O orgulho é sutil e muda sempre de forma. Existe mais disso trabalhando em nosso coração do que sabemos, e mais dele pulsa entre nossa ocupação desenfreada do que percebemos. O orgulho é um vilão de mil caras.
Preciso agradar os outros. Estamos sempre ocupados porque tentamos fazer coisas demais. Fazemos coisas demais porque dizemos “sim” a gente demais. Dizemos sim a todas essas pessoas porque queremos que elas gostem da gente e tememos sua desaprovação. Não é errado ser bondoso. Na verdade, ser servo é marca do cristão. A necessidade de agradar os outros é outra história. Voluntariar-se para vender doces por amor ao próximo é uma coisa. Oferecer-se para vender doces para que o próximo passe a amar você é bem diferente. Grande parte de nossa ocupação desenfreada vem de tentar realizar as expectativas dos outros. Temos a reputação de sermos as pessoas mais boazinhas do mundo, porque o princípio operante de nosso coração é sermos reputados como as pessoas mais agradáveis deste mundo. Isso não somente é manifestação de orgulho – portanto, pecado – como também torna nossa vida insuportável (viver e morrer pela aprovação dos outros); e geralmente fere mais aqueles que estão mais próximos de nós (que acabam recebendo apenas as sobras de nosso tempo e energia, depois que tentamos agradar a todo mundo). Muitas vezes as pessoas chamam isso de baixa autoestima, mas agradar os outros na verdade é uma forma de orgulho e narcisismo.
Palmadinhas nas costas. Esta é a forma mais óbvia de orgulho: viver para os louvores ou elogios. Semelhante a agradar os outros, exceto que é menos por medo e mais motivado pelo desejo de glória. “Se eu assumir mais este compromisso, serei o herói de todos no escritório”. Não importa o que isso vai fazer com minha família, minha igreja ou minha caminhada com o Senhor, desde que signifique mais glória para mim.
Performance. Temos a tendência de avaliar de modo exagerado a nós mesmos. Estudos consistentemente demonstram que quase todos os estudantes se avaliam como sendo acima da média. Quase todos os empregados se consideram do escalão superior. Quase todo pastor acha que é excelente pregador. Porque nos consideramos tão superiores, estimamos nossa importância acima da realidade. Presumimos: “Se eu não fizer isso, ninguém mais vai fazer. Depende de mim”. Mas a verdade é que você só é indispensável até que diga não. Você é único. Os seus dons são importantes. As pessoas o amam, mas você não é insubstituível.
Depois de um descanso sabático em que estive fora durante o verão, voltei para ouvir comentários deslumbrantes sobre como tudo correu bem na igreja, sem que eu estivesse presente, e como foram maravilhosos os outros pastores que pregaram em meu lugar. Como pastor do rebanho, isso era obviamente o que eu queria ouvir! E como pecador que sou, obviamente isso levou um tempo para eu digerir! Uma parte de mim teria se sentido melhor se tivesse ouvido dizer que tudo ficou estagnado na minha ausência.
Posses. Trabalhamos para ganhar dinheiro, e ganhamos dinheiro para gastar. Continuamos nos ocupando porque queremos mais coisas. Não é errado desejar um sofá novo ou até mesmo uma casa nova. O problema é quando nos orgulhamos de nossas posses, ou, com mais sutileza, somos orgulhosos demais para confiar em Deus, independente do que aconteça com aquilo que possuímos. O que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se não tiver tempo para se preparar para o mundo vindouro?
Provar nossa capacidade. Deus não é contra o desejarmos algo. Existem muitos cristãos a quem falta iniciativa, coragem e diligência que o desejo de vencer inspira. Mas, desejarmos a nossa própria glória não pode ser confundido com o desejar a glória de Deus. Alguns dentre nós nunca descansamos, porque ainda estamos tentando provar alguma coisa a nossos pais, nossa ex-namorada, nosso treinador de quando jogávamos no time da escola.
Pena. Temos de encarar: as pessoas ficam com pena de nós quando estamos ocupados demais. Se conseguirmos colocar nossas vidas em controle, não seremos tão impressionantes, e as pessoas não vão exclamar com pena por nós carregarmos tantos fardos. Muitos de nós nos orgulhamos por estar assoberbados, e gostamos da simpatia recebida por suportarmos tantas responsabilidades heroicas.
Planejamento mal feito. Olhando para trás, vejo muitas vezes em meu ministério, quando eu hesitava em entregar certas tarefas a outras pessoas. Eu tornava minha semana insuportável e minha família sofria por eu ser orgulhoso demais para pedir que outro pregasse em meu lugar; ou preocupado demais com as aparências para deixar outra pessoa liderar em meu lugar. Deixava o planejamento ser ditado pelo orgulho em vez de ser dirigido pelo que servisse melhor à minha alma, minha família, e minha igreja.
Poder. Preciso manter-me ocupado, porque tenho de estar no controle.
Perfeccionismo. Não posso dar trégua, porque não posso errar.
Posição. Faço demais, porque é isso que as pessoas que estão em minha posição têm de fazer.
Prestígio. “Se eu continuar me esforçando, finalmente serei alguém de valor. Vou ser importante. Finalmente, terei chegado ao topo”. Besteira. Você nunca estará satisfeito. A única coisa pior que deixar de realizar qualquer desses sonhos é vê-los todos realizados. Você foi feito para algo mais. Ainda que pudesse ser conhecido no mundo inteiro, o que importa se você não tiver tempo para ser conhecido por Deus?
Postar. Se formos honestos, o orgulho está por trás de grande parte da revolução da mídia social. Muitas vezes tenho de me perguntar: “Por que estou escrevendo esse blog? Por que estou tuitando? Será por meu nome e minha fama?” Não importa quantos seguidores tenhamos, muitos ou poucos; podemos virar o Facebook e o Twitter em postos avançados de nossa própria glória. Ou — e esta é mais a minha luta — podemos temer o que os outros vão pensar se não aparecermos durante horas, dias ou semanas. Não queremos decepcionar centenas ou milhares de pessoas a quem nunca conhecemos, e assim, trabalhamos a noite inteira e estragamos a noite das poucas pessoas que dependem de nós todos os dias!
Eis a questão: entre todos os possíveis problemas que contribuem à nossa louca ocupação, é muito possível que um dos mais insidiosos seja nosso orgulho.
Fonte: trecho do livro “Super Ocupado”.