O texto abaixo foi extraído do livro Do Céu Cristo veio Buscá-la, de David Gibson e Jonathan Gibson, da Editora Fiel.
Jesus ensinou a expiação definida. Ele fala de si mesmo como o “bom pastor [que] dá sua vida pelas ovelhas” (João 10.11-15). Ele conhece e é conhecido por suas “próprias” ovelhas, assim como o Pai o conhece e ele conhece o Pai (João 10.14,15). As ovelhas de Jesus ouvem sua voz e o seguem (João 10.27). Ele lhes dá a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém pode arrebatá-las de sua mão (João 10.28). O Pai as deu; ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai (João 10.29).
Aqui, expiação definida é expiação eficaz: antes de tudo, as ovelhas são do Pai; são dadas ao Filho; ele deu sua vida por suas próprias ovelhas; são guardadas nas mãos do Filho e do Pai; nenhuma ovelha, por quem Cristo deu sua vida, jamais perecerá (João 10.28). Mas, além disso, Jesus faz do implícito explícito: os que não abraçam a fé nunca foram suas “próprias ovelhas”: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (João 10.26, AT). A lógica de nosso Senhor, aqui, é notável. Ele não diz: “Vós não credes e por isso não sois parte de meu rebanho”. Mas sim: “Vós não credes porque não sois parte do rebanho pelo qual eu dou minha vida”. Assim, lado a lado com a expiação eficaz, Jesus fala de uma discriminação divina entre as ovelhas (aquelas dadas, pelas quais morreu, chamadas, atraídas e guardadas) e as que não parte de seu rebanho.
Os ministros do Evangelho servem como subpastores e bispos assistentes de Cristo, o “Pastor e Supervisor” (1Pedro 2.25). Deles é uma vocação profundamente teológica. Como Calvino, buscam se tornar teólogos mais bem aparelhados a fim de serem pastores melhores. Dois comentários estão em ordem aqui.
Primeiro, e na natureza do caso, o ministro é um profissional prático geral em teologia, não um especialista acadêmico. O pastor é construtor de igreja, não um arquiteto. Mas, para servir bem no edifício local da igreja, ele necessita de um pleno e operante conhecimento da arquitetura do Evangelho. Em particular, visto que sua vocação é pregar a Escritura à luz de sua utilidade (2Timóteo 3.16-4.5), ele deve estar familiarizado com tudo o que é “proveitoso” e não deve “deixar de vos anunciar… todo o desígnio de Deus” (Atos 20.20-27). Ele deve ainda ser equipado não só para pregar a verdade, mas para discernir e refutar o erro (Tito 1.9), de modo que possa proteger o rebanho de Deus dos lobos vorazes (Atos 20.29-31).
Segundo, em qualquer ministério que seja necessária firmeza na sucessão apostólica, a exposição e aplicação do ensino bíblico sobre a expiação demandam um lugar central. Paulo nos dá a visão em afirmações resumidas: “Porque decidi nada saber entre vós senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Coríntios 2.2);“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gálatas 6.14). Como subpastor, ele deve expor o que o Principal Pastor fez, dando sua vida por suas ovelhas.
Mas, seguramente, a expiação definida é um ponto sofisticado e controverso da teologia e, portanto, improvável para impactar o ministério pastoral?
O NT enfatiza que a expiação não conhece limitações étnicas (Gálatas 3.26-28), no entanto, é também “definida”. Em sua morte, Cristo realmente faz expiação pelos pecados de seu povo; reconciliação é a obra finalizada. Isso é inserido no enredo e na trama do ensino do NT em grande medida da mesma maneira que a obra da Trindade condimenta e colore sua mensagem. E, de uma maneira similar, talvez menos óbvia, como se pensa sobre a natureza, os efeitos e a extensão da expiação, tem um impacto inevitável, direta ou indiretamente, na pregação, ensino e aconselhamento pastoral. Se parte da tarefa do ministro é ajudar sua congregação a entoar com jubilosa admiração em resposta ao Evangelho,
Glorioso amor! Como é possível
Que tu, meu Deus, tenhas morrido por mim?
então o significado de seu morrer “por mim” não pode ser ignorado.
A posição adotada por todo este volume é que Cristo morreu pelos eleitos, e que a expiação feita por ele, sejam quais forem suas ramificações mais amplas, foi “definida”, isto é, destinada a indivíduos específicos e essencialmente eficaz. Seu propósito não era fazer a salvação possível a todos (e logicamente, portanto, potencialmente eficaz a ninguém), mas fazer uma expiação particular e efetiva: o Pastor deu sua vida por suas ovelhas; todas as suas ovelhas serão chamadas, justificadas e glorificadas (Romanos 8.30).