quinta-feira, 28 de março

A igreja e o cumprimento da grande comissão

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A Grande Comissão de Cristo em Mateus 28.16-20 é mais comumente associada a um apelo para que os cristãos individualmente considerem seu chamado para irem ao mundo como missionários. Embora certamente seja um texto que todo seguidor de Cristo deveria meditar e aplicar, parece que uma aplicação primariamente individualista desse mandamento é mais um produto da nossa cultura ocidental do que uma leitura natural do texto.

O mandamento de Cristo foi dado à igreja.

De acordo com o versículo 16, os onze discípulos foram os ouvintes originais do mandamento. Os apóstolos eram mais do que indivíduos que procuravam obedecer de modo privado aos ensinamentos de Cristo. Aqueles homens eram fundadores e líderes da igreja que seria estabelecida e multiplicada por meio do seu testemunho e do poder do Espírito Santo. Foi entendido que cada membro da igreja seria ensinado a obedecer a tudo o que o Senhor ordenou, incluindo o mandamento de fazer discípulos de todas as nações.

O mandamento de Cristo foi dado a todos os membros da igreja.

É um gracejo comum que “Domingos de missões” são reservados para semanas quando a frequência do culto é pequena. Ao que parece, a suposição é que as mensagens sobre as nações são particularmente para um subgrupo da congregação: homens e mulheres que já estão predispostos a pensar ou interagir com estrangeiros. Isso faria sentido se (a) uma simpatia pelos povos e culturas fosse a principal motivação para alcançar as nações com o evangelho; e (b) o único meio de obediência ao mandamento de Cristo fosse realmente sair de casa e viver em outro lugar por amor ao evangelho.

No entanto, nenhuma dessas opções é verdadeira. A motivação final para proclamar o evangelho e fazer discípulos não está enraizada na sociologia. É o imensurável valor e glória de Cristo que nos compele a espalhar a mensagem do evangelho. Quando qualquer coisa sobre o nosso Deus maravilhoso move nossas afeições para a adoração e obediência, um transbordamento natural será um desejo de ver outros que ainda não o conhecem serem movidos a adorar.

Além disso, a aplicação da Grande Comissão não é unicamente para ir, mas para orar ao Senhor da seara por mais trabalhadores (Lucas 10.2), para enviá-los como a igreja de Antioquia fez com Barnabé e Paulo (Atos 13.2-3), e para apoiar os missionários como “cooperadores da verdade” (3 João 8). Trata-se de um esforço corporativo que envolve cada membro do corpo de Cristo. Assim, nosso objetivo não é persuadir todos a se tornarem missionários, mas ajudar todos em nossas congregações a pensarem e agirem com uma mentalidade de evangelização mundial.

O mandamento de Cristo foi dado a todas as igrejas.

A missão de ir e fazer discípulos de todas as nações foi dada às igrejas de todas as nações. O evangelho continua a se espalhar pelo mundo, e à medida que as igrejas têm se multiplicado e amadurecido, elas também têm se envolvido no envio e apoio de missionários. A realidade é que as igrejas em todo o mundo estão profundamente empenhadas em missões internacionais; essa não é uma iniciativa exclusivamente ocidental.

Há duas armadilhas potenciais para líderes de igrejas ocidentais à luz disso. Por um lado, podemos cair na armadilha de crer: “Se NÓS não formos, como eles ouvirão?”. A missão de propagar o evangelho a toda língua, tribo e nação pode ser vista como uma tarefa unicamente para as igrejas na América, sem considerarmos os nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo que estão trabalhando ao nosso lado. O outro perigo é acreditar: “Há tantos outros indo, então não somos mais necessários”. Sim, países como a Coréia do Sul e a Índia estão enviando dezenas de milhares de missionários, mas isso não significa que podemos abdicar de nossa responsabilidade.

Alguns anos atrás, enquanto estava na América do Sul, pedi a um respeitado missiólogo brasileiro e plantador de igrejas sua opinião a respeito da afirmação de que a era das missões ocidentais tinha terminado e que agora era o momento de “passar o bastão”. A sua resposta foi graciosa e sincera: “Já ouvi isso antes”, ele disse, “e a minha pergunta é: ‘Por que você acha que o bastão era seu a princípio?’”. Ele tem razão. A Grande Comissão não pertence a nenhuma era ou região específica da igreja; em vez disso, todas as igrejas em todas as eras e em todos os lugares devem se esforçar juntas para fazer discípulos de todas as nações. Nossa oportunidade à luz dessas tendências mundiais não é apenas enviar a partir de nossas congregações, mas também fazer parcerias com igrejas estrangeiras para enviar, apoiar e servir missionários entre as nações.

A ordem de Cristo era fazer discípulos, que se tornariam igrejas.

O objetivo das missões não é evangelizar todos os povos, mas fazer discípulos que observem tudo o que Cristo ordenou. O primeiro pode ser realizado rapidamente através de indivíduos, enquanto o último leva tempo e necessita da comunidade. Portanto, cumprir a Grande Comissão requer a plantação de igrejas.

Qualquer esforço em missões deve estar ligado ao objetivo de gerar corpos locais de crentes através da declaração e demonstração do evangelho. Os ministérios de misericórdia são bons e saudáveis, mas permanecerão atrofiados se os corações de pedra não forem feitos de carne através do poder do Espírito de Deus pela Palavra de Deus. Por outro lado, o ministério da proclamação é necessário, mas intangível, sem a aplicação da Palavra em serviço às necessidades sentidas pela comunidade. O objetivo, então, é ver surgir comunidades de discípulos que proclamam as boas novas da salvação em Jesus Cristo e exibem o fruto do Espírito através do seu amor ao próximo.

Se é o papel de cada igreja local obedecer à Grande Comissão para o nascimento de novas igrejas locais a nível local e global, por onde começamos? Sugiro que comecemos no mesmo ponto em que os discípulos de Cristo. Como líderes da igreja, devemos considerar os mandamentos do Senhor e devemos buscar a direção e o poder do Espírito Santo à medida que avançamos na fé. Não importa o tamanho, a idade, os recursos ou os desafios de nossa igreja, não estamos incapazes, pobres ou sozinhos. A promessa de Cristo é para nós hoje. Ele governa todas as coisas, terrenas e celestiais, e está conosco até o fim dos tempos. Ele completará a sua missão.

Tradução: Camila Rebeca Teixeira

Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva

Original: The Great Commission: Fulfilled by Churches and for Churches


Autor: Ryan King

Ryan King é o Diretor da Missão Internacional da Austin Stone Community Church em Austin, Texas.

Parceiro: 9Marks

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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