O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Construindo Pontes: aconselhamento bíblico para crianças e adolescentes, de Julie Lowe, Editora Fiel.
Eu amo Provérbios 20.5, o qual já citei repetidamente neste livro. Esse versículo nos lembra muito bem de que somos chamados a sermos pessoas sábias, comprometidas em extrair os motivos interiores do coração. Muito do nosso sucesso ou fracasso em trazer à tona o que está no interior das crianças tem mais a ver com a habilidade cativante de um adulto do que com a capacidade dos jovens de se articularem. A maioria dos jovens tem dificuldade para conhecer suas próprias motivações; como adultos, precisamos trazer o cuidado perseverante e a capacidade de ajudá-los, sempre atentos para que sejamos prontos para ouvir e tardios para falar (Tg 1.19), fazendo todo o esforço para conhecermos e compreendermos uma criança, a fim de podermos falar com sabedoria àquela experiência vivenciada por ela.
Abaixo, você encontrará exemplos de métodos que são úteis ao trabalhar com pessoas jovens.
Especialmente nos próximos dois capítulos, tentei incluir recursos, métodos, ideias e atividades que podem ser adaptadas para quase todas as idades. Em cada caso, você precisará considerar o motivo pelo qual você as usará e como você as adaptará à sua situação. Frequentemente, presumimos que os adolescentes pensarão em uma atividade como sendo algo infantil ou bobo e que a dispensarão antes de tentarem realizá-la. É possível que também tenhamos a expectativa de que crianças muito novas façam conexões ou vejam a relação de causa e efeito em áreas de pouca ajuda. Sempre haverá motivos para algo funcionar ou não com a criança com a qual você está trabalhando. Portanto, lembre-se sempre de que:
- Você está adaptando sua atividade à criança que está diante de você. Considere o que você espera aprender sobre ela.
- A maioria das atividades expressivas pode ser modificada para se adequarem às crianças de ensino fundamental ou aos adolescentes.
- Não tenha pressa em fazer a atividade. Ela não é um item a ser riscado da sua lista; não há um prazo definido. Seu objetivo é construir pontes de confiança e relacionamento, e abrir portas para conhecer melhor aquela criança.
- É bom parar e falar sobre as coisas que surgem enquanto a atividade é realizada. Não se concentre simplesmente em um resultado final (como completar a tarefa), mas realmente invista no processo (aprender, conhecer e ver o mundo através dos olhos do seu aconselhado).
- Seja criativo. Esteja sempre à vontade para adaptar, mudar ou edificar sobre qualquer atividade a fim de torná-la melhor ou mais útil para sua situação.
O uso estratégico de livros e do conto de histórias
Grandes histórias nos ensinam sobre a vida, o amor, o autossacrifício, o perdão e os perigos do orgulho e da corrupção. Cada uma delas contém uma lição para instruir e equipar com verdades importantes. Sendo assim, há muito tempo, a contação de histórias tem sido uma tradição de educação e tem servido como um método chave para transmitir tradições e crenças culturais, instilando valores morais e lembrando uma nova geração de sua história.
Da tradição oral ao uso de fábulas e parábolas até a invenção da palavra escrita, as histórias há muito têm emocionado as pessoas, educado culturas e levado para as casas uma mensagem (boa ou ruim). Contos ou fábulas (estas últimas muitas vezes tendo animais ou objetos inanimados como personagens) podem ser usados de maneira construtiva para ensinar uma lição de moral. Por meio do uso de boa literatura – incluindo livros, histórias, poemas, contos de fadas, fábulas e cartas – verdades são reiteradas de forma desarmadora e captam a atenção de um jovem.
Contamos histórias e lemos livros para as crianças com o intuito de educá-las e de construir habilidades de comunicação que nos conectam relacionalmente. Na cultura de hoje, contar e ler histórias é uma prática familiar em declínio, pois requer tempo extra e um abrandamento da rotina de um dia típico. Manter vivo o hábito de contar histórias, porém, pode aumentar os laços dentro das famílias, bem como incutir crenças essenciais no coração e na mente de uma criança.
Do ponto de vista do desenvolvimento, as crianças estão constantemente aprendendo sobre as emoções – as suas e as dos outros. Bons livros podem ajudá-las a aprenderem a reconhecerem quais emoções elas estão sentindo, quais emoções os outros possuem, como tais emoções impactam a todos, e o que fazer e como responder de maneira saudável e piedosa. Livros podem ensinar habilidades importantes que ajudarão as crianças a aprenderem comportamentos apropriados para as emoções, a começarem a compreender causa e efeito e a aprenderem responsabilidade nos relacionamentos. Se uma criança está no espectro do autismo e tem dificuldade de se envolver socialmente, os livros podem ser uma maneira útil de servir de modelo para como navegar em vários cenários relacionais.
Boas histórias ajudam a encorajar um comportamento social saudável, esclarecer valores e instilar identidade cultural. Elas ensinam o discernimento e fornecem oportunidades de modelar e melhorar a comunicação.
A cultura está contando sua própria história, comunicando uma narrativa do que é verdadeiro, moralmente bom e socialmente aceitável. Essa história é difundida em filmes, redes sociais, revistas e na educação infantil. A narrativa cultural de hoje doutrina as crianças com uma cosmovisão cada vez mais sem Deus. O certo muitas vezes é tratado como errado, e o errado é muitas vezes tratado como certo. As crianças precisam de ajuda para entender o sentido do que elas estão ouvindo, o que também significa que elas precisam de instruções proativas sobre o que é verdadeiro, certo e bom.
As crianças se beneficiam ao verem suas próprias lutas serem resolvidas por meio do uso de uma história. Agir corajosamente, superar um valentão ou aprender a resolver conflitos repercutem mais profundamente quando vemos essas situações sendo vividas diante de nós. Alguns jovens adoram escrever suas próprias histórias e podem lidar com lutas pessoais, projetando seus pensamentos e sentimentos em um personagem.
Ao ler ou contar uma história, certifique-se de conectar explicitamente os pontos de volta à vida e às experiências da criança. O que pode ser óbvio para nós precisa ser deixado claro para a criança ou o adolescente. Por exemplo, quando estou tentando ajudar crianças pequenas a identificarem sentimentos, muitas vezes uso um livro do Dr. Seuss chamado My Many Colored Days [Meus Muitos Dias Coloridos]. A história ilustra como as cores também podem expressar sentimentos e humores; ela leva a uma atividade expressiva na qual eu trabalho com a criança depois.
Com crianças que possuem pensamento e maturidade mais abstratos, procuro livros que se relacionem com suas vidas e lutas, e depois encontro maneiras de tecer isso no processo de aconselhamento. Alguns jovens detestam ler, mas gostam que alguém leia para eles; outros se relacionam melhor em ver a história desdobrar-se em uma tela. Para os adolescentes, as histórias podem ser melhor contadas pessoalmente por meio de filmes, poemas, canções ou um vídeo ou testemunho no YouTube. Qualquer que seja a forma que você use, seja atencioso ao conectar os pontos para eles de forma a produzir mudanças, crescimento e esperança, e que os apontem para a verdade.
Não há história melhor do que aquela que nos é dada na Escritura. Grande parte da Escritura está na forma de uma história narrativa. Há uma narrativa bíblica unificada de criação, queda, redenção e restauração. Ela é a nossa história e deve ser a história que serve de modelo para a vida e o coração de nossos jovens, fornecendo uma lente para todas as outras histórias que eles irão ouvir. No aconselhamento, podemos e devemos nos tornar melhores em contar essa incrível história de maneiras que capturem o afeto de crianças e adolescentes. Quanto melhor nos tornarmos em dar vida às Escrituras para as crianças, mais provável é que elas abracem as verdades bíblicas por si mesmas. Precisamos ajudá-los a mapear a história da Escritura de maneiras que transformem suas vidas e experiências. Queremos dar aos nossos jovens a esperança de que tudo pelo qual eles passam será redimido e usado por Deus. Ele faz novas todas as coisas.
Muitas vezes, crianças e adolescentes se sentem desconectados do Senhor e da Bíblia. Falar da Escritura como uma história ajuda os jovens a se conectarem com o Senhor e seu caráter imutável. Nela, Deus está retratando sua glória e seu caráter, restaurando todas as coisas e levando seus filhos de volta a si mesmos. É vital que quando trabalhamos com os jovens, procuremos maneiras de inserir a verdade bíblica, e então conectarmos as vidas, experiências e necessidades dos aconselhados de volta ao Senhor.
Há uma grande variedade de estilos literários usados na Bíblia, incluindo narrativa, poesia, sermões e cartas. A instrução é fornecida tanto direta quanto indiretamente. No aconselhamento, podemos acessar cada uma dessas formas bíblicas para nos conectarmos com o jovem diante de nós. Um olhar ao longo dos Salmos mostrará a um adolescente que ele pode ser sincero com Deus sobre suas emoções profundas. Uma parábola de Jesus esmiuçará um conceito teológico de uma forma que uma criança possa entender. Um olhar para a cruz descreverá o profundo amor sacrificial do Senhor.
Outros exemplos serão dados no próximo capítulo, mas as possibilidades são infinitas à medida que nos tornamos mais cativantes e sábios em conectar os jovens à Escritura. Considere como se tornar melhor no uso tanto das histórias comuns quanto, mais importante ainda, das Escrituras, para encorajar mudanças reais na vida das crianças e dos adolescentes.