quinta-feira, 14 de novembro
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18 dicas para ajudar sua igreja a cantar melhor

Passe algum tempo com membros de uma igreja da tribo Khosa, na África do Sul, e você logo perceberá quão lindamente eles cantam. Sem instrumentos. Sem microfones. Um indivíduo lidera, os demais o acompanham. Muitas palmas. E como eles unem suas vozes em um vigoroso louvor!

Este artigo não foi escrito para eles. Foi escrito para uma igreja ocidental tradicional. Ocidentais estão acostumados a música de qualidade profissional e orientada para o espetáculo. E, para o bem ou para o mal, isso afeta o que nós cristãos esperamos, em termos musicais, quando nos reunimos como igreja. A menos que uma igreja deliberadamente se mova numa direção alternativa, nós esperamos que a música no culto apresente a mesma qualidade e desempenho que ouvimos no rádio do carro ou por meio dos fones de ouvido de nossos tocadores de mp3. Qualquer coisa inferior a isso pode soar desajeitado, descuidado, ou até embaraçoso.

Além disso, há poucos lugares na cultura ocidental contemporânea onde as pessoas aprendem a cantar juntas. Talvez em um evento de Natal? Ou em um jogo de futebol?

Líderes de igreja subestimam quão deliberadamente eles precisam mover-se contra essas tendências culturais para fazer as suas igrejas cantarem; para ensiná-las que as vozes destreinadas, porém unidas da congregação fazem um som muito melhor do que o Sexteto do Programa do Jô; para ensiná-las que cantar alto na frente de outras pessoas não é embaraçoso; para ensiná-las que não necessariamente todas as nossas emoções devem ser individualmente espontâneas para serem apropriadas, mas que há lugar para sermos guiados e conformarmos nossas emoções individuais à atividade do grupo.

Se os líderes de igreja desejam congregações que de fato irão “falar entre si com salmos, […] hinos e cânticos espirituais” (Efésios 5.19), eles terão que trabalhar para isso. Eles terão que tentar coisas que poderão parecer estranhas ou artificiais para pessoas que estejam acostumadas a sentar calmamente e assistir à apresentação no palco. Aqui estão algumas dicas, muitas das quais, sem dúvida, enquadram-se no âmbito da prudência.

1. Ensinem à congregação a importância de adorar a Deus por meio do canto. Assim como os cristãos devem ser ensinados acerca da importância da oração e de outras disciplinas espirituais, eles também precisam aprender a partir da Escritura como Deus intenta que eles cantem. Quando a Palavra de Deus habita ricamente em nós, cantar é o resultado natural (ver Colossenses 3.16). Se Deus se alegra em nós com cânticos jubilosos (Sofonias 3.17), nós, que refletimos o nosso Criador, deveríamos responder-lhe cantando.

2. Encorajem o cantar com reflexão e propósito, por meio de orações particulares e publicas. Quão fácil é honrar a Deus com nossos lábios, enquanto nossos corações estão distantes dele (Isaías 29.13; Mateus 15.8)! Então orem em particular e em público contra o cantar irrefletido e hipócrita.

3. Certifiquem-se de que a congregação sabe por que está cantando a música escolhida. Se for uma oração, lembre-a brevemente disso. Se for uma canção de dedicação, mencione isso. Se ela reflete a mensagem pregada da Palavra de Deus, deixe isso claro. Cânticos escolhidos apenas por serem os cânticos preferidos de quem os escolhe, em geral, não são bem cantados. Embora congregações sejam geralmente submissas o suficiente para cantar qualquer cântico que seja sugerido, elas cantarão com mais entusiasmo se souberem por que estão cantando aquela canção em particular. Ajudem-nas a terem o cuidado de cantar “em espírito e em verdade”.

4. Escolham cantos “congregacionais” em vez de cantos “performáticos”. Aqui vai um princípio geral (não absoluto): quanto mais um cântico depender de acompanhamento musical e não puder ser cantado por duas crianças no carro, no caminho para casa, mais performática e menos congregacional ela provavelmente é. Cânticos congregacionais tendem a ter melodias fáceis de cantar e memorizar. Apenas porque um artista cristão criou algo belo, não significa que seja apropriado para a congregação. A melodia pode não ser muito melódica. Pode ser aguda demais, grave demais ou com uma extensão ampla demais. Pode ser ritmada demais, talvez sincopada de um modo que dificulte o canto para cantores não treinados. Pode ser complexa demais, com suas pontes, refrãos ou mudanças de tom. Tal canção pode soar linda com o acompanhamento na gravação. Talvez o grupo de louvor possa executá-la perfeitamente. Porém, quanto mais uma congregação precisar dos músicos à frente para terminar um cântico, mais você pode esperar que eles apenas balbuciem as palavras enquanto assistem à banda fazer sua aparição.

5. Por favor, oh, por favor, acendam as luzes. Deixar as luzes da plataforma acesas e, ao mesmo tempo, reduzir as luzes entre o povo transforma o povo em uma “audiência” e todos os que estão sobre a plataforma, em artistas. Isso faz com que todo o evento se torne uma imitação de um teatro ou casa de shows. Manter todo o salão acesso, por outro lado, sugere que todos são chamados a participar na “apresentação” que é feita perante a “audiência” de um só – Deus.

6. Por favor, oh, por favor, diminuam o acompanhamento musical. Vocês não querem que suas guitarras, seu órgão, sua bateria ou os microfones do seu coral abafem o som da congregação cantando. Nós poderíamos até mesmo dizer que o som mais alto no salão deveria ser o da congregação. Os cantores regentes podem cantar alto o primeiro verso da canção, mas então recuar um pouco nos versos seguintes. O bom acompanhamento acompanha. Facilita. Encoraja. Não chama a atenção nem se sobrepõe. Se um pequeno grupo ou coral está liderando, eles deveriam ser um microcosmo auricular da congregação. Que o volume deles seja natural e sem muita amplificação. Se eles prepararam o hino no ensaio, eles irão “liderar” com o seu som.

7. Considerem os perigos dos ensaios performáticos, da música “com excelência”, e do instrumental excessivo. Há um lugar para ensaios musicais. Mas por que vocês estão ensaiando? Com que fim? Ensaios musicais, com frequência, envolvem a inserção de elementos criativos que funcionam em apresentações, mas não no canto congregacional. Músicos e cantores deveriam usar todo o seu tempo de ensaio para perguntar a si mesmos como facilitar ao máximo o canto congregacional, não como impressionar. A ênfase costumeira em “excelência” e “qualidade” pode, ironicamente, distrair os músicos de buscarem servir a congregação, porque “excelência” é irrefletidamente definida em termos de boa apresentação. Que grande diferença faria almejar facilitar com excelência, e não apresentar-se com excelência. Pela mesma razão, um instrumental elaborado pode, às vezes, esmagar o canto congregacional. Um instrumental simples e acústico tende a favorecer o canto.

8. Busquem um equilíbri entre canções novas e antigas. Por um lado, as pessoas cantam bem quando cantam uma canção antiga e querida. Por outro lado, cânticos antigos podem ficar desgastadas, o que pode levar a um cantar sem reflexão. Por um lado, cânticos que sejam novos para uma congregação (sejam eles composições recentes ou não) são mais difíceis de cantar. Por outro lado, o repertório musical de uma congregação deveria crescer à medida que a congregação cresce em maturidade e profundidade. Congregações, como pessoas, passam por diferentes fases, e novos cânticos as ajudam a crescer em meio a essas fases. Tudo isso significa que ajudar as pessoas a cantar bem envolve tanto cânticos novos quanto antigos, e envolve encontrar o equilíbrio para a sua própria igreja. Nunca se recuse a aprender novos cânticos sejam eles composições recentes ou cânticos antigos que sejam novos para você. E ensine essas canções mais de uma vez.

9. Utilizem cânticos que representem uma ampla variedade de experiências e emoções humana. Se toda a música de uma igreja for exultante e alegre, grande parte do canto da sua igreja será inautêntica e afetada. Quão verdadeira para com a vida é a letra de “Eu ouço as palavras de amor” [N.T.: no original, “I hear the words of love”, de Horatius Bonar, em livre tradução]: “Meu amor é tantas vezes pequeno, / Ao sabor das marés minha alegria dança, / Mas a paz com Ele permanece igual, / Meu Salvador não conhece mudança”. Ou a sincera admissão de “Vem, ó Fonte de toda bênção” [N.T.: no original, “Come Thou fount of every blessing”, de Robert Robinson, em livre tradução]: “Inclinado a desviar-me, Senhor, me sinto, / Inclinado a abandonar o Deus que amo”. A hinódia de uma igreja, assim como o Saltério, deve ter palavras para cristãos alegres, cristãos tristes, cristãos em tentações, e todos os demais cristãos nesse espectro. Por isso, uma congregação é servida ao ter um repertório de 300 cânticos, em vez de 30. A vida é complexa e diversa. Assim deveria ser também a nossa adoração.

10. Variem o modo como o cântico é cantado. Assim como um pregador pode falar as mesmas palavras em um tom diferente, entre um domingo e o próximo, ajustando-o ao ânimo do dia ou ao contexto do sermão em que as palavras são faladas, assim também um cântico pode ser conduzido de diferentes maneiras em ocasiões diferentes. A dinâmica do acompanhamento pode variar. Talvez o volume aumente; talvez ele diminua. Talvez a terceira estrofe seja cantada calmamente, talvez, vigorosamente. Talvez haja uma mudança de tom, talvez não. Talvez a capella, talvez não. Certamente, o texto de uma canção deve moldar o ânimo do acompanhamento, mas este também pode ser influenciado pelo ânimo da vida da igreja, ou pelo momento em que ela ocorre no culto da igreja.

11. Onde for possível, arrumem as cadeiras ou bancos de modo que uns estejam de frente para outros, e não apenas para o palco. Cantar é um esforço de “equipe”, e geralmente a única parte do culto que é uma expressão visível de comunhão. Esse é um modo de lembrar o fato de que Paulo nos ordena a “falar um ao outro com salmos, e hinos, e cânticos espirituais” (Efésios 5.19). Não há nada errado em fechar os olhos ao cantar, é bom deixar claro, mas na imagem pintada por Paulo parece que as pessoas estão olhando umas para as outras! Igreja não é lugar para uma super devocional individual.

12. Considerem a acústica do salão. Uma acústica ruim atrapalha o canto congregacional provavelmente mais do que vocês imaginam. O piso é todo de carpete? Limitem o carpete aos corredores. Há forro acústico no teto? Removam-no e substituam por um reboco sólido. Cortinas pesadas? Tirem-nas. Bancos totalmente acolchoados? Há a possibilidade de remover todo o estofado, exceto dos assentos? Se o seu local de culto é incomum de algum modo e for necessário ajuda, talvez seja apropriado consultar um especialista em acústica arquitetônica para saber o que pode ser feito para melhorar o tempo de reverberação e limitar ecos desagradáveis.

Advertência: especialistas em acústica sempre irão presumir que você deseja “melhorar a acústica” em termos daquilo que é projetado da plataforma. Muitos desejam um auditório com “acústica morta” na audiência, de modo que tosses e barulhos estranhos não sejam ouvidos durante um concerto. Mas você deve informar-lhes que deseja aprimorar o canto congregacional. O culto não é um show, e a congregação não é uma audiência. Deixe-a ser ouvida por meio de uma acústica viva. Por que as pessoas gostam de cantar no banheiro? Porque a acústica amplifica o som.

13. Talvez, disponham os músicos e cantores na lateral por algum tempo. Cada salão e cada cultura congregacional são diferentes. Dispor os músicos e cantores na lateral pode, em certas circunstâncias, atrapalhar o canto congregacional, porque a congregação necessita de uma liderança mais forte. Mas, se a sua congregação caiu em uma cultura e orientação voltadas para a performance, quando for possível, considerem dispor os líderes de canto na lateral. Havia uma boa razão pela qual algumas igrejas mais antigas dispunham seus corais numa sacada – para que eles pudessem ser ouvidos sem ser vistos. Quanto a presença do líder de canto no palco produz uma cultura de performance, Deus é menos visto e ouvido.

14. Sejam modelos de canto com entusiasmo. Quer os presbíteros, líderes e diáconos estejam sentados numa plataforma ou na congregação, eles deveriam ser modelos de como cantar com entusiasmo e na altura apropriada. Cantar fora do tom é melhor do que não cantar. O pastor que ainda está revisando o esboço do sermão durante o canto está dizendo, com seu exemplo: “O canto em nosso culto não é tão importante!”. Em uma cultura que, às vezes, iguala a masculinidade ao estoicismo de um personagem de Clint Eastwood, moldar o canto entusiasmado é especialmente importante para a liderança masculina.

15. Imprimam a música, escolham cantos com boas partes, e procurem outros meios de promover o conhecimento musical. Conhecimento musical não é mais o que costumava ser, graças ao declínio da educação musical nas escolas. Mas, ainda que dez por cento da igreja cantasse as partes, o canto de todos os demais seria avigorado. As pessoas falam sobre as vantagens de “olhar para cima” que há ao ler as letras projetadas. Mas então por que todas essas igrejas olhando para as projeções não parecem cantar tão bem quanto uma geração mais velha de igrejas que olhavam para baixo em seus hinários? Talvez seja a hora de as igrejas pensarem em hinários novamente, ou, pelo menos, em começarem a imprimir música em seus boletins. Escolham músicas com boas partes, e certifiquem-se de que algum coral ou líderes de música cantem as partes.

16. Mantenham uma classe de canto. Seguindo o exemplo de Lowell Mason, compositor de “When I survey the wondrous cross” [Quando olho para a maravilhosa cruz], que criou “escolas de canto” na igreja, Justin Leighty, um membro da igreja Third Avenue Baptist Church, em Louisville, EUA, oferece à sua própria congregação uma aula mensal de canto de hinos. Os participantes são agrupados por suas partes, como um coral, e praticam lições básicas de música: “Isto é uma semínima; isto é uma semibreve. Aqui está a linha do tenor: quando ela desce, vocês descem, quando ela sobe, vocês sobem etc.”.

17. Ocasionalmente, cantem a capella (sem acompanhamento). Talvez o terceiro verso, talvez o quarto. Ou talvez até uma música inteira, com um piano ou violão dando início à peça e então guiando nas transições. E não desperdicem a sua a capella cantando músicas só com linha melódica; cantem-na quando houver partes que sejam boas e bem conhecidas. O canto a capella ajuda a congregação a ouvir a si mesma e a contar apenas com as suas vozes combinadas para cantar num volume que diga que eles creem naquilo que estão cantando! Diminua um pouco o ritmo e libere a congregação para envolver cada parte de seu corpo, alma e espírito na canção.

18. Lembrem regularmente a congregação de que ela é o principal instrumento no culto corporativo. Se eles não cantarem com prazer, a adoração musical não ocorrerá. Isso não significa agir como um líder de torcida: “Ok, vamos cantar pra valer… Eu quero ouvir vocês… Eu sei que vocês podem cantar mais alto!”. Esse tipo de liderança deprecia a seriedade da música, e não trata o seu canto como uma genuína expressão espiritual de amor, gratidão e louvor. Em última instancia, o canto congregacional deveria ser tão natural quanto palavras de admiração ditas diante de um pôr-do-sol incomum, ou palavras de lamento ao lado de um amigo que sofre. Ainda assim, é preciso ensinar às congregações que é responsabilidade delas cantar e ensinar uns aos outros por meio do canto. Elas precisam ser ensinadas a se reunirem com a expectativa de cantar.

David Leeman, Mark Dever e Matt Merker contribuíram para este artigo.


Autor: Jonathan Leeman

Jonathan Leeman é graduado em Jornalismo, possui mestrado em Divindade pelo Southern Baptist Seminary (EUA) e Ph.D. em Eclesiologia. É diretor de comunicação do Ministério 9Marks.

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