domingo, 15 de dezembro
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Embaixadores por Cristo

Quando minha secretária anunciou quem estava na linha telefônica, fiquei bastante emocionado. Era um amigo que estudara comigo no seminário; ele estava agora servindo como pastor em um outro Estado. Havia anos que não conversávamos um com o outro. Após alguns minutos, meu colega contou-me por que me telefonara.

Dois homens de sua igreja haviam assumido o compromisso de fazer parte de um ministério de evangelismo que teria amplo alcance. Quando esses homens chegaram para receber o treina-mento, disseram ao pastor: “Desejamos estar envolvidos nesse trabalho, mas não pediremos que as pessoas creiam ou confiem em Jesus. Simplesmente apresentaremos os fatos do evangelho e deixaremos o resto com Deus. Não é nossa função apelar às pessoas que respondam ao evangelho, visto que elas somente poderão fazê-lo se Deus quiser. Afinal de contas, Deus é soberano na salvação”.

Um compromisso com a absoluta soberania de Deus na salvação deveria nos levar a esse tipo de atitude? Deveria nos impedir de exortar os homens a respeito de suas almas?

Essa conversa telefônica aconteceu duas semanas depois de eu ter participado de um esforço de evangelismo de casa em casa na cidade de Redmond, no Estado de Oregon. A equipe em que eu estava bateu em mil e seiscentas portas, durante cinco dias, proclamando a verdade do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Vimos alguns corações humilharem-se em arrependimento e fé, respondendo ao evangelho, mas também nos deparamos com grande medida de rejeição hostil. Muitas portas foram fechadas com violência diante de nosso rosto, muitas profanidades foram proferidas vigorosamente contra nós, e muitas pessoas estavam presas nos grilhões de um evangelho fundamentado em obras (que, na realidade, não é a boa-nova de Cristo).

Enquanto participávamos desse esforço evangelístico, tornei- me novamente convencido de duas verdades. Primeira, a salvação é uma obra do Deus soberano. É claro que eu não poderia salvar aquelas pessoas. Se alguém se- ria salvo, isso ocorreria exclusiva- mente devido à soberana graça de Deus. Segunda, Deus está realizando a sua obra: Ele está preparando os corações, outorgando-lhes o dom da fé, chamando seu povo de toda tribo, língua e nação.

A conclusão, porém, à qual eu cheguei foi muito diferente da conclusão daqueles dois homens. Fiquei convencido de que, se estes conceitos são verdadeiros, temos de nos unir a Deus em sua obra, a fim de chamar seu povo dentre as nações. Temos de exortar os homens a respeito de suas almas. Esse trabalho de evangelização não é opcional ao cristianismo; é fundamental.

Ora, afirmar que fiquei convencido desses fatos é uma coisa, mas a pergunta que realmente deveria ser respondida era esta: “Essas idéias são bíblicas?”

Salvação: Uma Obra do Deus Soberano

Em 2 Coríntios 5.18a, o apóstolo Paulo declarou: “Tudo provém de Deus”. Ao que ele estava se referindo? Paulo estava falando sobre as verdades que dissera nos versículos 14 a 17, a respeito da nova vida em Cristo —

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. Todos os aspectos da conversão e do tornar-se uma nova criatura são realizados por um Deus soberano. É uma obra totalmente divina; somente Deus pode dar vida ao indivíduo espiritualmente morto. Somente Ele pode transformar alguém em uma nova criatura.

Em Efésios encontramos a explicação clara da soberana obra de Deus:

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados; nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Ef 2.1-5).

Depois de uma semana de rejeição intensa, enquanto compartilhávamos o evangelho bíblico em Redmond, minha equipe reuniu-se, e adoramos, e louvamos a Deus por nos ter mostrado a dureza do coração humano. Não podemos remover o coração de pedra de uma pessoa e substituí-lo por um coração de carne. É bom recordarmos que somos totalmente dependentes de Deus no que se refere à obra de salvação. Cem por cento dessa obra é uma realização divina.

Essa foi a verdade que motivou William Carey, quando ele trabalhou em seu difícil campo missionário na Índia.

“Quando eu deixei a Inglaterra, minha esperança a res- peito da conversão da Índia era muito forte; porém, em meio a tantos obstáculos, ela desapareceria,se não fosse sustentada por Deus. Bem, eu tenho a Deus, e sua Palavra é verdadeira. Embora as superstições dos pagãos da Índia fossem mil vezes mais fortes do que eles mesmos, e o exemplo dos europeus que ali residem fosse mil vezes pior; embora eu tivesse sido abandonado e perseguido por todos, a minha fé, fundamentada na Palavra segura, podia elevar-se acima de todos os obstáculos e vencer todas as provações. A causa de Deus triunfará.”

A causa de Deus triunfará! Ele salvará o seu povo dos seus pecados. Não importa a situação, as circunstâncias ou a oposição, Deus chamará o seu povo de cada tribo, língua e nação, para serem novas criaturas em Cristo Jesus. “Tudo provém de Deus” (2 Co 5.18). A salvação é uma obra do Deus soberano.

Deus Está Realizando a sua Obra

O apóstolo Paulo prosseguiu, afirmando: “Que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo” (2 Co 5.18b). A palavra traduzida por “reconciliou” significa “trocar” ou “tomar inimigos e transformá-los em amigos”. Isso significa a remoção, em Jesus Cristo, da inimizade de Deus para com pecadores culpados. Em Efésios 2.3, observamos que o incrédulo é por natureza “filho da ira”. No entanto, em Efésios 2.10, essa mesma pessoa, depois de salva pela graça de Deus, em Cristo Jesus, torna-se “feitura” de Deus, ou seja, “obra de arte de Deus” (a principal obra de Deus). A mesma pessoa que era um objeto da ira de Deus se torna uma eterna demonstração da misericórdia de Deus e um filho adotivo dEle.

Se você é um crente, sua vida testifica que um Deus soberano está realizando sua obra de salvar pecadores culpados, por inter- médio de seu Filho. Para você essa não é uma proposição genérica; é uma realidade pessoal. Você era um pecador rebelde, um inimigo de Deus, que se encontrava sob a ira dEle; mas você foi reconciliado com Ele, por inter- médio de Jesus Cristo.

Em dias recentes, tive o privilégio de compartilhar as boas novas do evangelho de Jesus Cristo com uma moça que nada conhecia sobre o cristianismo. A Bíblia era completamente desconhecida para aquela moça, que nada sabia a respeito da realidade de Deus. Gastamos várias horas compartilhando as Escrituras, e ela me fez muitas perguntas boas. Chegamos ao ponto em que ela olhou para mim e disse: “Eu vou para o inferno, mas desejo saber como ser salva”. Depois de conversarmos um pouco mais, ela professou a sua fé em Jesus Cristo e suplicou que Deus tivesse misericórdia de sua alma. Dei- lhe uma Bíblia, e a primeira coisa que aquela moça me disse foi: “Compartilharei essas coisas com meu marido hoje à noite”. No ano passado, uma senhora classificou como seita a nossa igreja e recusou-se a permitir que seu filho viesse aos cultos. Começamos a orar por sua salvação; um ano depois desse acontecimento, ela foi batizada, proclamando a sua fé em Jesus Cristo. De maneira inacreditável, Deus está em atividade no mundo. Um dos maiores avanços na história da Igreja está ocorrendo hoje na China, embora sob perseguição intensa. A salvação é uma obra do Deus soberano; e Ele está realizando essa obra.

Somos Ordenados a nos Unirmos a Ele Demonstrando Paixão Pelas Almas

O final do versículo nos mostra que o Deus soberano, quando nos salvou, nos entregou algo para que o façamos — “E nos deu o ministério da reconciliação” (2 Co 5.18c). Se você é um crente, isso significa que você tem esse ministério! É o ministério de proclamar a um mundo que necessita desesperadamente ser reconciliado com Deus; é o ministério de proclamar que Deus nos proporcionou um caminho de reconciliação na pessoa de seu Filho; é o ministério de ser arauto do evangelho de Jesus Cristo. Somos um povo que tem o “ministério de reconciliação”.

No versículo 19, Paulo esclarece qual é a mensagem que os ministros da reconciliação proclamam: “Que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”. Deus tem propósitos globais para a reconciliação, propósitos que se estendem a cada tribo, língua e nação. O apóstolo prosseguiu afirmando o que Deus está fazendo entre os povos do mundo — “Não imputando [ou seja, ‘levando em conta, atribuindo, creditando’] aos homens [ou seja, contra os homens] as suas transgressões”. Que gloriosa realidade e poderosa mensagem de misericórdia temos a pregar para um mundo perdido, rebelde e pecaminoso! “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado” (Rm 4.8; ver também Sl 32.2). Ainda, no final do versículo 19, Paulo reafirma o ministério que todo crente possui, quando ele escreveu: “E nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5.19). Nesse versículo, Paulo utilizou um vocábulo grego que transmite a idéia de uma “palavra” segura e verdadeira. Em outros termos, Deus nos confiou [a nós crentes] a mensagem segura da reconciliação.

Por que Ele nos confiou essa palavra da reconciliação? “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo” (2 Co 5.20). Literalmente, esse versículo poderia ser lido: “Em favor de Cristo, somos embaixadores”. Um embaixador é um representante ou alguém que representa um soberano. Por exemplo, um embaixador brasileiro representa o Brasil em um país estrangeiro. Um embaixador fala e age em favor de seu país. Somos embaixadores para nosso soberano Rei, Jesus Cristo. Temos de falar e agir em favor dEle.

O versículo 20 também esclarece o que fazemos como embaixadores: “Como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos [imploramos] que vos re- concilieis com Deus”. A expressão “vos reconcilieis” é uma ordem de urgência ou uma ordem de apelo. A ordem destacada aqui é vitalmente importante e exige resposta determinada ante a apresentação da mensagem! Então, o versículo 21 declara a grande notícia, a razão por que o pecador tem de ser reconciliado com o Deus santo — “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. O motivo é a grande transação — na cruz, Deus tratou Jesus como se Ele mesmo houvesse cometido todos os pecados em lugar de toda pessoa que creria nEle; e Deus considerou os crentes como pessoas que viveram a vida perfeita do Senhor Jesus.

Qual foi a última ocasião em que você exortou alguém a respeito de sua alma? Qual foi a última vez em que você rogou a alguém que se reconciliasse com Deus? Qual foi a última vez em que você insistiu, com intenso desejo, com alguém para que confiasse em Cristo e fosse salvo? Algumas igrejas e alguns crentes que enfatizam a soberania de Deus recuariam diante dessa idéia. Eles diriam: “Nós cremos que Deus é soberano; portanto, não rogamos, não imploramos”. O problema desses irmãos é Deus e sua perfeita Palavra. Se o apóstolo Paulo exortava os homens, você e eu deveríamos seguir esse mesmo procedimento. Afinal, Paulo insistiu conosco para que façamos isso, “como se Deus exortasse por nosso intermédio” (v.20).

Eu gostaria de sugerir a esses irmãos que seria arrogância para eles imaginarem que são mais comprometidos com a absoluta soberania de Deus na salvação do que o apóstolo Paulo (ver Rm 8-9 e Ef 1). Paulo rogava pela salvação das almas dos homens e nos convoca a fazer o mesmo como embaixadores de Cristo. Deus nos ordena a nos unirmos a Ele, com paixão pelas almas, na obra de reunir seu povo de cada tribo, cada língua e cada nação. Deus não somente estabelece o propósito da salvação (Ele salvará seu povo), mas também ordena os meios de salvação (a ardorosa proclamação do evangelho por meio de seus embaixadores).

Essa obra exige certo comprometimento, porque ela lida com realidades eternas — vida eterna e morte eterna. Não podemos testemunhar do evangelho de forma fria e distante, testemunhos que simplesmente apresentam os fatos do evangelho e permanecem sem afeição. Somos embaixadores que representam a Cristo e devemos dar nossas próprias vidas em favor da obra de implorar, rogar, suplicar e exortar os perdidos a se reconciliarem com Deus. Nas palavras de Charles Haddon Spurgeon: “Se os pecadores serão condenados, que eles o sejam pelo menos passando por cima de nossos corpos. Se os pecadores hão de perecer, que eles o façam pelo menos tendo os nossos braços a agarrar-lhes os joelhos, implorando que fiquem. Se o inferno tem de ser cheio, que o seja pelo menos contra o vigor de nossos esforços, e não permitamos que ninguém vá para o inferno sem que o tenhamos advertido e por ele tenhamos orado”.

Exceto os escritores inspirados da Bíblia, talvez nenhuma outra pessoa ecoou o aviso a respeito da necessidade de termos paixão pelas almas com mais clareza do que o grande pregador Horatius Bonar. Ele, que era um homem absolutamente compro-metido com as doutrinas da soberana graça de Deus, escreveu essas palavras:

“A pergunta que cada um de nós tem de responder à sua própria consciência é esta: o objetivo de meu ministério e o desejo de meu coração têm sido ver os perdidos salvos? Estou vivendo, andando e falando continuamente sob a influência desse sentimento? Estou trabalhando, orando, jejuando e chorando por isso? Eu me gasto e me deixo gastar por esse objetivo, considerando minha principal alegria, juntamente com a salvação de minha alma, o ser um instrumento para a salvação de outros? É por causa disso que eu existo? Morreria alegre-mente para alcançar esse objetivo? Nada aquém de êxito positivo na obra de salvação pode satisfazer um verdadeiro ministro de Cristo. Seus planos talvez se encaminhem sem obstáculos e seu trabalho externo talvez se realize com firmeza; todavia, ele considera isso como nada, se não houver frutos reais na salvação das almas. Quando descansamos satisfeitos com a utilização dos meios para a salvação de almas, não as vendo realmente salvas; ou quando nós mesmos somos comovidos pelo fato de que almas não estão sendo salvas e, ao mesmo tempo, falamos tranqüilamente sobre deixar isso com Deus, estamos utilizando a verdade para encobrir e desculpar uma falsidade. Nossa capacidade de deixar o assunto nas mãos de Deus não é, como imaginamos, submissão profunda a Ele, e sim uma indiferença profunda para com a salvação das almas com as quais trabalhamos. Não, essa atitude não é real-mente submissão a Deus; se estamos realmente comprometidos com esse objetivo, ou nosso coração alcançará tal objetivo, ou se despedaçará por não consegui-lo. Aquele que salvou almas nos ensinou a chorar pelos não-salvos. Senhor, que exista em nós a mesma mentalidade que houve em Ti! Dá-nos lágrimas para chorar; pois nossos corações, Senhor, estão endurecidos para com nosso próximo. Podemos ver milhões de pessoas perecendo ao nosso re- dor, e nosso sono nunca se perturba. Nenhuma visão da terrível condenação delas jamais nos apavora; nenhum clamor de suas almas perdidas jamais transforma nossa paz em inquietude… pois a condenação de uma só alma está além de qualquer concepção. Os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, nem jamais penetrou no coração humano o que uma alma no inferno sofrerá para sempre. Ó Senhor, concede-nos profundos sentimentos de misericórdia! Que mistério! A alma e a eternidade de um homem dependem da voz de outro homem!”

Disponham-se, embaixadores de Cristo! Nunca esqueçam que a salvação é uma obra completamente do Deus soberano. Encorajem-se no fato de que Deus está realizando a sua obra e reunindo seu povo, de cada tribo, língua e nação. Lembre-se: nós temos a verdadeira Palavra de Deus que não voltará vazia e fará toda a vontade aprazível de Deus (Is 55.11). Que essas realidades nos impulsionem, quando compreendemos que somos convocados a nos unirmos a Ele com toda a compaixão, e gastemos nossas vidas exortando os homens a respeito de suas almas, na presença de um Deus soberano!


Autor: David E. Prince

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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