O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Boas Novas, de John MacArthur, Editora Fiel.
A Escritura deixa claro que os judeus nutriam altas expectativas com relação ao Messias há muito esperado – expectativas que Cristo não necessariamente preencheu num primeiro momento. Eles tinham certeza que o Messias seria um homem – não um anjo, e também não Deus – simplesmente um homem. E não apenas um homem qualquer, mas um filho de Davi. Com base nas promessas da aliança de Deus com Davi, eles aguardavam o herdeiro de Davi que estabeleceria o reino eterno. Eles esperavam que quando o Messias viesse, seria um homem com tremenda autoridade e influência, que assumiria o poder, destronaria os romanos e todos os inimigos de Israel, e cumpriria instantaneamente todas as promessas de reino feitas a Abraão, Davi e aos profetas. E ao fazer essas coisas, ele traria salvação plena a Israel.
Até mesmo os discípulos nutriam tal expectativa. Lucas nos diz que eles criam que o Messias inauguraria o reino (Atos 1.6). Mas o povo achava que ele seria apenas um homem, e um filho de Davi. E nosso Senhor Jesus Cristo se utilizou dessas expectativas para levantar a pergunta fundamental: seria o Messias meramente um homem?
É possível dividirmos essas afirmações públicas finais de Jesus em categorias pensemos em Lucas 20.41-44 como o convite final de Cristo. A despeito do ódio dos líderes, a despeito do interesse instável da multidão descompromissada, Jesus ainda era um evangelista misericordioso. Apenas alguns dias distante das agonias da cruz, mais uma vez ele esclareceria quem ele é e chamaria pecadores arrependidos a crer.
No relato paralelo de Mateus 22.42, Jesus pergunta: “Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?” Ele direcionou tais palavras aos fariseus e aos escribas, enquanto podia ser ouvido por todo o povo que ali estava. O mesmo versículo contém a resposta deles: “De Davi”. Todos entendiam e esperavam um Messias de linhagem real. Curiosamente, Mateus registra a pergunta com um artigo definido: “Que pensais vós do Cristo?” (ênfase acrescentada). Naquele momento Jesus não estava enfatizando a si mesmo. Estava simplesmente perguntando: “Como é que vocês enxergam o Messias? De quem ele é filho?” E a resposta foi: “De Davi”.
A compreensão deles parou aí. Eles tinham uma concepção um tanto equivocada do Messias – eles esperavam que ele fosse nada mais que um homem com direito adquirido ao trono de Israel. Não era algo completamente herético ou blasfemo, mas era incompleto, e quando se está tratando da pessoa e obra de Cristo, incompleto é igual a errado.
Qualquer judeu teria respondido à pergunta relativa à identidade do Messias da mesma forma, pois é o que o Antigo Testamento ensina em 2 Samuel 7, Salmo 89, Ezequiel 37, e em várias outras passagens. De acordo com Mateus 9.27, “partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando: Tem compaixão de nós, Filho de Davi!” Lucas retrata no capítulo 18 que mais tarde no ministério de Jesus, enquanto passava por Jericó, ele encontrou outro cego. E o cego clamou: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lucas 18.39). Mateus 12 declara: “Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e a ver. E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?” (Mateus 12.22-23). Foi isso que todos entenderam: que o Messias era um filho de Davi.
De fato, Zacarias, o pai de João Batista, serve como boa ilustração disso. Quando Zacarias ouviu que a vinda do Messias era iminente (porque Deus havia prometido dar a ele e à sua mulher estéril – Isabel – um filho que seria o precursor do Messias), ele foi cheio do Espírito Santo (Lucas 1.67) e profetizou: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo (vs. 68-69).
Visto que o Messias seria o filho de Davi, a maneira mais óbvia que os líderes judaicos tinham à disposição para desacreditar Jesus ou contestar suas afirmações de messianidade teria sido retirar os registros do templo e mostrar que ele não havia nascido da linhagem de Davi. Esteja certo que os fariseus e escribas pesquisaram e confirmaram esse detalhe crucial. Mais à frente veremos que o Messias teria de vir antes que o templo fosse destruído porque todos os registros do templo foram igualmente destruídos, junto com o templo. Tais genealogias e a incontestável linhagem de Cristo permanecem como testamentos da precisão do plano soberano de Deus.
Isso posto, a resposta dos fariseus à pergunta de Cristo é precisa: “Ele é filho de Davi”. Mas a resposta deles é inadequada e incompleta. Visando o restante da resposta, o Senhor Jesus Cristo fez uma breve exposição do Antigo Testamento:
Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi? Visto como o próprio Davi afirma no livro dos Salmos: “Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Assenta-te à minha direita,
Até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés’”. Assim, pois, Davi lhe chama Senhor, e como pode ser ele seu filho? (Lucas 20.41-44).
Isso é absolutamente surpreendente e brilhante. Nenhum pai que se preze jamais chamaria seu filho de “Senhor”. Por que Davi está chamando seu filho de “Senhor”, Adonai, no Salmo 110.1?
Alguns comentaristas judeus concluíram que Davi cometeu um erro, como se não devesse ter dito o que disse. Mas Mateus 22.43 declara: “Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor…?” Outros críticos sugerem que Davi proferiu essas palavras em seu próprio espírito humano. Mas Marcos 12.36 afirma: “O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo”. Quando Davi chamou o Messias de seu Senhor, foi por inspiração do Espírito Santo.