domingo, 24 de agosto
Home / Artigos / Cristologia ortodoxa: novo testamento (5/5)

Cristologia ortodoxa: novo testamento (5/5)

A contribuição do Novo Testamento para a nossa compreensão da Pessoa de Cristo pode encher (e tem enchido) volumes inteiros de obras. Ele tem sido a fonte de rica e profunda meditação teológica durante séculos. Aqui poderemos meramente arranhar a superfície. Neste breve post, vamos olhar para as respostas a duas perguntas: quem Jesus alega ser, e quem seus discípulos dizem que ele é?

O testemunho próprio de Jesus

Não há dúvida de que Jesus se entendia como sendo o Messias profetizado no Antigo Testamento. Ele usa o título “Cristo” (que é a tradução grega da palavra hebraica “Messias”) para si mesmo (p.ex., Jo 4.25-26; 17.3), e aceita que outros usem este título para se referirem a ele (p. ex., Mt 16.16; Jo 11.25-27). Aquilo que o Antigo Testamento prometeu, Jesus afirmava cumprir.

Embora Jesus tenha usado o título “Cristo” para si mesmo, sua auto-designação preferida era o título “Filho do Homem”. Este título ocorre cerca de 69 vezes nos Evangelhos sinóticos e mais 13 vezes no Evangelho de João. Quase todas as vezes que o título ocorre, Jesus está usando-o em referência a si mesmo. “Filho do Homem” é em si um título messiânico, cujo significado completo só pode ser apreciado se examinarmos seu pano de fundo em Daniel 7, onde ele descreve uma figura que sobe para o Ancião de Dias e recebe o domínio sobre todas as coisas. Referindo-se a si mesmo como o “Filho do Homem”, Jesus está dizendo, na verdade: “Eu sou aquele de quem Daniel falou”.

Jesus não apenas se entendia como o Messias prometido, mas também diz e faz coisas ao longo dos Evangelhos que deixam claro que se entendia como sendo o Deus encarnado. Em muitos lugares, Jesus faz reivindicações que implicam sua eterna existência divina anterior à sua encarnação (p. ex., Jo 3.13; 6.62; 8.42). Sua declaração em Mateus 11.27 implica a soberania mútua que ele compartilha com o Pai. Várias das conhecidas afirmações “Eu sou” no Evangelho de João reivindicam ou implicam divindade (Jo 8.58; 13.19). Seus ensinamentos e obras indicam também que ele é Deus encarnado. Ele ensinou a lei como só Deus poderia fazer (Mt 5.22, 28, 32, 34, 39, 44). Ele perdoou pecados (Mt 9.6; Mc 2.10; Lc 5.24), um ato que somente Deus pode fazer. Ele ouve e responde a oração (Jo 14.13-14) e recebe adoração e louvor (Mt 21.16). Simplesmente não é possível ler honestamente os Evangelhos sem reconhecer que Jesus entende-se como o Messias, o Filho de Deus encarnado.

Jesus entende-se como o divino Filho de Deus e Messias, mas quem os discípulos dizem que ele é? Apesar de levar algum tempo para que os discípulos compreendam plenamente quem é Jesus, quando eles de fato reconhecem a verdade, não hesitam em declará-la corajosamente. Natanael chama Jesus de o Filho de Deus e o Rei de Israel (Jo 1.49). Pedro chama-o de “Senhor” (Lc 5.8) e o “Santo de Deus” (Jo 6.69). Mais tarde, Pedro declara que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Paulo também proclama que Jesus é o Cristo (At 17.2-3) e Senhor (1Co 1.2-3) e confessa a divindade de Cristo (Cl 1.15-20; 2.9; Fp 2.6-11). Quando lembramos a confissão básica dos judeus do Antigo Testamento de que o Senhor é um, estas afirmações sobre Jesus, vindas da boca de judeus, são ainda mais surpreendentes.

Várias passagens do Novo Testamento se referem explicitamente a Jesus como Deus. O Evangelho de João, por exemplo, abre com uma declaração da divindade de Cristo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela […] Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.1-5, 12-14). Aqui o Verbo, que é identificado com Jesus (v. 14), é dito ser “Deus” (v. 1). Não obstante as contorções exegéticas das Testemunhas de Jeová, esta passagem é inequívoca em sua declaração da divindade de Cristo.

O apóstolo Paulo também chama explicitamente Jesus de Deus em vários lugares. Em Romanos 9.5, ele escreve: “deles [os judeus] são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para sempre”. Jesus Cristo, diz ele, é Deus sobre todos. Em Tito 2.13, Paulo fala da manifestação da “glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. As palavras “Deus” e “Salvador” qualificam “Cristo Jesus”. Isto é, Jesus Cristo é Deus e Salvador. Também, Pedro confessa que Jesus é Deus e Salvador no primeiro verso de sua segunda epístola. Pensar sobre as implicações dessas declarações mesmo que apenas por um momento é impressionante.

O Antigo Testamento declarou claramente que o Senhor nosso Deus é único (Dt 6.4). O Novo Testamento continua a enfatizar que Deus é um (Mc 12.29). Entrentanto, ao mesmo tempo, o Novo Testamento também declara que Jesus é Deus. O Novo Testamento está contradizendo o Antigo Testamento? Como os cristãos devem compreender estas afirmações? Como poderia a Igreja confessar que Deus é “um” e, ao mesmo tempo confessar que Jesus Cristo é Deus? A igreja levou vários séculos trabalhando essas questões para explicar o ensinamento do Novo Testamento de uma forma que levasse em conta todas as provas. Em nosso próximo post, vamos começar a olhar para o ensino da igreja primitiva sobre a Pessoa de Cristo.


Autor: Keith Mathison

Dr. Keith Mathison é editor associado da Tabletalk magazine, deão e professor de Teologia Reformada na Reformation Bible College em Sanford, Florida e autor do livro From Age to Age: The Unfolding of Biblical Eschatology.

Parceiro: Ministério Ligonier

Ministério Ligonier
Ministério do pastor R.C. Sproul que procura apresentar a verdade das Escrituras, através diversos recursos multimídia.

Ministério: Ministério Fiel

Ministério Fiel
Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

Veja Também

Pedido de oração pela Conferência Fiel Nampula 

Nos apoie em oração para que Deus abençoe este trabalho em Nampula, Moçambique. Confira os pedidos em primeira mão de um de nossos correspondentes diretos, o missionário Charles.