domingo, 22 de dezembro
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Como era a Capitol Hill antes de Mark Dever

Nota da Editora: Esse artigo conta parte da história da igreja Capitol Hill Baptist Church, a fim de demonstrar como uma eclesiologia saudável pode transformar a situação de uma igreja.

Era novembro de 1990. Minha esposa, dois filhos pequenos e eu estávamos tentando encontrar o funeral da avó de minha esposa, Madeline Dunmire. Estávamos em frente à igreja Capitol Hill Metropolitan Baptist Church, da qual vovó Dunmire havia sido membro de 1924 até sua morte. No entanto, o prédio parecia abandonado.

Não havia placas externas identificando o edifício; elas haviam caído anos atrás. Metade das guarnições dos vitrais foram pintadas provavelmente dez anos antes; a outra metade estava descascando, negligenciada sabe-se lá desde quando. O terreno da igreja foi cercado por gradil de arame trançado, mas certos pedaços haviam rompido. Plantados na frente do gradil estavam arbustos espinhosos para “manter os moradores de rua do lado de fora”. Na verdade, os arbustos também podem ter assustado uma série de possíveis visitantes, apresentando uma bela coleção de latas de cerveja e outros tipos de lixo.

Paramos nossa minivan em um estacionamento adjacente e estacionamos ao lado de um sedan, com uma batida na traseira. As quatro portas da igreja viradas para a rua estavam todas trancadas. Não se via ninguém se movimentando dentro do prédio escuro. Do lado de fora no frio congelante, a conversa com minha esposa foi mais ou menos assim:

—             Não tem ninguém aqui.

—             Deve ter.

—             Este lugar está abandonado.

—             Não pode ser.

—             Tem certeza de que este é o lugar certo?

—             Lembro-me de vir aqui quando garotinha para jantares entre mães e filhas.

—             Este lugar não parece estar funcionando, querida.

Finalmente, uma mulher de meia-idade com sotaque sulista apareceu na última porta que batemos. “Posso ajudar?”, ela disse.

Ao que parece, esta era a igreja da vovó e um funeral estava acontecendo. Nancy, a amigável abridora de portas da Geórgia, nos conduziu ao berçário. Parecia um hospital do leste europeu, de uma guerra do início do século 20, só que mais sujo. A sala era cercada por berços de metal brancos mal pintados que ficavam bem acima de um piso ladrilhado de linóleo sujo. O local estava iluminado por três lâmpadas descobertas que pendiam do teto por fios. As funcionárias contratadas do berçário não falavam inglês.

Decidimos manter nossos filhos conosco e então abrimos nosso caminho por uma série de corredores até o “santuário”. Os vários tons de cabelo cinza e azul das mulheres idosas sentadas nas fileiras de trás eram tão marcantes quanto o cheiro de naftalina que emanava de seus casacos de lã e pele.

O culto começou e, surpreendentemente, terminou sem problemas. O coro, vestido com túnicas, cantou o Hinário Batista, e o evangelho foi pregado para uma audiência mais velha, audiência de algumas centenas de pessoas em uma sala mal iluminada com capacidade para mil pessoas.

Mais tarde, conversando, ficou claro que minha família estava olhando para um remanescente, um remanescente do que era conhecido como os “dias de glória”. Dos anos 1930 aos anos 1950, o prédio estivera cheio de veteranos de guerra e seus pais. Agora eles estavam simplesmente velhos e morrendo. Uma facção do grupo sênior era conhecida como “Clube dos três Ls”, que significava Live Long and Like It [viva longamente e aproveite]. Eles tinham sua própria sala, no porão, em frente ao salão de comunhão, anteriormente conhecido como tabernáculo inferior. Outra facção era conhecida como “Panteras Cinzentas”, um nome que adotaram quando lutaram contra um jovem pastor na década de 1980. Ele queria adotar um modelo “à procura de sensações” contemporâneo para o crescimento da igreja, mas os Panteras venceram e o jovem pastor deixou a igreja para iniciar um ministério de aconselhamento.

Essa primeira visita à igreja Capitol Hill Metropolitan Baptist Church, que poucos anos depois abandonaria o adjetivo “metropolitana”, não nos motivou exatamente a voltar. ( Já que a igreja agora é conhecida como Capitol Hill Baptist Church, é assim que a chamarei no futuro, ou CHBC.) Mesmo assim, minha esposa e eu tínhamos mudado recentemente com nossa família para Washington, DC, e então decidimos entrar para a igreja. Talvez pudéssemos fazer algo bom e, mais importante, o evangelho foi claramente pregado quando estivemos lá.

Quem sabia o que Deus tinha reservado!

Depois de uma série de compromissos providenciais e não planejados, fui contratado pela igreja no verão de 1991 para organizar o lado administrativo do empreendimento. Meu plano era ajudar por noventa dias e depois começar a minha pós-graduação. Só que o que eu tinha visto da igreja pelo lado de fora só me fez mais curioso para vê-la por dentro.

Conheci a secretária da igreja, que ficou tão intimidada com seu computador IBM 286 que mantinha um extintor nas costas para o caso de incêndio. Ela também mantinha cinco pares de sapatos debaixo da mesa, cada par ligeiramente maior que o anterior para acomodar pés inchados ao longo do dia.

Conheci a sra. Dicks, de noventa e seis anos, a secretária de finanças, que ainda usava uma calculadora de mesa vintage do tamanho de um pequeno micro-ondas com manivela e rolo de papel. Ela ajudava a supervisionar dezesseis contas espalhadas por seis bancos. (“Não queremos que ninguém ponha as mãos em todo o dinheiro!”) Eram necessários dois homens, durante toda a manhã e o almoço, para contar a oferta e depositar o dinheiro nos vários bancos.

Conheci George, um missionário aposentado de bom coração que visitava hospitais e escolhia os hinos para o domingo. Ele ministrara no Paquistão.

E conheci Bill, o responsável pela manutenção, de sessenta anos, que não sabia como arrumar nada, mas poderia ter sido um grande pastor.

Aprendi que a igreja era universalmente impopular na vizinhança. Houve uma série de razões para isso, mas principalmente porque havia demolido casas históricas para criar estacionamentos. Esses lotes permitiam que a congregação, antes urbana, dirigisse de suas casas nos subúrbios, mas isso criou “buracos” no bairro onde antes havia edifícios imponentes.

A congregação era uma estranha combinação de pessoas. Por um lado, tivemos o idoso Carl F. H. Henry, o fundador da revista Christianity Today, que foi reconhecido pela revista TIME como “o Billy Graham intelectual”. O Dr. Henry gostava de se sentar no banco que ficava abaixo da parte mais fraca do telhado. Eu ficava olhando para ver se o teto de gesso cederia e cairia sobre ele. Por outro lado, tínhamos um conhecido fornicador que cantava os solos da galeria do coro e usava um sombreiro mexicano com pompons.

Tínhamos o Dr. Joe, que cortava as unhas durante o culto matinal. Ele se sentava perto de Ed, um funcionário público aposentado. Ed usava gravatas de bandeira na maioria dos domingos e dirigia apenas Cadillacs. Ele era tão pró-americano que você poderia jurar que Jesus nasceu no centro-oeste americano, e não no Oriente Médio.

Nossa recepcionista da porta da frente não tinha um dedo indicador, e nosso recepcionista da porta dos fundos, Alvin Minetree, de oitenta anos, usava faixas coloridas na cintura para combinar com sua cartola e enfeitar seus ternos brancos. Ele cumprimentava a maioria das senhoras dizendo: “Aí vem uma senhorita bonita”.

Esse desfile de personagens reunia-se a cada manhã de domingo para se banharem em música, música e música. A organista usava um penteado bufante e tocava seu órgão Allen de três teclados tão alto que o chão tremia. Uma britânica, diretora do coral, parecia ter um complexo de culpa por ser britânica, porque ela nunca deixava de escolher canções patrióticas que nos lembrassem de quanto Deus havia abençoado os EUA. Tínhamos um coral infantil, solos e duetos de piano. Mas meu favorito era o conjunto de metais. Todas as pessoas que já colocaram trompetes e trombones nos lábios no ensino fundamental foram convocadas a subir as escadas do sótão e tirar a poeira de seus instrumentos adormecidos. Imagine trompetistas e trombonistas com o rosto vermelho soprando “Lindo és meu Mestre” e “Anunciai pelas montanhas” para o deleite dos deficientes auditivos.

O pregador era julgado principalmente pela duração do sermão. Se a bênção fosse dada antes do meio-dia, ele recebia notas altas. Isso fazia com que os idosos pudessem chegar na cafeteria Hot Shoppe antes que as igrejas do “santo barulho”[1] saíssem. E a congregação gostava muito do sermão do ministro das crianças: era curto, direto ao ponto, e as crianças, sempre fofas.

Como administrador da igreja, eu participava das reuniões de diáconos. Essas reuniões eram feitas na sala do Clube do Três Ls e me lembravam das visitas à casa de repouso da minha avó que fiz nos anos 1960. Charlie, o adorável diácono que viveu até os 103 anos, chegava cedo para conseguir o assento que lhe permitia descansar a cabeça contra um pilar. Se a reunião passasse das 20h30, provavelmente perderíamos Charlie para a terra dos sonhos.

Frank, muito amigável, nunca gostava de fazer barulho, mas não ligava muito para as pessoas que faziam.

Bland, de oitenta anos, não se importava com a claridade que vinha da porta dos fundos da igreja, mas amava a cobertura de metal branco da Sears que protegia da chuva

Ed, com uma gravata de bandeira, tentava bloquear o apoio da igreja ao centro local de crise de gravidez quando se aproximava a época do orçamento a cada ano, isto porque: “Aborto é um assunto político!”, dizia.

Havia alguns homens bons, quietos e piedosos que geralmente ajuntavam o grupo. Mas poucos pareciam ter a capacidade de olhar para a Palavra de Deus e seguir suas instruções para dar forma à igreja. A inércia havia se estabelecido anos antes. A incerteza sobre o futuro congelou os líderes e a congregação. Disseram-me repetidamente: “Somos ricos de propriedade e pobres de dinheiro”, conforme evidenciado no orçamento de $300.000 dólares que a igreja lutou para cumprir. Muito disso foi para edifícios. Resumindo, essa foi uma geração que passou toda a sua vida adulta testemunhando o declínio, em sua cidade e em sua igreja. E eles pareciam imobilizados pelo declínio.

No entanto, nem todas as igrejas americanas urbanas do final do século 20 sofreram o mesmo destino dessa. A maioria dos escritores de crescimento de igreja na época teria dito que essa igreja tinha quatro pontos contra ela:

1. Era denominacionalmente afiliada (Batista do Sul).

2. Estava localizada no centro da cidade (cinco quarteirões atrás do edifício do Capitólio dos EUA, que, na época, não era uma boa vizinhança).

3. O prédio era antigo.

4. E havia estacionamento limitado.

No entanto, o que se tornou gritantemente óbvio sempre que os diáconos ou vários comitês se reuniam era que não havia nenhum grupo de líderes fortes e piedosos. Os poucos homens que poderiam ter desempenhado esse papel estavam muito velhos ou muito cansados do trabalho árduo de décadas na vida da igreja.

Consequentemente, a igreja tinha pouco foco e era um ímã para pessoas inescrupulosas, lobos se passando por ovelhas. Eram ovelhas sem pastor. Havia muitos idosos, mas nenhum ancião (presbítero).


Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro Equipe pastoral, de Phil Newton e Matt Schmucker, Editora Fiel.


[1] N.R.: “Holy roller” churches (lit., igrejas dos “roladores santos”) Uma referência aos metodistas.


Autor: Matt Schmucker

É diretor executivo do Ministério 9Marcas. É um dos presbíteros da Igerja Batista Capitol Hill, em Washington, DC. É graduado na área de finanças e marketing, e vive em Washington, com sua esposa e 5 filhos.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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