quinta-feira, 28 de março

Com dificuldade na aplicação do sermão? Veja esta dica de Joel Beeke e dos puritanos

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Em 1 Tessalonicenses 5:14, Paulo ordena: “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos”. Aqui, a Escritura nos chama a aplicar diferentemente a verdade de Deus a pessoas em condições espirituais diferentes, mas sempre com amor. Vimos nos capítulos anteriores como William Perkins e os Divinos holandeses empregaram vários esquemas de classificação para manejar corretamente a Palavra e dar a cada ouvinte sua porção própria. Estes esquemas colocavam pessoas em categorias de condição espiritual, para que o pregador fizesse aplicações específicas a cada uma. Esses métodos têm a força dessa aplicação, mas também envolvem os perigos de rigidez e repetição na aplicação.

John Jennings (c. 1687-1723), um ministro não conformista e tutor de Philip Doddridge (1702-1751), escreveu um folheto que abordava a “pregação específica” que é muito proveitoso a este respeito.[1] Jennings não encerrou pessoas em categorias, mas, em vez disso, classificou a situação espiritual delas e lembrou que devemos dirigir-nos a elas de maneira específica. Em cada sermão, ele disse, “pode surgir, na aplicação de maior parte dos assuntos, pensamentos distintamente apropriados” à grande variedade de caráteres e pessoas”; e aplicações “vívidas” e “específicas” para cada caso “são as partes mais pessoais, mais importantes e mais úteis da aplicação”.[2] Ele deu vários exemplos. De acordo com Jennings, os ministros devem, às vezes:

  1. Repreenda “zombadores e refutar contraditores”, como as Escrituras o fazem com palavras como: “Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei” (At 13:41); ou: “Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer” (1 Co 15:36).
  2. Dirija-se a pecadores ignorantes e mundanos de uma maneira que os deixe temerosos do que pode acontecer se não se arrependerem: “Ai dos que andam à vontade” (Am 6:1); ou: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração” (At 7:51).
  3. Mostre Cristo para pecadores que se veem condenados: “Se quereis perguntar, perguntai; voltai, vinde” (Is 21:12); ou: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2:38).
  4. “Argumente com os moralistas” que confiam em sua própria justiça, mostrando que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Is 64:6); ou: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3:20).
  5. “Repreenda e exponha hipócritas presunçosos”: “Mostra-me essa tua fé sem as obras… Até os demônios creem e tremem” (Tg 2:18-19).
  6. “Fortaleça e encoraje cristãos que têm pouco vigor”: “Porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido” (Hb 5:11-12).
  7. Anime cristãos relapsos que estão despertados, exortando-os a serem vigilantes e permanecerem nas coisas duradouras, para que não morram (Ap 3:2).
  8. Encoraje crentes “perseguidos e afligidos” por invocar a promessa de Deus: “Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Is 43:2).
  9. Ensine cristãos maduros e firmes, exortando-os a serem compassivos para com os fracos: “Acolhei ao que é débil na fé… Quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Rm 14:1, 3).
  10. Mostre Cristo para aqueles que “lamentam” sob um senso de sua pecaminosidade: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53:6); ou: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1).
  11. Console os “penitentes” quebrantados e humildes, lembrando-lhes que Deus disse: “O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Is 66:2).
  12. Oriente aqueles que carecem de “direção”, exortando-os a orar: “Tomara sejam firmes os meus passos, para que eu observe os teus preceitos” (Sl 119:5) e lembrando-lhes que, “se… algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1:5).
  13. Ajude aqueles que sofrem abandono espiritual, exortando-os a buscarem a Deus em sua aflição: “Quem há entre vós que tema ao Senhor e que ouça a voz do seu Servo? Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus” (Is 50:10).[3]

Isaac Watts (1674-1748) recomendou o folheto de Jennings, observando: “Quão mais eficazmente a Palavra de Deus impacta a consciência, quando cada ouvinte se vê descrito sem que o pregador tenha conhecimento pessoal dele? Quando uma palavra de convicção, conselho ou consolo é proferida tão pertinentemente ao seu próprio caso, que ele a recebe como dirigida a si mesmo?”[4]

Isto não significa que cada sermão deve abordar treze casos espirituais diferentes. Estudar cada texto da Escritura e conhecer as pessoas para as quais você prega indicará algumas possibilidades apropriadas de aplicação em cada sermão. Entretanto, listas como essa são úteis porque nos capacitam a parar e examinar nossos sermões para verificar se nossas aplicações alcançam um grande âmbito de casos espirituais. Ao fazer aplicações, é fácil nos prendermos a uma rotina, abordando sempre os mesmos casos ou os mesmos problemas espirituais. Cultive a diversidade.

Artigo adaptado do livro Pregação Reformada, de Joel Beeke.

[1] John Jennings, “Of Particular and Experimental Preaching”, em The Christian Pastor’s Manual, ed. John Brown (1826; repr., Ligonier, PA: Soli Deo Gloria, 1991), 47-62.

[2] Jennings, “Of Particular and Experimental Preaching”, 52-53.

[3] Jennings, “Of Particular and Experimental Preaching”, 53-58.

[4] Isaac Watts, prefácio (1723) a John Jennings, Two Discourses: The First, Of Preaching Christ; The Second, of Particular and Experimental Preaching (Boston: n.p., 1740), x.


Autor: Joel Beeke

Joel Beeke é presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Theological Seminary (EUA) e pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation. Beeke é Ph.D. em teologia pelo Westminster Theological Seminary. Publicou 50 livros, dentre eles, “Vivendo para a Glória de Deus” e “Vencendo o Mundo” (Fiel).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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