Àquele que nos envia todas as coisas. O Juiz de toda a terra não pode cometer erros.

O cativeiro na Babilônia foi a aflição mais severa que Deus trouxe sobre seu povo terreno na época do Antigo Testamento. No entanto, mesmo naquela circunstância, um coração nascido de novo reconheceu a justiça de Deus no cativeiro: “Agora, pois, ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temível, que guardas a aliança e a misericórdia, não menosprezes toda a aflição que nos sobreveio, a nós, aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos sacerdotes, aos nossos profetas, aos nossos pais e a todo o teu povo, desde os dias dos reis da Assíria até ao dia de hoje. Porque tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre nós; pois tu fielmente procedeste, e nós, perversamente” (Ne 9. 32-33). Os inimigos de Deus podem falar sobre a sua injustiça; mas os filhos de Deus devem proclamar a sua justiça. Visto que Deus é bom, Ele não pode fazer nada que é errado e injusto.

4. Inclui um reconhecimento do cuidado de Deus e um sentimento do seu amor.

Existe uma submissão amuada e uma submissão estimulante. Existe uma submissão fatalista que toma a seguinte atitude: “Esta situação é inevitável; portanto, me renderei a ela”. Existe uma submissão grata, que recebe com gratidão tudo que Deus tem o prazer de enviar-nos. “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71). O salmista viu sua disciplina com os olhos da fé e, ao fazer isso, percebeu o amor que estava por trás da disciplina. Devemos lembrar que, quando Deus traz seu povo ao deserto, Ele o faz para que seu povo aprenda mais sobre a suficiência dEle. Quando Deus os lança na fornalha, Ele o faz para que seus filhos desfrutem da presença dEle.

5. Envolve um cumprimento ativo da vontade de Deus.

Submissão ao “Pai espiritual” é mais do que algo passivo. Os outros significados da ex-pressão, que já consideramos, são mais ou menos de caráter negativo. Todavia, existe também um lado positivo e ativo nesta expressão. Estar em “submissão” também significa andar nos preceitos de Deus e prosseguir no caminho de seus mandamentos. Significa estar em submissão à Palavra de Deus, tendo os nossos pensamentos moldados e os nossos caminhos governados por ela. Existe um fazer e existe um sofrer a vontade de Deus. Ele exige obediência de seus filhos, uma realização de deveres. Quando oramos: “Seja feita a tua vontade”, estamos querendo dizer algo mais do que uma anuência piedosa à vontade do Todo-Poderoso; também estamos querendo dizer: “Seja realizada por mim a tua vontade”. Por conseguinte, sujeição ao Pai espiritual é o re-conhecimento prático do senhorio de Deus.

II. Razões para a submissão

1. Deus é o nosso Pai.

É correto e conveniente que os filhos estejam em sujeição ao seu pai. Quão mais correta e conveniente é esta atitude, quando temos a Deus como nosso Pai! Não existe tirania nEle. Seus mandamentos “não são penosos” e têm em vista o nosso bem. Devemos ser profundamente gratos por que Deus se revela agora como nosso Pai! Esta é uma das revelações distintivas do Novo Testamento. Duvido muito que Arão, Elias, Jó ou Davi conheciam a Deus neste relaciona-mento; apesar disso, eles se submeteram a Deus! Quão mais submissos deveríamos ser! Que a graça nos capacite sempre a dizer, assim como o disse o nosso Salvador: “Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11.)

2. Este é o segredo da felicidade.

Creio que a força das duas últimas palavras (“então, viveremos”) de nosso texto bíblico é “ser feliz”. A palavra “viver” ou “vida” é empregada neste sentido em Deuteronômio 5.33; observe que “prolongueis os dias” é um acréscimo. Este é o seu sentido em Salmo 119.116. Os queixosos, murmura-dores e rebeldes são miseráveis e infelizes. Fazer a vontade de Deus, nosso porto, é o verdadeiro lugar de descanso para nossos corações. Ter nossas vidas conformadas com a vontade de Deus é o segredo do contentamento e do regozijo. “Tomai sobre vós o meu jugo… e achareis descanso para a vossa alma” — declarou o Salvador. Em guardar os mandamentos de Deus existe grande recompensa. “Grande paz têm os que amam a tua lei” — disse o salmista. Que o Espírito de Deus opere em nós a verdadeira submissão, ainda que, para produzi-la, disciplina severa seja necessária.


Autor: A. W. Pink

Arthur W. Pink (1886-1952) foi um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX. Erudito bíblico de persuasão reformada e puritana, Pink escreveu várias obras literárias e pastoreou diversas igrejas nos EUA, além de ter servido como ministro na Inglaterra e Austrália.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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