A Bíblia fala sobre alimento de duas formas: como provisão física de Deus para sustento da vida e como metáfora para verdades espirituais mais profundas. Desde a criação até a consumação, vemos que o Senhor é quem dá o pão, o vinho, o azeite, a carne e todos os recursos, mas também nos lembra que a verdadeira vida está em Cristo, o Pão do Céu.
Confira 10 versículos bíblicos sobre alimento, acompanhados de comentários da nossa Bíblia de Estudo da Fé Reformada com Concordância, que ajudam a perceber como essa temática percorre toda a Escritura:
1. Gênesis 1.30
E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.
Nos mitos da Mesopotâmia, as pessoas haviam sido criadas para prover alimento para seus deuses. Aqui, Deus cria alimento para as pessoas. Embora a morte das plantas seja lembrada aqui, os cristãos reformados têm-se distinguido em sua crença, no sentido de que a morte dos animais também ocorreu antes da Queda (9.3, nota).
2. Gênesis 9.3
Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora.
A dieta humana se expande e inclui carne (1.29, nota), ainda que o consumo de carniça (Lv 11.40; Dt 14.21) e sangue (v. 4; Lv 17.10) fosse proibido. Em vez de iniciar a prática de comer carne, essa injunção divina pode simplesmente permitir o que a humanidade pecadora já praticava. De fato, João Calvino e outros estudiosos reformados argumentam que aos humanos já era permitido comer carne antes do Dilúvio e mesmo antes da Queda. De forma significativa, não se faz distinção entre limpo e imundo, uma situação restaurada sob a nova aliança (Mc 7.19; At 10.9-16; 1Tm 4.3-5).
3. Êxodo 23.10-11
Seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos; porém, no sétimo ano, a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer, e do sobejo comam os animais do campo. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival.
Assim como o sábado semanal sobre o qual foi padronizado, o ano sabático tem em vista o bem da humanidade e da criação (20.8-11 e notas). Ele lembra a Israel que Deus, o verdadeiro proprietário da terra, a confiou a eles (Lv 25.2). A terra deve ficar em repouso, e o que crescer espontaneamente é reservado aos pobres, os quais não são capazes de economizar os recursos de alimentação suficientes. Levítico 26.34, 35 sugere que o ano sabático nem sempre era observado, mas está claramente presente em Neemias 10.31.
4. Levítico 25.6
Mas os frutos da terra em descanso vos serão por alimento, a ti, e ao teu servo, e à tua serva, e ao teu jornaleiro, e ao estrangeiro que peregrina contigo
Assim como os humanos necessitam de um dia de descanso, a terra sem adubo necessita de pousio por um tempo. Ver as regulamentações semelhantes em Êxodo 23.10, 11.
5. Salmos 104.14, 15
Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço do homem, de sorte que da terra tire o seu pão, o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite, que lhe dá brilho ao rosto, e o alimento, que lhe sustém as forças.
Fazes crescer a relva. Uma reflexão acerca do terceiro dia da criação (Gn 1.9-13).
A bondade de Deus é exibida em suas provisões (pão… vinho… azeite) para a vida diária (At 14.17; 1Tm 4.3, 4). O “pão” se refere ao cereal; o vinho procede das uvas; e o azeite, das olivas. Essa tríade representa toda a produção agrícola do ano, e está nessa ordem por causa da ordem de colheita; ver, por exemplo, Deuteronômio 7.13; 11.14; 14.23; 18.4.
6. Mateus 6.25
Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?
A ansiedade pela incerteza ou pela escassez de recursos para o sustento da vida física revela uma fé vacilante no cuidado do Pai para com seus filhos. A oração confiante, com ação de graças, é o antídoto para isso (Fp 4.6, 7).
7. Romanos 14.20
Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo.
Agora, a responsabilidade do crente é afirmada de maneira positiva; o ato de evitar a destruição dos outros é complementado por promover a “paz” e as coisas que edificam (v. 19). Para os “fortes” (15.1), isso inclui tanto manter comunhão com os “débeis” como encorajá-los a entender a liberdade que tem em Cristo. Quando esses alvos estão em vista, a liberdade para comer e beber será colocada em subordinação; o bem-estar do irmão assumirá precedência sobre o desfrute de carne e vinho.
8. 1 Coríntios 8.4
No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus.
Aparentemente, alguns dos coríntios usavam a doutrina do monoteísmo como argumento para apoiar sua prática. Se há apenas um único Deus, que nos ensina a zombar dos ídolos (Is 46.6, 7), por que devemos nos preocupar com os alimentos oferecidos a ídolos? Paulo reconhece essa verdade, afirmando-a (vv. 4-6), mas prossegue e ressalta um erro no uso que os coríntios faziam dessa doutrina.
9. Romanos 14.16-18
Não seja, pois, vituperado o vosso bem. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens.
Os fortes são exortados a avaliar a importância de exercer sua liberdade contra duas considerações: (a) o uso de sua liberdade pode trazer divisão e infâmia na igreja; (b) o reino de Deus (e, portanto, nossa liberdade) não é uma questão de comida e bebida, e sim das bênçãos da graça (5.1, 2). Visto que a liberdade não consiste dessas coisas, não pode ser perdida ao nos refrearmos delas.
Embora somente Deus seja nosso Juiz (v. 12), o impacto de nossas ações nos outros desempenha papel vital na comunhão e na evangelização.
10. 2 Coríntios 9.10 (ARA)
Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça,
As certezas de Paulo de que Deus “suprirá e aumentará a vossa sementeira” e de que eles seriam enriquecidos em tudo não são necessariamente promessas de que Deus recompensará contribuições generosas com prosperidade financeira para o gozo pessoal de alguém. Em vez disso, o dar espontâneo aprofunda a experiência da graça de Deus por parte do doador (v. 14); e isso torna o coração livre de uma fixação cativante no dinheiro e nas posses materiais. Essas “riquezas” capacitam os crentes a semear ainda mais em generosidade para com os outros, produzindo “frutos da vossa justiça”.
Edição por Renata Gandolfo.

Este artigo faz parte da série Versículos-chave.
Todas as seções de comentários adaptadas da Bíblia de Estudo da Fé Reformada com Concordância, Editora Fiel.