Éfeso era o lugar de situação da primeira congregação que Jesus abordou no Apocalipse e o Novo Testamento nos diz mais acerca da história dessa igreja do que acerca de qualquer das demais. Plantada por Paulo durante uma breve visita, essa congregação foi alimentada por Priscila e Áquila, cooperadores de Paulo, e depois pelo eloquente expositor Apolo (Atos 18.19-28). Em seguida, Paulo retornou a Éfeso para um extenso período de ministério (três anos), marcado pela vitória do evangelho e do Espírito de Cristo sobre os poderes demoníacos e os aguerridos interesses comerciais em torno do mundialmente famoso templo de Ártemis que havia na cidade (19.1-41). Depois, despedindo-se dos presbíteros efésios, Paulo os convocou a serem vigilantes em proteger as ovelhas de Deus dos “lobos vorazes” e falsos pastores (20.29-30). Escrevendo da prisão ainda mais tarde, Paulo convocou essa igreja à “unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus”, uma maturidade que os capacitaria a permanecer firmes contra a “artimanha dos homens” e a “astúcia com que induzem ao erro” (Efésios 4.13-14). O apóstolo insistiu para que a igreja exercesse o discernimento teológico: “Ninguém vos engane com palavras vãs” (5.6).
Agora, em sua revelação a João, o Senhor da igreja se identifica como aquele que “conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro” (Apocalipse 2.1), governando as suas igrejas e habitando nelas por meio do seu Espírito, à medida que elas mantêm acesa a luz do evangelho em um mundo espiritualmente anoitecido.
Ao andar por entre as suas igrejas, muito do que Jesus vê em Éfeso atrai a sua aprovação. A igreja guardou no coração as advertências de Paulo quanto aos predadores de fora e os enganadores de dentro; por isso, Jesus elogia a igreja por seu discernimento teológico em expor apóstolos fraudulentos (v. 2) e recusar-se a tolerar os nicolaítas, cujo comportamento o próprio Cristo odeia (v. 6). A perspectiva dos nicolaítas, sem dúvida, era bem conhecida das igrejas do primeiro século, mas nós hoje devemos ser cautelosos em descrever o seu erro. A partir da reprovação de Jesus à igreja em Pérgamo (a qual, diferente da igreja efésia, tolerava o seu ensino), nós inferimos que os nicolaítas, assim como Balaão muito tempo antes, seduziam o povo de Deus à prática da imoralidade sexual e aos banquetes idólatras (vv. 14-15).
A recusa dos efésios em tolerar as práticas nicolaítas pode estar relacionada a outra qualidade pela qual Cristo os elogia: por causa do nome de Jesus, eles suportaram o sofrimento, sendo marginalizados em uma cidade na qual a vida econômica era governada pelo crescente turismo religioso e pelo setor bancário, ambos associados ao Templo de Ártemis, assim como pela fama de Éfeso como um centro de artes ocultas (ver Atos 19.19-41). Recusar-se a participar das celebrações pagãs das corporações de ofício de Éfeso e de seu celebrado marco era arriscar-se à ruína financeira, mas esses cristãos estavam “[suportando] provas por causa do [seu] nome” (Apocalipse 2.3).
Contudo, Jesus também encontrou uma falha em sua congregação “valente pela verdade”: “abandonaste o teu primeiro amor” (v. 4). Alguns pensam que o “primeiro amor” do qual Éfeso havia caído era a sua devoção ao próprio Cristo. Todavia, diferentemente das problemáticas igrejas em Pérgamo, Tiatira, Sardes e Laodiceia, a igreja efésia não era culpada de flertar com os inimigos de Cristo nem de esfriar em seu zelo por seu Rei. Faz mais sentido concluir que o “teu primeiro amor”, que havia esmorecido, era o seu amor uns pelos outros. Paulo havia ensinado àquela igreja que a sua saúde enquanto corpos de Cristo dependia de “falar a verdade em amor” (Efésios 4.15). Mas parece que aquele importante qualificador – “em amor” – havia sido menosprezado em sua zelosa defesa da verdade. As suas palavras eram fiéis à Palavra, mas eles estavam falhando em “[voltar] à prática das primeiras obras” (Apocalipse 2.5).
Manter-se firmemente agarrado a ambos os pilares – verdade e amor – é um desafio constante para pecadores redimidos, que oscilam como pêndulos de um extremo a outro. Com muita frequência, igrejas e seus líderes ou permanecem firmes em favor da verdade bíblica de um modo vigoroso, mas sem amor, ou então preservam uma aparente unidade e amor, porém à custa da verdade. Certamente, quando a verdade do evangelho verdadeiramente alcança nosso coração, isso resulta em amor pelos outros; e, do mesmo modo, o amor que agrada a Jesus cresce apenas no solo fértil da fidelidade à verdade divina. A solene ameaça de Jesus de remover o candeeiro efésio – de apagar o testemunho de amor pela verdade daquela congregação em meio à sua comunidade pagã – nos mostra quão seriamente ele considera a sua ordem de unirmos a fidelidade doutrinária à Bíblia ao amor sacrificial pelos santos.
Contudo, a sua palavra final não é de ameaça, mas de promessa. Falando não apenas a uma igreja, mas a todas, ele faz uma promessa “ao vencedor”. Assim, “vencer” o maligno é combinar o compromisso com a verdade de Cristo a um ardente amor por sua família. A esses vencedores, o descendente da mulher, que foi ferido mas venceu, há de abrir o paraíso, dando do fruto da árvore da vida àqueles que falam a verdade em amor (2.7).