quarta-feira, 11 de dezembro
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A igreja que disciplina

Permita-me dizer-lhe por que a disciplina na igreja é importante para mim. Alguns anos passados, meu pai, um ministro do evangelho, deixou minha mãe, por causa de adultério com a sua secretária. Tenho a permissão dele para contar a história. Ele tem agora 89 anos de idade. Este acontecimento nos deixou arrasados. Não temos visto divórcio com freqüência em nossa extensa família. Todos somos crentes, e muitos de nós estamos no ministério; e isso ocorre há quatro gerações.

Quando meu pai trabalhava como um executivo da denominação, começou a aconselhar sua secretária a respeito do casamento.

Ela encontrou em meu pai o que não achava em seu marido. Logo, surgiram as cumplicidades, e, em seguida, o adultério. Meu pai fez o que nos dissera nunca deveríamos fazer: aconselhar uma pessoa do sexo oposto em uma sala fechada. O adultério aconteceu quatro meses antes de papai aposentar-se. Os quatro filhos se reuniram, vindos de lugares distantes, na casa de papai, a fim rogar-lhe que se arrependesse. Ele pareceu arrepender-se naquela ocasião, mas logo recuou de seu arrependimento. Assim como a esposa de Ló, seu coração estava distante, embora ele reconhecesse que não havia nada da parte de mamãe que causasse o distanciamento. Ele não voltou atrás. Pelo contrário, divorciou- se de mamãe, casou-se com a secretária e mudou para outra cidade. Seus anos de aposentadoria, que deveriam encher-se de atividades e viagens ministeriais, eram agora um sonho impossível. Dois anos depois, mamãe faleceu. Ela morreu do mal de Alzheimer, cujos efeitos não foram percebidos até depois do divórcio. Mamãe permanecera fiel, orava com fervor por seu marido e se mostrava admiravelmente perdoadora. Mas, falando com moderação, o divórcio a arrasara; ela nunca imaginara que isso poderia lhe acontecer. Antes de mamãe falecer, papai se arrependeu verdadeiramente. Com lágrimas de angústia por suas ações, ele rogou o perdão da família e veio ao leito de morte de mamãe, para conversar, antes que ela morresse. Mas o dano já estava feito.

Ele perdera seu trabalho, sua reputação, sua confiança, o respeito da família, seu futuro ministério, sua alegria e a certeza de sua própria salvação. Papai havia sido um tolo.

Estamos agora a 25 anos daquele tempo horrível. Felizmente, papai foi restaurado à vitalidade cristã, embora com cicatrizes. Seu arrependimento fora verdadeiro e duradouro.

Ele tem procurado ajudar outros a evitar as ações pecaminosas que cometera no passado.

Recentemente, como um homem idoso, ele falou a um grupo de pastores batistas de um dos nossos estados: “Sou um testemunho de fracasso no ministério”. Mas também lhes falou sobre a admirável graça de Deus. Neste ano, nós, os quatro filhos, levamos papai à viagem de sua vida. Viajamos a dez pequenas cidades, para visitar todos os lugares memoráveis da infância de papai. Fomos ao lugar de sua conversão, sua chamada ao ministério, sua primeira igreja, etc.

Foi uma viagem que jamais esqueceremos.

Sorrimos e choramos, tiramos fotos e contamos histórias durante todo o percurso.

Um dia, tomamos uma estrada velha que levava ao cemitério isolado e quieto onde mamãe fora sepultada; o cemitério ficava a onze quilômetros da familiar cidade sulina onde mamãe crescera. Foi a primeira vez que papai viu a sepultura. Vinte anos antes, ele se recusara a ir ao funeral, para não criar problemas. Quando nos aproximamos da sepultura, seu corpo convulsionou, com lágrimas, enquanto se apoiava em nós. “Como posso ter feito o que fiz a esta mulher tão amável?”, ele lamentou. Aquele foi um momento de angústia, mas também de alívio para todos nós. Por que conto esta história pessoal? Na época do adultério, nossa família tentou convencer o pastor da igreja de papai, uma das mais proeminentes na grande cidade onde meus pais moravam, a praticar a disciplina eclesiástica em papai.

Esperávamos que, naquele período vulnerável, ele ouviria e mudaria de atitude, se a igreja exercesse esta prática bíblica restauradora. A igreja se recusou a fazê-lo. Estou certo de que a recusa se deu porque a igreja não era acostumada a esse tipo de ação, mas também por causa da posição de meu pai na igreja e na cidade.

Quando estávamos no carro, após a experiência no cemitério, fiz esta pergunta: “Papai, insistimos com sua igreja que o disciplinasse, quando você cometeu adultério. Eles não o quiseram. Você acha que, se o tivessem disciplinado, isso o teria impedido de abandonar mamãe?” Papai, que sempre admite a culpa do seu pecado e não permite que ninguém mais tenha parte naquele pecado, fala com bastante humildade: “Acho que teria”. Agora, quero perguntar ao leitor: a igreja que meus pais freqüentavam foi amável ao recusar discipliná- lo? Os membros daquela igreja estavam sendo graciosos e bondosos? Estavam fazendo o que era melhor para ele? Além disso, aquela igreja estava amando a Deus, quando não disciplinou meu pai? Estava seguindo a Jesus Cristo, o Cabeça da igreja? Estava ajudando outras famílias?

Estava ajudando os crentes em toda a cidade? Estava instruindo os filhos mais novos e os jovens da igreja no caminho de santidade e pureza do casamento? Qual é a verdade em tudo isso? A verdade é: a disciplina por parte da igreja é a ação mais benevolente que pode ser praticada em relação a um membro errante; e, quando essa disciplina não é exercida, há uma flagrante desobediência a Deus.

Restaurando os que caem

Sejamos práticos a respeito deste assunto importantíssimo. Toda a igreja precisa ter uma declaração concernente à disciplina. Incluso nesta revista (ou disponível na Editora Fiel) encontra-se um livrete sobre a disciplina na igreja que pode ser adotado, ou adaptado, para o seu uso. O livrete chama-se “Disciplina Bíblica na Igreja”. É uma declaração referente à disciplina na igreja que eu e outros pastores de nossa igreja preparamos. No passado, estive envolvido na redação de várias declarações similares. Mas esta é a mais clara e mais praticável apresentação desta doutrina. Quando outras igrejas começaram a pedir cópias desta declaração, decidimos colocá-la em forma de livrete.

Dr. Jay Adams a publicou em seu novo Jornal de Ministério Moderno, tornando-a mais acessível aos leitores. Agora, a Editora Fiel a oferece como uma ferramenta para sua igreja. Não presumo que todos vocês considerarão esta declaração a melhor para adotarem. No entanto, se não encontrarem outra melhor ou não puderem redigir a de vocês mesmos, pensem em aceitá-la como o plano de disciplina de sua igreja.

Quero sugerir que você obtenha para os líderes da igreja cópias deste livrete, atentando cuidadosamente a cada linha, examinando os versículos citados e conversando sobre as implicações e estratégia que a sua igreja seguirá, quando o pecado entrar na membresia.

Depois, considerem a possibilidade de reunir todos os homens para um tempo de estudo sobre a disciplina na igreja, usando esta declaração.

Por fim, poderiam apresentá-la a todos os membros. E, no processo de tomar decisões, a igreja poderia adotar esta declaração como a maneira de praticar a disciplina na igreja. Temos achado proveitoso que todos os novos membros de nossa igreja leiam esta declaração de disciplina. Depois, no Pacto de Membresia de nossa igreja, acrescentamos estas palavras: submeto-me à disciplina da igreja e aceito com amor minha responsabilidade de participar da disciplina de outros membros, conforme ensinado nas Escrituras. Vocês podem entender minha preocupação em restaurar esta prática. Se vocês amam as pessoas e a Deus, farão isso. Se negligenciarem a disciplina na igreja, serão desobedientes ao Cabeça da igreja, Jesus Cristo, que ordenou vocês fizessem isso. Nossos antepassados não foram negligentes às suas responsabilidades de disciplinar, como o são muitas de nossas igrejas hoje. Desde os primeiros dias da obra batista nos Estados Unidos até ao início dos anos 1800, houve poucas exceções.

O Dr. Greg Wills, em seu livro Democratic Religion in the South (Religião Democrática no Sul — Oxford Press), afirma que no Estado da Geórgia, no Sul, 3 a 4% dos batistas passavam por disciplina eclesiástica; e 1 a 2% tinham de ser excluídos anualmente. Estes dados representam, de algum modo, o que ocorria em outras partes do país. Isto incluía disciplina sobre os que não freqüentavam regularmente a igreja.

O resultado da diligência de nossos antepassados foi um vigoroso contingente de igreja naquele período mais vibrante de testemunho e de crescimento exponencial. John L. Dagg, um dos líderes batistas, disse: “Quando a disciplina abandona uma igreja, Cristo a abandona juntamente com aquela”. É obrigação de líderes centralizados na Escrituras, como vocês, restaurarem esta prática bíblica.


Autor: Jim Elliff

Jim Elliff é o fundador e presidente da organização Christian Communicators Worldwide. Durante quase vinte anos, antes de começar a CCW, ele serviu como membro da junta pastoral de várias igrejas na Florida, Arkansas, Texas e Oklahoma. Desde 1985, tem ministrado palestras em organizações, ambientes educacionais, igrejas e associações de pastores de várias denominações, nos Estados Unidos e outros países. Muitas de suas conferências aconteceram na Europa, com viagens ocasionais e países da America do Sul e Central, e cinco viagens à África. É o autor de três livros publicados em vários países: Guiados pelo Espírito, Ao encontro de Deus e Fé Inútil (no Brasil, pela Editora Fiel). Atualmente, ele serve como membro da diretoria da Fellowship of Independent Reformed Evangelicals e faz parte da junta de conselheiros do Ministério Passeggio (Itália) e da Editora Fiel (Brasil). Além de seus escritos e viagens, Jim começou a Christ Fellowship em 2003. Esta igreja singular é constituída de congregações em lares na área metropolitana da Kansas City.

Parceiro: Christian Communicators - CCW

Christian Communicators - CCW
O ministério CCW tem como propósito propagar a Palavra de Deus em todo o mundo através da pregação e de publicações.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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