segunda-feira, 14 de julho
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Pais e avós impactam crianças com a Palavra. Um chamado para fortalecer o discipulado familiar no lar e na igreja.

Discipulado Infantil

Como ensinar a fé de geração em geração

O ensino das crianças é destacado no Salmo 78, que afirma que uma geração é responsável por transmitir à outra o conhecimento de Deus. Se hoje conhecemos o Senhor, é porque a geração anterior nos transmitiu, fielmente, os atos de Deus em favor de seu povo. A mulher cristã deve estar comprometida com o ensino de seus filhos — e também com o ensino às crianças de sua igreja. Queremos destacar três ensinamentos fundamentais do Salmo 78.1-8:

Escutai, povo meu, a minha lei;

prestai ouvidos às palavras da minha boca.

Abrirei os lábios em parábolas

e publicarei enigmas dos tempos antigos.

O que ouvimos e aprendemos,

o que nos contaram nossos pais,

não o encobriremos a seus filhos;

contaremos à vindoura geração

os louvores do Senhor, e o seu poder,

e as maravilhas que fez.

Ele estabeleceu um testemunho em Jacó,

e instituiu uma lei em Israel,

e ordenou a nossos pais

que os transmitissem a seus filhos,

a fim de que a nova geração os conhecesse,

filhos que ainda hão de nascer

se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes;

para que pusessem em Deus a sua confiança

e não se esquecessem dos feitos de Deus,

mas lhe observassem os mandamentos;

e que não fossem, como seus pais,

geração obstinada e rebelde,

geração de coração inconstante,

e cujo espírito não foi fiel a Deus.

Primeiro destaque: devemos escutar a lei. Não podemos ensinar aquilo que não conhecemos. Por isso, você mesma tem de ser uma aprendiz da Palavra de Deus. Geralmente, escutamos a Palavra de Deus nos cultos públicos ou em outros ensinos formais da igreja, como a escola bíblica, quando a Escritura é exposta, explicada e aplicada à vida. Seja uma aprendiz dedicada.

Segundo destaque: o que aprendemos ouvindo a Palavra é o que devemos transmitir à próxima geração, a fim de que conheçam nosso Deus.

E, finalmente, ensinamos sobre nosso Deus para que a geração seguinte coloque sua confiança nele!

Além das instruções do Antigo Testamento, encontramos também, no Novo Testamento, o apóstolo Paulo destacando o discipulado familiar na vida do jovem ministro Timóteo. Paulo recorda a fé sincera e autêntica que chegou até ele por meio de sua avó Loide e de sua mãe, Eunice: “Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Loide e em tua mãe, Eunice, e estou certo de que também em ti” (2Tm 1.5). Paulo ainda exortou Timóteo a permanecer firme na fé que aprendera desde a infância: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.14,15).

O pastor John Stott[1] comenta sobre a formação familiar de Timóteo com as seguintes palavras:

Timóteo provinha de um lar temente a Deus. Lucas nos conta que ele era filho de um casamento misto, em que o pai era grego e a mãe, judia (At 16.1). Pode-se presumir que seu pai fosse descrente, mas a mãe, Eunice, era uma judia crente que se tornou cristã. E, antes da mãe, sua avó Loide também era convertida, visto que Paulo escreve da “fé sem fingimento” das três gerações. […] Mesmo antes da conversão a Cristo, essas mulheres, tementes a Deus, haviam instruído Timóteo no Antigo Testamento, assim que “desde a meninice” fora instruído nas “sagradas letras”.

Essa observação de Stott evidencia como um lar cristão pode exercer profunda influência espiritual no coração de uma criança. Não podemos, portanto, desperdiçar a oportunidade de falarmos de Cristo às nossas crianças.

Em meio à correria da vida moderna, muitas famílias cristãs têm enfrentado o desafio de manter a fé viva dentro de casa. No entanto, uma das formas mais poderosas e bíblicas de discipular os filhos é por meio do culto doméstico. Trata-se de um momento simples, mas profundo, em que a família se reúne para ler a Palavra de Deus, orar e louvar ao Senhor. Mais do que uma tradição, o culto doméstico é um meio essencial de formação espiritual. Esse é um tempo em que ensinamos aos filhos que Deus é digno do nosso tempo, nossa atenção e nossa adoração. Ajuda-os a ver a fé como parte da vida cotidiana, não apenas como algo reservado apenas aos domingos. Ao verem os pais orando, lendo a Bíblia e cantando, as crianças aprendem, pelo exemplo, uma das formas de amar e seguir a Cristo. Além disso, esse momento fortalece os laços familiares, promove conversas espirituais e dá espaço para perguntas e aprendizados que muitas vezes não surgem em outros contextos. Com o passar do tempo, o culto doméstico se torna uma lembrança preciosa na memória dos filhos: um testemunho vivo do evangelho em casa.

E, por fim, queremos considerar um grupo de crianças que, muitas vezes, pode escapar de nossa atenção: os órfãos. Lembrem-se dos órfãos. Em nossas igrejas, temos crianças que vêm de vários contextos — e algumas são órfãs de pai, de mãe ou até mesmo de ambos. Outras chegam à igreja sem a companhia dos pais. São órfãs espirituais.

Lembro-me de um casal de irmãos, com idades entre sete e nove anos, que chegavam sozinhos a nossa igreja em São Paulo para participar da classe de ensino bíblico infantil. Eram crianças pobres, usavam chinelos e suas roupas eram surradas de tanto uso. Mesmo assim, participavam das aulas, comiam o lanche oferecido pela igreja e retornavam a pé para casa, que ficava nas proximidades. Eram assíduos e interessados.

Devemos, assim, cuidar dessas crianças com zelo e amor, para que sejam acolhidas e cuidadas pela família da fé.

O artigo acima foi extraído do livro Discipulado na prática – mulheres cuidando de mulheres na igreja local, de Renata Gandolfo e Luciana Sborowski, Editora Fiel


[1] John Stott. A mensagem de 2 Timóteo: Tu Porém (São José dos Campos: ABU, 2019).


Autor: Renata Gandolfo e Luciana Sborowski

Renata e Luciana são autoras do livro Discipulado na prática mulheres cuidando de mulheres na igreja local, Editora Fiel. Renata Gandolfo é membro da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos, SP. Renata serve como conselheira bíblica, é envolvida com discipulado e estudos bíblicos para mulheres. Trabalha no Editorial Online do Ministério Fiel, escreve regularmente na coluna Vida de Ovelha, do blog Voltemos ao Evangelho. Participa desde 2015 das Conferências de Treinamento em Aconselhamento Bíblico da ABCB (Associação Brasileira de Conselheiros Bíblico). Licenciada em Letras, pós-graduanda em Aconselhamento Bíblico pelo CETEVAP. Luciana Sborowski é graduada em Fonoaudiologia e possui Mestrado em Ministérios (Seminário Bíblico Palavra da Vida). Envolvida com Ministério de Aconselhamento Bíblico e Discipulado com mulheres na igreja local. Luciana é casada com Douglas Sborowski (pastor da Igreja Presbiteriana de Ribeirão Preto) e mãe de Pedro (que se casou com Ana Luiza), André e Lia.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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