terça-feira, 19 de agosto
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As sete igrejas de Apocalipse: Pérgamo

O famoso e falecido  literato norte-americano, John Updike, certa vez escreveu: “Sexo é como dinheiro – só é suficiente em excesso”. Mas os norte-americanos modernos não são o único povo obcecado com sexo; ele tem possuído as mentes dos homens por milênios (como várias pinturas rupestres deixam claro).

O mesmo pode ser dito da terceira igreja abordada no Apocalipse de São João. Pérgamo era como a Brasília da Ásia. Era a sede do governo Romano na província e o centro da adoração imperial. Foi a primeira cidade a erigir um templo ao césar Augusto (assim como a Zeus e ao deus-serpente Esculápio). E, assim como certos setores da igreja hoje, as pessoas na igreja em Pérgamo haviam sucumbido à idolatria e estavam obcecadas por sexo (o que, com frequência, vem lado a lado).

Nem tudo ia mal, contudo. João prefacia a carta do Messias ressurreto e rei desse modo: “Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes” (Apocalipse 2.12), o que se refere às palavras verdadeiras de Cristo que condenam todos aqueles que negam a verdade. Há uma guerra pela verdade ocorrendo em Apocalipse a qual, com freqüência, é travada com palavras – o que não é de surpreender, uma vez que a Palavra lidera essa batalha.

Cristo elogia a igreja em Pérgamo por sua fidelidade – mesmo diante do aparentemente incomum incidente de violência física contra certo Antipas, acerca de quem nada mais se sabe. Ele recebe a aprovação definitiva: “minha fiel testemunha” (v. 13). O mesmo elogio é usado acerca do próprio Jesus no capítulo 1, versículo 5. Será que Antipas também morreu como mártir nas mãos dos imperialistas?

“Conheço o lugar em que habitas”, Cristo Jesus diz, “onde está o trono de Satanás” (v. 13). Quão apropriado é que o Senhor de todas as coisas tenha menosprezado a majestade imperial de Roma dessa maneira. O césar, que ousava aceitar do povo os brados que o aclamavam como soter (salvador), em gratidão por resgatar Roma das disputas internas e externas, era adorado nessa cidade. Mas há outro rei, isto é, Jesus, e somente ele é digno do tipo de louvor que era oferecido nos templos de Augusto, Trajano ou Adriano. Assim, o “trono de Satanás” se coloca em direta oposição ao trono celestial na grande batalha pelo senhorio deste mundo, a qual é descrita ao longo do Apocalipse.

Essa batalha continua hoje, embora seja um pouco mais sutil; ou será mesmo? Será que nossos monumentos presidenciais não passam dos limites? Será que as adulações de que enchemos os nossos líderes não ultrapassam esses mesmos limites? Será que a fé que colocamos neles como salvadores não está indo longe demais? Certamente, nós sabemos que Jesus é Senhor e que eles não são. De qualquer modo, graças a Deus porque, embora recusar-se a adorar césar no primeiro século provavelmente significasse a morte, recusar-se a adorar nossos líderes e seus complexos-de-messias, ao menos hoje, não significa. Nós temos relativa liberdade, mesmo se a usamos para nos obcecarmos com ídolos e sexo, contra o que a terceira carta de Cristo agora se volta.

Em Números 25.1-3 e 31.16, Balaão aconselha o Rei Balaque a atrair os israelitas à idolatria, incitando-os com mulheres moabitas a participarem das festas sacrificiais pagãs. Jesus repreende essa igreja por tolerar em seu meio aqueles que recapitulavam a tolice de Balaão – os nicolaítas (ver também 2 Pedro 2.15). O nome de Balaão significa “ele destrói o povo”; Nicolau significa “ele conquista o povo”. É um paralelo muito contundente.

Aparentemente, alguns cristãos confusos em Pérgamo pensavam que podiam participar das festas cultuais pagãs, as quais eram uma parte importante da vida social e econômica naqueles dias. A imoralidade sexual que também era tolerada em Pérgamo, se não defendida, pode ter sido metafórica, como quando o povo de Deus se lançava à idolatria (por exemplo, Jeremias 3.7-9). Mas, conhecendo o homem, provavelmente era também literal.

Em contraste com as festas idólatras, Jesus promete o maná, o alimento do futuro banquete de Deus. Assim como na alusão a Balaão e Balaque, o novo êxodo nunca está fora de perspectiva: Cristo está liderando o seu povo pelo deserto e irá proteger o seu remanescente por todo o caminho com a espada de sua boca (Apocalipse 2.16). Portanto, aqueles que não fazem concessões aos ídolos e à imoralidade sexual receberão uma “pedrinha branca”, a qual certifica o fato de serem eles nova criação em Cristo e os admite na festa messiânica do reino (v. 17).

Não há dúvida hoje de que o sexo em si é um deus e também que ele não está apenas “lá fora”. Está aqui dentro – em nossas igrejas e em nossos corações. Se havemos de ter Jesus como Senhor sobre essa área de nossas vidas, nós devemos tomar o cuidado de não cair em um dos dois extremos. Devemos tomar cuidado para não menosprezar a intimidade sexual, como se não fosse um dos grandes dons de Deus para a humanidade. E, o que é mais provável nestes dias, também devemos tomar cuidado para não nos deixarmos tornar obcecados com sexo, para não nos rendermos à obsessão de nossa cultura com ele, como se tudo o que ele exige devesse ser obedecido, o que reduz o sexo a uma questão de direitos humanos fundamentais ou machismo. Nós precisamos chegar ao ponto de reconhecer a ironia das palavras de Updike: “Demais é demais”.

 

Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel


Autor: Chris Donato

Chris Donato é diretor de comunicação da Trinity International University e ex-editor sênior associado da revista Tabletalk, assim como editor do livro Perspectives on the Sabbath (sem tradução em português).

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