sexta-feira, 22 de novembro
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A exegese que adora a Deus

Princípios que devem governar o exegeta e sua exegese

Então, que princípios devo adotar para fazer exegese, para descobrir o que determinada passagem realmente diz? Como descubro o seu significado intencional e, ainda assim, tenho algo para pregar?

Muitos livros foram escritos sobre exegese, e os maiores deles não são necessariamente os melhores. Este pequeno livro sobre pregação talvez não possa resumir o que eles têm a dizer. Pode apenas ressaltar alguns pontos, cativando nossa atenção ao que é básico. Este livro pode impedir que você caia no abismo do desastre exegético, ao colocar seu pé em solo firme e seguro.

Para evitar a ruína tanto de nós mesmos como de nossos ouvintes, temos de perguntar e responder sete perguntas, antes de pregar qualquer passagem da Palavra de Deus. Gaste tempo! Não estude para produzir um sermão — não! não! Estude a fim de entender o texto. Esta é a regra que o pregador tem de respeitar antes de qualquer outra regra. O sermão que você prega eventualmente é quase nada, se comparado com aquela grandiosa obra que você realiza no lugar secreto.

O que Deus espera de mim quando me envolvo com a exegese?

Ele espera haver em mim a recordação de que o Livro a ser estudado é a sua santa Palavra. Espera que eu encare este livro com admiração e sussurre em temor: “Deus falou neste livro! Deus fala neste livro!” Ele espera que eu o abra com adoração, temor, gratidão e reverência. As profundezas da minha alma têm de ser dilaceradas pelo pensamento de que estou na presença de uma revelação divina. Este é um momento sagrado. Lágrimas podem surgir, bem como um choro de alegria.

Deus espera que eu creia em tudo que vier a ler. Deseja que eu fale com Ele, enquanto faço a leitura. Deus espera que eu entesoure tudo no coração, comprovando que o Livro é mais doce do que o mel e mais precioso do que o ouro. Ele espera que eu renove meus votos de colocar tudo em prática.

Deus espera haver em mim a lembrança de que Ele me deu o seu Livro como uma revelação. Portanto, ele tem um significado. Sim, a passagem que estou lendo tem um significado. O autor humano estava certo não somente do significado que tencionava transmitir (e isso eu preciso descobrir), mas também do fato que as suas palavras tinham um significado mais completo do que ele mesmo podia assimilar. Ele estava ciente de que escrevia para tratar de uma situação específica e de que suas palavras atingiriam toda a igreja de Cristo, em todas as gerações. Como posso estar certo disso? Por que 1 Pedro 1.10-12 o ensina. O Senhor espera que eu também lembre isso.

Deus espera que eu me aproxime de sua Palavra sem quaisquer noções preconcebidas a respeito do que ela deveria dizer e que, em vez disso, descubra com humildade e obediência o que a Palavra realmente diz. Ele espera que haja a lembrança de que sou uma criatura cujo entendimento é bastante limitado. E não somente isso, mas também que sou um pecador cuja habilidade de entender foi severamente prejudicada. Deus espera que eu admita que jamais entenderei seu Livro sem a ajuda pessoal dele mesmo, e que suplique essa ajuda.

A Bíblia pode ser estudada por qualquer homem em seu escritório. Mas este não pode ser um verdadeiro exegeta, e um verdadeiro pregador, se não estudar com uma atitude íntima de submissão. A exegese é um trabalho árduo. É uma disciplina acadêmica que impomos sobre nós mesmos. Antes de tudo isso, a exegese é um ato de adoração.

Qual o significado gramatical das palavras?

O Sagrado Livro de Deus é constituído de palavras. Algumas delas são substantivos; outras, verbos. Há também artigos, adjetivos, advérbios, numerais, pronomes, preposições, conjunções, interjeições, etc. Os substantivos podem estar no singular ou no plural. Os verbos podem ter variação de sentidos, tempos, modos e vozes. Todas as palavras estão dispostas em sentenças, e a maneira como estão dispostas dá significado à sentença!

Isto não deve amedrontar-nos. Você já leu este livro por algum tempo. Ele também é formado de palavras de várias classes, dispostas em sentenças, tendo em vista comunicar algo de minha mente à sua. Se eu tivesse usado palavras diferentes ou se tivesse disposto as mesmas palavras em outra ordem, você obteria um significado diferente. Portanto, a gramática é importante. Sem ela, é impossível escrever um livro.

De modo semelhante, cada sentença da Bíblia tem um significado. Se as palavras fossem diferentes, e a estrutura gramatical fosse modificada, teria um significado diferente. Portanto, quer gostemos, quer não, jamais poderemos ter exatidão exegética se não tributarmos atenção cuidadosa às palavras e à maneira como elas estão dispostas na sentença. Este é o trabalho da exegese.

Os pregadores têm de aprender a amar gramática! Precisam fazer o esforço para entender como a linguagem funciona. Se não fazem isso, é impossível que cumpram a sua tarefa. É verdade que a Bíblia é um livro inspirado por Deus. Mas é um livro. Tem de ser lida como um livro. Precisamos respeitar o sentido gramatical básico de suas palavras e sentenças. Sem dúvida, isto pode ser afetado pelo tipo de literatura em que as suas palavras foram escritas — e este é o assunto que consideraremos a seguir. Mas, temos de encarar o fato: a exegese pode ser feita apenas por pessoas que entendem a Bíblia em seu primeiro sentido e que aceitam as suas palavras e sentenças no seu significado normal.

Nesta época de minha vida, tenho desfrutado do privilégio de viajar por muitos lugares e conhecer vários pregadores. Sinto-me triste em dizer-lhe que muitos deles têm sido infectados pela epidemia mundial de negligência para com a gramática. Não conhecem a gramática, não se importam com ela, não lhe tributam muita atenção quando estudam as passagens bíblicas sobre as quais pregarão. Apesar disso, quase todos os pregadores que conheço crêem que a inspiração divina da Bíblia se estende a cada uma de suas palavras! Há algo seriamente errado; é tempo de corrigirmos isso.

Em que tipo específico de literatura se encontram as palavras da Bíblia?

As palavras não existem para si mesmas. Até o simples “não” é uma resposta a algo que acabou de ser dito. Toda palavra tem um contexto. Algo foi dito antes e algo virá depois. Não estamos apenas falando sobre frases e sentenças, mas também sobre o tipo de literatura em que essas frases e sentenças foram escritas. Isto é algo ao que devemos dar atenção cuidadosa, enquanto procuramos descobrir o significado intencional de uma parte específica da Palavra de Deus.

Existem inúmeras leis na Bíblia, especialmente na primeira parte do Antigo Testamento. As leis foram escritas em forma de prosa, bem como os relatos históricos. Mas o estilo que usamos para falar uns com os outros é bem diferente. Tornamos nossa conversa mais interessante por usarmos todo tipo de linguagem figurada — “Ela é uma fera”, “Ele caiu do cavalo!”, “O feitiço virou-se contra o feiticeiro”, “Ele é uma besta!”. Todos sabemos que essas frases não devem ser entendidas literalmente, mas compreendemos o seu significado. Portanto, é evidente que a prosa e a conversa pessoal não devem ser interpretadas da mesma maneira. Isto também é verdade quando lemos a Bíblia.

Não podemos interpretar da mesma maneira todo tipo de literatura. Além da prosa usada na Lei e nos relatos históricos, conforme já mencionamos, existe abundância de poesia na Bíblia: uma parte dessa poesia se encontra no livros de Jó, Salmos e Cântico dos Cânticos; outra parte, nos livros proféticos; e outra parte, em seções longas ou curtas de outros livros das Escrituras. Encontramos também a literatura sapiencial, os evangelhos e as epístolas. E temos ainda a linguagem apocalíptica — uma maneira de argumentar usando linguagem exagerada, números, figuras de monstros e visões extraordinárias. Se lêssemos todos esses tipos de literatura da mesma maneira, ficaríamos realmente bastante confusos!

Embora tenhamos diferentes tipos de literatura na Bíblia, jamais devemos esquecer de prestar atenção ao sentido gramatical de tudo que lemos. Mas, ao fazer isso, devemos gastar tempo para recordar que o significado literal de uma passagem pode não ser, necessariamente, o seu significado intencional. E este é o significado que estamos buscando.

Por exemplo, ao escrever a respeito de um tempo de alegria extraordinária, Isaías predisse: “E todas as árvores do campo baterão palmas” (Is 55.12). O que ele pretendia dizer? Com certeza, Isaías não estava dizendo que as árvores desenvolverão novas qualidades admiráveis em algum tempo futuro! De modo semelhante, a afirmação “o justo florescerá como a palmeira” (Sl 92.12) não ensina que os crentes idosos brotarão. Igualmente, a exortação “acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas” (Mt 7.15) não é uma advertência contra pregadores que vestem casacos feitos de lã! Não podemos entender estas afirmações sem assimilarmos o sentido gramatical das suas palavras, mas nenhum de nós é demasiadamente tolo, a ponto de pensar que o sentido literal de tais palavras é o significado intencional. É esse significado intencional que nossa exegese procura descobrir, para depois pregarmos em público.

Qual é o contexto imediato e o mais amplo?

As palavras são encontradas em frases e sentenças; e sentenças formam, geralmente, parágrafos. Esses parágrafos, por sua vez, fazem parte de algo maior, como um capítulo. E os capítulos são partes de um livro. Também precisamos ter isso em mente quando nos dedicamos à exegese.

Se ignorarmos o contexto imediato e o contexto mais amplo, podemos fazer a Bíblia afirmar o que desejamos que ela afirme. O material que constitui este livro sobre pregação foi apresentado originalmente em forma de palestras. Todas as palestras foram gravadas. Agora, imaginemos alguém comprando uma fita cassete ou CD e gastando tempo para editar as palestras. Imaginemos que essa pessoa mantém cada sentença intacta, mas usa seus aparelhos eletrônicos para colocar as sentenças em ordem diferente. Depois de fazer isso, tal pessoa coloca um anúncio num jornal evangélico e começa a vender seus próprios cassetes e CDs.

A voz na gravação seria a minha. Cada sentença seria minha, exatamente como as proferi. Mas a palestra seria outra. Talvez pareceria uma miscelânea de sentenças incoerentes ou teria um significado diferente do que eu tencionava originalmente.

Isto é exatamente o que acontece quando pregamos sobre uma frase ou sentença da Bíblia e não esclarecemos o seu contexto imediato ou mais amplo. Quantas vezes já ouvimos “importa-vos nascer de novo” sendo pregado como um mandamento. Isto é uma total distorção do seu significado. Pregar essas palavras como um mandamento equivale a enganar cada adulto e cada criança que nos ouve. O novo nascimento não é ordenado em nenhum lugar da Bíblia. O arrependimento é ordenado. A fé no Senhor Jesus também é ordenada. Mas o novo nascimento não é, nem pode ser, ordenado na Bíblia, porque é uma obra realizada completamente por Deus. Quando nosso Senhor disse a Nicodemos: “Importa-vos nascer de novo”, estava fazendo uma declaração veemente do fato. Essa é a verdade que tem de ser enfatizada a qualquer congregação que nos ouve em nossos dias. Pregar qualquer outro significado não é somente uma falta de exatidão exegética, é também um pecado.

Em várias ocasiões, ouvi sermões que mencionam 1 Coríntios 2.9, um versículo em que Paulo se refere a Isaías 64.4. A parte principal deste versículo diz: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. Todos os pregadores que ouvi usaram este versículo para falar sobre o céu. Fizeram isso porque tiraram as palavras de seu contexto. 1 Coríntios 2 não é um capítulo que fala sobre o céu, mas sobre o fato de que o povo do Senhor pode ver e apreciar coisas que estão escondidas para os não-convertidos. Que privilégio extraordinário nós temos! Que coisas maravilhosas podemos ver! O coração não-convertido é incapaz até de imaginar essas coisas. Mas essas são as coisas que nos emocionam completamente. Este é o assunto do versículo. Por isso, tanto é errado como prejudicial dar-lhe um significado que o autor divino não tencionava que ele tivesse.

Dedicar-se mais é a única maneira de evitar erros exegéticos. Antes de pregar sobre qualquer parte de um livro da Bíblia, devemos ter familiaridade com todo o livro. Não somente isso, devemos possuir um entendimento competente a respeito de quem o escreveu, para quem, por que e quando o escreveu.

O quando é especialmente importante, pois é a razão da nossa próxima pergunta.

Qual o contexto histórico?

A Bíblia menciona literalmente milhares de acontecimentos, e não ocorreram todos na mesma época. Cita inúmeras pessoas, que não viveram no mesmo tempo. Ensina inúmeras verdades, mas estas não foram reveladas na mesma época. Existe uma grande linha histórica que todo pregador tem de saber tanto em esboço como em detalhes. Ele precisa saber com certeza o que aconteceu e quando aconteceu. Ele precisa ser capaz de identificar cada momento dessa linha histórica e dizer o que estava sendo revelado naquele momento, bem como o que seria revelado depois.

Se não pode fazer isso com facilidade, está se encaminhando ao desastre exegético; os efeitos do seu ministério sobre os outros serão catastróficos. Deus é gracioso, mas ele não dispensa a sua graça na mesma medida a todos os homens e mulheres. Há semelhanças admiráveis, porém grandes diferenças, entre um rascunho de pintura, um esboço cheio, um quadro pintado e um filme colorido, mas essa foi a maneira como Deus revelou seu grandioso plano de redenção através dos séculos. A história do Antigo Testamento não é a mesma no começo, no meio e no fim. O Antigo Testamento não é o Novo. A sombra não é a substância. A situação nos evangelhos não é a mesma que os precedeu ou que os sucedeu. Os crentes antes do Dia de Pentecostes não eram iguais aos que se converteram depois. No início, a igreja de Atos não era tão madura ou internacional como o era no final do relato do livro. A igreja na terra ainda não desfruta o que desfrutará depois da segunda vinda de Cristo.

Em Jó 19.25-27, aquele crente sofredor exclama: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros”. Se sabemos onde Jó se encaixa na grande linha histórica das Escrituras, podemos começar a apreciar quão extraordinária foi essa declaração. Mas, se Jó disse essas palavras depois que Paulo escreveu 1 Coríntios 15, não existe nada especial nelas. E seríamos forçados a dizer que a maior parte do seu comportamento era assustador.

Em Atos 19.2, doze homens religiosos declararam: “Nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo”. Se esses homens tivessem vivido no tempo de Abraão, nada haveria de incomum na afirmação deles. Mas eles disseram isso depois do Pentecostes, quando a igreja já existia por vários anos. A ignorância desses homens era uma prova de que não eram convertidos, e isso explica por que Paulo os tratou da maneira descrita no relato de Atos 19.

Em Números 15.32-36, o Senhor ordenou que fosse executado um homem encontrado apanhando lenha no sábado. Creio que precisamos estar bem certos de onde se encaixa este incidente na grande linha histórica. De outro modo, talvez nos veríamos aplicando esta ordem do Senhor ao seu povo hoje. E isso resultaria em uma drástica diminuição das pessoas em nossas igrejas! Precisamos dizer algo mais? O argumento é claro: ninguém pode ser um exegeta responsável e, por conseguinte, um verdadeiro pregador da Palavra, se não possui muita clareza a respeito do contexto histórico da passagem sobre a qual pregará.

Outras passagens da Bíblia trazem luz a esta passagem?

A Bíblia, constituída de 66 livros, é um livro único que interpreta a si mesmo. Se encontrarmos alguma passagem obscura, outras passagens nos ajudarão a entendê-la. Quando estamos presunçosamente certos de que é correta a nossa interpretação pessoal de certa passagem, outras passagens nos corrigirão e nos humilharão. Se tivermos de ser bons exegetas, é essencial que conheçamos toda a Bíblia.

Se estivéssemos pregando todo o livro de Isaías, no devido tempo chegaríamos no capítulo 42. O capítulo começa com estas palavras: “Eis aqui o meu servo, a quem sustenho” (Is 42.1). Mas a respeito de quem o profeta falava? Nem preciso imaginar. Não preciso ser confundido pela grande variedade de teorias expostas por alguns comentários bíblicos. Mateus 12.15-21 nos diz que esta passagem se cumpriu no ministério terreno de nosso Senhor Jesus Cristo. O seu caráter foi tal, que não provocou conflito desnecessário com seus inimigos. Posso pregar uma mensagem clara com base em Isaías por causa da luz trazida por outra passagem bíblica.

Se pregasse sobre Amós 9.11-15, seria tentado a dizer aos meus ouvintes que o profeta estava afirmando que, um dia, os descendentes de Davi serão restaurados aos judeus, como uma família real, e que, naquele tempo, a terra de Israel terá influência e prosperidade renovadas. À primeira vista, isto é o que as palavras parecem significar. Mas não podemos descansar na primeira impressão. E não podemos interpretar uma passagem sem fazermos a sexta pergunta. Atos 15.15-17 nos fornece luz admirável sobre o que Amós disse. Atos nos mostra que a predição de Amós se cumpre na conversão dos gentios e de sua inclusão como parte da igreja de Cristo. Ao fazer isso, Atos também nos dá um princípio pelo qual podemos descobrir o significado de muitas profecias similares encontradas no Antigo Testamento. Não pode haver exatidão exegética onde não há interpretação da Escritura à luz da Escritura.

Quem ousaria pregar sobre Melquisedeque, em Gênesis 14.18-24 sem referir-se a Hebreus 5.5-11 e 7.1-28? Quem contaria a história do maná, em Êxodo 16, sem estudar, igualmente, toda a história de João 6? Quem ousaria explicar por que a tribo de Dã está ausente da lista de Apocalipse 7.4-8, sem determinar a história dessa tribo em todo o Antigo Testamento? E quem seria tão ousado que falaria sobre qualquer afirmação doutrinária das Escrituras, sem ter em mente todas as passagens que tratam do mesmo assunto? É vital compararmos Escritura com Escritura. Se não o fizermos, afundaremos na areia movediça da confusão, do desequilíbrio e do erro.

De que maneira esta passagem aponta para Cristo?

Dissemos algo a respeito disso na Parte 1, mas esse é um ponto que devemos enfatizar novamente. A Bíblia revela Cristo. Ele é o grande tema das Escrituras. Cada parte da Bíblia aponta para Cristo. Se não podemos ver como uma passagem específica aponta para Ele, isso acontece porque ainda não entendemos a passagem como deveríamos. Onde Cristo não é o centro, ali não há exatidão exegética.

Não posso me desculpar pelo que escrevi antes. Tudo ao meu redor são vozes que dizem algo diferente. Estão proclamando que é errado insistir no fato de que a Bíblia é cristocêntrica. Estou indo longe demais, dizem essas vozes. De acordo com elas, devemos, antes, afirmar que a Bíblia é teocêntrica. Ela é mais teocêntrica do que cristocêntrica. Concordo com isso — mas não totalmente. É claro que a Bíblia é um livro que fala sobre Deus e que nos ensina sobre Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. Mas este Deus se relaciona conosco somente por meio de Cristo. O único Deus que existe é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nunca se revelou a si mesmo, a não ser por meio de Cristo. Não há outro caminho para esse Deus, exceto Cristo. O Espírito que age em nós é o Espírito de Cristo. Quando chegarmos ao céu, o único Deus que veremos é Cristo. Nada — nada mesmo — pode ser teocêntrico, se não for cristocêntrico. Pensar que algo pode ser teocêntrico sem ser cristocêntrico é um enorme erro. Admitir que a Bíblia é um livro que fala sobre Deus é admitir que ela fala sobre Cristo!

Mas todas as partes da Bíblia não apontam da mesma maneira para Cristo. Por exemplo, onde está Cristo em Eclesiastes? Este livro nos ensina que, se Deus está fora de nossa vida, ela não tem significado; e que, se amamos a Deus e o adoramos, a nossa vida está repleta de significado. Então, como podemos conhecer a Deus? Eclesiastes suscita essa pergunta em nossa mente, mas não nos dá a resposta. Deixa-nos com fome de conhecer a Deus, mas não nos mostra o caminho para ele. É dessa maneira que Eclesiastes aponta para Cristo. Suscita a pergunta para a qual Cristo é a única resposta. Portanto, Eclesiastes aponta implicitamente para Cristo.

Outros livros apontam explicitamente para Ele. Isto é verdade a respeito de cada livro do Novo Testamento. Todos eles o mencionam por nome. Também podemos dizer, que estes livros apontam para ele diretamente. Mas há outros livros das Escrituras que apontam diretamente para ele e não o mencionam por nome. Isaías e o livro de Salmos seriam bons exemplos disso. Outros livros, tais como os cinco primeiros livros da Bíblia, por exemplo, apontam para ele por meio de predições, figuras, símbolos e cerimônias. Podemos dizer que esses livros falam sobre ele indiretamente.

Alguns leitores podem não se sentir à vontade com as quatro palavras que destaquei. Mas creio que todos concordarão que o Espírito Santo, que inspirou cada autor bíblico, é o Espírito de Cristo. Creio que todos recordarão que o ministério do Espírito Santo é sempre apontar para Cristo. Essa foi a razão por que nosso Senhor disse: “Abraão… alegrou-se por ver o meu dia” ( Jo 8.56); “Moisés… escreveu a meu respeito” ( Jo 5.46); “Davi… lhe [me] chama Senhor” (Mt 22.45). Todo autor bíblico escreveu a respeito do Senhor Jesus. Portanto, aqueles que pregam esses autores devem pregar o Senhor Jesus Cristo. Se Cristo não é o conteúdo e o âmago da pregação deles, são culpados de inexatidão exegética.

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O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Pregação pura e simples, de Stuart Olyott, Editora Fiel.


Autor: Stuart Olyott

Stuart Olyott nasceu no Paquistão, em 1942. Foi criado na Ásia, Inglaterra e Pais de Gales. Pastoreou igrejas em Londres, Liverpool e Lausanne. Atualmente, é o Diretor Pastoral do Movimento Evangélico do País de Gales. Viaja por muitos lugares, servindo como preletor em conferências. É autor de vários livros.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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