segunda-feira, 6 de outubro
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O amor fraternal como evidência da fé verdadeira

Sacrifício, serviço e crescimento espiritual

O amor fraternal faz com que você use tudo o que tem para abençoar outros santos, para a glória de Deus. Você não simplesmente dirá: “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos” (Tg 2.16). Você irá à sua casa ou ao banco para obter aquilo de que seu irmão precisa. Você fará tudo o que puder para garantir a alegria dos santos, seus irmãos. Na passagem de 1 Pedro 4.8-10, o apóstolo escreve: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados. Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração. Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. Note que ele diz: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu” (v. 10). Use tudo aquilo com que o Senhor o tiver abençoado. Isso é amor fraternal. O apóstolo João diz essencialmente o mesmo, embora com outras palavras: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo 3.17).

O amor fraternal às vezes exige que se façam sacrifícios práticos pelo bem de outros santos. Você dará mais do que apenas aquilo que sobeja e se esforçará ainda mais. Foi isso que Jesus fez por nós. Ele se sacrificou quando deu sua vida por nós. Ele foi para a cruz e morreu em nosso lugar. A passagem de 1 João 3.16 diz: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos”. A Bíblia diz que também devemos dar nossa vida pelos irmãos — não necessariamente morrendo por eles, mas, sem dúvida, sacrificando-nos pelo bem de outros.

O amor fraternal era evidente na igreja primitiva. A passagem de Atos 2.44-45 nos informa: “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade”. Veja também este trecho de Atos 4.32-37:

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.

José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, […] como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.

Observe que eles vendiam suas propriedades para socorrer os mais pobres dentre eles. Isso é sacrifício. O dinheiro muitas vezes ia para pessoas que os doadores nem conheciam. Eles simplesmente vendiam seus bens e levavam o produto da venda para os líderes da igreja, deixando a cargo deles a distribuição dos lucros entre os necessitados.

Às vezes, as necessidades dos santos são menos tangíveis. O amor fraternal também se expressa em um nível emocional e espiritual. As necessidades não precisam ser físicas para serem muito reais. Por exemplo, o que pode fazer você aceitar irmãos e irmãs que, com frequência, o irritam ou com quem você não concorda em alguns pontos doutrinários muito específicos? É o amor fraternal que faz com que você os aceite.

Outra maneira como o amor fraternal se expressa é em nossa vida de oração. A Bíblia diz que devemos orar uns pelos outros. O que transformará o rol de membros da sua igreja em um guia de oração, de modo que você ore até mesmo por aqueles membros com quem não se relaciona diretamente? É o amor fraternal que faz isso. Quando você ouve que um dos membros morreu, pensa imediatamente em seu cônjuge e filhos enlutados, de modo que ora por eles. Você ouve notícias de irmãos que estão doentes e, então, ora por eles. Você pensa nos irmãos que não têm recursos para pagar suas despesas com educação e, por isso, não podem continuar seus estudos. Você sabe que não tem condições de ajudá-los financeiramente, mas se ajoelha e ora ao Senhor para que os ajude. Você também ora pelos que se desviaram. Você quer que o Senhor os conduza de volta a uma caminhada espiritual com ele.

A bondade fraternal também se expressa no ministério de encorajamento. A Bíblia diz que devemos encorajar e exortar uns aos outros. Com certeza, há crentes que estão passando por momentos espirituais difíceis. Eles estão desanimados. O amor fraternal exige que você faça um esforço para visitá-los em casa. Além da sua presença, você leva uma palavra de encorajamento e conforto e, com isso, anima o espírito abatido. É assim que deve ser a vida na família de Deus.

Seu amor fraternal precisa crescer

Lembre-se de que a passagem que lemos fala sobre crescimento. Como é o crescimento espiritual? Estamos aprendendo que, entre outras coisas, ele diz respeito a acrescentar amor fraternal, ou fraternidade, à piedade. Mas como se acrescenta amor fraternal? Existem pelo menos três maneiras. Primeiro, com quantidade: devemos dar cada vez mais. Em segundo lugar, com intensidade: devemos amar com mais fervor. Em terceiro lugar, com sinceridade: o amor deve ser puro. Vejamos cada um desses aspectos.

Em primeiro lugar, nosso crescimento no amor fraternal deve ser visto no quanto nos doamos. Na passagem de 1 Tessalonicenses 4.9, o apóstolo Paulo diz: “No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros”. Paulo parte do princípio de que, se você é um crente, já tem amor fraternal, porque o Espírito de Deus o colocou em você na sua conversão. Estudamos esse fato no último capítulo. Porém, agora, o apóstolo quer ver isso expresso de forma cada vez maior. Você é cristão? Se sim, uma coisa que posso dizer com certeza sobre você é que você ama os irmãos. O verdadeiro amor fraternal vai além dos limites de sua igreja local. Ele se estende aos cristãos de outras igrejas. Se houver alguma necessidade ali, você fará algo a respeito. Os tessalonicenses ministravam a cristãos espalhados por toda a Macedônia! Paulo pediu que eles se esforçassem um pouco mais. Isso é crescimento cristão. Você nunca está satisfeito com o que faz para o Senhor agora. Sempre quer fazer mais, quando se trata de ser o guardião do seu irmão.

Em segundo lugar, nosso crescimento no amor fraternal deve ser evidente na nossa seriedade. A passagem de 1 Pedro 1.22 diz: “Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente”. Também vemos o mesmo em 1 Pedro 4.8, que diz: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros”. Esses textos falam sobre zelo e fervor. É impossível não perceber quando uma pessoa quer realmente ajudar. Ela não aceita um “não” como resposta. Há pessoas que oferecem ajuda, mas esperam que você recuse. Isso não é seriedade. Onde há amor fervoroso, as pessoas vão além. Existe intensidade em sua expressão do amor fraternal. Se elas visitam um doente, querem fazer tudo que for possível para ajudar a pessoa que não está bem. O coração delas está nisso. Quando oram pelo enfermo, você percebe que não fazem isso de maneira mecânica e apressada, como se estivessem ticando itens de uma lista de compras no supermercado. Elas põem o coração, a alma e a mente em sua oração. Precisamos crescer nessa expressão de amor fraternal.

Em terceiro lugar, nosso crescimento no amor fraternal deve ser evidente em nossa sinceridade. Já vimos isso em 1 Pedro 1.22. Nos primeiros estágios da nossa fé cristã, existe, no nosso coração, uma mistura do bom, do mau e do feio. Por isso, quando ajudamos alguém, queremos, com frequência, que outras pessoas saibam que ajudamos. O crescimento espiritual se evidencia quando chegamos ao ponto em que é irrelevante para nós se o mundo sabe ou não o que fazemos. Queremos que nossa ajuda seja para a glória de Deus.

Um exemplo óbvio dessa sinceridade se dá quando uma bela jovem se junta a uma igreja. Você já notou como os rapazes da igreja podem, de repente, se mostrar muito prestativos a ela? Eles querem ajudá-la com caronas para a igreja e outros lugares. Eles se dispõem a pegar o carro do pai emprestado para levá-la aonde quer que ela precise ir. Finalmente, perguntam se ela aceita namorar com eles. No momento em que ela recusa a proposta, a torneira do amor fraternal seca. Esse amor era sincero? Eu duvido muito. Nosso amor fraternal não pode ser assim. Devemos fazer progresso no amor sincero, dando atenção sem quaisquer intenções egoístas. Devemos pensar cada vez menos nas nossas próprias necessidades e nos dedicar cada vez mais a promover o bem-estar dos outros.

Isso fará diferença no dia do juízo

Concluamos com o dia do juízo. A passagem de Mateus 25.31-40 diz:

 Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”.

Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.

Jesus fala aqui sobre o dia do juízo final. Essa não é a maneira como normalmente pensamos sobre como entrar no Céu. Quase soa como se a salvação fosse pelas obras. Não há nada nessa passagem sobre ser recebido no Céu porque “você recebeu Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal”. Pelo contrário, a entrada no Céu parece basear-se em: “[vós] o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos”! Veja esta passagem:

Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me”.

E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna. (Mt 25.41-46)

Se essas palavras tivessem sido escritas por uma pessoa não inspirada, diríamos que há um erro nesse texto, visto que ele parece ensinar a salvação pelas obras. No entanto, elas foram escritas por Mateus, um autor inspirado e uma testemunha ocular daquele que disse essas palavras — Jesus, que será o juiz. No dia do julgamento, ele não perguntará se houve um dia em que você respondeu ao apelo, ou repetiu a oração do pecador, ou pediu para ser perdoado, ou foi batizado corretamente, ou se uniu a uma boa igreja. Em vez disso, Jesus procurará evidência de regeneração. A evidência será uma vida de amor, especialmente em relação aos filhos de Deus. Aqueles a quem Jesus salvou receberam o dom de amar seus outros irmãos e irmãs.

Com base nessa passagem, o amor fraternal é uma questão de vida ou morte eterna. Examine a sua vida. Veja em que você tem gastado seu tempo, energia e dinheiro, em meio a um mundo carente de tudo, no qual seus irmãos e irmãs em Cristo precisam que você ore por eles, os encoraje, os exorte e os ajude materialmente. Será que você está tão absorto consigo e com suas próprias atividades que se tornou culpado do pecado de omissão, descrito nessa passagem das Escrituras? Isso pode ser sinal de uma conversão espúria. Onde há salvação genuína, há amor fraternal genuíno.

Não tranquilize sua consciência, acreditando que Jesus Cristo o salvou, enquanto não tiver evidências de que ele mudou seu coração, transformando-o de uma pessoa egocêntrica em alguém centrado em Deus. A prova da sua salvação não está no amor que você sente pelo Deus que não pode ver, e sim no seu amor pelos filhos de Deus que vê todos os dias.


O artigo acima foi retirado e adaptado com permissão do livro Crescimento Espiritual – Como alcançar a maturidade em Cristo, de Conrad Mbewe, em breve pela Editora Fiel.


Autor: Conrad Mbewe

Pr. Mbewe é pastor da Igreja Batista Kabwata em Lusaka, Zâmbia. Foi preletor da Conferência Fiel no Brasil, autor de vários artigos e faz parte do núcleo da Reforma África Austral. É conhecido pelo seu amor para com o Senhor e fidelidade à Sagradas Escrituras. Veja o seu artigo na revista “Fé Para Hoje”, nº16, com o título “Pureza Pastoral”.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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