domingo, 22 de dezembro
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Como o amor ágape transcende tudo

*O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Renovadas, de Jen Wilkin, Editora Fiel.

Embora nossa noção trivial de amor seja a de que é uma emoção a ser vivenciada, ágape é um ato de vontade, “uma atitude inteligente, proposital, de estima e devoção; uma atitude altruísta, proposital, que deseja fazer bem à pessoa amada”.5 Em outras palavras, ágape não apenas sente; ele age. E a Bíblia descreve 259 vezes um amor que age.

Ágape é a palavra que o apóstolo Paulo usa para descrever por que Deus enviou seu Filho:

“Mas Deus prova o seu próprio amor [ágape] para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).

Ágape é a palavra que Jesus usa para instruir seus discípulos sobre aqueles que os odeiam:

“Amai [Ágape], porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6.35).

Não somos deixadas a indagar qual é o escopo ou a natureza de ágape. É ágape que 1 Coríntios 13.4-8 (a passagem conhecida que lemos nos casamentos) descreve:

“O amor [ágape] é paciente, é benigno; o amor [ágape] não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor [ágape] jamais acaba.”

O que torna bela essa passagem para um casamento é que ela desafia o casal a transcender o simples eros, ou mesmo filos, e expressar um pelo outro o tipo exato de amor que Deus expressa em relação a eles — ágape incondicional, altruísta, ativo, sacrificial, incansável, infindável. Mais Jack e Lucille, menos Jack e Rose.

Claramente, esse é um amor sobrenatural, e não algo que qualquer ser humano possa praticar sem o poder do Espírito Santo. Como tem sua origem em Deus e é capacitado por Deus, ágape não é cerceado pelos limites mundanos que são enfrentados por outras formas de amor. O amor terreno — seja eros, seja filos, seja storge — sempre será limitado em sua capacidade por pelo menos três razões.

Primeiro, o amor terreno se baseia em necessidade. Os amantes necessitam de intimidade; os amigos precisam de companheirismo; os membros de uma família precisam de apoio. Mas ágape é oferecido livre de qualquer carência, estendido por uma pessoa cuja maior necessidade foi satisfeita em Cristo e tem origem em um Deus que não precisa de nada. Com o amor terreno, quanto maior for a necessidade, mais cautelosos teremos de ser em doar, pois o risco de rejeição é muito elevado. Mas, como ágape não está preso a necessidades, pode ser doado livre e abundantemente, sem receio de que possa ser gasto com mais sabedoria em outro lugar.

Segundo, o amor terreno ambiciona reciprocidade. Nós o oferecemos com a expectativa de que será retribuído. O amor terreno não correspondido se esvai com o tempo. Por outro lado, ágape é dado sem expectativa de que haverá retribuição. Certamente, nós o damos na esperança de testificar o ágape de Deus em relação aos pecadores, mas nós o estendemos independentemente do resultado. E, embora eros, filos e storge carreguem consigo a promessa de compartilhamento e conexão emocional, com o ágape isso pode não acontecer. A oferta é de mão única, sem nada exigir em troca.

Por último, o amor terreno considera o valor de seu objeto. Escolhemos quem amar com base em alguma medida de merecimento. Direcionamos nosso amor à beleza, ao poder, à riqueza, à inteligência ou à força física. Mas ágape se firma sobre aqueles que o mundo considera indignos. Tem olhos para os pobres, aleijados, deficientes ou cegos. Ágape olha para além daquilo que, em geral, é valorizado como “amável” e resolve amar o que não é amado, inclusive pagando um alto preço pessoal. É expresso com maior pureza quando o damos àqueles de quem nada obteremos em troca. Quando demonstramos amor por quem nada pode fazer por nós, refletimos o amor de Deus que nos é demonstrado em Cristo.

Ágape é requisito par a santidade
Ágape é o modo como Deus nos ama e o modo como devemos amar uns aos outros. Já vimos na Bíblia a resposta à pergunta “Qual é a vontade de Deus para minha vida?”: “Seja santo como ele é santo”. Aos judeus do tempo de Jesus, a ordem para que fossem santos era lida como um chamado à estrita obediência à letra da lei. Jesus, porém, corrigiu essa noção, ressaltando o princípio motivador por trás da lei: ágape.

“E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou: Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.35-40).

Essa passagem é conhecida como o Grande Mandamento, o mandamento a partir do qual todos os demais são compreendidos. Nestes dois mandamentos “penduram-se” toda a Lei e os Profetas. Eu vejo o armário de meu quarto, com fileiras em cima e embaixo para pendurar as roupas. Recentemente, tivemos um problema de encanamento que alagou o armário. Tudo que estava pendurado corretamente nos dois varais ficou intacto e não sofreu estragos, mas tudo que estava no chão se perdeu.

Conforme Jesus disse, todo chamado à obediência está fundamentado na ordem de amar a Deus e ao próximo. Qualquer justiça que não esteja baseada no amor é sujeira e trapo de imundície, como tantas roupas sujas no chão de um armário encharcado. Se eu deixei de ser assassina, mas não faço isso por amor a Deus e ao próximo, não terei praticado a verdadeira santidade. Se deixei de ser maldizente ou gananciosa, mas não por amor a Deus e ao próximo, ainda estarei pecando. Ou, conforme ouvimos nos casamentos:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E, ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1Co 13.1-3).

Se eu procuro ser santa sem ter ágape, não acrescento nada, não sou nada e não ganho nada.

Ágape na ordem certa
O apóstolo João declara que “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). A quem nós amamos? Primeiro, amamos a Deus. Segundo, amamos o próximo. O Grande Mandamento foi dado não para nos mostrar como conseguir o favor de Deus, mas para nos mostrar a única resposta racional ao amor que Deus nos tem dado.

Assim como acontece com os Dez Mandamentos, o Grande Mandamento tem início com o relacionamento vertical, movendo-se, em seguida, para os relacionamentos horizontais. E, a menos que amemos a Deus com todo o nosso coração, nossa alma, nossa mente e nossas forças, amaremos a nós mesmas e ao nosso próximo de forma inadequada. O amor certo em relação a Deus é o que nos capacita a amar, de forma correta, a nós mesmas e aos outros.

Quando devotamos coração, alma, mente e força para amar a Deus, percebemo-nos de uma forma correta — sem espaço para orgulho ou autoexaltação —, uma forma que nos prepara para amar com toda a liberdade nosso próximo. E, quando nos percebemos corretamente, como destinatários indignos do ágape de Deus, dispomo-nos a amar nosso próximo a despeito dele mesmo, porque Deus nos amou primeiro a despeito de nós mesmas. Não esperamos para sentir amor; pelo contrário, nós mesmas agiremos com amor, quer o sintamos, quer não. Ágape transcende nossos sentimentos.

Quando encontramos dificuldade em amar o próximo, frequentemente tentamos corrigir o problema nos esforçando mais nessa tarefa. Contudo, eventual deficiência em nosso amor ao próximo sempre aponta para uma deficiência de nosso amor a Deus. Primeiro, temos de amar a Deus da maneira certa. E, quando restauramos esse relacionamento vertical, damos o primeiro passo para corrigir o relacionamento horizontal.

Quando hesito em demonstrar amor ágape por meu marido, por ele ter ferido meus sentimentos ou me haver desapontado, revelo que acredito que o ágape tem de ser merecido. Ao lembrar o amor incondicional e sacrificial de Deus por mim, sou movida a amar mais a Deus, e sou estimulada a estender livremente meu amor ao meu esposo, pois recebi livremente o amor de Deus. Amo porque Deus me amou primeiro. O relacionamento vertical correto com Deus corrige meu relacionamento horizontal com meu próximo.

E como é esse relacionamento vertical correto? É a entrega plena de coração, alma, mente e força — a totalidade de nosso ser — no amor ativo de Deus. O que nós desejamos, procuramos fazer como se fosse para o Senhor. Qualquer coisa que queiramos fazer, nós nos propomos a fazer como se fosse para o Senhor. Qualquer que seja nosso pensamento, nós o arrazoamos como se estivéssemos diante do Senhor. O que quer que façamos, devemos fazer como se fosse para o Senhor.


Autor: Jen Wilkin

É palestrante, escritora e professora de estudos bíblicos para mulheres. Ela tem organizado e liderado estudos para mulheres nos lares, na igreja e em contextos paraeclesiásticos. Jen e sua família são membros da Village Church, na região de Dallas.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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