Os atributos de Deus são revelados para seu povo no desenrolar da história. Enquanto Deus cuida, nutre, dirige e guarda seu povo, ele mostra seu caráter de forma pedagógica. Neste artigo, o atributo selecionado das Escrituras é o seu poder incomparável, a Onipotência de Deus. Para ajudar nossos leitores a se aprofundarem sobre a Onipotência de Deus, separamos 10 versículos-chave com comentários adaptados da nossa Bíblia de Estudo da Fé Reformada com Concordância.
- Jeremias 32.17
Ah! Senhor Deus, eis que fizeste os céus e a terra com o teu grande poder e com o teu braço estendido; coisa alguma te é demasiadamente maravilhosa.
Jeremias faz conforme é instruído, mas fica perplexo com os planos do Senhor. O Senhor é o Criador de tudo e soberano sobre tudo. Ele é justo e gracioso, como Êxodo 34.6-7 deixa claro. Mas ele também julga apropriadamente cada pessoa, em contraste com as afirmações do povo em 31.29. A infidelidade do povo não resultará na destruição de Judá? Por que, então, Jeremias deve comprar um campo, se isso é verdade?
- Gênesis 1.1–3
No a princípio, criou Deus os céus e a terra. 2 A terra, porém, estava bsem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
A palavra hebraica para “Deus”, o primeiro sujeito de Gênesis e da Bíblia, é plural, para denotar sua majestade. Não existe outro deus (Dt 4.39; Is 40.21, 28; 43.10; Jo 1.1; Cl 1.17). Ele é a verdade, a base para todo o sólido conhecimento (Jo 14.6). Deus é pessoal; ele fala e age.
O verbo “criou” – traduz uma palavra hebraica reservada exclusivamente à atividade criadora de Deus. Uma possibilidade linguística, embora menos provável, é a tradução “Quando Deus começou a criar os céus e a terra, a terra era sem forma e vazia”. A atividade criadora de Deus não é meramente a ordenação da matéria preexistente (quando um artesão dá forma a um produto); outras passagens ensinam claramente que o universo foi criado ex nihilo (do nada, Jo 1.3; Hb 11.3; 2Pe 3.5) e que somente Deus é eterno e transcendente (p. ex., Sl 102.25-27; Pv 8.22-31). Nem mesmo as trevas existem à parte da palavra criadora de Deus (Is 45.7). Enquanto, aqui, a narrativa é plenamente consistente com a doutrina da criação ex nihilo, a ênfase recai sobre a ordenação progressiva de Deus e o preenchimento de um mundo que é tanto sem forma como vazio (v. 2, nota).
“Os céus e a terra” – esse composto de opostos significa o universo organizado.
A terra primordial é destituída de luz e de terra. Nem as origens das trevas e do abismo, nem a origem de Satanás (3.1-6), são explicadas em Gênesis. Seus princípios são um mistério, porém somente Deus é eterno (Sl 90.2; Pv 8.22-31).
No novo céu e na nova terra, não haverá mar nem trevas (Ap 21.1, 25).
A terra, porém, estava sem forma e vazia. A descrição significa a criação como ainda não ordenada nem preenchida. Alguns sugerem que os vv. 1 e 2 se referem a dois atos de criação separados por um lapso temporal. Argumentam que a criação inicial caiu em uma condição desolada (talvez por causa da queda de Satanás), e que a palavra hebraica aqui traduzida por “estava” seria traduzida por “se tornou”. Entretanto, esse ponto de vista (popularmente denominado a “teoria da lacuna”) é muito duvidoso, porque a tradução proposta “se tornou” é improvável nesse contexto e porque a descrição “sem forma e vazia” se refere mais naturalmente a uma criação ainda a ser ordenada e preenchida, e não a uma que foi desmantelada.
O Espírito de Deus gera vida; quando subtrai seu Espírito, a vida cessa. Ele continua a gerar a vida e a subtrair a vida (Jó 33.4; Sl 104.30; Ec 12.7; Lc 23.46). O Espírito é ativo na construção dos “templos” do cosmo (Sl 104.1-4), no tabernáculo (Êx 28.3; 35.31), em Cristo (Lc 1.35; cf. Jo 2.19), na Igreja (1Co 3.16; Ef 2.22). Ver “A personalidade do Espírito Santo”, em João 16.23.
Pairando como a águia sobre a profundeza primordial, o Espírito Onipotente faz da terra uma habitação para os seres humanos (cf. Dt 32.11).
A criação avança sobre duas tríades de dias, olhando para trás, respectivamente, para “sem forma e vazia” do v. 2.
1º dia — luz (vv. 3-5)
4º dia — luminares (vv. 14-19)
2º dia — firmamento, água (vv. 6-8)
5º dia — peixes, aves (vv. 20-23)
3º dia — terra, vegetação (vv. 9-13)
6º dia — animais, humanos (vv. 24-31)
Na primeira tríade, Deus dá forma à terra, separando a luz do dia das trevas da noite, o mar embaixo das nuvens em cima; e a terra seca com vegetação do mar; na segunda tríade, ele enche essas esferas.
Cada tríade, movendo-se do firmamento à terra, avança a partir de um ato de criação singular (vv. 3-5, 14-19) rumo a um ato de criação com dois aspectos (vv. 6-8, 20-23), rumo a dois atos de criação, cada um culminando em terra produtiva (vv. 9-13, 24-31). O padrão de cada dia é similar: um anúncio (“Disse Deus”); uma ordem (“Haja”); um relato (“E assim se fez”); uma avaliação (“era bom”); e uma estrutura cronológica (p. ex., “o primeiro dia”).
O ato livre de Deus na criação por meio da palavra divina – Disse Deus – (Sl 33.6, 9; cf. Jo 1.1, 3) significa que o universo não é uma emanação ou parte do ser divino, excluindo, assim, todas as formas de panteísmo (Deus é tudo; ele é identificado com a sua criação). Ainda que a criação não seja parte do ser de Deus, toda a criação é totalmente dependente dele para sua existência, pois ele cria e sustenta tudo o que existe pelo poder de seu próprio ser.
A vontade de Deus é irresistível, sendo efetuada pelo imperativo divino – “haja”.
- Salmo 33.10–11
O Senhor frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do Senhor dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações.
Oferece louvor pelo conselho de Deus.
As nações ímpias que buscam a própria vontade, e não a vontade de Deus.
“O conselho do Senhor dura para sempre”. Em outros lugares, a expressão hebraica subjacente é traduzida como “propósito do Senhor” ou “plano do Senhor” (cf. Is 19.17; Jr 49.20; 50.45). Nada pode subverter os propósitos de Deus.
Ele está no controle absoluto da história.
- Isaías 55.10–11
Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.
A chuva cai abundante e espontaneamente. E, de uma maneira familiar, porém misteriosa, gera plantas e produz colheitas proveitosas, com o propósito de suprir as necessidades das pessoas. O propósito divino nisso é aplicado figurativamente à palavra de Deus, a fim de distingui-la dos pensamentos e planos humanos falíveis. Também fala da palavra do Senhor como decreto pelo qual ele governa a história. Ela nunca retorna sem realizar os soberanos propósitos de Deus. Cf. 40.8.
- Efésios 1.11–12
Nele, digo, no qual fomos também feitos herança, a predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo
Paulo adianta o que dirá em 3.6 sobre os judeus e os gentios como “coerdeiros” da promessa em Cristo. Judeus crentes dos dias de Paulo, “nós, os que de antemão esperamos em Cristo” (v. 12), tornaram-se herdeiros pela vontade de Deus. Gentios que receberam a mesma promessa feita a Israel — o dom do Espírito Santo — tornaram-se, igualmente, herdeiros, para o louvor da glória de Deus.
Uma afirmação abrangente sobre a ampla dimensão da vontade de Deus e de seu soberano poder para decretar todo o seu propósito e todo o seu plano. Os crentes foram “predestinados” para receber uma “herança”.
- Provérbios 16.33
A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão.
Quanto a sorte, ver nota em Jonas 1.7.
A resposta não era uma questão de chance; ela veio de Deus (At 1.26). Sob o governo soberano de Deus, aquilo que talvez pareça acaso para nós é ordenado por aquele que faz todas as coisas de acordo com o conselho de sua vontade (Ef 1.11).
- Mateus 10.29–31
Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados. Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais.
- Atos 2.23–24
Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela.
Embora tenham sido os homens ímpios, tanto judeus como gentios (4.27, 28), que mataram Jesus por vontade deles mesmos, suas ações estavam incluídas na determinação soberana de Deus (cf. 17.26; 2Cr 25.16; Jr 21.10; Dn 11.36). Deus ordenou a morte de seu Filho, mas os perpetradores imediatos levam a culpa por crucificar Jesus (3.17, 18; 4.27, 28; 13.27; ver Lc 22.22). Deus ordena os meios e os fins de eventos humanos, sem violar a liberdade humana ou remover a responsabilidade humana (Gn 50.20). Os judeus não poderiam transferir sua culpa aos romanos; eles pediram que os romanos crucificassem Jesus. Pedro ensina que os judeus incrédulos são imputáveis (3.15; 4.10; 5.30; 10.39), assim como as forças gentias de Roma o são (4.25-28).
Mais uma vez, Lucas enfatiza a forma como Jesus morreu (Lc 24.39). Arqueólogos descobriram na Palestina os ossos de calcanhar traspassados de uma vítima de crucificação do século I.
- Colossenses 1.16
Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.
Porque Cristo é tanto o agente como o alvo da Criação, ele é o Senhor de tudo que existe, até mesmo da hierarquia angelical que os colossenses estavam sendo tentados a aplacar ou reverenciar (2.18, nota).
“Tudo foi criado por meio dele e para ele” – porque Cristo é tanto o agente como o alvo da Criação, ele é o Senhor de tudo que existe, até mesmo da hierarquia angelical que os colossenses estavam sendo tentados a aplacar ou reverenciar (2.18, nota).
- Hebreus 1.3–4
Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles.
O prólogo apresenta os dois períodos de tempo do falar de Deus a seu povo: “outrora” (v. 1) e “nestes últimos dias” (v. 2). A vinda do Filho marca o período como os “últimos dias” da salvação prometida por meio dos profetas (Jr 23.20; Os 3.5; Mq 4.1; cf. 1Co 10.11).
“Havendo Deus… falado” é um tema importante em Hebreus (2.2, 3; 4.12; 6.5; 11.3; 12.25).
A expressão “muitas vezes” indica que a natureza fragmentada da revelação profética mostrava sua incompletude, assim como a repetição dos sacrifícios de animais mostrava que não eram capazes de remover a culpa (10.1).
Essas maneiras incluíam visões, sonhos e falas proféticas (Nm 12.6-8, aludido em 3.5).
A revelação “pelo Filho” é qualitativamente superior à revelação dada por meio dos profetas. Moisés, o maior dos profetas, era apenas um servo na casa de Deus. Cristo está acima da casa de Deus “como Filho” (3.6). O Filho também fala, como faziam os profetas, mas fala como o Filho, cuja revelação é final.
A supremacia do Filho será revelada no final da história, porque “tudo foi criado… para ele” (Cl 1.16). Ele é o Primogênito (v. 6), o herdeiro preeminente, cujos inimigos serão postos sob os seus pés (v. 13, citando Sl 110.1). Os “últimos dias” foram inaugurados por Jesus, a começar pelo cumprimento da profecia de Salmos 2, de que o Filho de Deus herdaria as “nações” e a “terra” (Sl 2.7, 8). Como filhos adotados de Deus, por meio de Jesus Cristo, somos também herdeiros (v. 14; 6.12, 17; cf. Gl 4.6, 7; Rm 8.14-17).
A supremacia do Filho foi manifestada no alvorecer da história, porque “tudo foi criado por meio dele” (Cl 1.16). A palavra grega traduzida como “universo” é literalmente “eras” (também “universo” em 11.3) e salienta os sucessivos períodos de história na ordem criada. Os versículos 10-12 citam Salmos 102.25-27 como testemunho do papel do Filho na Criação e de sua permanência eterna, em contraste com o universo criado.
A palavra grega traduzida como “resplendor” descreve a sabedoria divina personificada no livro judaico, do período intertestamentário, Sabedoria de Salomão (7.25-28). Mas Hebreus fala não meramente de um atributo personificado, mas também de uma pessoa divina — o Filho de Deus — que entrou na história para purificar os pecadores.
O versículo “expressão exata do seu Ser” expressa tanto a unidade do Filho com o Pai como a distinção das pessoas divinas. Como Alguém cujo ser corresponde exatamente ao Pai, o Filho revela exatamente o Pai. Cristo é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), por quem nós vemos o Pai (Jo 14.9; 2Co 4.4-6).
A ordem do Filho mantém a ordem criada em existência (Cl 1.17; 2Pe 3.4-7), preservando-a da destruição, até aquele dia em que sua voz removerá tudo, exceto o reino inabalável de Deus e seus herdeiros (12.26-28).
Uma mudança do tempo verbal focaliza a atenção na morte expiatória do Filho na história, o ato sacerdotal que nos purifica para adorarmos na presença de Deus (9.14).
A entronização do Filho “à direita” de Deus no céu, prometida em Salmos 110.1 (1.13), revela sua superioridade de duas maneiras. Em primeiro lugar, em “À direita da Majestade”, Cristo está ministrando no verdadeiro santuário celestial, e não em uma cópia terrena (8.1, 2, 5). Em segundo, ele “assentou-se” porque sua obra sacrificial (ao contrário da obra dos sacerdotes levitas) foi terminada de uma vez por todas (10.11, 12).
Ser “superior aos anjos” é provado pela série de citações do Antigo Testamento que se seguem (vv. 5-14).
O Filho eterno assumiu a natureza humana para nos resgatar do pecado e da morte (2.14-15). Havendo assumido voluntariamente, por um tempo, uma posição “menor que os anjos” (2.7), ele agora é declarado, em sua ressurreição e ascensão, “Filho de Deus com poder” (Rm 1.4) para salvar seu povo (v. 5, nota). A exaltação de Cristo inaugura, portanto, uma nova fase de sua filiação messiânica e redentora, conferindo-lhe uma dignidade muito acima dos anjos.
Edição por Renata Gandolfo.

Este artigo faz parte da série Versículos-chave.
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