1. O principal objetivo da igreja e seu relacionamento com a benevolência.
De acordo com as Escrituras, o principal objetivo da igreja, como um corpo local, é glorificar o nosso Deus, no servi-Lo e adorá-Lo por intermédio de Jesus Cristo, nosso Senhor (Ef 3.21). Isto é realizado por meio de nossa adoração e orações, tanto coletivas como individuais (Fp 3.3; Jo 4.24; Sl 95.1-7); da proclamação da perfeita Lei de Deus e do glorioso evangelho (Ef 3.10; Mt 28.19-20; 2 Tm 4.2); do nosso crescimento na graça e no conhecimento de nosso Senhor (Ef 4.13-14; 2 Pe 3.18; Mt 5.16); de nosso batalhar diligentemente pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos (1 Tm 3.15; Jd 3) e do servir uns aos outros (1 Pe 4.9-11; 1 Co 12.7; Rm 12.6-13).
Tendo estes objetivos bíblicos em mente, torna-se claro que o enfoque de nossas realizações, como igreja, possui natureza espiritual (Ef 6.10-18). Ao cumprirmos este enfoque, nossa principal responsabilidade para com aqueles que estão fora da igreja não é satisfazer as necessidades físicas deles, e sim as espirituais. Não devemos gastar nossos esforços e energias tentando providenciar alimento para os que nos rodeiam, e sim procurar trazê-los à verdade de Deus, centralizada no evangelho de Jesus Cristo (Lc 24.46-47; Mt 28.19-20; At 1-28).
Esta é a bênção mais preciosa que podemos dar aos que nos rodeiam, visto que ela lhes outorga o único escape da ira eterna e o único caminho à segurança e glória eterna. “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mt 16.26) Além disso, um relacionamento correto com o Senhor é o caminho mais eficaz para que alguém tenha satisfeitas as suas necessidades físicas cotidianas (Mt 6.33; Pv 10.4). Em resumo, não fazer das necessidades espirituais o principal interesse da igreja equivale a virar as costas para a grande necessidade daqueles que vivem ao nosso redor.
2. A chamada bíblica para ajudar os necessitados.
Embora o nosso ministério tenha uma ênfase de natureza espiritual, as necessidades físicas surgem, e a igreja será chamada a satisfazer estas necessidades. A Bíblia contém muitas exortações direcionando o povo de Deus a assistir aos pobres e aos necessitados. O Senhor não somente nos ensina que devemos ter um interesse geral pelos pobres (Pv 29.7), mas também os instrui que à semelhança do próprio Senhor Jesus, devemos ser generosos para com aqueles que são estranhos e até inimigos (Lc 10.33-37; Mt 5.45; Pv 25.21). Bênção é prometida àqueles que são generosos para com os pobres (Pv 22.9; 19.17; 28.27), e maldição, àqueles que fecham seus olhos para os necessitados, deixando em dúvida sua verbalização de ser crente (Pv 28.27; 21.13; 1 Jo 3.17). Como resultado, enquanto temos de manter as necessidades espirituais como prioridade, não devemos negligenciar as necessidades físicas daqueles aos quais temos de ministrar.
3. Princípios a respeito de satisfazer as necessidades físicas.
Diversos princípios têm de ser levados em conta quando ministramos às necessidades físicas, como igreja.
a) A responsabilidade da igreja em referência às coisas do mundo compete aos diáconos, para que os pastores dediquem-se à Palavra de Deus e à oração (At 6.2-4). Com isto em mente, os diáconos devem evitar que os pastores fiquem sobrecarregados com assuntos de benevolência. Portanto, a menos que a benevolência exija aconselhamento com profundidade espiritual, este assunto deve ser tratado pelos diáconos.
b) Quando ministramos benevolência, temos de manter um espírito altruísta em todas as ocasiões, mesmo sob o risco de errar ao sermos generosos em certas situações. Isto corresponde à maneira como o Senhor lida conosco (At 20.35; Mt 18.32-33).
c) É importante lembrar que os bens administrados pela igreja pertencem ao Senhor. A igreja é apenas um mordomo daquilo que Deus colocou sob a responsabilidade dela (Sl 24.1; Lc 16.1-2). Visto que os pastores delegam aos diáconos a responsabilidade de administrar os bens da igreja, os diáconos têm de ser cuidadosos e responsáveis em relação aos bens do Senhor. Temos de ser prudentes como as serpentes (Mt 10.16). Isto significa que não é prudente nem benéfico demonstrar benevolência para determinadas pessoas, em certas ocasiões. Por exemplo, 2 Tessalonicenses 3.10-11 ensina que, “se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois…. andam desordenadamente, não trabalhando”. Dar dinheiro a pessoas estranhas pode significar um ato sem amor, se elas utilizarem o dinheiro para comprar drogas ou bebida alcoólica. Outras pessoas podem estar sob a disciplina do Senhor, e a benevolência poderia arruinar o impacto da disciplina.
d) Temos de estabelecer prioridades referentes a quem deve receber nossa benevolência. As Escrituras ensinam claramente que, enquanto temos de fazer o bem a todos os homens, devemos outorgar atenção especial à “família da fé” (Gl 6.10). Alguns expositores bíblicos têm sugerido que muitas das referências aos pobres, nas Escrituras, incluindo as de Provérbios, aludem aos pobres da comunidade da aliança. Isto não entra em conflito com os princípios apresentados no ponto 2 deste artigo, mas nos leva à conclusão de que os membros de nossa igreja devem receber prioridade de atenção no que diz respeito às necessidades materiais e, em segundo lugar, os verdadeiros crentes fora de nossa igreja. Finalmente, em todas as circunstâncias, temos de ser pacientes, bondosos, humildes, considerando os outros mais importantes do que nós mesmos (1 Co 13.3-5; Fp 2.3-4). Não podemos agir com frieza ou aspereza para com os necessitados, quer sejam da igreja, quer não; temos de fazer todas as coisas com amor (1 Co 16.14).