O texto abaixo foi extraído do livro Vislumbres da Graça, de Gloria Furman, da Editora Fiel.
Em um determinado ponto, na minha caminhada com Jesus, passei a pensar: “Estou tão pronta para crescer em minha fé! O que eu preciso é de mais informações sobre a Bíblia, e isso fará a diferença”. Entreguei-me ao estudo rigoroso apenas para me tornar mais inteligente, pensando que a leitura de livros escritos por pessoas santas, de algum modo, transferiria sua santidade a mim.
É muito fácil permitir que o evangelho se obscureça pelos nossos próprios esforços para crescer espiritualmente. As disciplinas espirituais servem como portas de entrada para adorar o evangelho, não como seus substitutos. D.A. Carson nos adverte contra a tentativa de viver de modo cristão, mas relegando a cruz a um mero seguro contra o fogo do inferno: “Primeiramente, se o evangelho torna-se o meio pelo qual escorregamos para dentro do reino, mas todos os tratados de transformação giram em torno de disciplinas e estratégias pós-evangélicas, então constantemente estaremos direcionando a atenção das pessoas para longe do evangelho, longe da cruz e da ressurreição. Logo, o evangelho será algo que presumiremos como necessário para a salvação, mas não o que nos anima, não o que estamos pregando, não o poder de Deus”. Presumir o evangelho, contando com o que Carson chama de “disciplinas pós-evangélicas” para mudança de vida, é como dar de volta à serpente do mal os seus dentes. Se resistir ao pecado e à tentação só depende de seu próprio poder e de sua própria disciplina, então, seu potencial para vencer o pecado é tão poderoso quanto a sua justiça própria.
Contudo, quem de nós preferiria confiar em nossa própria justiça? Será que alguém que está em Cristo preferiria pregar algo diferente do evangelho? Se o poder incomparável de Deus está à nossa disposição, por que preferiríamos confiar em nossa força inferior para o crescimento pessoal em santidade? É isso o que fazemos quando, silenciosamente, presumimos o evangelho e nos levantamos com o auxílio de disciplinas pós-evangélicas.
Então, como podemos saber se presumimos o evangelho? Mack Stiles diz, com muita propriedade, que a maneira de saber se presumimos o evangelho é: você não o ouve mais. Todos falam consigo mesmos. Você está falando consigo mesma até quando acha que não está ouvindo. Pense nisso: O que você diz em sua mente quando dá uma topada com o dedão do pé? Ou ouve o telefone tocar? Ou pisa no freio do seu carro para evitar bater no carro à sua frente? Você fala consigo mesma.
Agora considere as questões de maior peso. O que dizemos a nós mesmas, quando nos tornamos conscientes da nossa distração ao seguir a Deus? De que forma nos consolamos quando nos sentimos distantes de Deus? O que dizemos a nós mesmas como solução para a nossa ansiedade e para os nossos corações inquietos? Qual é o primeiro lugar para onde nos voltamos quando queremos ver a nossa vida mudar? Indo direto ao ponto: estamos “tentando nos conectar com Deus sem depender conscientemente da morte substitutiva e da ressurreição de Jesus por nós?”
Separar alguns minutos para organizar seus pensamentos ou experimentar gravar áudios (usando “lembretes verbais para si mesma” com um gravador de voz) são boas maneiras de descobrir seu fluxo de consciência, caso não esteja convencida de que você fala consigo mesma.
Todas nós passamos bastante tempo conversando com nós mesmas, e o que estamos dizendo importa. Você está dizendo a si mesma que precisa “tornar-se religiosa” e fazer um melhor trabalho para agradar a Deus? Ou lembra a si própria de que você não responde a ninguém exceto a si própria?
Paulo, o disco arranhado
Minha comida favorita é nacho com molho. Acho que poderia comer isso todos os dias e nunca enjoar. É bem possível que eu pudesse ficar doente (literalmente) por comer tantos nachos com molho. Mas é o meu prato favorito!
O evangelho é assim. Ouvi-lo repetidamente deve ser nossa atividade favorita! E ele não fará mal ao estômago.
Uma passagem rápida pelas epístolas de Paulo nos mostra que o método de ministração favorito do apóstolo se dava por meio da pregação do evangelho vez após vez — não apenas para os não crentes, mas para os crentes também. Por diversas vezes nas epístolas, ele pregou o evangelho.
Pregar o evangelho repetidamente e, em seguida, mostrar como ele se aplica à vida foi o método escolhido por Paulo para ministrar aos crentes, proporcionando, deste modo, um padrão de inspiração divina para eu seguir quando estiver ministrando a mim mesmo e aos outros fiéis.
Martinho Lutero, em um de seus sermões, construiu uma ótima argumentação para nos lembrar frequentemente do evangelho e de seus efeitos sobre as nossas vidas: “Você está entre aqueles que dizem: ‘Eu já ouvi tudo isso [o evangelho] anteriormente; por que devo ouvi-lo novamente?’ Se assim for, seu coração se tornou insensível, saciado e sem vergonha, e essa comida não tem sabor para você. Essa é a mesma coisa que aconteceu com os judeus no deserto, quando se cansaram de comer o maná. Contudo, se você é um cristão, nunca se cansará, mas desejará ouvir essa mensagem muitas vezes e falará sobre ela para sempre”.
Os israelitas se cansaram de comer o maná. Você se cansou de banquetear sua alma nas verdades do evangelho?
Entendendo como o evangelho se aplica à sua vida
Toda essa conversa sobre o evangelho nos leva à pergunta: qual é o ponto? Por que devemos nos preocupar com o evangelho e com a maneira como ele se relaciona com nossas vidas cotidianas no lar? Talvez você seja uma cristã comprometida e esteja a bordo do barco dos que creem no evangelho. Você se esforça para obter seu crescimento diário em piedade por meio do evangelho. Espero que este livro sirva à sua alma, conforme você se submete, de bom grado, aos propósitos de Deus em fazê-la cada vez mais parecida com o seu Filho.
No entanto, talvez você seja aquela que luta com as dúvidas. Minha amiga, se você tiver apenas um grão de mostarda de fé de que o evangelho pode conter alguma ajuda para você em seu lar, por favor, continue lendo.
Entendo que você pode pensar que tudo isso soa um pouco smurf. Talvez você seja cética a respeito do evangelho de Jesus. Quero abordar essas ressalvas, por isso peço que, por favor, continue lendo.
Estou animada para explorar essas ideias com você, independentemente de onde você tenha vindo. Não consigo pensar em nada melhor do que falar sobre como podemos nos deleitar com o Deus extraordinário, que atinge a vida de pecadoras que precisam de sua graça ao viverem suas vidas cotidianas em suas casas.