O trecho abaixo foi adaptado do livro Feminilidade distorcida, de Jen Oshman, Editora Fiel.
Em 2020, a atriz Ellen Page, estrela da série The Umbrella Academy, Juno e dos filmes dos X-Men, anunciou que identificaria sua identidade como um homem e passaria a se chamar Elliot Page. Enquanto Page começou seu anúncio no Twitter com gratidão pelo apoio e entusiasmo dos outros por finalmente ser seu “eu autêntico”, a maior parte da mensagem tem um tom ameaçador. “Minha alegria é real, mas também é frágil”, diz Page. “Estou com medo (…). Para aqueles que lançam hostilidade contra a comunidade trans: vocês têm sangue em suas mãos (…), não ficaremos em silêncio diante de seus ataques.” Becket Cook, autor e designer de produção de Hollywood, que já foi um ateu gay mas encontrou Jesus Cristo e agora é celibatário, diz: “Por mais que a decisão trans de Page tenha sido recebida com aplausos jubilosos, o tom de seu próprio anúncio sugere que seu ‘novo eu’ é tênue, na melhor das hipóteses — preocupantemente dependente da afirmação e aceitação dos outros.”
Quando declaramos que o como estamos é quem somos, de fato nos tornamos tênues, frágeis e dependentes. Se o meu eu autêntico é que eu sou uma escritora cristã, então o que acontecerá comigo se eu sucumbir ao pecado de uma forma que me desqualifica ao ministério cristão? Ou se eu simplesmente não quiser mais escrever? Se o que eu faço é quem eu sou, então devo sempre manter uma performance, sempre me comportar assim, e implacavelmente buscar a aprovação dos outros para ter certeza de que estou fazendo certo.
Nós, humanos, somos finitos, frágeis e inconstantes. Assumimos um papel reservado apenas a Deus quando criamos nossas próprias identidades e evocamos nosso próprio valor. Temos que ser nosso próprio deus, nossa própria fonte de significado, nossa própria fonte de poder e razão de ser. A verdade é que não podemos suportar isso. Nossa identidade e valor devem vir de uma fonte fora de nós mesmos, maior do que nós mesmos, mais permanente e estável do que nós mesmos, melhor, mais bela e mais verdadeira do que nós mesmos. Nossa identidade deve estar enraizada em algo (alguém) imutável, fixo e eterno.
Page está assustada e zangada, porque sabe que sua identidade depende da adesão e afirmação de outros humanos finitos, frágeis e inconstantes. Sua existência é tênue, porque é autoconfiante. Na verdade, Page, agora trans, estava recém-casada com uma mulher, mas se divorciou dela depois de se assumir como homem.
A verdade é que ela e todos nós fomos feitos não para confiarmos em nós mesmos ou para nos determinarmos, mas para descansarmos em nosso Criador imutável, amoroso e bom.
O golpe contra nosso criador
Hoje no Ocidente, acreditamos que a coisa mais importante em nós é nosso desejo sexual. O sexo tornou-se tão central para o nosso modo de vida que negar aos outros sua preferência sexual ou suas ambições sexuais é negar-lhes sua própria identidade e sua chance de felicidade. Nós idolatramos tanto o romance, o erotismo e os relacionamentos que limitar qualquer uma dessas expressões, pensamos, é limitar a autenticidade e a própria vida. Adotar uma ética sexual bíblica agora é considerado discurso de ódio em todas as universidades, em jornais e na legislação.
Christopher Yuan é hoje autor e professor no Moody Bible Institute. Mas anos atrás, ele disse:
a sexualidade era o cerne de quem eu era, e tudo e todos ao meu redor afirmavam isso. E se a frase eu sou gay realmente significa que isso é quem eu sou, seria totalmente cruel se alguém me condenasse simplesmente por ser eu mesmo. No entanto, sabemos que somos criados à imagem de Deus (Gn 1.27). Assim, rejeitar nossa essência inerente e substituí-la simplesmente pelo que sentimos ou fazemos é, na realidade, uma tentativa de golpe de estado contra nosso Criador.
Vemos aqui novamente o pensamento dualista. Em vez de ver os seres humanos como almas unificadas e encarnadas, essa maneira de pensar diz que “nosso verdadeiro eu é diferente do corpo em que vivemos […]; nosso corpo é algo menor do que nós e pode ser usado, moldado e mudado para corresponder a como nos sentimos”.
Mas há alguma outra esfera além do gênero e da sexualidade onde dizemos que o que sentimos prevalece sobre quem realmente somos, sobre nossa identidade?
E se uma adolescente negra for à sua conselheira e disser: “Eu me sinto branca”? E se a conselheira encorajar a garota a usar um nome culturalmente aceito como “de branco”, se envolver em atividades brancas e procurar tratamento para mudar a cor de sua pele e a textura de seu cabelo? A conselheira seria corretamente demitida e sua licença revogada, e haveria um protesto público apropriado. Em vez disso, o curso ético de ação seria que a conselheira ajudasse a garota a ver que sua pele e cabelo negros são lindos, que sua vida como uma garota negra é importante e infinitamente digna, que o mundo precisa de sua boa contribuição como a garota negra que ela foi criada para ser.
Da mesma forma, não dizemos a uma garota que é perigosamente magra, mas só vê obesidade quando se olha no espelho: “Sim, porque você se sente acima do peso, você deve realmente ser”. O curso adequado de tratamento para uma garota com um transtorno dismórfico corporal é ajudá-la a se sentir confortável em seu corpo, ajudá-la a tratar seu corpo com respeito e práticas saudáveis, e combinar seus sentimentos sobre seu corpo com o que é verdadeiro sobre ele.
Como já dissemos, o corpo feminino é glorioso, bom e digno de proteção e valorização. O corpo feminino não é defeituoso. A fisiologia feminina não precisa ser corrigida. Daqui a décadas, temo por um resultado semelhante ao do aborto: milhões serão desfiguradas ou mortas, e perceberemos que os danos irreversíveis nunca deveriam ter ocorrido. Veremos que uma abordagem mais integral e unificadora do corpo como apoio às meninas que sofrem teria sido muito melhor.
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