Sejam quais forem as circunstâncias atuais de sua infertilidade, ela trouxe um sofrimento intenso para a sua vida. Talvez você sempre tenha presumido que o seu futuro incluiria filhos e tenha estruturado suas esperanças em torno desse desejo. Você achou que, como a maioria de seus amigos, no momento certo, você daria as boas-vindas aos filhos neste mundo. Achou que os acalentaria enquanto bebês, veria os seus primeiros passos, os ensinaria a jogar bola, os mandaria para a escola com um lanche preparado com amor, compareceria às partidas de futebol e aos recitais de piano, os ajudaria com a lição de casa e pouparia dinheiro para a faculdade. Agora, parece que jamais terá essa oportunidade, e você se pergunta: Quem sou eu?
Seus amigos do colégio parecem estar seguindo a vida deles, considerando o nascimento de seus filhos como algo normal. Claro que eles não têm a intenção de ser insensíveis, mas é muito doloroso para você ouvir histórias sobre as coisas fofas que as crianças disseram ou como está indo o treinamento para a utilização do troninho. Você sabe que eles estão apenas compartilhando suas vidas, porém, ainda assim, você se sente isolada daqueles com quem, certa vez, dividiu momentos alegres.
A infertilidade também é dolorosa de outras maneiras. Intervenções médicas podem ser custosas e demoradas. Suas esperanças aumentam a cada novo procedimento e são arruinadas com o início de cada novo ciclo menstrual. Você pode sofrer abertamente enquanto seu cônjuge sofre em silêncio. Talvez, vocês até culpem um ao outro pela incapacidade de conceber. Isso resulta em um relacionamento desgastado com o seu amigo mais íntimo.
Segundo a medicina, a infertilidade é definida pela tentativa malsucedida de um casal conceber dentro de um ano. Estatisticamente, cerca de 15% dos casais que tentam por um ano não conceberão. Os fatores contribuintes poderiam ser masculinos, femininos ou de ambos. É possível haver mais de um fator que contribua para o problema, e, em algumas situações, é impossível determinar os fatores contribuintes. No entanto, as definições médicas e as estatísticas parecem vãs quando se aplicam a você.
Assim como o autor do Salmo 6, você pode estar clamando: “Minha alma está profundamente perturbada; mas tu, SENHOR, até quando?” (Sl 6.3).
Para você, não importa qual a porcentagem; você simplesmente sabe que não consegue ter um bebê e anseia tanto por um que é capaz de senti-lo. Talvez, assim como o salmista, você tenha se exaurido em choro, algumas vezes, até dormir.
“Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago” (Sl 6.6).
À medida que cada mês passa no relógio biológico da mulher, ela luta com a dor de seu sofrimento e se pergunta por que Deus permitiria que ela tivesse um desejo tão forte de ter filhos se ele planejou que ela não os tivesse. A mulher ouve muitas reclamações de pais com relação aos filhos, e ela se pergunta por que Deus não os impediu de tê-los. A mulher e seu marido frequentemente perguntam a Deus:
Por quê?
Por quanto tempo? Você não se importa?
Às vezes, eles perguntam com raiva, às vezes, desesperados, às vezes, com profunda tristeza e lamento. Essas também são as suas perguntas?
Deus se importa com o seu sofrimento
Deus não está em silêncio em face de seu sofrimento. Ele quer que você vá até ele com suas perguntas e suas dores. Ao fazer isso, ele lhe responde por meio de sua Palavra e da vida de seu Filho, Jesus. Quando Deus fala conosco na Bíblia, é o Deus de todo o consolo que fala. Ele reconhece abertamente que os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor (2Co 1.5). Esse reconhecimento sincero provê a base para a confiança aumentar. Deus não está tentando encobrir, minimizar ou evitar o seu sofrimento. Deus não nos seduz com a promessa de uma vida livre de dor e, então, falha em sua promessa. Pelo contrário, o Deus de todo o consolo compartilha de nosso sofrimento. Quando clamamos em agonia, estamos clamando a um Deus que está profundamente familiarizado com o sofrimento; ele voluntariamente sofreu por nós na cruz, onde levou as nossas dores, e, agora, une-se a nós em nosso sofrimento e caminha conosco pelas águas profundas (Is 43.2).
É em meio ao sofrimento que somos mais bem preparados para entender o consolo transbordante que vem através de Cristo. Um dos aspectos redentores do sofrimento é que ele pode abrir nossos ouvidos para ouvir Deus proferindo palavras de consolo através das Escrituras. Ouça as palavras dele para você.
“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel” (Is 41.10).
Essa mensagem de consolo foi originalmente oferecida ao povo judeu levado em cativeiro e deportado para uma nação estrangeira. Separados de suas famílias e de tudo o que lhes era familiar, eles sofreram intensamente. Deus os consola com a pro- messa de seu amor e cuidado: “Não temas, porque eu sou contigo”. Esse consolo também está disponível a você. Deus ainda é o seu Deus. Ele o fortalecerá e o ajudará.
Talvez você já tenha observado que os caminhos e o consolo de Deus nem sempre assumem a forma que nós esperamos. Em vez de nos dar exatamente o que queremos no momento em que queremos, Deus oferece a si mesmo como um desejo superior. Deus lhe oferece a si mesmo como aquele capaz de satisfazer o seu mais profundo anseio e de entregar a sua maior alegria. Ele oferece a si mesmo como aquele que entregou a própria vida por você. Ele é o Salvador sofredor, o Cordeiro imolado que é digno de receber glória, honra e louvor (Ap 5.12). O seu poder é capaz de trazer luz aos nossos momentos mais escuros e libertação em nossas horas mais desanimadoras.
Considere voltar-se para Jesus e oferecer-lhe a sua confiança. A sua infertilidade trouxe grande decepção e, até mesmo, amargura à sua vida, porém, à medida que passar a conhecer Jesus pessoalmente, você descobrirá que as palavras dele, proferidas há muito tempo para o povo judeu, também se aplicam a você. “Saberás que eu sou o SENHOR e que os que esperam em mim não serão envergonhados” (Is 49.23).
O Cordeiro a quem você oferece a sua confiança é quem ama a sua alma, aquele que faz um caminho pelo deserto infrutífero de sua vida e provê rios para revigorá-lo enquanto você atravessa esse deserto. Ele se deixou ser levado à morte para que as suas feridas pudessem ser saradas.
Em sua carta às pessoas que estavam passando por sofrimento intenso, o apóstolo Pedro começa com uma exaltação a Jesus, o Cordeiro de Deus. Isso o surpreende? A maioria de nós não esperaria que uma carta a sofredores começasse com uma exaltação. No entanto, essa é a forma como Pedro começou. Veja onde Pedro encontra esperança. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).
Pedro continua: “[Nessa regeneração] exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações” (1Pe 1.6). É essa regeneração que pode prover a você a mais profunda satisfação e alegria, pode consolá-lo em seus momentos mais obscuros, pode impedir que a amargura e a ira o consumam e pode fortalecê-lo a fim de que persevere e ainda se torne luz para aqueles que estão tropeçando na escuridão. Essa regeneração permite que você transfira o seu olhar fixo das circunstâncias decepcionantes e dolorosas para o seu Salvador.
Olhar para aquele que foi oprimido em troca da sua vida faz a sua regeneração tornar-se a sua esperança viva e maior alegria.
Como resultado, em vez de ficar preso no sofrimento, você pode começar a olhar de maneira diferente para a sua infertilidade. Enquanto anseia por mudanças em sua família, você também pode ansiar por mudanças em seu coração. A promessa de esperança e consolo da parte de Deus não depende de uma mudança em suas circunstâncias. Ouça o que Pedro diz e que produz alegria inexprimível e gloriosa.
“Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.6-7).
Pedro explica que a alegria inexprimível e gloriosa resulta da fé em Cristo que anseia ver Jesus receber louvor, glória e honra.
Embora o sofrimento da infertilidade extraia clamores de dor por não se ter filhos, a infertilidade, ao mesmo tempo, oferece oportunidades para que algo mais aconteça. Tal sofrimento oferece uma amostra do sofrimento de Cristo e cria uma oportunidade para dedicar-se a ele, à sua glória e ao seu reino. A maior dádiva de todas não é ter um filho, e sim ser filho, filho de Deus. E o sofrimento contínuo oferece uma razão contínua para ansiarmos que Cristo venha e para colocarmos os nossos corações nas coisas do alto, onde as pessoas estéreis terão alegria eternamente. Em sua presença, encontramos prazeres eternos.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissã do livreto de nº 9 do Box 1 – Série Aconselhamento, da Editora Fiel.