sábado, 27 de julho

Edificadas em Cristo

Renovação transformadora

No chão do meu dormitório, chegando ao fim de mim mesma e do meu primeiro ano na faculdade, alcancei minha Bíblia empoeirada, e não foi nada menos do que sobrenatural. Deus, em sua misericórdia e bondade, teve compaixão do meu coração partido e me atraiu para si mesmo. Por causa do grande amor com que ele me amou, ele se revelou a mim em sua Palavra.

O autor do livro de Hebreus disse: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). As palavras de Jesus no jardim do Getsêmani perfuraram a minha alma e o meu coração. Li a história da cruz, fiquei impressionada com o grande amor de Jesus por mim, e me comprometi com o senhorio dele pelo resto dos meus dias.

Paulo disse a Timóteo que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm 3.16-17). A Bíblia é capaz. Por ser a Palavra viva de nosso Deus vivo, ela é capaz de falar a todas as facetas de sua vida e da minha.

Se quisermos saber quem é o nosso Deus – seu caráter, suas capacidades, sua história, as promessas que ele cumpriu no passado e as que ele fez para o futuro – devemos nos voltar para a Palavra dele. Podemos conhecer o Criador do céu e da terra porque ele se fez conhecido a nós na Bíblia.

Em seu importante e prático livro Mulheres da Palavra, Jen Wilkin diz: “O conhecimento bíblico é importante porque nos protege de cair em erros”. Tanto o falso mestre como o humanista secular dependem da ignorância bíblica para que suas mensagens se enraízem; e a igreja moderna provou ser um terreno fértil para essas mensagens”[i]. A melhor maneira de você e eu conhecermos a Deus e discernirmos uma falsificação é conhecendo a Palavra de Deus.

Assim como um dia por semana na academia não nos tornará fisicamente em forma, também o tempo esporádico na Palavra de Deus não nos tornará espiritualmente em forma. Não conheceremos realmente o seu conteúdo nem seremos transformadas pela Palavra de Deus, a menos que invistamos as nossas vidas nela. Wilkin diz: Para obtermos instrução bíblica, devemos permitir que o nosso estudo tenha um efeito cumulativo – ao longo das semanas, dos meses e dos anos – para que a interrelação de uma parte da Escritura com a outra se revele lenta e graciosamente, como um pano de tirar pó que escorrega, polegada a polegada, da face de uma obra-prima”[ii].

Se você e eu vamos confiar no Senhor, precisamos conhecê-lo bem. E para isso, devemos investir tempo lendo, estudando, memorizando e aplicando sua Palavra. A Bíblia não é, primariamente, para a nossa informação, mas para a nossa transformação. Ela tem o objetivo, como diz o livro de Hebreus, de penetrar nossa alma e espírito, e discernir nossos pensamentos e as intenções de nossos corações.

Se orarmos e confessarmos que precisamos do Espírito para nos ajudar, ele nos ensinará todas as coisas (Jo 14.26) enquanto estudamos sua Palavra. Não apenas isso, mas ele nos treinará, nos fará completas e nos equipará para cada boa obra (2Tm 3.16-17). Embora estudar a Bíblia sozinha seja benéfico, estudá-la com o povo de Deus é especialmente poderoso.

O Povo de Deus

Fomos feitas para viver em comunidade. É para o nosso bem que nos reunimos com outros. Para o cristão, é crucial fazer do encontro com outros cristãos uma alta prioridade.

Rosaria Butterfield diz: “Viver em comunidade não é apenas agradável; é algo que salva vidas”[iii]. De fato, a salvação de Butterfield veio através do tempo investido com o povo de Deus.[iv]

Os cultos de adoração são projetados para a edificação do corpo de Cristo. A esposa do missionário e plantador de igreja Dave, Gloria Furman diz: “Deus decreta sua Palavra para, de maneira eficaz, cumprir sua ordem através da pregação”[v]. O Novo testamento nos instrui a “[aplicar-nos] à leitura, à exortação, ao ensino” (1Tm 4.13). O meio de Deus fazer seus filhos crescerem é através do ajuntamento ordinário, mas poderoso, de semana em semana, para a proclamação pública da Bíblia, adorando-o por meio de cânticos, desfrutando da comunhão, nos unindo em oração e colaborando em outras atividades edificantes.

Deus deu pastores e mestres (e outros líderes) à comunidade da igreja “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo […], para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.12-14). Os dons espirituais – assim chamados porque são transmitidos pelo Espírito Santo que habita em nós – são destinados a serem exercitados no corpo e para o corpo. Você e eu fomos equipadas por Deus para servir nossos irmãos e irmãs em Cristo. E isso só pode ser feito quando nos reunimos.

A reunião com o povo de Deus permite que nossos irmãos e irmãs em Cristo nos façam prestar contas se formos pegos em alguma transgressão e nos restaurem (Gl 6.1-5). Quando nos reunimos, podemos encorajar uns aos outros e edificar uns aos outros (1Ts 5.11). De fato, há cinquenta e nove mandamentos no Novo Testamento sobre como os cristãos devem tratar uns aos outros. Entre outras coisas, devemos nos saudar uns aos outros com um beijo santo (Rm 16.16), ser mansos e longânimos uns para com os outros (Ef 4.2) e nos sujeitar uns aos outros no temor de Cristo (Ef 5.21). Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Desde minha rendição ao Senhor há mais de vinte anos, tenho me reunido quase todas as semanas para cultos na igreja, estudos bíblicos femininos, pequenos grupos e momentos de oração com uma ou duas amigas próximas. Grande parte do trabalho do Espírito em nossas vidas é através de seu povo. A maturidade espiritual é um esforço comunitário.

A renovação é transformadora

Você e eu estamos sendo moldadas, intencionalmente ou veladamente, pelo que quer que estejamos consumindo. Como diz o adágio: “Tornamo-nos aquilo que contemplamos”[vi].

Como podemos obedecer ao chamado bíblico de “pensar nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.2)? Como você e eu podemos labutar com toda a energia do Espírito em nós, confessando nossa necessidade por ele em oração, estudando sua Palavra e nos reunindo com seu povo? Ao nos comprometermos com essas práticas, seremos transformadas de dentro para fora. Seremos transformadas pela renovação de nossas mentes (Rm 12.2).

Você se lembra da Shannon do capítulo 3, minha amiga que conheceu a Cristo durante uma viagem missionária no sudeste asiático? Desde aquele dia providencial há mais de doze anos, ela se comprometeu com essas práticas comuns que provocam mudanças extraordinárias. A manifestação externa da transformação interior do Espírito na vida de Shannon inclui o início de um ministério para dançarinos em uma das comunidades mais exploradoras de nossa nação, tornar-se mãe adotiva internacionalmente, o ensino da Bíblia, a prática regular da hospitalidade a fim de alcançar pessoas em seu bairro e, recentemente, tornar-se uma mãe temporária.

Pelo poder do Espírito, Shannon não apenas estava enraizada em Cristo, mas também labutou para renovar sua mente em Cristo. Ela confia em Deus porque o conhece como resultado de ler atentamente a sua Palavra. A fé de Shannon é forte por causa da graça de Deus através do povo de Deus. Ela está verdadeiramente transformada.

Minha obsessão pelo New kids on the Block era tola e embaraçosa. Mas essa obsessão mostra como, de fato, somos transformadas por aquilo que amamos. Meu eu da escola secundária se conformava à cultura à minha volta sem qualquer problema. Meu contexto todo – as coisas que eu via, ouvia e das quais me cercava – pregava uma poderosa mensagem sobre o NKOTB, e eu caí nisso. Intensamente.

A boa notícia é que um amor muito melhor pode ser criado quando fixamos os nossos corações e as nossas mentes nas coisas corretas. E a coisa suprema é Jesus. Com a ajuda do Espírito, podemos colocar nossos amores em ordem. Quando estivermos enraizadas no evangelho e renovarmos as nossas mentes no evangelho, seremos transformadas pelo evangelho. Esse enraizamento e essa renovação são a forma como você e eu nos edificamos em Cristo. Isso é o que estabelecerá a nossa fé e nos levará à alegria duradoura pela qual ansiamos.

Artigo adaptado do livro Que Eu Diminua, de Jen Oshman. Publicado pela Editora Fiel.


[i] Jen Wilkin, Mulheres da Palavra: Como Estudar a Bíblia com Nossa Mente e Coração

[ii] Jen Wilkin, Mulheres da Palavra.

[iii] Rosaria Butterfield, O Evangelho e as Chaves de Casa: Praticando uma Hospitalidade Radicalmente Simples em um Mundo Pós-Cristão (Brasília, DF: Editora Monergismo, 2020).

[iv] Veja Rosaria Butterfield, Pensamentos Secretos de uma Convertida Improvável: A Jornada de uma Professora de Língua Inglesa Rumo à Fé Cristã (Brasília, DF: Editora Monergismo, 2017).

[v] Gloria Furman, A Esposa do Pastor: Fortalecida pela graça para uma vida de amor

(São José do Campos, SP: Editora Fiel, 2016).

[vi] John M. Culkin, “A Schoolman’s Guide to Marshall McLuhan,” Saturday Review, 18 de março de 1967, 51–53, conforme citado em John Stonestreet and Brett Kunkle, A Practical Guide to Culture: Helping the Next Generation Navigate Today’s World (Colorado Springs: David Cook, 2017), cap. 14, edição em Kindle.


Autor: Jen Wilkin

É palestrante, escritora e professora de estudos bíblicos para mulheres. Ela tem organizado e liderado estudos para mulheres nos lares, na igreja e em contextos paraeclesiásticos. Jen e sua família são membros da Village Church, na região de Dallas.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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