quarta-feira, 29 de outubro
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Manter os olhos fixos na eternidade

Isso transforma nossa perseverança na caminhada cristã

Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. […] Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade. (Hb 11.13,16)

Florence Chadwick foi uma nadadora norte-americana que fez história com travessias ousadas. Em uma de suas tentativas de cruzar os 34 km do Canal da Catalina, na Califórnia, nadou por 15 horas sem parar. Mas um nevoeiro denso desceu sobre o mar e, sem conseguir enxergar a costa, ela pediu para sair da água. Ao subir no barco, descobriu que estava a apenas 1,6 km da chegada. Depois, declarou: “Se eu tivesse visto a costa, não teria desistido”.

Li essa história em um livro muito bom sobre contentamento, e nunca mais esqueci.[1] A declaração de Florence se tornou, para mim, um retrato perfeito da vida cristã. A travessia é longa, o corpo cansa, as águas nem sempre são agradáveis. A solidão, a dúvida e o sofrimento nublam a visão. Mas há uma costa: e ela está cada vez mais perto.

Nesse sentido, a pequena e esquecida Dory, do filme Procurando Nemo, talvez tenha algo a nos ensinar que é muito profundo e prático. Sua canção simples e infantil — continue a nadar, continue a nadar — ecoa como um lembrete necessário para todas nós. Sim, a jornada é difícil. Mas seguimos. Um passo de cada vez, uma braçada após a outra. Não desistimos!

A carta aos hebreus nos relembra dos heróis da fé que viveram com os olhos fixos nessa costa eterna. Eles não receberam, nesta vida, todas as promessas que aguardavam, mas as enxergaram de longe e caminharam com esperança, como peregrinos que não se esquecem de sua pátria verdadeira. Eles sabiam que este mundo não era o lar final. Sabiam que o coração inquieto só repousa mesmo quando encontra abrigo em Deus.

Vivemos dias de caos e insatisfação generalizados. Corremos de um lado para outro em busca do vento, acumulamos experiências, nos sobrecarregamos de estímulos, buscamos a felicidade nas realizações passageiras. E, mesmo assim, sentimo-nos inquietas. Talvez o problema seja o fato de estarmos esperando da terra aquilo que só o céu pode oferecer.

Quando temos clareza de que nossa cidadania é celestial, somos capazes de renunciar à exigência de que tudo aqui funcione perfeitamente. Isso não é conformismo; é perspectiva. É saber que há mais para nós do que esta vida pode oferecer, e que o melhor ainda está por vir. Olhar para o céu não é escapismo; é fé.

C. S. Lewis escreveu certa vez: “Aqueles que mais fizeram por este mundo foram justamente os que mais pensaram no mundo vindouro”.[2] Quando temos os olhos na eternidade, ganhamos discernimento para valorizar o que realmente importa e nos desapegar daquilo que distrai. Não se trata de desprezarmos o presente e deixarmos de nos importar com o que acontece aqui — muito pelo contrário! Passamos a viver o presente com mais intencionalidade e mais esperança.

A história de Florence é impactante porque nos mostra como a visão, ou a ausência dela, afeta diretamente a perseverança. E, espiritualmente, não é diferente. Quanto mais perdemos de vista o céu, mais tendemos a desanimar, a reclamar, a achar que tudo se resume ao aqui e agora.

Mas, como Paulo escreve aos colossenses, devemos buscar as coisas do alto, onde Cristo vive (Cl 3.1). Isso significa trazer à mente, todos os dias, as verdades eternas. Significa ler a Palavra, cantar hinos que nos lembrem do céu, conversar sobre a glória futura, orar com a certeza de que não somos órfãos, mas temos um Pai que nos espera. E disso nasce uma esperança verdadeira, que não poderá findar. Existe uma costa, e ela está próxima! Por isso, continue a nadar, continue a nadar…

A esperança da glória transforma a maneira como enfrentamos as tribulações. Elas não desaparecem, mas perdem o poder de nos destruir. Talvez hoje você esteja vivendo justamente esse ponto da travessia em que o cansaço e o nevoeiro fazem parecer que o fim nunca chega. Talvez o céu tenha ficado embaçado. Talvez a saudade, a dor e a frustração tenham falado mais alto. Mas você não precisa nadar sozinha. Cristo está com você. E ele é a costa. Nele está a nossa esperança. E, enquanto nadamos, ele também é nosso fôlego, nosso ritmo, nossa força.

Que sejamos mulheres que, com os olhos firmes na eternidade, continuem a nadar! Com fé, com esperança, com alegria. Porque a costa está logo ali. E aquele que a prometeu é fiel para nos levar até lá.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Pensem nessas coisas: meditações inspiradas em Filipenses 4.8, Naná Castillo, Editora Fiel.

[1] W. Barcley, O segredo do contentamento (São Paulo: Nutra Publicações, 2014), p. 121-122.

[2] C. S. Lewis, Cristianismo puro e simples (São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017), p. 180.


Autor: Naná Castillo

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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