segunda-feira, 3 de novembro
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A liderança piedosa liberta e capacita

A boa autoridade faz crescer

Por que, exatamente, a autoridade é uma bênção? Porque ela nos faz crescer. Esse é o primeiro propósito da autoridade a ser destacado neste capítulo: a boa autoridade faz crescer e capacita aqueles que estão debaixo dela. Nesse sentido, o apóstolo Paulo se refere à “autoridade que o Senhor me conferiu para edificação e não para destruir” (2Co 13.10).

Nossa perspectiva natural e míope tende a igualar autoridade com restrições e com a repressão do crescimento. É o que muitos adolescentes dizem para si mesmos: “Quando sair de casa, poderei fazer o que quiser e me tornar a pessoa que quero ser.” Pensamos em autoridade e liberdade, ou em autoridade e crescimento, como elementos opostos. E há autoridades ruins o suficiente neste mundo para provar esse ponto.

Além disso, o ímpeto do adolescente não está totalmente errado. Possuir autoridade é possuir liberdade — a liberdade de tomar decisões ou exercer poder dentro de um domínio específico. Os pais possuem uma autoridade e liberdade em casa que o adolescente não possui. De fato, os pais restringem a liberdade do adolescente de maneiras específicas.

Contudo, o adolescente que resiste a esse arranjo está sendo míope. O objetivo dessas restrições é justamente guiá-lo, gradualmente, em direção à liberdade e à autoridade dos próprios pais — à maturidade da vida adulta. Um pai sábio deseja que o adolescente desfrute da liberdade e exerça autoridade, mas que empregue ambas essas dádivas de maneira responsável e ética.

Assim é com todos os domínios de autoridade e liderança. Seu objetivo deve ser elevar as pessoas. Seres humanos não crescem apenas quando estão livres de restrições. Também crescemos quando restrições nos são impostas, como estacas de madeira que fortalecem mudas ou como roseiras que brotam depois de aparadas. Da mesma forma, crianças adquirem sabedoria com o estudo, atletas correm mais rápido com exercícios, funcionários se tornam gerentes por meio de treinamento. Obediência, disciplina e limites ensinam e fortalecem: “Não há como aprender sem obediência”, concluiu uma professora do ensino fundamental ao refletir sobre sua sala de aula.

No entanto, uma boa autoridade quase sempre oferece uma mistura de transcendência e imanência. Aquele que está acima de nós em sabedoria e autoridade se aproxima de nós e diz: “Faça o que eu faço; siga-me.” E, ao seguirmos, adquirimos sabedoria. Crescemos para ser como aquele a quem estamos seguindo.

Faça de conta que Michelangelo é seu professor de arte. Como você aprenderá a pintar como ele pinta? No começo, você aprende ao treinar e disciplinar seu pincel para fazer o que o pincel dele faz. Seus olhos e suas mãos se ajustam às mãos e aos olhos dele. Então, dominada essa parte, você terá a mesma liberdade do próprio mestre. Poderá escolher pintar como ele ou desenvolver seu próprio estilo, mas com a mesma habilidade dele.

Esse tema de crescimento e capacitação permeou toda a fala de Ângela. Seu pai a capacitava, encorajava-a, tornava-a forte. Isso ficou particularmente claro quando ela falou sobre a dupla bênção de ele se não apenas um pai, mas também seu pastor:

Ele era humilde e forte não apenas como pai, mas também enquanto pastor. Aquilo foi um duplo encorajamento. Seu papel como pai me moldou, mas seu papel como pastor também. Os dois cooperaram de modo favorável em minha vida.

Como pastor, ele me encorajava em minha caminhada pessoal com o Senhor. Não sei como ele o fazia, mas seu encorajamento nunca parecia ser para benefício próprio ou para o seu renome na igreja, como se ele tivesse medo de as pessoas dizerem: “É melhor que o pastor tenha filhos que caminhem com o Senhor!” Em vez disso, ele simplesmente nos encorajava a ler a Bíblia e participar dos cultos.

Então, lembro-me de como fiquei empolgada em participar da classe de novos membros da igreja, ministrada por ele, quando tinha 16 anos. Eu podia levantar a mão e fazer minhas próprias perguntas. Aquilo me fez sentir capacitada. Não sentia que precisava agir de determinada maneira apenas porque ele era o pastor. Ainda assim, sua liderança me cativava. De alguma forma, meu pai despertava em mim o desejo de conhecer o Senhor, de me envolver com a igreja e de entender o que as Escrituras ensinam.

É preciso habilidade e sabedoria para liderarmos pessoas na direção certa, ao mesmo tempo que as deixamos descobrir sua direção por conta própria.

É difícil saber quanta transcendência e quanta imanência oferecer. Será que o livro de receitas pede uma xícara de cada, ou uma xícara de uma e meia xícara da outra? Na verdade, momentos diferentes pedem proporções diferentes e um pai prudente sabe que quanto mais velha, forte e madura sua filha se torna, mais ele se inclinará para a imanência:

Conforme fui crescendo, meu pai nos educava por meio de perguntas — como Jesus, que fazia muitas perguntas. Ao fazer perguntas, ele conseguia me guiar sem uma mão pesada, deixando-me juntar as peças sozinha. Ao liderar dessa forma, nunca senti como se ele estivesse sendo arrogante. Pelo contrário: ele me proporcionava espaço para processar as ideias com ele, e eu sabia que aquele era um ambiente seguro para isso — seguro porque ele não exigia que eu agisse ou aparentasse ser de determinada maneira. Eu tinha certeza de que ele me amava e fazia tudo para o meu bem.

Nestes comentários, você ouve um tema que vai surgir várias vezes neste livro: a generosidade da boa autoridade. A boa autoridade humana não se esforça para lembrá-lo continuamente da hierarquia, mas normalmente aspira à igualdade, mesmo quando as hierarquias formais permanecem vigentes. Ela não existe para servir a si própria, mas para conceder liberdade, poder, sabedoria e crescimento àqueles a quem serve. Trabalha para tornar as pessoas como ela mesma — para que elas possam fazer o que a pessoa em posição de autoridade faz.

“Deixe-me tocar a escala de piano; agora você me imita e faz a mesma coisa.” “Vou dar essa tacada de golfe; agora, você segura o taco e faz o mesmo.” “Andarei em retidão e amor; agora, siga-me.”

Outra verdade que você ouve nos comentários de Ângela: a pessoa em autoridade também está sendo treinada. À medida que o pai de Ângela exercia autoridade, também estava aprendendo a ser como Jesus. Se o primeiro propósito da autoridade é fazer crescer aquele a quem lideramos, o segundo propósito é nos fazer crescer enquanto lideramos.

Uma boa autoridade beneficia não apenas quem está debaixo dela, mas aquele que a exerce. Ela nos dá a oportunidade de ser como Deus — governantes que governam..

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Autoridade redimida, de Jonathan Leeman, Editora Fiel (em breve).



Autor: Jonathan Leeman

Jonathan Leeman (PhD, University of Wales) é presidente do 9Marks, um dos pastores na Cheverly Baptist Church, professor em seminários e autor de livros de eclesiologia, entre eles Autoridade (Editora Fiel).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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