Os algoritmos das redes sociais estão cada vez mais eficientes em nos conectar com pessoas cujos interesses são os mesmos que os nossos. Arrisco-me até mesmo a afirmar que estão muito próximos da perfeição. Enquanto escrevo este capítulo, realizei alguns testes em redes sociais, sendo bem literal em minhas postagens. Por exemplo: “Algoritmo, me conecte com mães que…”. E fiquei bastante impressionada com os resultados.
Mas eu nem precisaria ser tão direta. Os algoritmos decifram o que você quer ver, no momento em que está vendo, apenas analisando seu comportamento em relação ao conteúdo. Pelo tempo que você gasta em determinado conteúdo, ele já lhe apresenta outros similares. E, se você perder o interesse, ele muda rapidamente. E, assim, você fica girando nessa roda por horas a fio, jogando para cima o que não lhe interessa e gastando seu tempo com aquilo que você mesma escolhe.
No ambiente virtual em que você passa boa parte do dia, está constantemente escolhendo com quem deseja se conectar. Nas redes sociais, você decide quem seguir ou deixar de seguir, quem pode seguir você e quem não deve mais ver o que você compartilha. Define a velocidade na qual quer ouvir alguém falar, quem deseja silenciar ou até mesmo bloquear da sua “vida”. Escolhe o que quer mostrar ou esconder sobre si mesmo, o que deseja apagar e o que prefere fixar.
Na igreja local isso não acontece, não é? Lá, você não escolhe quem entra e quem sai, não escolhe deixar de ouvir as pessoas que pensam diferente de você. Lá, você não pode fazer acepção de pessoas. Você não escolhe as pessoas que fazem parte do corpo com você; é Deus quem escolhe! Deus escolhe, uma a uma, as pessoas que se sentam ao seu lado na igreja para unir as próprias vozes à sua voz em louvor. Some isso ao fato de os relacionamentos neste mundo caído serem extremamente difíceis, requererem esforço e intencionalidade e, então, você terá a receita perfeita para relacionamentos na vida real cada vez mais superficiais — isso quando eles existem.
O fato é que, mesmo dentro da igreja, somos pecadores lidando com pecadores, e estamos nos deixando moldar pelos algoritmos que nos incapacitam a lidar com todo esse barulho desconfortável, porém eficazmente usado por Deus, de ferro afiando ferro. Deus escolhe cada um dos irmãos em Cristo com quem estamos unidos no corpo. Não podemos fazer essa escolha, por mais que tentemos muito (cf. Tg 2.1-5; Rm 2.11; Ap 5.9). Isso sem mencionar o tempo que gastamos presos às redes, em vez de investirmos no estudo da Palavra de Deus — apenas para, depois, nos enganarmos dizendo que não temos tempo para ler a Bíblia. Ou da prontidão em buscarmos respostas prontas de influenciadores que não nos conhecem, em vez de abrirmos a Bíblia e ouvirmos o que Deus tem a nos dizer; ou de ouvirmos nosso pastor, a quem Deus apontou como nosso líder espiritual. Ou mesmo de nossa rapidez em “tirar o corpo fora” quando nossas irmãs precisam de ajuda em serviço, ensino, exortação, aconselhamento ou discipulado. Veremos mais a esse respeito nos próximos capítulos.
As escolhas que as redes sociais nos permitem fazer, bem como seus algoritmos, estão nos dando a sensação de que temos o poder de incluir pessoas em nossas “vidas digitais” — e de excluí-las. É muito poder! E o que acontece é que estamos transferindo para fora do ambiente virtual essa tentativa de exercer poder sobre com quem, como e em que queremos nos relacionar. Mas, como vimos, o natural pós-Queda é justamente que você seja cada vez mais egocêntrica e não queira se relacionar, ecoando a resposta de Caim ao Criador, sobre onde estava Abel: “Não sei; acaso, sou eu tutor do meu irmão?” (Gn 4.9b). Essa é a solução que o mundo lhe oferece por todas as vias: a de que você deve pensar mais em si mesma e buscar a felicidade sozinha.
Você não vai encontrar essa alegria que o mundo promete, minha irmã. Precisamente porque ela não passa de uma miragem, de uma ilusão. Você não foi criada para andar só ou mesmo para caminhar apenas com quem você escolhe digitalmente — até porque não é possível “caminhar” verdadeiramente com alguém de forma digital. Que bom! Deus escolheu você e cada uma das pessoas que estão conectadas a você pelos laços de sangue.
Restaurando conexões de rede para que nossa alegria seja completa
Como vimos, com a entrada do pecado no mundo, nosso acesso a Deus foi negado. Ficamos manchadas pelo pecado e, por isso, não pudemos mais nos relacionar com um Deus Santo. Essa ruptura afetou diretamente todas as outras esferas de relacionamento, inclusive a esfera horizontal que chamamos de “uns aos outros”.
As soluções para restabelecer as conexões envolvem reinicialização e limpeza,[1] mas nós nunca fomos capazes de fazer isso sozinhas. Deus, porém, em sua infinita misericórdia, vem, desde sempre, providenciando os meios para restaurar nossas conexões com ele e nossas conexões uns com os outros. E ele fez isso de forma perfeita e definitiva na cruz do Calvário. O Pai envia seu Filho Jesus para viver a vida que não podemos viver, uma vida santa: “Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação” (2Co 5.18). Ele veio pagar o preço dos nossos pecados e morrer a morte que nós merecíamos (cf. 2Co 5.21). E ressuscitou e ascendeu aos céus, deixando o Espírito Santo para habitar em nós e nos unir uns aos outros (Ef 2.14-22; 1Co 12.12-31).
Nós fomos lavadas pelo sangue de Jesus. Temos permissão para nos comunicar e nos relacionar com o Pai, conforme fomos criadas para fazer (Rm 5.1-2). E, com essa conexão principal restaurada, temos tudo aquilo de que precisamos para nos conectar verdadeiramente umas com as outras (Cl 3.9-11, 15). Isso porque já fomos reconectadas umas às outras no madeiro e já podemos desfrutar um vislumbre do que viveremos na eternidade.[1] Lá no céu, estaremos santificadas em glória, em perfeita união, gozando da presença de Deus. Habitaremos com ele, seremos seu povo e ele estará conosco (Ap 21.2,3). Lá, sim, nossos “contatos” serão perfeitos e nossa alegria será completa e eterna.
O artigo acima é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro: Mulheres que caminham juntas, Organizado por Cláudia Lotti e Renata Cavalcanti, em breve pela Editora Fiel.
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[1] Nos próximos capítulos, as irmãs que aqui se uniram para escrever desenvolvem formas práticas de como já podemos experimentar um gostinho da eternidade, obedecendo ao chamado de Deus