sábado, 14 de dezembro
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Enquanto eles ainda são pequenos

Algumas orientações para pais sobre televisão, computador, games e facebook.

Muitos pais me perguntam sobre “qual é a idade certa” para seus filhos terem acesso a games, programas de televisão, facebook, etc. Eu procuro responder que não existe uma idade certa, mas sim uma atitude certa dos pais para com tudo isso.

Vivemos em uma sociedade massacrante, na qual televisão, games e facebook acabam sendo um grande escape para pais, que, pelo menos, têm os seus filhos em casa e entretidos, quando estão atuando em seus locais de trabalho, ou quando trazem trabalho para resolver em casa (infelizmente) e os seus filhos continuam entretidos com tudo isso, mas em casa, deixando-os pelo menos trabalhar em paz. Mas, PAZ? Terá mesmo paz, pais que agem dessa forma? Pais que pensam assim?

Creio que a Primeira Infância é muito importante para a criança com relação aos seus pais: aproximação, segurança, confiança, autoridade e proteção. Tudo isso, vejo como presente de Deus aos pais para começarem a conquistar seus filhos, quando estes ainda são pequenos e por toda e para toda a vida. A primeira parte da considerada ‘Primeira Infância1 ‘é até fácil, do ponto de vista dos desafios da criação: fixemos por um pouco naquela ‘idade do bebê’. Muitos pais não têm dificuldades com isso, de tomar tempo, dedicar tempo, carinho, amor a uma criança nesta fase da primeira infância, por motivos que vão desde a linda e querida novidade (afinal, quem não gosta de ter um bebê em casa?) até as pequenas coisas de um bebê que encantam, como um sorriso ‘que vale o dia’ e o balbuciar das primeiras palavrinhas e sons. Bebês têm algumas questões que não exigem tanto dos pais em outras áreas: crianças de colo não falam [tanto] ainda (e por conseguinte, não perguntam); não andam (e exigem a sua companhia todo o tempo, para não cair, para não meter o dedo na tomada…), ainda não ligam para games e televisão (por eles, que ainda não sabem o que é isso, a tv pode passar o dia todo desligada). E bebês dormem bastante (um momento de descanso e até de alívio para os pais). Nesta fase da primeira infância, eu diria: os bebês não dão ‘problemas eletrônicos e tecnológicos’. E neste quesito, obedecem muito bem. Vocês podem desligar a tv a qual estiverem assistindo (até a famosa Galinha Pintadinha, por exemplo) e substituí-la por uma banana lambuzada em um pouco de mel. Se vocês pais fizerem “aquele estardalhaço” para atrair a atenção da criança de seus um ano e seis meses, para a banana lambuzada em mel, esta ‘nova e curiosa atração’ poderá até ganhar da galinha pintadinha. Nunca fiz este ‘teste’ (até porque não tenho mais bebês em casa), mas desconfio que a banana lambuzada em mel seja um páreo duro para a Galinha Pintadinha.

O tempo passa muito rápido…

Mas tem, pelo menos, duas coisas que os pais de bebês esquecem, ainda dentro da janela da primeira infância: uma, é que bebês crescem e progridem nas suas vontades pessoais (e algumas são bem fortes!). Outra, é que bananas lambuzadas em mel enjoam. A Galinha Pintadinha atrai! É no início da segunda fase da primeira infância (2 e meio, 03 anos…), quando o seu menino, a sua menina, não é mais ‘tão bebê”, que começará a perceber rapidamente que tem um mundo fascinante de cores, luzes, cliques, que abrem a janela para o mundo inteiro! E aí, não tem banana lambuzada em mel que consiga frear este avanço ou desviar a sua atenção. Só quem consegue controlar bem são os pais. Por isso, algumas dicas LOGO CEDO para pais que não querem ver seus filhos contaminados e até viciados em eletrônicos pelo resto da vida. Creio firmemente que aquilo que a criança aprender, ela levará consigo pelo resto da vida (Pv 22.6). Então, vamos lá. Vamos a algumas dicas simples e práticas que, se bem conduzidas, poderão servir de princípios e valores para os seus filhos.

1. Não deixem as crianças expostas à tv. Com o advento da tv a cabo, existem hoje canais 24 horas dedicados às crianças e especializados em atraí-las e entretê-las, isto sem falar na vasta programação em outros canais mistos, que procuram ter a atenção de crianças de todas as idades. Ou seja: a exposição é grande, o aceso é fácil, mas também, as propostas são muitas, deformantes e tantas delas são mesmo cruéis. E o que o seu filho recebe logo cedo, ele não filtra. Engole. E aí, o que lhe passam, tantas vezes, não é mesmo saudável e deforma. Deforma o corpo, a mente e até o caráter. Será a vez do que eu chamaria, infelizmente, do “lixo com mel”. Sua criança brasileira é uma das mais expostas à tv no mundo, sabia?! A Eurodata TV Worldwide2(Francesa) fez uma pesquisa e constatou que a criança brasileira passa, em média, 3 horas e 31 minutos por dia na frente de um aparelho de televisão. As crianças de hoje estão crescendo vítimas (não encontro outra palavra) de uma exposição ao consumo em massa. E o que isto poderá acarretar? Entre outras coisas, a insaciabilidade e o egoísmo que busca satisfação, dominando a mente de uma pessoa ainda tão jovem. Isso porque, a cultura do consumidor desses dias modernos [demais] tornou-se impessoal, no sentido de que as mercadorias são produzidas para um mercado de massa e não para indivíduos específicos, e também porque é universal, pois, em princípio, todos nós somos livres e iguais e podemos adquirir o que quisermos, conquanto sejamos levados a “ter que adquirir” tudo o que eles divulgarem, pois isto tornou-se caráter e consciência universal: “todos [na escola] têm, eu tenho que ter. Todos [na escola] são, eu tenho que ser”.

Nesta onda do consumismo moderno, procura-se mais a gratificação da emoção e do desejo do que a satisfação de suas necessidades. Acredita-se no caráter individualista, em que os indivíduos decidem por si mesmos que bens e serviços desejam obter, e se conseguirem cativar uma mente infantil para este rumo, então, haverá mais um consumidor voraz na praça. Para tal consumidor, a insaciabilidade dos consumidores que caracteriza esta sociedade será a sua marca também. Assim, quando um desejo ou uma “necessidade” é satisfeita, outra “necessidade” já se achará à sua espera. A permanência de um sentimento de insatisfação e de um “eterno querer mais”; a existência de uma insaciabilidade para com novos produtos poderá agarrar a mente do seu filho, distorcê-la e não largar mais. Nestes nossos dias, a atividade fundamental do consumo não é a seleção, a compra ou o uso dos produtos, mas a procura do prazer imaginativo a que a imagem do produto empresta, sendo o consumo verdadeiro, em grande parte, um resultado desse hedonismo da mente: só serei feliz se tiver!

Então, enquanto os seus filhos ainda são pequenos… a) regulem bem a tv em sua casa. Que o controle do aparelho esteja na sua mão, pai/mãe, porque no dia que o controle remoto for parar na mão da criança, ela não largará e não entregará mais, a não ser com muito custo e brigas. DETERMINEM os programas e a quantidade dos mesmos que o seu filho poderá assistir. Lembrem-se: desde a fase do bebê que a autoridade na sua casa é de vocês. Não percam este privilégio e esta oportunidade de educarem bem uma vida. E por causa disso (da perda da sua autoridade), vocês também darão contas a Deus. b) tv só depois do dever. Ou seja: que a criança brinque, pinte, desenhe, brinque com a boneca (menina), com os carrinhos (menino)… tudo bem, mas deverá fazer toda a tarefa de casa antes. E depois vem a TV, os desenhos e programas que vocês já devem combinar bem com as crianças quais e quantos seriam. Modernos aparelhos de tv têm como gravar, então, a criança não perderá o programa. Também, muitos lares têm aparelhos de DVD que gravam. No máximo (caso não disponham desses recursos tecnológicos) que a criança assista só àquele episódio ou período, e depois a tv é desligada e as obrigações que eles devem ter são continuadas e cumpridas. E se não for assim, se não houver sadia correspondência da parte da criança, que se perca a tv. “Quem obedece ganha. Quem desobedece, perde”. Esta é uma das regras daqui de casa desde o tempo em que as meninas eram bebês. E elas aprenderam bem.

2. Games (já para quando eles forem maiorzinhos). O mesmo princípio: a)estipulem, vocês pais, horários e tempo de jogos. b) vão à loja comprar o game com eles e procurem saber de tudo o que for possível sobre o game. Se julgarem que não é bom (veja, 1 Co 6.12; 10.23), ou seja, se for dominar o seu filho, ou se não edificar, não comprem. A moda de um game passa. Já as deformações que ele poderá causar no seu filho, ficam. Então, se o seu filho confia em vocês e sabe que vocês querem o melhor para ele (sim, que ele saiba disso por demonstrações de cuidado, carinho e conversas), ele entenderá. c) pesquisem sobre o game. Entrem na internet, acessem via Google tudo o que puderem sobre o tal jogo. Avaliem por ali. d) peçam informações a um adolescente ou jovem que conhece o game e vá colhendo e tirando conclusões. e) joguem com ele ou acompanhem as sessões e fases do jogo. f) estipulem quantos games vocês terão em casa. Assim, ele mesmo terá que selecionar bem, pois as escolhas são muitas, mas o resultado final para ele será limitado a um certo número.

3. Internet e computador – Também o mesmo princípio. a) estipulem horários e que estes horários estejam de acordo com todo o tempo que eles têm para: ver tv, jogar games e navegar na internet. b) nada de computador no quarto do filho! Nada! Computador em sua casa deve ser uma peça de pesquisas e ferramenta de auxílio, então, deixem o mesmo em local central e bem visível. Em dias modernos [demais], tudo o que não presta entra via internet, então, quanto menos chance você der a um bandido que poderá tentar seduzir os seus filhos, ou mesmo a ação de pessoas com mentes ímpias de tentarem influenciá-los por maus caminhos e costumes, melhor para todos da sua família que isto seja imediatamente percebido3c) coloquem, vocês pais, a senha no computador da casa. Não abram mão disso. Assim, quando o seu filho quiser navegar um pouco, terá que pedir a sua presença para ‘abrir’ o computador. Aos filhos que já são maiores (adolescentes, por exemplo) e que já dominam bem o assunto, afirmo que eles têm a obrigação de falar a senha pessoal para os seus pais. d) examinem sempre o histórico de navegação dos seus filhos. Sempre. Não é desconfiança. É cuidado e proteção.

4. Facebook e outras redes sociais – Também incentivaria os mesmos princípios para o uso da internet. Se eles já tiverem idade para terem acesso a estas redes (porque, há idade legal para tanto. Criança não pode e nem deve, pelas leis), que vocês pais também tenham uma página nas mesmas redes sociais e que os seus filhos os adicionem como participantes. Só dessa maneira e pronto. Assim, vocês poderão ver bem o que se passa e também quem são os amigos dos seus filhos e o que estes falam. Na abertura deste texto, escrevi a palavra “pequenos”, utilizando-me de um símbolo famoso no facebook, que é o de “curtir”. O fiz, invertendo o mesmo para que parecesse com a letra “P”. Mas ao mesmo tempo, quero dizer: o facebook só tem “curtir”. Mas tem muita coisa lá, como nas demais redes sociais e na internet, que não dá mesmo para curtir. Que os nossos filhos, aprendendo conosco desde pequenos as diretrizes, bases, valores e conceitos ao longo da jornada, sejam eles mesmos os que irão dizer: “poxa, não dá para curtir isso, não é o que eu aprendi com os meus pais. Desligo ou deleto”.

Poxa, pastor! Quantas coisas e quantas limitações, não? Sim, reconheço. Mas, em um mundo que vai se tornando cada vez mais pós-cristão e cada vez mais anticristão, que desdenha da Palavra de Deus, eu não vejo outro meio de salvaguardar a mente dos nossos filhos, que estão crescendo neste mundo mau e recheado de facilidades para o mal, que a clara apresentação de regras e limites. E se as regras, os limites e o acompanhamento sadio ocorrerem logo cedo e desde sempre, os seus filhos crescerão se acostumando com tudo isso. E sempre irão acreditar no amor e no cuidado de seus pais por eles, porque ouvirão as regras, crescerão com elas e verão que as mesmas são acompanhadas e mantidas com bom discernimento e equilíbrio (dos pais), manifestadas em santa e boa coerência quanto ao seu desenvolvimento e cumprimento (dos filhos). E, uma vez aprendidas lições, a própria criança perceberá isto e se contentará: o meu pai e a minha mãe me amam e cuidam de mim. Que seja isto que os nossos filhos levem pelo resto de suas vidas.

Notas:

1 – Estudiosos consideram a “Primeira Infância” a fase que vai desde a concepção até os 5,6 anos de vida.
2 – Fontes: http://jus.com.br e: http://www.ufscar.br/rua/site/?p=2510
3 – A cada 15 segundos, no Brasil, uma criança é abusada sexualmente.


Autor: Jader Borges

Jader Borges é pastor presbiteriano na cidade de São José dos Campos, SP, e secretário geral do Trabalho com a Infância na Igreja Presbiteriana Brasileira. Estudou no seminário do Recife e na Theologisches Seminar Ewersbach, na Alemanha. Promove o congresso infantil Primeiros Passos.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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