Meu dedo estava literalmente em cima do botão. Tudo em mim queria clicar em “curtir” e “compartilhar”. “Por que eu não estou fazendo isso?”, pensei. O autor do meme era um cristão, a citação parecia positiva e pró-vida, e certamente iria engajar e impulsionar meus seguidores das redes sociais. “Ainda assim, não consigo fazer isso. Mas por quê?”. Com meu dedo indicador batucando levemente o mouse do computador, ponderei minha hesitação. Então, em um momento de repentina explosão de clareza, foi como se o Espírito Santo tivesse dito: “Sai dessa!” Ah, claro! Eu estava hesitando porque, apesar de a citação parecer agradável, não era bíblica. Na verdade, era uma mentira… uma mentirinha inofensiva.
Você já se encontrou em uma situação semelhante? Nem consigo dizer quantas vezes conferi as redes sociais e encontrei apenas mensagens do tipo “siga o seu coração”. Penso: “Ah! Que legal!”. Clico em “curtir” antes mesmo de ter a chance de lembrar: “Espere, na última vez que segui meu coração, ele foi partido em pedacinhos e me custou anos de aconselhamento para restaurá-lo”. Às vezes também encontro mensagens como “Confie nos seus instintos, eles nunca falham”. Essa última me rendeu problemas com as leis de trânsito.
E se esses pequenos bordões, que soam positivos e otimistas, fossem simplesmente mentiras que nos desviarão da verdade, realidade e esperança? Confiar na sabedoria popular pode causar dores e confusões desnecessárias. Em outros casos, pode direcionar para uma escravidão absoluta a qualquer sinal de virtude que esteja dominando a internet. Você está cansado de sentir como se precisasse verificar as redes sociais para descobrir o que deveria pensar? Está cansado do mais novo livro de autoajuda que promete libertar, mas só te aprisiona com listas intermináveis de estudos para considerar, afirmações positivas para recitar, grupos de Facebook para participar, causas para defender e outros livros para ler? (Se fosse uma questão realmente de “autoajuda”, eu não deveria precisar de tanto suporte externo!)
Naquele momento de hesitação diante de um meme, percebi que existem infindáveis maneiras de a verdade ser contornada, manipulada, encoberta e até usada para promover enganos. Com frequência, a mentira é banhada em linguagem religiosa, e então a tentação de compartilhar sem refletir se torna real. Como disse A.W. Tozer: “O cristianismo contemporâneo tem muitos empréstimos das filosofias do mundo e até de outras religiões — frases e bordões que são ótimos na superfície, mas não estão enraizados na Escritura, ou basicamente refletem a autoimagem de alguém.”[i]
Essas mentirinhas inofensivas são afirmações sucintas que soam agradáveis, seguras, otimistas e construtivas. Ficam ótimas quando bordadas em um travesseiro, viralizadas em um meme ou transformadas em um lema. Geralmente são expressas de uma forma positiva, como “acredite em você mesmo” e “você é perfeito(a) do jeitinho que é”. Perceba que as melhores mentiras são as que soam como as mais bonitas. Elas são feitas com pelo menos cinquenta por cento de verdade. Algumas vezes, elas são quase totalmente verdadeiras. Mas e quanto àquele pedacinho que direciona todo o resultado? É o pedaço que importa.
Nossa cultura transborda slogans que prometem paz, realização, liberdade, empoderamento e esperança. Essas mensagens têm se tornado componentes tão integrais da consciência americana que a maioria das pessoas nem sequer cogita questioná-las. Elas soam bem e carregam uma ilusão de verdade. Com frequência essas mensagens são popularizadas pelas celebridades das redes sociais que alegam ser cristãs, promovem seu conteúdo como sendo um material de acordo com os princípios cristãos e o publicam em canais e plataformas cristãs.
Qual é o problema? Essas mensagens são mentiras.
Principiante
Mais do que nunca, as pessoas têm olhado para o próprio coração, para as próprias opiniões, preferências, preconceitos e predisposições como guias ao longo da vida. Em outras palavras, temos aprendido a confiar em nossos sentimentos. Mas como isso tem funcionado para nós? Tem-nos levado a todo tipo de problema. E, em muitos casos… não somos nós mesmos, para começo de conversa, que nos colocamos nessa bagunça?
Hoje existem autores, influenciadores e gurus vendendo suas histórias de transformação pessoal como modelos para outros seguirem. Seus conselhos são com frequência baseados em decisões recentes que redirecionaram suas vidas e que os fizeram felizes por um momento, mas que não resistiram ao teste do tempo. Em alguns casos, seus livros são lançados poucos meses após uma reviravolta drástica na vida — um divórcio, uma mudança de paradigma na identidade ou uma desconstrução espiritual — que eles acreditam ter sido o que os ajudou a descobrir sua verdadeira essência. Suas instruções muitas vezes incluem jogar fora milhares de anos de sabedoria (“Argh… a Bíblia”) e centenas de fiéis e professores bíblicos piedosos (“Elisabeth Elliot? Tão puritana. Charles Spurgeon? Ah… que chatice!”), para substituí-los por algo (ou alguém) que eles decidiram testar há, literalmente, cinco minutos. E nós deveríamos seguir essas pessoas? Leitor, preste atenção. Por favor, não aceite conselhos de vida de alguém que está no meio de uma profunda crise. A menos que eles tenham dados coletados e testados, sabedoria bíblica e direcionada para Cristo, seria prudente pressionar o botão de “pare” dessa bagunça toda e apenas esperar para ver o desenrolar da trama nos próximos dez anos ou mais.
Seguir conselhos de alguém porque a pessoa é engraçada, autoconfiante ou habilidosa no Instagram me faz pensar em um cenário hipotético, nos ares. Em primeiro lugar, devo informar que tenho estado em mais aviões do que consigo contar. Na verdade, em voos logo no início da manhã, eu consigo dormir em qualquer avião, qualquer assento, qualquer fileira. Praticamente transformei isso em uma ciência.
Antes de decolar, tiro meu travesseiro de pescoço da mala, encaixo meus protetores auriculares e cubro meus olhos com o capuz do meu moletom, amarrando-o bem. Minha cabeça se inclina para trás e apenas meu nariz e minha boca ficam para fora do moletom. Geralmente já estou na “sonecalândia” quando o avião levanta voo. Se eu não acordar até a aterrissagem, considero uma vitória pessoal. Se nenhum dos meus companheiros de viagem jogar um salgadinho dentro da minha boca inconscientemente aberta, vitória dupla.
Obviamente, não costumo ficar ansiosa com voos. Durmo como um bebê. Talvez por voar com tanta frequência, ou talvez por eu ocupar minha mente com outras coisas. Mas acima de tudo, acredito que é porque eu sei que os pilotos realizam treinamentos rigorosos… principalmente quando se trata de voos comerciais, e a vida de tantos cidadãos está em jogo. No fim das contas, confio que as companhias aéreas vão me manter segura.
Mas imagine que eu tenha acabado de colocar os pés dentro do avião e logo após a decolagem o piloto anuncia: “Bom dia a todos. Gostaria de agradecê-los por estarem comigo no meu primeiro voo. Não se preocupem, cumpri algumas horas em sala de aula e em simuladores. Ah, nosso copiloto não pôde se juntar a nós nesta manhã, mas estou confiante de que farei um ótimo trabalho e levarei todos vocês aos seus destinos em segurança e sem atraso”. Você consegue imaginar o nível de ansiedade que poderia afligir o coração de cada passageiro nessa situação? Isso porque a confiança representa uma grande parcela do sentimento de proteção e segurança.
Mas em que e em quem conseguimos confiar quando se trata de conhecimento sobre vida, morte, bondade e propósito? Acredito não ser um exagero dizer que nossa cultura nunca esteve mais dividida, polarizada ou desconfiada. Ninguém sabe onde encontrar informações confiáveis a respeito de qualquer coisa, desde receitas de bolo e saúde pessoal até moralidade e política. O aumento de depressão e ansiedade é exponencial, sobretudo entre os jovens.[ii]
Não sei você, mas considero extremamente exaustivo confiar que tudo o que as vozes mais ressonantes e atrativas dizem seja a verdade para um determinado dia. Em muitos casos, essas vozes são como aquele mais novo piloto da companhia aérea que comunicou aos passageiros que ele nunca havia feito aquilo antes, mas que eles certamente deveriam confiar suas vidas a ele. É algo como: “Oi, eu sou um guru de autoajuda que continua tomando péssimas decisões e muitos dos meus relacionamentos são caóticos. Porém, eu sou super autêntico em relação a isso, você com certeza deveria permitir que eu seja seu guia para vida.”
Como construir uma base sólida
Leitor, estou prestes a fazer uma declaração ousada. Acredito que abandonar os mantras e se agarrar às verdades bíblicas atemporais é o ato mais libertador e estabilizador que podemos realizar. Alivia a ansiedade, afasta a depressão e acalma o coração conturbado. Reconhecer quem somos em Cristo é um autocuidado decisivo, porque a Palavra de Deus não se reinventa com o passar dos dias em meio a uma cultura de constantes mudanças. Na verdade, você deveria saber desde o início que eu escrevi este livro com o pressuposto de que a Bíblia é autoridade em nossas vidas. Meu primeiro livro, Outro Evangelho? Uma resposta ao cristianismo progressista,[iii] explica a evidência que eu encontrei para depositar minha vida nas Escrituras após minha própria fé ter sido severamente abalada. A versão resumida do livro é: as Escrituras resistiram ao teste de milhares de anos, tendo sido asseguradas pelas milhões de vidas que foram transformadas por sua verdade, e oferecido para incontáveis fiéis uma base sólida de conhecimento de Deus e vivência da fé. Temos fortes evidências históricas, arqueológicas e de estudos bíblicos para confiar que o que temos é uma cópia precisa e que os registros são verdadeiros. Jesus nos disse em Mateus 24.25 que suas palavras não hão de passar. Sabemos por Hebreus 13.8 que Jesus é o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade. Ele não muda, e sua palavra permanece para sempre. Dizendo de outra forma: eu acredito que a Bíblia é a palavra de Deus porque essa foi a visão de Jesus. Eu sou uma seguidora de Jesus, e minhas crenças revelam o que ele ensinou.
Em Mateus 7.24, ele diz: “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.” Ele continua explicando que chuvas e correntezas não conseguem fazer a casa desmoronar, e ventanias não conseguem derrubá-la, não importa o quão forte seja atingida. Por outro lado, Jesus diz que aquele que ouve suas palavras e não as pratica é como um tolo que constrói uma casa na areia. Onde estão registradas as palavras de Jesus? No Novo Testamento. E o que Jesus diz no Novo Testamento a respeito do restante da Bíblia? Ele repetidamente se refere ao Antigo Testamento como sendo a Palavra de Deus. Ele, inclusive, alega realmente ser o Deus do Antigo Testamento; então, nesse sentido, não existe algo que seja “mais importante” na Bíblia. Tudo é importante. Jesus é Deus, e Deus inspirou as Escrituras “para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Como seguidores de Jesus, não deveríamos acreditar nele?[iv]
De muitas maneiras, este é um livro sobre a Bíblia. Mas também é um livro sobre lógica e senso comum, e sobre as maneiras ridículas com que nos convencemos dessas coisas. Entretanto, em primeiro lugar, este é um livro que trata de firmar nossos pés no alicerce da verdade de Deus… verdade que não envolve tendências culturais. Como um sábio amigo me disse certa vez: “Eu prefiro ter uma cabana em um alicerce firme a uma mansão na areia.”
No próximo capítulo, vamos considerar alguns motivos decisivos pelos quais é tão fácil ficar confuso nos dias de hoje — a natureza mutável da linguagem e a tendência de focar em nós mesmos. Em cada um dos capítulos a seguir, iremos examinar um popular engano e comparar essa mentira com o que a Bíblia diz. Então, leitor, você terá uma escolha para fazer: Você escolherá permanecer na imutável verdade das Escrituras inspiradas por Deus ou optará por seguir qualquer mantra da moda pelo qual as pessoas estão obcecadas no momento? A escolha é sua.
Quanto a mim e a minha casa? Nós optamos por edificar sobre a rocha. Optamos pela paz. Optamos pela esperança. Escolhemos viver a verdade.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Não é errado se me faz feliz : e outros enganos desta geração, de Alisa Childers, em breve pela Editora Fiel.
[i] A. W. Tozer, The crucified life: how to live out a deeper Christian experience, ed. James
L. Snyder (Bloomington, MN: Bethany House, 2011), p. 15. Livro eletrônico [versão Kindle] [edição em português: A vida crucificada: como viver uma experiência cristã mais profunda (São Paulo: Vida, 2013)].
[ii] Mental Health America, “The state of mental health in America”. Disponível em: https://www.mhanational.org/issues/state-mental-health-america, acesso em: 31 jul. 2023; National Institute of Mental Health, “Prevalence of any anxiety disorder among adolescents”. Disponível em: https://www.nimh.nih.gov/health/ statistics/any-anxiety-disorder, acesso em: 31 jul. 2023.
[iii] São José dos Campos: Fiel, 2022.
[iv] Para obter informações sobre a confiabilidade das Escrituras, veja o capítulo 7 de meu livro Outro Evangelho? Uma resposta ao cristianismo progressista.
