Há alguns anos, eu escrevi o livro Resgatando a Ambição [Editora Fiel] e convoquei a um resgate. Eu desejava desviar a ambição das muitas motivações más e colocá-la em ação para a glória de Deus. Eu quis que os cristãos percebessem que para compreender a nossa ambição, devemos entender que estamos em uma busca por glória. E onde encontramos a glória determina o sucesso da nossa busca. Desde que escrevi esse livro, muitos sugeriram que eu abordasse o propósito de Deus para a ambição no ambiente de trabalho e na vocação diária. O que segue é a parte 2 de uma série em várias partes sobre o resgate da ambição no ambiente de trabalho. Você pode ler a parte 1 aqui.
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Dave é um homem em nossa igreja que é dono de uma empresa de construção bem-sucedida. Ele edificou a empresa desde a fundação, aumentando a receita a cada ano. Ele construiu casas, reajustou negócios e empregou um número crescente de pessoas. Famílias têm sido sustentadas por causa dos empregos que essa empresa oferece. Agora, clientes têm casas para viver, serviços de cuidados do gramado agora têm novos empreendimentos, e, claro, muitos impostos são pagos no momento… tudo porque a empresa de Dave existe.
Mas o sucesso do negócio — tão glorificante a Deus quanto isso possa ser — não é o que define Dave. O que define Dave é o seu coração voltado ao evangelho e como ele aplica as suas ambições para Deus. Nos últimos anos, Dave viajou para Uganda com a Covenant Mercies [Misericórdias da Aliança] (um ministério de misericórdia centrado no evangelho, com base em nossa igreja) para construir casas e escolas para órfãos em Nagongera, Uganda. Além disso, ele liberou vários funcionários pelo período de duas semanas para concluírem os mesmos projetos. As ambições simultâneas de Dave são glorificar a Deus em seus negócios e ver a misericórdia de Deus manifesta através do povo de Deus; e ele está usando os seus dons para fazer as duas coisas acontecerem.
Essa é uma ambição piedosa.
Resgatado da humildade equivocada
Isso parecerá louco, mas eu sou totalmente sério. Pronto? A ambição deve ser resgatada de uma compreensão e aplicação erradas da humildade. Eu sei que isso pode parecer positivamente não espiritual à primeira vista, mas acho que a humildade equivocada prejudica a ambição nos negócios para alguns cristãos antes mesmo que eles deixem a linha de partida. Permita-me dar a minha opinião a esse respeito.
Em Filipenses 2, a humildade de Cristo é manifestada em sua ação. “A si mesmo se esvaziou”. “Assumindo a forma de servo”. “A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente”. Nós somos ordenados a “ter em nós o mesmo sentimento”, e isso significa que devemos seguir um exemplo de ação, intenção e iniciativa (v.5). A humildade de Cristo não restringiu o seu curso de ação; ela o definiu.
A humildade não deve ser um amaciante das nossas aspirações — atenuando, suavizando e neutralizando os nossos sonhos até ao ponto em que sejamos demasiadamente modestos para alcançar qualquer coisa. Eu tive um surpreendente insight a partir de G.K. Chesterton que fala diretamente sobre essa questão. Ele percebeu isso em seu tempo e chamou-o de “humildade no lugar errado”. Chesterton apelou para um retorno à “antiga humildade”, dizendo:
A antiga humildade era uma espora que impedia um homem de parar; não um prego em sua bota que o impedia de prosseguir. Pois a antiga humildade fazia um homem duvidar de seus esforços, o que poderia fazê-lo trabalhar mais. Porém, a nova humildade faz um homem duvidar de seus objetivos, o que o fará parar completamente de trabalhar.[1]
Quando nos tornamos humildes demais para ambicionar, nós paramos de ser humildes.
A humildade nunca deve ser uma desculpa para a inatividade. Ela deve controlar — mas nunca impedir — as ambições zelosas e piedosas. A humildade fornece os trilhos para nossas aspirações, garantindo que elas permaneçam no caminho de Deus, movendo-se em direção à sua glória. Falar sobre nossos sonhos de como queremos gastar nossas vidas para Deus não é orgulhoso; é essencial.
John Stott tem razão:
As ambições voltadas para o ego podem ser completamente modestas… As ambições voltadas para Deus, no entanto, para que sejam dignas, nunca devem ser modestas. Há algo intrinsecamente impróprio sobre entreter pequenas ambições para Deus. Como poderíamos nos contentar com que ele adquira somente um pouco mais de honra no mundo? Não. Quando estamos certos de que Deus é Rei, então desejamos vê-lo coroado de glória e honra, de acordo com o seu verdadeiro lugar, que é o lugar supremo. Tornamo-nos ambiciosos pela propagação do seu reino e da justiça em toda parte.[2]
Você está compreendendo? O estímulo da ambição piedosa está longe de ser inconsequente. Sem ela, a descoberta morre, a pesquisa para, a indústria estagna, as causas falham, as civilizações desmoronam, o evangelho fica parado. Para alguém construindo uma empresa, a ambição piedosa é o impulso que nos mantém indo adiante quando o contrato não chega, quando o nosso melhor produtor se une a um concorrente ou quando percebemos que sucesso é manter as coisas desimpedidas em uma economia turbulenta. Não podemos ter lucro com a ambição em nome da humildade. Se nossas ambições são dignas da glória de Deus, elas nunca serão modestas. O servo que é fiel no pouco é fiel exatamente porque ele visa o muito.
Devemos resgatar a ambição dos efeitos desanimadores da humildade equivocada. Incentivar tal passividade é prejudicar o crescimento da ambição. Vamos resgatar a ambição e restaurá-la para o vigilante cuidado da verdadeira humildade. Ali a ambição crescerá na graça e criará novas maneiras de glorificar a Deus.
(Esta é a parte 2 [você pode ler a parte 1 aqui] de uma série em 5 partes de “Resgatando a ambição no ambiente de trabalho”. Esteja atento para a parte 3 na próxima semana!)
Notas:
#1 Citação.
#2 John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte (Editora Ultimato, 2011).
Tradução: Camila Rebeca Teixeira
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva
Original: RESCUING AMBITION IN THE WORKPLACE – PART 2