O texto abaixo foi extraído do livro Lutando Contra Satanás, de Joel Beeke, lançamento da Editora Fiel.
Tratarei aqui de responder três perguntas: Primeiro, o que significa estratégias, artimanhas, e outros termos relacionados? Segundo, por que Satanás é tão hábil em nos tentar? Terceiro, quais algumas das principais estratégias e artimanhas de Satanás, e quais as soluções que Deus provê para nós na luta contra ele?
Entendendo os termos estratégias e artifícios
Durante certo tempo, minha família experimentou a presença de um número desconhecido de outras famílias morando conosco — quer dizer, famílias de camundongos. Minha esposa e eu encaramos o fato com relativa calma e racionalidade. Estabelecemos quatro círculos concêntricos. Primeiro, o círculo mais externo era nosso alvo: remover todos os camundongos do nosso lar. O círculo concêntrico, um pouco menor, era nossa estratégia ou plano: conseguir uma variedade de armadilhas para pegar os camundongos. Durante este ataque, nossa casa estava abarrotada de ratoeiras, armadilhas de estalo, armadilhas de veneno e de cola. Um terceiro círculo, mais focado, nos conclamava a utilizarmos uma variedade de artimanhas, ou iscas, que iam desde queijo até creme de amendoim, para pegar os camundongos e seduzi-los a cair na cilada da nossa estratégia. Finalmente, o círculo mais interior consistia de remédios ou soluções: levar para fora os camundongos mortos pelas ratoeiras e descarta-los; carregar os ratos pegos, mas que continuavam vivos, e matá-los (minha abordagem menos preferida, pois me esquivo de matar qualquer coisa); ou dispor dos restos mortos dos camundongos que foram envenenados, se e quando eles fossem encontrados (a abordagem menos preferida de minha esposa, que detestava a ideia de ratos mortos não achados, ficando pela casa).
Satanás nos trata como esses camundongos, exceto que em sua missão de quatro círculos concêntricos é mais complexo. O seu maior círculo de alvos (chamados também de propósitos ou objetivos), é projetado para ferir a glória de Deus no mínimo de quatro maneiras:
(1) destruir-nos porque somos portadores da imagem de Deus,
(2) usurpar o reino de Deus,
(3) manter controle sobre tudo que ele ainda possui, e
(4) recuperar seu território perdido.
Esses alvos já foram tratados de alguma forma, e assim, não vamos nos aprofundar mais neles agora; queremos focalizar melhor neste capítulo.
O segundo círculo, um tanto menor, representa as estratégias ou planos de Satanás. O termo estratégia refere-se à ciência de comando de general, ou liderar um exército. É um termo que engloba tudo, mas pode também ser usado com relação a planos ou armadilhas específicas para uma campanha ou guerra. Satanás tem muitas armadilhas, incluindo de estalo, veneno e grude. Nesta seção do livro, vamos olhar de perto quatro entre suas muitas estratégias: Satanás procura nos atrair ao pecado, impedir nossas disciplinas espirituais, apresentar distorcidamente a Deus e a verdade, e atrapalhar nossa santificação.
O terceiro círculo, mais focado, são as artimanhas com as quais Satanás desempenha as suas estratégias e seus alvos. O termo artimanhas (grego: noema) sugere os pensamentos e atos envolvendo uma pessoa, tais como as emboscadas na guerra, movimentos fingidos em um esporte, ou falácias num debate. Em 2 Coríntios 2.11, Paulo oferece direção à igreja de Corinto no tratar de uma pessoa incestuosa “para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios”. Paulo os adverte a não deixar que Satanás tire vantagem sobre eles, fazendo com que sejam tão zelosos contra o pecado daquela pessoa que cometeu incesto a ponto de rejeitar o seu arrependimento sincero. Isso faria esse lar ser tão dominado pela tristeza que Satanás os teria feito de bobos.
Paulo não era ignorante da estratégia de Satanás de destruir a igreja de Corinto. A primeira artimanha de Satanás era encorajar lassidão de disciplina, de modo que toda espécie de desordem acontecesse, como vemos em 1 Coríntios. Quando a igreja se arrependeu, a próxima artimanha de Satanás foi promover um tipo de disciplina dura e sem misericórdia na igreja. O tempo todo, Satanás tinha a mesma estratégia, mas utilizava diferentes artimanhas. Paulo adverte contra o abuso de disciplina na igreja, para que Satanás não realize sua estratégia na igreja de Corinto. O termo artimanhas tem vários sinônimos, e estes três são os mais importantes. Um dos sinônimos bíblicos é ciladas, do grego methodeia, fonte da palavra método. Ambas as suas ocorrências no Novo Testamento estão em Efésios (4.14; 6.11) e indicam um método negativo, astuto que envolve desenvolvimento de esquemas astutos. Algumas traduções de Efésios 6.11 usam “os estratagemas do diabo” em vez de “ciladas do diabo”. Outro sinônimo, estratagema, é apenas uma parte de um plano ou uma estratégia; refere a um truque sujo ou engodo que sempre inclui engano. Daí, artimanhas, engodos, esquemas e estratagemas carregam o mesmo significado. Finalmente, o círculo mais interior é dos remédios ou soluções. Aqui acaba a minha analogia dos ratos, porque nós temos que ser mais sabidos do que Satanás, implementando as soluções bíblicas que Deus provê, para que Satanás não nos leve para o inferno para nos destruir para sempre.
Queremos agora enfocar os círculos internos das estratégias e artimanhas de Satanás, bem como as suas soluções. William Spurstowe nos adverte: “Satanás está cheio de artimanhas, e estuda as artes da circunvenção, pelas quais ele procura incansavelmente conseguir a ruína irreparável das almas dos homens”. É imprescindível o líder militar conhecer as estratégias e artimanhas de um inimigo na guerra. Do mesmo modo, é essencial aos verdadeiros cristãos conhecer seu inimigo Satanás, bem como seus métodos de batalha. Temos de estudar as estratégias e artimanhas que Satanás usa nos dias de hoje, para pensarmos e agirmos conforme as soluções de Deus encontradas na Escritura.