“E isto afirmo”. Eu amo quando Paulo diz isso em 2 Coríntios 9.6. Ele se certifica de que tem a nossa atenção e fala diretamente. Por trás da prosa articulada e dos floreios retóricos, eis aqui aonde ele pretende chegar – claro, simples e direto. “E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará”. Lindamente direto.
A mesma abordagem humilde ajuda quando enfrentamos o tema de como “permanecer cristão” no seminário. Há muitos (bons) conselhos a serem dados. Há muitas experiências a serem repetidas, advertências a serem dadas, recomendações a serem feitas e compromissos a serem enfatizados. Há verdades especiais a serem enfatizadas e questões práticas a serem exercitadas.
Mas, quando se resume tudo isso, qual é o ponto? Há algo que une todos os conselhos e recomendações? Quando você fala diretamente e retira todo floreio, o que está no centro da questão de permanecer cristão no seminário?
O ponto é este: seja um cristão no seminário. A chave para permanecer cristão no seminário, como em toda estação ou encruzilhada da vida, é ser um.
Talvez o maior perigo que um seminarista enfrente em cada geração seja a tentação de colocar “em espera” alguns aspectos do seu cristianismo enquanto ele passa por essa “fase de preparação para o ministério”. Somos seduzidos a nos dar um salvo-conduto do cristianismo diário, enquanto nos preparamos para ser (ironicamente) um instrumento da graça diária na vida de outros.
Seja por causa do próprio Tentador, do pecado em nós ou apenas por ingenuidade, o seminarista pode começar a argumentar segundo estas linhas:
Eu não preciso de oração pessoal regular ou de dedicar-me à meditação bíblica; já estou mergulhado nessas coisas o tempo todo.
Eu não preciso de fato estar profundamente conectado a uma igreja local, onde possa ser ministrado e ministrar a outros; a minha comunidade do seminário já me basta. Além do mais, esta é uma condição temporária – não há razão para fincar raízes aqui.
Eu não preciso exercer meu papel de homem no lar enquanto estou estudando; minha esposa pode segurar as pontas temporariamente e ser o arrimo do lar enquanto eu estudo.
E, assim, o seminarista começa sua corrida ladeira abaixo. Ele pensa que, de algum modo, o cristianismo da vida real irá deslanchar quando a sua vida real começar do outro lado da graduação. Ele sutilmente põe “em espera” a sua busca pessoal pela graça contínua de Deus e sua caminhada na fé em Jesus e no seu evangelho, a fim de poder melhor se preparar para introduzir outros na mesma vida cristã normal que ele tão estrategicamente negligenciou.
Talvez seja útil ouvir que o seminário é a vida real. Toda a vida, do berço à cova, é vida real na economia de Deus. Para o cristão, não há interlúdios nem pausas nem “estações” nas quais as coisas mais importantes ficam em espera, enquanto nos preparamos para a próxima fase. Não há um chamado cristão para ser negligente em colocar a sua própria máscara de oxigênio enquanto você treina para ajudar outros com as deles. Você apenas se sufocará no processo.
Quão trágico é quando o zeloso seminarista, inundado por tarefas e capturado pelo desejo de ser academicamente bem-sucedido, começa a desprezar os próprios meios de graça que Deus usou para cultivar o seu zelo inicial pelo ministério evangélico. O resultado é desolador: um seminário conduzido de forma errada começa a esmagar o próprio zelo que conduziu o seminarista para lá no princípio.
Quão trágico é quando o zeloso seminarista descuida de ministrar primeiro à sua esposa e filhos por estar em um período de “preparação para o ministério”. O apóstolo Paulo não ficaria impressionado.
Quão trágico é quando começamos a nos impressionar com o quanto estamos aprendendo, com o quanto sabemos e com que grande dom nós seremos para a igreja depois da graduação. O apóstolo nos lembraria: “[Este] saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber” (1 Coríntios 8.1-2).
Siga a trilha para “permanecer cristão” no seminário até o fim e perceberá que se trata menos do quão especial é o período do seminário e mais do que o cristianismo é em todos os períodos da vida, em todas as eras da história da igreja, em todos os lugares do planeta. Permanecer cristão no seminário é sobre permanecer cristão em geral.
O caminho para permanecer cristão no longo prazo é ser um cristão todos os dias. É caminhar diariamente na luz da fascinante e extraordinária graça de Deus a nós, no evangelho. É depender inteiramente do Espírito de Deus, aprofundar-se na Palavra de Deus, entre o povo de Deus. É manter ambos os olhos fitos em Jesus – não apenas nas Escrituras, mas em cada avenida da nossa existência. Lute contra o orgulho. Sirva sua esposa. Esteja pronto a suprir as necessidades dos outros, de ministrar e ser ministrado por amigos crentes e de compartilhar o evangelho e a sua própria vida com aqueles que ainda não conhecem a Deus.
Não há nenhum “modo de espera” para o cristão. O chamado de Deus para o seminário não supera – antes complementa – o seu chamado a nós, por sua graça, para sermos diariamente o tipo de marido, pai, amigo e seguidor de Jesus o qual esperamos que o nosso ministério formal depois do seminário há de produzir.
Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel