O apóstolo acabou de destacar a eficácia, a fecundidade, a certeza da salvação e a estabilidade que devem ser evidentes em sua vida (vv. 8-10). Se tudo isso for verdade em relação a você, o que ele está prestes a descrever também será verdade.
Se voltarmos aos versículos 5-7, encontraremos o fundamento dos imperativos do crescimento espiritual. Esse é o pano de fundo de tudo o que o apóstolo diz aqui. Ser eficaz, seguro e estável em sua vida cristã não acontece por acaso. Esse é o fruto de uma vida que cresce em virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor. Se você tem desenvolvido cada vez mais essas qualidades, terá uma entrada abundante no Céu.
Se recuarmos mais um pouco, descobriremos que a base de tudo isso é o que o próprio Deus fez. Os indicativos divinos dão origem a imperativos humanos. A fé cristã não é uma religião construída sobre um fundamento de boas obras. Ela certamente produz boas obras, mas estas são fruto do que Deus fez por nós e em nós. Como o apóstolo Paulo disse aos filipenses: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (2.13). À medida que Deus vai operando em você, sua vida se torna frutífera. Vimos anteriormente em 2 Pedro 1 que Deus fez o seguinte:
- Deu-nos uma fé igualmente preciosa (v. 1).
- Deu-nos tudo o mais de que precisamos para a piedade (v. 3).
- Deu-nos também suas grandes e preciosas promessas (v. 4).
Juntemos agora tudo isso. O primeiro pano de fundo que Pedro tem em mente é o conjunto de indicativos da nossa fé cristã. Ele é a base de tudo. Nossa vida espiritual depende do que Deus fez. Ele nos deu a fé, o poder divino e as promessas por meio das quais escapamos deste mundo perverso e pecaminoso. O segundo pano de fundo é o conjunto dos imperativos da fé cristã. Deus não fará isso por nós. Ele ordena que sejamos responsáveis e acrescentemos qualidades espirituais ao fundamento do que ele fez por nós e em nós. Deus lançou o alicerce, e nós construímos a superestrutura com a ajuda dele. Essa superestrutura levará alguns cristãos a se parecerem com a cabana do meu avô, enquanto outros se parecem com um arranha-céu em Manhattan. A diferença é o esforço que cada cristão dedica ao seu crescimento espiritual. Pedro fala, então, das implicações de tudo isso. Se você priorizar o crescimento espiritual, conhecerá verdadeira eficiência, fecundidade, segurança e uma vida espiritual estável. Isso é cristianismo!
Antes de prosseguirmos, devemos perguntar se o resumo de Pedro se aplica a nós. Afirmamos ser cristãos. Será que a descrição do apóstolo se reflete na nossa própria vida espiritual? Infelizmente, muitas pessoas que afirmam ser cristãs não podem ser descritas dessa maneira. Como afirmei várias vezes neste livro, elas vivem como qualquer pessoa do mundo, exceto pelo fato de frequentarem a igreja aos domingos. Nada em sua vida se aproxima do crescimento espiritual que Pedro descreve. Enquanto aceitamos esses indivíduos como cristãos simplesmente porque afirmam ser, Pedro adverte que eles não chegarão ao Céu. O que ele descreveu é a vida cristã normal. Não é a vida espiritual de gigantes da fé. Se a vida cristã descrita pelo apóstolo não se parece com a sua, jogue fora o que quer que seja a que você se agarra e comece de novo, antes que seja tarde demais. Se você morrer no estado em que está, pode ouvir Deus dizer no dia do juízo final: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim” (Mt 7.23).
A generosa resposta de Deus
O Deus que lançou o fundamento e nos exorta a crescer responde à nossa obediência com generosidade e graça. Veja como Pedro exprime isso no nosso texto: “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. É assim que os pais ensinam a criança a andar. Eles dão incentivos para que ela finalmente reúna coragem suficiente para andar. Assim que consegue dar alguns passos, os pais a seguram, batem palmas e comemoram, como se dar esses poucos passos fosse a maior conquista de sua vida. Mas não acaba aí. À medida que a criança vai crescendo, os pais querem que ela tenha sucesso na escola. Mais uma vez, fazem promessas: “Se você terminar o ano como um dos dez melhores alunos da sua turma, compraremos aquela bicicleta que você quer”. O que é prometido é muito maior do que estar entre os dez melhores da turma. Os pais querem incentivar seus filhos a se esforçarem. No entanto, quando você analisa a situação, percebe que são os pais que fazem a maior parte do trabalho. São eles que dão abrigo e alimento à criança, pagam as mensalidades escolares, compram uniformes, levam-na à escola, verificam o dever de casa e assim por diante. É verdade que a criança também tem sua parte a desempenhar. É ela que deve escrever, estudar e fazer o esforço. Os pais lançam a base, e a criança constrói a superestrutura.
É isso que vemos aqui. Deus lança o fundamento da fé, do poder divino e de suas próprias promessas preciosas. Depois disso, ele nos incentiva a construir a superestrutura, com a ajuda dele. Nós nos esforçamos, lutamos, trabalhamos e amamos. Fazemos o que for necessário. Finalmente, ele responde com generosidade. Citando aqui as palavras de Paulo em 2 Coríntios 9.6: “E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará”. A ênfase desse texto está na palavra “abundância”. Você consegue imaginar Deus derramando sua generosidade em sua vida? Ele é dono de toda a criação. Não é como um tio pobre que lhe dá cem dólares e acha que o abençoou ricamente. Estamos falando de Deus, que é dono de todo o universo. É ele quem responde dessa maneira abundante e gloriosa.
A realidade preocupante é que, de acordo com a Bíblia, viveremos por toda a eternidade. O modo como viveremos nessa eternidade depende da avaliação de Deus no dia do juízo. Veja a passagem de 2 Coríntios 5.9-10, em que o apóstolo Paulo diz: “É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis”. Por quê? “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”. Vivemos para agradar a Deus, e não para agradar a nós mesmos, porque teremos de prestar contas a Jesus Cristo na eternidade. Em vez de perguntar: “O que há de errado em eu ouvir essa música ou me vestir dessa maneira?”, deveríamos perguntar: “Como posso agradar ao Senhor pela música que ouço, no modo como me visto ou no modo como uso meu tempo?”. Em 1 Coríntios 3.12-15, Paulo diz:
Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.
A abundante entrada no Céu
A Bíblia se refere à nossa entrada no Reino de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo de diferentes formas. A primeira acontece no momento da nossa conversão. Quando nos arrependemos de nossos pecados e cremos em Jesus Cristo, entramos no Reino e nos tornamos seus cidadãos. A segunda se dá quando morremos e entramos na glória. A terceira forma refere-se à entrada que fazemos depois de passar pelo juízo final. Esse será o nosso estado eterno, permanente. Parece-me que, ao adicionar a palavra “eterno” à palavra “reino”, o apóstolo Pedro tem em mente o que acontecerá quando o próprio Cristo voltar para julgar o mundo. É nesse momento que Jesus recompensará os seus. Ele será precedido pela ressurreição final. Em nosso corpo glorificado, seremos introduzidos em seu reino eterno e receberemos nossa herança e recompensa eternas. A história terá chegado ao fim, e todos os que constituem os eleitos de Deus terão sido salvos. Pedro diz que, se vivermos como ele nos exorta a viver, receberemos essa entrada abundante no Reino. Ouviremos as palavras: “Muito bem, servo bom e fiel” (Mt 25.21).
É como o exagero que vemos quando nossa seleção nacional de futebol volta para casa depois de vencer uma competição continental ou mundial. Lembro-me de que isso acontecu quando a seleção nacional de futebol da Zâmbia venceu a Copa Africana das Nações (AFCON). A volta dos jogadores à Zâmbia foi altamente recompensadora! Parecia que todo o país estava nas ruas para receber os heróis na volta para casa. Nem a polícia conseguiu impedir as pessoas de ficarem em lugares onde normalmente não temos permissão de ficar. O barulho era eletrizante, principalmente quando os jogadores começaram a sair do avião carregando a taça. Toda a nação aplaudia, tomada pela euforia contagiante. O presidente da Zâmbia cancelou todos os compromissos que tinha em sua agenda para aquele dia e ofereceu um banquete aos nossos heróis. A rede de televisão nacional cancelou sua programação normal para transmitir ao vivo aquele evento até a chegada ao palácio do governo. O país investiu uma fortuna para receber de volta aqueles heróis. Foi uma festa luxuosa. Os dirigentes e jogadores de futebol tinham dado tudo de si para ganhar aquela copa. A preparação para o campeonato foi intensa. O time passou meses treinando para atingir os níveis ideais de trabalho em equipe, defesa e pontuação. Quando a competição começou, a equipe técnica e os jogadores deixaram de lado todo o resto para se concentrarem em ganhar o campeonato. Tendo alcançado o objetivo, o resultado foi aquela recepção generosa!Eu me pergunto se é isso que você espera — essa abundante recepção ao Céu. Seu olhar está fixo em sua entrada nesse Reino eterno? Isso é o que Deus prometeu dar a seus filhos que mostram maturidade espiritual e fecundidade nesta vida. É incrível como tudo isso depende de crescer na graça. Um final extraordinariamente glorioso é prometido para os que constroem com ouro, prata e pedras preciosas. Isso é o que glorifica a Deus. Foi por isso que, na parábola dos talentos, o servo que enterrou seu talento no chão é punido. O senhor lhe diz: “Servo mau e negligente” (Mt 25.26). Ele não tem a recepção abundante que seus amigos que trabalharam e foram frutíferos obtiveram. Os que trabalharam com diligência ouviram as palavras do mestre: “Muito bem, servo bom e fiel”. Eles são os que foram aplaudidos de pé ao entrarem na festa das bodas do Cordeiro. Um dos maiores pregadores do século passado, Dr. Martyn Lloyd-Jones, morreu em 1981. Pouco antes de morrer, ele escreveu as seguintes palavras em um pedaço de papel para sua família: “Não orem por cura. Não atrasem a minha entrada na glória”. Que testemunho! Esta vida é temporária. Todos nós morreremos. Há um lugar que é mais belo que o dia. O Pai nos espera lá. Se a nossa entrada será abundante ou não depende, em grande parte, de como vivemos agora. Precisamos crescer para receber essas boas-vindas.

O artigo acima foi retirado e adaptado com permissão do livro Crescimento Espiritual – Como alcançar a maturidade em Cristo, de Conrad Mbewe, em breve pela Editora Fiel.