O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Sacerdócio real, de Edward Welch, Editora Fiel
Andando montanha acima
Os salmos foram usados primeiramente nos serviços matinais e vespertinos do templo. A maioria deles é melhor compreendida nesse contexto. Aqui está um desses salmos — o salmo 23. Ele segue a jornada dos santos de Deus e nos lembra de que Deus está perto:
O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará.
Ele me faz repousar em pastos verdejantes.
Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma.
Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Na primavera, durante o primeiro mês do calendário judaico, o mês da Páscoa, o povo se lembra da libertação de Deus da escravidão. É a única vez que a terra é verde.
Dentre os nomes que Jesus assumiu estava o de Bom Pastor, e o próprio início do salmo aponta para isso. Ele nos fala desse papel, especialmente quando nos sentimos vulneráveis e fracos. Jesus, o Bom Pastor, está conosco, sempre próximo. Com os pecados perdoados, não há nada que possa nos separar de seu amor. Não temos nenhuma razão para estarmos nervosos. Temos tudo aquilo de que precisamos, e as águas são calmas e não turbulentas. Somos revigorados por ele e nele.
Quando chegava o final da primavera, também chegava a Festa das Semanas ou o Pentecostes, momento em que tanto a colheita quanto a entrega da lei no monte Sinai eram comemora- das. Lembramos de quando o Espírito nos foi dado. O Espírito nos assegura da presença de Jesus, e ele nos dá poder para segui-lo durante os problemas — e haverá problemas. Esses lembretes nos fortalecem. É hora de nos levantarmos. Os pastos verdejantes da primavera estão desaparecendo, e estamos sendo levados a outros lugares de pastagem. Onde quer que formos, podemos confiar nele. Ele manterá sua promessa de estar conosco. Ele será fiel a nós porque ele é justo e nos levará pelos caminhos de justiça.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum,
porque tu estás comigo;
o teu bordão e o teu cajado me consolam.
O verão chegou e, com ele, a estação seca. Estamos descendo. Jesus nos leva ao deserto e aos seus infinitos perigos. O calor é mais intenso. Tudo o que podemos fazer é confiar que ele conhece o caminho, e ele conhece. Há algumas nascentes no deserto. A peça central da viagem cai aqui. Embora nenhuma das três grandes festas apareça no calendário de verão, e talvez porque não haja lembretes explícitos de Deus durante esses meses áridos, nós dizemos: “Tu estás comigo”. Note a mudança de voz. Antes, estávamos falando de Jesus; agora, falamos com ele. Vemos seu bordão e seu cajado. Um nos protege dos ataques, o outro nos impede de vaguear ou nos pega quando caímos.
Preparas-me uma mesa
na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo;
o meu cálice transborda.
Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida;
e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre.
Nos tempos do salmista, o cerne da estação das festas chegava quando o verão dava lugar ao outono. Era hora de subir o monte Sião e entrar na casa de Deus. As Canções da Ascensão (Sl 120-134) transformavam as várias conversas das pessoas em uma só voz de culto corporativo e de agradecimento.
Primeiro vinha o Dia da Expiação. Esse tempo de arrependimento era solene ainda com a distinta consciência do perdão e dos pecados levados para longe do Senhor. Imediatamente após o Dia da Expiação era a Festa dos Tabernáculos ou das Cabanas, quando o povo se lembrava do cuidado que Deus teve por eles no deserto. Ela era marcada pela celebração e pela alegria, e durava uma semana.
A imagem do pastor e das ovelhas dá lugar à imagem do Senhor como anfitrião, e ele preparou um banquete farto. Sua hospitalidade começa com a unção da cabeça com óleo, que era costume com convidados de honra, mas essa unção tem um duplo significado como a unção ao sacerdócio real.
Os inimigos que procuraram nos destruir estão do lado de fora. Eles são impuros e não podem entrar; nós fomos santificados e pertencemos. Tudo o que eles podem fazer é observar e absorver a ironia de como aqueles que eles amaldiçoaram são os mais abençoados. Agora estamos na casa de Deus, perto dele e desfrutando sua hospitalidade divina. Ele nos rodeia. Ele nos conduz e nos persegue em sua bondade e misericórdia. Essa é a humanidade como Deus intentou.
Então o calendário gira. Passamos pelas estações novamente e, depois, passamos mais uma vez. A cada ano, podemos ficar menos surpresos com a viagem ao longo dos penhascos rochosos em meio a animais perigosos. A esperança cresce mesmo no deserto. Dizemos ao Senhor: “Tu estás comigo”, agora com mais confiança. Pedimos ajuda a alguém próximo a nós, ou talvez obtenhamos encorajamento nos salmos que cantamos. Nosso destino é sempre a casa de Deus, a qual ele, na realidade, preparou para nós; portanto, ela é a nossa casa. Sempre foi assim. Por agora, você pode orar por perseverança e por olhos para enxergar essas realidades espirituais. Um dia, nós ficaremos quietos.
Por: Edward Welch. ©️ Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Editor e revisor: Renata Gandolfo.