domingo, 28 de abril

A comunidade cristã fez mais por mim do que a comunidade gay

A comunidade gay é chamada dessa forma por uma razão. É uma comunidade. Um conjunto de pessoas com nomes diferentes, status sociais distintos, hábitos alimentares diferentes, educações diferentes e muito mais, mas com algo em comum que é compartilhado por todos, tornando-os mais parecidos do que diferentes: sua sexualidade. Aquilo que é desprezado pelo mundo à sua volta é um aperto de mão secreto, a piadinha conhecida só por quem está “dentro”, o sorrisinho entendido que confunde a maioria das pessoas mas une os membros dessa comunidade.

Os que passam o dia num armário saem para brincar quando se veem cercados pela segurança de olhos que não julgam. Os que são livres, aqueles que tiveram a coragem de contar às pessoas que têm o mesmo sobrenome deles, amam de modo diferente do esperado, esses são as estrelas da festa. Depois da festa, porém, todos sabem que devem voltar à terra da heterossexualidade, onde ou o armário os protege do peso da sinceridade, ou é preciso encontrar alguma medida de coragem para ser aquilo que sabem ser. Garanhão, sapatão, entendida, bissexual — talvez essas sejam as identidades distintas que separam as pessoas dentro do grupo, mas todo mundo carrega um único fio condutor que faz de todos um só. Juntos, nós éramos gays.

Desse modo, deixar essa comunidade por outra era algo aterrorizante, especialmente quando a transição estava sendo feita para uma comunidade que parecia tudo, menos segura. Mas o grupo de cristãos que eu começava a conhecer e do qual eu começava a gostar fez mais por mim do que a comunidade gay jamais poderia fazer. Eles me mostraram Deus. A comunidade que, por algum tempo da minha vida, eu chamara de meu lar era cheia de risadas e o que eu rotulara de “vida”. Mas a realidade é que minha comunidade gay não tinha vida. Eles eram o que eu tinha sido: mortos. Eles ainda eram portadores da imagem de Deus, ainda amigos e importantes. Eu ainda os amava, mas amava mais a Deus. E eles não podiam me ajudar a amar aquele a quem não conheciam. A diferença entre a comunidade gay e a comunidade cristã não estava na capacidade, no intelecto, no conforto, no humor ou na beleza; a diferença era que, em uma, Deus habitava e, na outra, não.

Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito (Ef 2.19-22).

Uma comunidade de pessoas que conhecem Deus não pode ser considerada algo comum. O que eu antes pensava ser um simples conjunto de cristãos banais agora se tornara um milagre em forma corpórea. Toda conversa poderia, em algum momento, ser uma oração atendida ou uma sarça ardente depois do jantar. Essas pessoas haviam sido vivificadas pelo mesmo Deus que eu conhecera algumas semanas antes, e me ensinavam melhor sobre ele do que eu teria aprendido se estivesse sozinha. Deus nos colocou todos juntos e, ao fazer isso, forneceu o meio pelo qual eu aprenderia a me despir de tudo aquilo que minha comunidade anterior me havia falado para usar com orgulho.

Artigo adaptado do livro Garota Gay, Bom Deus, de Jackie Hill Perry.


Autor: Jackie Hill Perry

Jackie Hill Perry é escritora, poetisa e artista, com trabalhos publicados no Washington Times, e 700 Club, Desiring God e Gospel Coalition. Ao se tornar cristã, em 2008, passou a usar seus dons para compartilhar a luz do evangelho de Deus da maneira mais autêntica possível. Jackie é esposa de Preston, com quem tem dois filhos, Eden e Autumn.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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