O ensino das crianças é destacado no Salmo 78, que afirma que uma geração é responsável por transmitir à outra o conhecimento de Deus. Se hoje conhecemos o Senhor, é porque a geração anterior nos transmitiu, fielmente, os atos de Deus em favor de seu povo. A mulher cristã deve estar comprometida com o ensino de seus filhos — e também com o ensino às crianças de sua igreja. Queremos destacar três ensinamentos fundamentais do Salmo 78.1-8:
Escutai, povo meu, a minha lei;
prestai ouvidos às palavras da minha boca.
Abrirei os lábios em parábolas
e publicarei enigmas dos tempos antigos.
O que ouvimos e aprendemos,
o que nos contaram nossos pais,
não o encobriremos a seus filhos;
contaremos à vindoura geração
os louvores do Senhor, e o seu poder,
e as maravilhas que fez.
Ele estabeleceu um testemunho em Jacó,
e instituiu uma lei em Israel,
e ordenou a nossos pais
que os transmitissem a seus filhos,
a fim de que a nova geração os conhecesse,
filhos que ainda hão de nascer
se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes;
para que pusessem em Deus a sua confiança
e não se esquecessem dos feitos de Deus,
mas lhe observassem os mandamentos;
e que não fossem, como seus pais,
geração obstinada e rebelde,
geração de coração inconstante,
e cujo espírito não foi fiel a Deus.
Primeiro destaque: devemos escutar a lei. Não podemos ensinar aquilo que não conhecemos. Por isso, você mesma tem de ser uma aprendiz da Palavra de Deus. Geralmente, escutamos a Palavra de Deus nos cultos públicos ou em outros ensinos formais da igreja, como a escola bíblica, quando a Escritura é exposta, explicada e aplicada à vida. Seja uma aprendiz dedicada.
Segundo destaque: o que aprendemos ouvindo a Palavra é o que devemos transmitir à próxima geração, a fim de que conheçam nosso Deus.
E, finalmente, ensinamos sobre nosso Deus para que a geração seguinte coloque sua confiança nele!
Além das instruções do Antigo Testamento, encontramos também, no Novo Testamento, o apóstolo Paulo destacando o discipulado familiar na vida do jovem ministro Timóteo. Paulo recorda a fé sincera e autêntica que chegou até ele por meio de sua avó Loide e de sua mãe, Eunice: “Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe, Eunice, e estou certo de que também em ti” (2Tm 1.5). Paulo ainda exortou Timóteo a permanecer firme na fé que aprendera desde a infância: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.14,15).
O pastor John Stott[1] comenta sobre a formação familiar de Timóteo com as seguintes palavras:
Timóteo provinha de um lar temente a Deus. Lucas nos conta que ele era filho de um casamento misto, em que o pai era grego e a mãe, judia (At 16.1). Pode-se presumir que seu pai fosse descrente, mas a mãe, Eunice, era uma judia crente que se tornou cristã. E, antes da mãe, sua avó Loide também era convertida, visto que Paulo escreve da “fé sem fingimento” das três gerações. […] Mesmo antes da conversão a Cristo, essas mulheres, tementes a Deus, haviam instruído Timóteo no Antigo Testamento, assim que “desde a meninice” fora instruído nas “sagradas letras”.
Essa observação de Stott evidencia como um lar cristão pode exercer profunda influência espiritual no coração de uma criança. Não podemos, portanto, desperdiçar a oportunidade de falarmos de Cristo às nossas crianças.
Em meio à correria da vida moderna, muitas famílias cristãs têm enfrentado o desafio de manter a fé viva dentro de casa. No entanto, uma das formas mais poderosas e bíblicas de discipular os filhos é por meio do culto doméstico. Trata-se de um momento simples, mas profundo, em que a família se reúne para ler a Palavra de Deus, orar e louvar ao Senhor. Mais do que uma tradição, o culto doméstico é um meio essencial de formação espiritual. Esse é um tempo em que ensinamos aos filhos que Deus é digno do nosso tempo, nossa atenção e nossa adoração. Ajuda-os a ver a fé como parte da vida cotidiana, não apenas como algo reservado apenas aos domingos. Ao verem os pais orando, lendo a Bíblia e cantando, as crianças aprendem, pelo exemplo, uma das formas de amar e seguir a Cristo. Além disso, esse momento fortalece os laços familiares, promove conversas espirituais e dá espaço para perguntas e aprendizados que muitas vezes não surgem em outros contextos. Com o passar do tempo, o culto doméstico se torna uma lembrança preciosa na memória dos filhos: um testemunho vivo do evangelho em casa.
E, por fim, queremos considerar um grupo de crianças que, muitas vezes, pode escapar de nossa atenção: os órfãos. Lembrem-se dos órfãos. Em nossas igrejas, temos crianças que vêm de vários contextos — e algumas são órfãs de pai, de mãe ou até mesmo de ambos. Outras chegam à igreja sem a companhia dos pais. São órfãs espirituais.
Lembro-me de um casal de irmãos, com idades entre sete e nove anos, que chegavam sozinhos a nossa igreja em São Paulo para participar da classe de ensino bíblico infantil. Eram crianças pobres, usavam chinelos e suas roupas eram surradas de tanto uso. Mesmo assim, participavam das aulas, comiam o lanche oferecido pela igreja e retornavam a pé para casa, que ficava nas proximidades. Eram assíduos e interessados.
Devemos, assim, cuidar dessas crianças com zelo e amor, para que sejam acolhidas e cuidadas pela família da fé.
O artigo acima foi extraído do livro Discipulado na prática – mulheres cuidando de mulheres na igreja local, de Renata Gandolfo e Luciana Sborowski, Editora Fiel
[1] John Stott. A mensagem de 2 Timóteo: Tu Porém (São José dos Campos: ABU, 2019).