Este artigo faz parte da série Gênero e Características literárias dos livros da Bíblia, que são artigos retirados e adaptados com permissão da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel.
O conhecimento do gênero literário de um livro bíblico visa conduzir o leitor ao melhor entendimento das Escrituras, já que a Palavra de Deus é inspirada e que o próprio Deus planejou a escrita de cada gênero para um determinado fim. Esperamos que conhecer o gênero e a estrutura literária de cada livro ofereça ao leitor uma leitura e estudo bíblico mais profundo e proveitoso.
Deuteronômio
Gênero
Deuteronômio narra os eventos havidos entre os fatos registrados em Números e aqueles registrados em Josué. Moisés falou aos israelitas enquanto estavam acampados nas planícies de Moabe, precisamente antes que Josué assumisse o comando e os guiasse à terra de Canaã. O conteúdo dos discursos é conservado em seu contexto; a morte já se
avizinhava de Moisés, e o discurso era constituído por palavras de despedida dirigidas ao povo que fora guiado por ele nos últimos quarenta anos.
Características literárias
Boa parte de Deuteronômio consiste em dois discursos substanciais enunciados por Moisés, exortando os israelitas ao amor e à obediência a Deus (caps. 1–4; 5–26). Com a conquista da Transjordânia concluída com sucesso, Moisés desafiou os israelitas
nesses discursos de despedida. Deuteronômio combina exortação e instruções, e serve de exemplo de como as obrigações pactuais seriam ensinadas.
O discurso de abertura (1.5–4.40) rememora as experiências de Israel sob a liderança de Moisés. Deuteronômio não fala de como Moisés confrontou Faraó ou de como os sinais e prodígios miraculosos forçaram Faraó a deixar o povo partir, mas faz reiterada alusão ao êxodo (cinco vezes no primeiro discurso: 1.20, 34; 4.20, 34, 37). Moisés relembra o providencial e miraculoso cuidado que Deus teve com o povo durante a jornada
do Egito ao Sinai. Então, detalha sua derrota espiritual e militar em Cades-Barneia. Aqui, há referências aos eventos registrados em Números, mas, como o registro em Números, quase nada é dito sobre os eventos havidos durante os quarenta anos da peregrinação
pelo deserto. Menciona-se a jornada que rodeia Edom rumo à Transjordânia, e registra-se a derrota sofrida pelos reis Seom e Ogue com maiores detalhes do que em Números. Então, vem a alocação da terra na Transjordânia para as tribos de Rúben, Gade e a meia tribo de Manassés (como em Números 32), e a narrativa termina com uma referência à súplica de Moisés em seu favor para entrar em Canaã, o que Deus desaprovou (como em Números 27.12-23). Moisés conclui o primeiro discurso com exortações à lealdade ao Senhor.
O segundo discurso começa com exortações (5.1–11.32). A abordagem prossegue até 26.19, com Moisés expondo os estatutos e juízos ligados à aliança sinaítica (caps. 12 a 26). O discurso começa com os Dez Mandamentos, quase idêntico ao vocabulário de Êxodo 20, à exceção do quarto mandamento (5.12-15, nota). Moisés rememora o terror da teofania (uma autorrevelação visível de Deus) no Monte Sinai, com uma convocação dirigida por ele à obediência a Deus. No Monte Sinai, somente o Dez Mandamentos foram dados diretamente pela voz de Deus; as demais obrigações pactuais foram mediadas por Moisés (5.22, nota). O famoso Shemá, “Ouve, Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor”, é dado em 6.4, com a exortação ao ensino, à memória e à obediência. Os capítulos 6–11 estão recheados de exemplos dos cuidados e dos juízos de Deus desde a partida do Egito — todas as alusões aos elementos em Êxodo e Números. Esses exemplos
servem para advertir Israel à confiança no Senhor, e não em si mesma. Isso leva à promessa de sucesso no futuro conflito em Canaã.
Os estatutos e juízos nos capítulos 12–26 incluem regulamentações para culto, alimentos limpos, escravos e dívidas, festas anuais, juízes, cidades de refúgio e várias questões de conduta. A maior parte tem algum paralelo com o material encontrado nos livros anteriores do Pentateuco, paralelos que são examinados nos lugares apropriados.
Os capítulos finais de Deuteronômio contêm um misto de discursos mais breves enunciados por Moisés e relatórios descritivos. Nos capítulos 27–30, Moisés exorta os israelitas a obedecerem ainda uma vez às instruções, ou ao Torá, que ele lhes deu. Moisés dá instruções para uma cerimônia solene a ser realizada no vale entre o Monte
Ebal e o Monte Gerizim, nas proximidades de Siquém, depois que Israel tiver garantido uma posição segura em Canaã — uma cerimônia reminiscente da cerimônia pactual de Êxodo 20.1–24.8, e que Josué mais tarde efetuaria (Js 8.30-35). Essas instruções e exortações são dadas por Moisés com ênfase para a obrigação de Israel diante de Deus de ouvir e obedecer aos mandamentos do Senhor.
As seções finais do livro são igualmente importantes e poderosas (31.1–34.2). Elas incluem a instalação de Josué como o sucessor de Moisés; o grande Cântico de Moisés celebrando a grandeza de Deus e seu cuidado em relação ao seu povo pactual, advertindo, porém, o povo acerca de sua propensão à desobediência (cap. 32); o cântico de Moisés como bênção, dirigido às doze tribos segundo a forma da bênção de Jacó impetrada sobre seus doze filhos em Gênesis 49 (cap. 33); e, finalmente, o adendo descrevendo a morte de Moisés (cap. 34).
Edição por Renata Gandolfo.

Este artigo foi retirado e adaptado com permissão do material de estudo da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel e Ligonier.
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