Sejamos honestos. Quando igrejas falam a respeito de “alcançar além das fronteiras socioeconômicas”, elas estão se referindo a pessoas de classe média (e acima) alcançando as pessoas mais pobres. Você não vê muitas igrejas pobres em áreas carentes começando programas para alcançar, por exemplo, mães que dirigem carros caros e moram em condomínios de alto padrão. Eu não sei, talvez devessem.
De qualquer maneira, muitas igrejas consideram a barreira econômica a mais difícil de ultrapassar no evangelismo. Barreiras étnicas, por outro lado, são mais óbvias e congregações maduras vão trabalhar com mais sensibilidade para garantir que não criem divisões na igreja. Mas as chamadas diferenças de “classe” podem ser mais sutis. Pessoas de diferentes contextos socioeconômicos podem parecer iguais e falar a mesma língua, mas ainda assim têm experiências de vida diária muito diferentes.
Algumas lições
Aqui estão algumas lições que eu aprendi ao liderar uma igreja que está tentando alcançar pessoas de diferentes contextos.
1. Não somos tão diferentes assim
Primeiro, não somos tão diferentes assim. Pode ser intimidador tentar construir relacionamentos com pessoas que experimentam a vida de forma diferente, especialmente em coisas que parecem tão importantes: trabalho, educação, expectativas, vestuário, condições de vida. Mas, na verdade, tais questões são uma pequena fração daquilo que nos torna quem nós somos.
Você provavelmente tem muito em comum até mesmo com pessoas que parecem muito diferentes de você. Todos querem ser amados, conhecidos e aceitos. Todos nós amamos os nossos filhos e somos gratos a pessoas que são gentis com eles. Todos nós estamos inclinados a nos preocuparmos com o que o futuro nos reserva. Porém, mais importante do que isso, é que todos nós estamos “em Adão” e em desesperada necessidade de um salvador (1Co 15.22).
Igrejas que querem alcançar pessoas além das fronteiras socioeconômicas precisam dar o primeiro passo com base nesses pontos em comum. É bem simples: trate as pessoas com sincera compreensão e sincero respeito. Essa abordagem ajudará a prevenir a sensação de condescendência que permeia e estraga muitas tentativas bem intencionadas de alcançar pessoas além das fronteiras de classe socioeconômica.
2. Ser abençoador ajuda
Segundo, ser abençoador ajuda.
Você não quer construir o seu evangelismo somente com base em doar coisas às pessoas — comida, dinheiro, etc. Tais coisas podem ser úteis, mas se isso é tudo o que você faz, você está dando às pessoas a chance de se achegarem apenas pelo que está sendo doado, e elas permanecerão sem serem desafiadas pela fonte do amor que está por trás daquilo que está sendo ofertado. Isso não significa que você não pode usar os recursos que o Senhor deu a você para ajudar a criar vínculos com os outros. Alguns exemplos:
- Um grupo começa um trabalho de fazer comida caseira para pessoas de um abrigo na casa de um membro. Para algumas pessoas que vivem em um abrigo, é uma bênção poder comer uma comida caseira na sala de jantar de alguém. Você se sente normal; você se sente bem. É muito mais fácil começar conversas e construir relacionamentos através de uma boa refeição.
- Uma avó se opôs à participação da neta em nosso projeto para jovens, por desconfiança. Quando deixamos a sua neta em casa após uma reunião, enviamos para ela algumas sacolas com mantimentos da nossa despensa. Depois disso, fomos saudados com sorrisos quando passamos lá para pegar a menina novamente.
- Um restaurante local fechou por uma noite e nos pediu para convidar pessoas pobres e necessitadas para uma refeição. Umas setenta e cinco pessoas desfrutaram de um delicioso jantar italiano, uma experiência que eles nunca teriam condições de vivenciar. Membros da igreja estavam lá para conversar e construir relacionamentos entre risadas e boa comida. O evangelho foi apresentado e um estudo bíblico evangelístico surgiu a partir desse jantar.
Em todos esses casos, nós fomos capazes de utilizar os recursos que tínhamos para abençoar as pessoas, criar vínculos com elas e, eventualmente, compartilhar o evangelho.
3. O ambiente é importante
Terceiro, o ambiente é importante. Se você quer alcançar pessoas que são menos abastadas e privilegiadas do que você, olhe ao redor para a sua igreja e para a sua vida. Tente imaginar de que forma alguém menos afortunado do que você (desculpe, meus eufemismos estão se esgotando) pode enxergá-los.
As ilustrações dos seus sermões pressupõem que todos frequentaram a faculdade? Ou que todos possuem carro? Ou que todos têm acesso a um computador ou a uma TV a cabo ou roupas de grife? Esse tipo de coisa tem voz própria e diz às pessoas se elas são ou não verdadeiramente bem-vindas a se tornarem parte da sua igreja.
A sua casa — o tamanho, a vizinhança, os móveis — é intimidadora para alguém com poucos recursos? Ela imediatamente faria alguém se sentir mal ou desconfortável? Se sim, você provavelmente terá que ultrapassar mais camadas de defesa para alcançar as pessoas.
A sua casa fica em um lugar onde pessoas mais pobres (que podem não ter carro) podem ir a pé ou por meio de transporte público? Se não, será mais difícil ser hospitaleiro.
4. Conheça a pessoa com quem você fala quando está explicando o evangelho
Por último, se você quer alcançar pessoas de diferentes contextos, considere como você está explicando o evangelho. Para ser clara, a mensagem deve permanecer inalterada. Todos os homens, mulheres e crianças precisam ouvir a respeito de seu pecado, da santidade de Deus, da morte e da ressurreição de Cristo e da necessidade de arrependimento e fé. Mas você pode precisar encontrar novos métodos de transmitir essa mensagem para pessoas que não estão confortáveis com o português ou com a leitura de novas palavras e conteúdo.
Se eu estou compartilhando o evangelho com um profissional instruído da capital paulista, eu posso muito bem convidá-lo para ler um livro comigo, a fim de ajudá-lo a investigar as declarações de Cristo. E certamente há algumas pessoas mais pobres que são bem instruídas e gostam de ler. Mas também precisamos ter outras maneiras de comunicar o evangelho a pessoas que não são leitoras. Dois exemplos: usando vídeos ou histórias para comunicar os mecanismos e temas das Escrituras.
Tradução: Alan Cristie