A alegria da comunhão pessoal com Jesus em nosso novo corpo ressuscitado será uma alegria incomparável, superior a qualquer coisa que tivermos experimentado nesta vida. Ainda em seu ministério terreno, Jesus ofereceu a seus discípulos a sua própria alegria: “Tenho lhes dito estas coisas para que a minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15.11, NAA). “Digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos” (Jo 17.13, ARC). A alegria de Jesus era, supremamente, uma alegria eterna de amor por seu Pai: “Eu amo o Pai” (Jo 14.31). Compartilhar da alegria de Jesus significa compartilhar da alegria do Filho no Pai. Essa é a razão pela qual a alegria seria completa. Mas Jesus sabia que essa plenitude de alegria não atingiria seu clímax nos limites desta vida terrena.
Portanto, Jesus orou em nosso favor (Jo 17.20) para que, no futuro, nos fossem dadas capacidades para desfrutar comunhão com ele tanto quanto um ser criado poderia fruir. Jesus orou: “Pai justo […] Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, a fim de que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles esteja” (Jo 17.25-26). Isso é uma promessa de que não seremos deixados à mercê de nossas próprias capacidades para amar e desfrutar o Filho de Deus. Receberemos o amor do Pai ao Filho. “O amor com que me amaste esteja neles.” Seremos capazes de compartilhar do deleite do Pai em seu Filho. “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). As palavras “me comprazo” expressam como um Deus infinito se deleita em um Filho infinitamente glorioso e precioso.
A nossa esperança de desfrutar cristo com o deleite de Deus
Essa esperança é maravilhosa, especialmente quando compreendemos quão deficientes e imperfeitos somos em nossas emoções agora. Todos sabemos que o nosso amor por Jesus e a alegria que o acompanha são pateticamente fracos em comparação ao que Cristo merece. As nossas afeições em nosso relacionamento com Jesus ficam muito aquém do que sabemos que deveriam ser. Então, qual é a nossa esperança de gozo apropriado quando o virmos face a face em nosso corpo glorificado, em sua vinda?
A nossa esperança é que a alegria que provamos nesta vida (1Pe 2.3) receberá uma infusão de capacidade sobrenatural, além do que podemos imaginar. Jesus orou a respeito disso. E essa infusão acontecerá. Deus derramará em nós o seu próprio amor por Cristo. Desfrutaremos Cristo com o próprio gozo de Deus. É verdade que nossa alegria em Jesus agora mesmo é uma obra de Deus — Deus, o Espírito Santo. A nossa alegria em Deus e em seu Filho se deve à presença do Espírito Santo em nossa vida, criando a capa- cidade de nos deleitarmos em Deus e em Cristo (Rm 14.17; 15.13; 1Ts 1.6). Mas, em sua oração em João 17.26, Jesus pede algo mais. Já conhecemos a Deus em alguma medida. E nosso amor e nossa alegria foram vivificados. Isso é o novo nascimento. Agora, porém, Jesus promete ir além: ele tornará Deus conhecido de maneiras novas e inimagináveis, com o resultado de que o amor de Deus pelo Filho se tornará mais plenamente o nosso próprio amor pelo Filho, para que sejamos capazes de desfrutar Cristo com a pureza e a intensidade com as quais deveríamos. Não seremos impedidos por nosso mundanismo atual e pelas corrupções remanescentes, tampouco pelas restrições de um corpo caído.
Aumento de alegria depois da morte
Esse novo nível de alegria em Deus que teremos na comunhão com Cristo será experimentado parcialmente quando morrermos (se Cristo não tiver retornado ainda) e, depois, de maneira ainda mais plena, na segunda vinda. Paulo diz em Filipenses 1.23: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). Quando morrermos, nossa alma será imediatamente aperfeiçoada na presença de Cristo (Hb 12.23). Mundanismo e corrupção não mais obstruirão as afeições de nosso coração. E a nossa comunhão com Jesus será mais imediata no céu do que o foi neste mundo. É por essa razão que Paulo diz que a morte será “incomparavelmente melhor”. A alegria dessa comunhão sobrepujará qualquer coisa que tivermos conhecido aqui na terra.
No entanto, uma comunhão incorpórea com Jesus não é a esperança final ou mais elevada de um cristão. Paulo nos dá um vislumbre de nossa esperança final em 2 Coríntios 5. Por um lado, o apóstolo repete a essência de Filipenses 1.23: “Estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). Isso é “incomparavelmente melhor”. Por outro lado, lamenta ser despojado de seu corpo e ficar “despido”, quando preferiria ser “revestido” com seu corpo ressurreto: “Os que estamos neste tabernáculo [nosso corpo mortal] gememos angustiados, não por querermos ser despidos [sem corpo], mas revestidos [com nosso corpo de ressurreição], para que o mortal seja absorvido pela vida” (2Co 5.4). Isso deve significar que o “incomparavelmente melhor” de morrer e estar com Cristo (Fp 1.23) é sobrepujado pelo incomparavelmente muito melhor de ser revestido com um novo corpo na segunda vinda de Cristo. Isso me leva a concluir que nosso desfrute da comunhão com Jesus, quando ele vier, será muito maior do que o nosso desfrute de sua comunhão no período entre a nossa morte e a segunda vinda. E essa alegria maior resultará em parte do fato de que nos relacionaremos com ele em nosso corpo ressurreto. Parte da razão para atribuirmos nossa alegria maior ao fato de recebermos um novo corpo é que os nossos sentidos físicos novos e glorificados serão poderosos, acima de nossa concepção presente, para que, por meio deles, tanto percebamos quanto expressemos as dimensões da pessoa e da obra de Cristo em maneiras anteriormente impossíveis. Outra razão pela qual nossa alegria em Jesus será maior, quando tivermos corpos glorificados, é que a inter-relação entre o nosso corpo espiritual glorificado (1Co 15.44) e o nosso espírito glorificado estará mais íntima e perfeitamente entrelaçada do que o nosso espírito e o nosso corpo provam agora.
“Entra no gozo de teu Senhor”
Independentemente de como tentamos explicar essa frase, Jesus deixa claro que, em sua vinda, entraremos em uma nova experiência de alegria, a qual ele chama de entrar em seu próprio gozo. Na parábola dos talentos, Jesus retrata a si mesmo como um homem que retorna ao seu país depois de sair para uma viagem e confiar sua propriedade a seus servos. Quando os chama e lhes dá recompensas de acordo com sua obra fiel, ele diz a cada um dos servos fiéis: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mt 25.21-23). Essa é a consumação do propósito expresso em João 15.11: “Eu vos tenho dito essas coisas a fim de que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo”. Na segunda vinda, Jesus prossegue e completa o propósito que começou em nossa vida nesta era: “Entra nesse gozo — o meu gozo, o gozo de teu Senhor. Por fim, esse regozijo será completo”.