O texto abaixo foi retirado do livro Não Me Faça Contar até 3!, de Ginger Plowman, Editora Fiel
Muitas vezes pensamos que, se somos capazes de expressar nossos pensamentos e sentimentos com êxito para outra pessoa, então somos bons comunicadores. Pensamos que, se falarmos a nossos filhos sobre os caminhos justos de Deus, estamos os ensinando e os alcançando por meio da comunicação. No entanto, a comunicação verdadeiramente benéfica é baseada não apenas na capacidade de falar, mas também na capacidade de ouvir. Deixe-me sugerir que, em vez de falar para seu filho, você fale com seu filho. Ao aprender a se comunicar de forma eficaz, você é capaz de perceber o que está acontecendo com sua família.
Devemos procurar entender o que está dentro dos corações de nossos filhos, bem como lhes mostrar como compreender e avaliar o que está em seus corações. Provérbios 18.2 fala sobre a questão daqueles que só praticam o falar a alguém, em vez do falar com alguém. Está escrito: “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em externar o seu interior”. Provérbios 18.13 nos lembra: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha”. Esses versículos nos ajudam a entender que se precisa de muito mais para haver comunicação do que apenas expressar nossos próprios pensamentos com êxito. A forma mais produtiva de comunicação é aprender a como extrair os pensamentos do outro. Quando você auxilia seu filho a compreender o que está em seu coração, você está ensinando-o a avaliar suas próprias motivações, o que o ajudará a equipar-se para sua caminhada com Cristo à medida que se torna adulto. E, como vimos em Provérbios 31, tal criança crescerá e chamará sua mãe ditosa.
Por exemplo, vamos olhar para um problema que qualquer pessoa com mais de um filho terá de enfrentar. Tommy e Billy estão brincando juntos quando de repente uma briga surge acerca de um determinado brinquedo. O pai típico chegará ao local e expressará aquela sabedoria parental cuidadosamente pensada, perguntando: “Quem estava com ele primeiro?” Depois de idas e vindas, com a mãe brincando de detetive por alguns minutos, Tommy e Billy, finalmente, concordam que Billy estava, de fato, com o brinquedo primeiro. Então, a mãe gentilmente insiste que Tommy o devolva para Billy.
Tedd Tripp explica o problema desse tipo de reação:
Essa reação deixa escapar os problemas do coração. “Quem estava com ele primeiro?” é uma questão de justiça. A justiça opera a favor da criança que é mais rápida para pegar o brinquedo, para começo de conversa. Se olharmos para essa situação em termos do coração, as questões mudam. Ambas as crianças estão mostrando dureza de coração. Ambas estão sendo egoístas. Ambas estão dizendo: “Eu não me importo com a sua felicidade. Só estou preocupado comigo mesmo. Eu quero esse brinquedo. Eu o conseguirei e serei feliz, independentemente do que isso signifique para você”. Em termos de questões do coração, você tem dois filhos pecaminosos. Duas crianças preferindo a si mesmas antes do outro. Duas crianças que estão quebrando a lei de Deus.
Todas as condutas estão ligadas a uma atitude particular do coração. Nesse caso, o egoísmo está ligado ao coração, e esse pecado leva à conduta externa.
A Bíblia apresenta instruções exatas aos pais sobre o que eles deveriam fazer nessa situação em particular? Não. Eu não alego ter um plano de ação bíblico detalhado que me diz como resolver todos os problemas. Eu gostaria de ter. Mas Deus nos deu Sua Palavra e espera que nós a usemos na educação de nossos filhos. Assim, em situações como essas, devemos orar e aplicar a Palavra de Deus da melhor maneira que pudermos. Meu objetivo é usar as Escrituras para ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça. A Segunda Epístola de, Pedro 1.3 diz: “Pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. Ainda que um problema não seja diretamente abordado na Bíblia, ele nos deu uma comunicação aberta com ele por meio da oração. Ele nos diz em Tiago 1.5: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”.
Na situação do partilhar entre irmãos, eu orei e procurei nas Escrituras sobre como poderia lidar com esse tipo de conflito. Posso lhe dizer como nós lidamos com isso em nossa casa, mas não posso lhe dizer que essa é a única forma, ou até mesmo o melhor caminho. Para nossa família em particular, a forma mais prática que encontramos é abordar um problema do coração, para simplificar nosso método e para promover a paz. Como disse, ambas as crianças estão sendo egoístas, mas nós ainda tínhamos que ter um “plano de ação” que pudéssemos usar cada vez que esse tipo de situação ocorresse, a fim de promover a paz. Nós queríamos uma solução que fosse fácil para eles entenderem e colocarem em prática por conta própria. Então, chegamos à regra de que não é apenas egoísta, mas é rude pegar ou até mesmo pedir alguma coisa que alguém esteja usando, antes que a pessoa tenha claramente terminado de usá-la.
Aqui está como a regra funciona em nossa casa. Suponha que o Wesley esteja brincando com um brinquedo. Quando a Alex era mais nova, se ela o quisesse, ela apenas tentava tirá-lo. Agora que é mais velha, pode pedir educadamente: “Wesley, será que eu posso brincar com aquele brinquedo agora?” Se ela tenta tomar o brinquedo, costumo reagir com algo deste tipo:
“Querida, o Wesley está com esse brinquedo agora. Você acha que ele está gostando de brincar com ele?” “Sim, senhora.” “Você acha que o faria feliz ou triste, se você o levasse embora?” “Triste.” “Será que você gosta de deixar seu irmão triste?” “Não, senhora.” “Você acha que seria gentil ou rude tentar tirar algo do qual ele está gostando?” “Rude.” “É isso mesmo, Alex, e o amor não é rude. Quando o Wesley tiver terminado de brincar completamente com ele e largá-lo, então você pode pedir por ele.” Nós não estamos apenas educando seus corações, mas também preparando-os para a vida adulta. Esse é o mesmo comportamento que eu esperaria de amigos ou irmãos adultos. Veja isso desta maneira: se eu estivesse sentada à mesa do lado oposto ao seu, e alguém me desse algumas fotos para olhar, nas quais você também estivesse interessada, você esperaria para pedir por elas até que eu tivesse terminado ou pediria para pegá-las quando eu tivesse apenas começado a gostar de vê-las? A maioria de nós concordaria que seria rude pedir por elas antes de eu ter terminado. A Primeira Epístola aos Coríntios 13.5 diz: “[O amor] não se conduz inconvenientemente”. Então, nesses tipos de situações, tenho encontrado grandes oportunidades de trabalhar com “colocar para fora” o ser egoísta e rude e “colocar para dentro” uma atitude de amor e bondade. Todas essas são questões do coração que são abordadas na Palavra de Deus.
Você talvez esteja pensando: “Mas o que acontece com a outra criança? Ela está sendo egoísta também”. Na situação do partilhar entre irmãos, descobri que ter uma regra simples e compreensível que seja fácil de seguir promove a paz. E, para o bem da minha própria sanidade, meu objetivo é promover a paz. Eu transformo isso em uma questão de obediência ao impor essa regra, e então sou capaz de trabalhar com uma criança de cada vez. Acredite em mim, o pecado eventualmente se tornará evidente na outra criança, dando-me a oportunidade de trabalhar com o egoísmo e a rudeza que estão ligados ao seu coração.
Seu primeiro objetivo na correção não deve ser o de dizer aos seus filhos como você se sente sobre o que eles fizeram ou disseram, mas extrair a causa de tal comportamento. Você consegue ver como isso funcionou no cenário do brinquedo? Em vez de perguntar: “Quem estava com ele primeiro?”, tentei extrair as atitudes do coração por meio de perguntas relacionadas a ele. Visto que a Escritura diz que é a partir da abundância do coração que a boca fala, você deve ajudá-los a entender o que está acontecendo dentro deles.
A fim de compreender o problema no coração do seu filho, você precisa olhar para o mundo através dos olhos dele, que é quando a comunicação entra. Olhar para as questões internas, em vez do comportamento externo apenas, permitirá que você saiba quais aspectos salutares da Palavra de Deus são apropriados para a conversa particular.