“Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.” (Cl 4.2)
Todo cristão sabe que deve orar. Mas orar o quê? Será que podemos aprender a orar? Sim, e a Bíblia nos apresenta muitas formas de oração. Há um livro quase que inteiramente composto por orações na Bíblia Sagrada, o livro de Salmos, que, durante milênios, foi usado como uma verdadeira escola de oração. Mas isso é matéria para um estudo posterior.
Nesta lição, usaremos como base o ensino de ninguém menos que o Senhor Jesus Cristo para aprendermos a orar. Embora seja simples e pequena, a oração do Pai-Nosso constitui um modelo perfeito do que Deus espera de nós em nossas orações.
Orientações sobre a oração do quarto
Lucas revela que a “oração do quarto” (Mt 6.5-8) foi uma resposta a um pedido dos discípulos:
De uma feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos. (Lc 11.1)
A oração não era necessária apenas para os discípulos. Ela também fazia parte da vida de Jesus. Foi vendo o exemplo de Jesus que os discípulos lhe pediram que os ensinassem a orar. Assim, antes de lhes apresentar um modelo de oração, Jesus lhes dá as seguintes orientações:
E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mt 6.5-6)
Jesus não condena o ato de orar em pé em si, mas o desejo de usar as orações para se gabar diante dos homens. O que ele reprova é a atitude daqueles que desejam se vangloriar publicamente, seja em pé, seja sentado, seja ajoelhado. Por isso, ele recomenda a devoção privada, o momento a sós com Deus.
Jesus ensina a importância da sinceridade. A oração não deve ser feita apenas coletivamente ou diante de outros, mas privadamente, em silêncio e segredo. O Senhor valoriza as orações feitas a portas fechadas. Há até mesmo uma promessa para as orações sinceras e secretas: “teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.
Porém, o Senhor ainda tem outra recomendação a dar:
E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.
Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. (Mt 6.7-8)
O último conselho é que não se façam repetições vazias, ao contrário das práticas dos gentios. Não sabemos a quais orações de gentios Jesus se refere, mas talvez os idólatras pagãos, em suas orações, incessantemente repetissem palavras vazias de significado.
Jesus adverte que seus discípulos deviam ser diferentes dos gentios, presumindo que o Deus verdadeiro já sabia tudo o que pediriam, antes mesmo de articularem qualquer palavra. Assim, eles não precisavam repetir palavras vazias, mas apenas dizer, com objetividade, aquilo que queriam de seu Deus.
Mais uma vez, é importante explicar que Jesus não proíbe que repitamos um pedido em uma ou mais orações. O que ele proíbe é que repitamos palavras vãs, vazias, possivelmente egoístas. Em outras passagens que tratam de oração, as Escrituras nos incentivam a buscarmos, pedirmos, batermos reiteradamente à porta (Mt 7.7-8). O errado não é repetir o pedido. O errado é repetir coisas vãs.
Falando com o Pai sobre o Pai
No início da oração do Pai-Nosso, Jesus nos ensina a falar com o Pai sobre o Pai:
Então, ele os ensinou: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino… (Lc 11.2)
Portanto, vós orareis assim:
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu… (Mt 6.9-10)
Perceba que, tanto em Lucas quanto em Mateus, Jesus ensina a seus discípulos que, em suas orações, deveriam se preocupar, em primeiro lugar, com o Pai, falando sobre ele, adorando-o, pedindo coisas segundo a vontade dele. Isso não significa que não possamos falar de nós, mas apenas que nossas necessidades são uma preocupação secundária na oração. É uma questão de prioridade.
Em sua oração, Jesus abordou a santidade e a santificação do nome de Deus, o Reino de Deus e o desejo de que a vontade divina seja feita na terra e no céu. Jesus alude, assim, a profecias relacionadas à sua segunda vinda e aos novos céus e nova terra. Em outras palavras, ele ora, em primeiro lugar, segundo a “agenda” de Deus, falando da obra e dos planos de Deus.
Seguindo o exemplo do Mestre, também devemos, em nossas orações, priorizar a obra de Deus, a Palavra de Deus, os planos de Deus revelados na Bíblia.
Falando com o Pai sobre nós
As nossas necessidades
Após falar do Pai para o Pai, Jesus nos ensina a falar de nós mesmos para o Pai:
… o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia; perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve; e não nos deixes cair em tentação. (Lc 11.3-4)
… o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal…” (Mt 6.11-13a)
O “pão nosso” não significa apenas o pão, mas todas as necessidades básicas da vida, as quais podem ser resumidas em comida, moradia, trabalho, família e saúde. Porém, o que não pode ser incluso nessa categoria são pedidos por uma Ferrari, uma casa de 300 m2 no bairro mais chique da cidade, ser patrão em seu próprio negócio, comer em restaurantes caros toda segunda-feira, joias, sapatos etc. (complete a lista).
A confissão de pecados
Logo após nos ensinar a fazer os nossos próprios pedidos (que devem incluir, evidentemente, a intercessão por outras pessoas), Jesus nos instrui a confessarmos nossos pecados. É agradável a Deus que confessemos nossos pecados quando oramos e que, enquanto lhe pedimos perdão, nos lembremos de pessoas que precisamos perdoar também. Mais à frente, Jesus ensinará que o perdão de Deus a nós está, de certo modo, atrelado ao perdão que oferecemos ao próximo.
A batalha espiritual
Por fim, Jesus nos ensina a clamar por proteção nas batalhas espirituais do dia a dia, das quais nunca devemos nos esquecer. Existe um “mal” (ou “maligno”) na terra. Jesus o chama de “príncipe deste mundo” (Jo 16.11); Paulo, de “deus deste século” (2Co 4.4); em Apocalipse, ele aparece como a “antiga serpente” (Ap 12.9). Trata-se de Satanás.
Jesus nos ensina a pedir por livramento em meio às tentações. Note que não é errado passar por tentação, mas cair em tentação. Somos tentados o tempo todo, mas caímos em tentação quando cedemos aos desejos tentadores.
Adoração
Até agora, Jesus nos ensinou a falarmos do Pai e suplicarmos por nós mesmos, o que inclui as nossas necessidades, a confissão de pecados, as nossas lutas espirituais e a nossa batalha com as tentações. Por fim, em Mateus, o Senhor nos ensinar a finalizar a oração com adoração:
… pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! (Mt 6.13b)
A adoração deve estar em nossas orações. Adoração não é apenas cantar, mas sim reconhecer os atributos de Deus. Adorar é elogiá-lo, reconhecer a beleza de sua santidade, confessar a glória de seus atributos e mencioná-los com gratidão e louvor. Jesus, de um modo bastante sucinto, reconhece que de Deus é “o reino, o poder e a glória”. Podemos fazer isso de um modo bem mais abrangente, mencionando outros atributos de Deus, como sua bondade, sua misericórdia, seu poder etc.
Nunca deixe de incluir em suas orações a adoração. Tenha sempre em mente as palavras de Jesus à mulher samaritana:
Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. (Jo 4.23-24)
Veja que Jesus diz que “são estes que o Pai procura para seus adoradores”. De alguma forma, o Pai procura por adoradores. Então, enquanto orar, seja um adorador.
Última recomendação
Após ensinar a oração do Pai-Nosso, Jesus encerra com uma recomendação importantíssima:
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. (Mt 6.14-15)
Note que nossas orações estão, de alguma forma, atreladas ao perdão que oferecemos às pessoas que nos magoaram. Independentemente da ofensa que recebemos, o que Deus espera de nós é que perdoemos (veja Mt 18.21-22), pois o nosso próprio perdão depende do perdão que oferecemos.
De modo bastante simples, é como se Jesus dissesse que Deus só nos perdoa se também perdoarmos os que nos ofendem. Lembre-se disto:
a. Deus espera que oremos
b. Deus é santo.
c. Para orarmos, precisamos ser perdoados.
c’. Para sermos perdoados, precisamos também perdoar.
b’. Quando perdoamos o próximo e somos perdoados por Deus, somos santificados.
a’. Quando somos santificados, oramos segundo a vontade de Deus.
Conclusão
Não se esqueça: Deus espera que todos nós falemos com ele. Apesar de ele já saber de tudo, ter controle sobre tudo e ter um plano eterno para tudo, isso não nos tira a responsabilidade de orar. Oramos porque Jesus nos deu o exemplo. Oramos porque Jesus nos disse que devíamos orar. Oramos para sermos transformados e perdoados por Deus. Oramos porque queremos estar perto de Deus. E oramos, acima de tudo, porque amamos a Deus, de modo que é um prazer falar com ele.

Este artigo é um trecho retirado e adaptado com permissão do livro Um guia para a nova vida: doutrinas básicas para o discipulado cristão, de Wilson Porte Jr., Editora Fiel.
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