Esta é segunda e última parte da série de blogs, sobre a questão da sabedoria e aconselhamento. Na primeira parte, pensamos sobre quem é a fonte de nossa sabedoria, se você ainda não a leu, clique aqui para ler.
Todos nós sabemos em quem devemos confiar e de onde vem a fonte de nossa sabedoria, mas podemos facilmente cair em algumas armadilhas com as quais lutamos e para as quais precisamos olhar:
1. Sábios aos nossos próprios olhos
Nós não fomos criados para sermos sábios desconectados e desapegados de Deus, mas ainda assim, tentamos! Achamos que podemos governar nosso próprio mundo, pensamos que somos soberanos. Como seres humanos, tentamos de todas as formas possíveis obter sabedoria fora de Deus: o mais recente livro de autoajuda, regras legalistas, programas de relacionamento, programas de bate-papo e aconselhamento pela TV, “coaches de vida”, fóruns na Internet, Google, etc. A lista é infinita. Outro dia passei um tempo com alguém que me dizia estar doente, então eu perguntei: “Você não está se consultando com o Dr. Google, está?” Acontece que ele não só estava, como também desconsiderando o conselho do seu médico em favor da sua própria solução de internet. Eu não estou dizendo que essas coisas não possam ter algo de útil para nós, mas elas não nos tornam especialistas ou sábios. Quando se trata de lidar com a vida de pessoas precisamos ajudá-las a reconhecer as atitudes pelas quais estão sendo sábias a seus próprios olhos, o quanto são tolas por causa de seus pecados e, então, direcioná-las a Jesus em oração e arrependimento.
2. O tolo substitui Deus por ídolos
“Sempre que o aconselhamento esquece os ídolos do coração e se concentra apenas em problemas humanos horizontais, como necessidades e dificuldades, o próprio aconselhamento torna-se parte do problema e não da solução”. (Paul Tripp, “Wisdom in Counseling”, p. 8).
Somos idólatras, continuamente seguindo, servindo ou sendo governados por insignificantes deuses substitutos, o que pode ter consequências eternas. Somos enganados por acreditarmos que nossos falsos ídolos podem nos satisfazer, o que, na realidade, nunca poderão. Na verdade, acho que eles nos deixam sempre querendo mais, uma satisfação que não pode satisfazer.
“pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. (Tg 4. 3-4).
Você é esse tipo de pessoa, comprando a falsidade dos ídolos em vez de Deus? O que é mais importante para você do que a Deus? O que é que você ama tão excessivamente que precisa se arrepender?
3. Fé, não um programa legalista
“O legalismo, ao rejeitar a graça, ergue um padrão humano meia-boca, o qual que eu consigo manter.” (Paul Tripp, “Wisdom in Counseling”, p.12).
Às vezes, nossas soluções são inúteis. Não são apenas nossos pecados e provações que causam problemas, às vezes o que fazemos a respeito deles também pode ser um problema para nós. Eu estou pensando mais especificamente em nosso hábito de criar um monte de regras para nos ajudar a lidar com os problemas, trocando idolatria por legalismo, tentamos preencher a lacuna com um monte de regras, em vez de buscar uma verdadeira mudança de coração. Ouça bem, não estou dizendo que alguns bons hábitos úteis não possam ser parte da solução, mas eles sozinhos não são a resposta completa. Por exemplo, se o seu tempo devocional estiver horrível e seu relacionamento com Deus parecer distante, a autodisciplina de ler a Bíblia diariamente o ajudará a criar um hábito útil, no entanto, isso não poderá resolver e restaurar seu relacionamento com o Senhor se você estiver meramente assinalando a passagem em seu plano de leitura diária, para resolver o problema você precisa não somente ler, mas aplicar a Palavra à sua vida.
4. Chegue ao cerne da questão
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá”? (Jr 17.9)
“A loucura vive em nosso comportamento porque primeiro vive em nossos corações”. (Paul Tripp, “Wisdom in Counseling”, p.7).
O coração é o problema. Precisamos chegar ao cerne da questão e fazemos isso ensinando consistentemente a Palavra de Deus e quem é Jesus.
O principal ministério de Jesus para com seus discípulos era ensiná-los sobre si mesmo. Ele ensinou-lhes a Palavra, como era o Reino de Deus, ensinou quem ele mesmo era e por que tinha vindo. Ele deu a seus discípulos coisas difíceis para pensar, ele fritava seus neurônios, ele não evitava coisas difíceis de digerir, ele os amava o suficiente para lhes fazer perguntas difíceis, dolorosas e desafiadoras que chegavam ao âmago do que realmente estava acontecendo. Nós precisamos seguir seu exemplo.
5. Submeta-se e confie no Senhor
Eu acho o GPS uma grande invenção, e ele me ensinou uma lição muito simples mas eficaz sobre submissão e confiança. Depois que você insere o endereço e o GPS calcula a rota, a “Sally” (é assim que chamo o meu) começa a lhe dizer para onde ir, então, se você quiser chegar ao seu destino, tudo o que precisa fazer é seguir as instruções, confiar que o mapa do computador está correto e finalmente ouvir: “você chegou ao seu destino”. Os problemas ocorrem quando eu acho que conheço melhor o caminho, não confio no computador e acabo perdida e longe da minha rota, então, tenho que engolir meu orgulho admitindo que não sei onde estou, e fazer o que a “Sally” está me dizendo, quando faço isso consigo chegar ao meu destino. É praticamente o mesmo com a vida, quando pensamos que sabemos melhor e não confiamos em Deus e na sua Palavra, acabamos perdidos a quilômetros de distância de onde deveríamos estar, precisamos lembrar que ele sabe tudo e sabe melhor, precisamos confiar nele e obedecê-lo se quisermos alcançar nosso destino eterno.
“A chave para a sabedoria não é saber tudo o que Deus sabe, memorizar toda a Bíblia, dominar a teologia ou adivinhar a vontade secreta de Deus para que eu possa entendê-lo e saber o que ele fará em seguida. A chave para a sabedoria é, antes, uma confiança ativa, prática e funcional em Cristo. As pessoas sábias confiam a Cristo tudo o que fazem: trabalho, casamento e compreensão de sua própria identidade”. (Paul Tripp, “Wisdom in Counseling”, p.10).
Não podemos entender a vida sem Cristo, simples assim, no entanto, por alguma razão idiota, pecaminosa e inútil, todos nós ainda tentamos olhar para as lutas da vida através de muitas coisas, menos pelas lentes de Cristo e ainda nos perguntamos por que temos uma visão distorcida do que está acontecendo. Nós precisamos da sabedoria de Deus, precisamos nos submeter a ela pois sem isso nós somos e sempre seremos tolos.
6. Veja com quem você fala – observando o sábio conselho
Sou uma pessoa bastante reservada; eu não confio e não compartilho minha intimidade com qualquer um, nem todo mundo é confiável, nem todo mundo é prestativo e nem todo mundo dá bons e sólidos conselhos. Há aqueles, até mesmo cristãos, que fofocam, dizem exatamente o que você quer ouvir e dão conselhos completamente inúteis e antibíblicos. O problema é que eles não andam por aí com uma placa dizendo “Falso Amigo”. Então, como você identifica alguém que possa lhe dar conselhos sábios?
“Uma boa definição de sabedoria divina seria: ouvir e cumprir a Palavra de Deus. A Palavra de Deus é uma prescrição divina para a cura definitiva de toda infelicidade. A sabedoria é o conhecimento prático de como alcançar essa felicidade. Portanto, a sabedoria é ouvir e viver a Palavra de Deus. Mas as únicas pessoas que farão isso são as pessoas que confiam humildemente em Deus, buscam o socorro nele e temem buscar felicidade em qualquer lugar. Portanto, o temor do Senhor é o princípio e a fonte de toda verdadeira sabedoria”. (John Piper, “Get Wisdom”, p. 4)
As pessoas que devemos procurar são as que:
- Confiam na Palavra de Deus: Um sábio conselheiro será alguém que não apenas ouve a Palavra, mas também a aplica à sua vida. Essas pessoas serão fiéis à Palavra de Deus, não vão distorcê-la, desviar-se ou omitir as partes das quais não gostem ou que pareçam difíceis.
- Temam ao Senhor: Temer ao Senhor é manter constantemente a consciência do que realmente significa viver sem Deus e enfrentar a eternidade sem ele (a realidade, não a mentira que dizemos a nós mesmos). Esse seria um bom tipo de cristão para se encontrar, um cristão cujo refúgio, alegria e esperança estão somente em Deus e sua mente se mantém fixa nele.
- Que sejam humildes: A pessoa humilde reconhece sua necessidade e dependência de Deus para tudo, é ensinável, aberta a mudanças, escutará e responderá aos sábios conselhos e crescerá, ela sabe que ela mesma não é a resposta, mas Cristo, e sempre aponta para ele, não apenas em suas palavras, mas também por suas ações.
- Que obedeçam: A pessoa obediente não apenas ouve a Palavra de Deus, mas também a obedece.
- Que se submetam e confiem: Essas pessoas reconhecem que Deus está no comando e confiam nele não importando as circunstâncias, confiam totalmente nele para tudo.
- Que orem: Essas pessoas oram por sabedoria para possam ver a vida com a perspectiva correta. Eles oram para que se submetam, se apeguem a Deus, amem e confiem corretamente nele. Você sabe que eles estarão levando você e suas lutas ao Senhor.
O que uma pessoa que está em lutas precisa? Precisa de Cristo – não temos nada para trazer para a mesa a não ser ele. Para citar um verso da música “How Deep the Father’s Love for Us” [Quão profundo o amor do Pai por nós] de Stuart Townend:
“Eu não vou gloriar-me em coisa alguma.
Nem em dons, nem poder, nem sabedoria;
Mas me gloriarei em Jesus Cristo,
Em sua morte e ressurreição”.
Uma pessoa que está envolvida em lutas precisa de Cristo porque somente ele conhece e entende tudo, ele é a própria definição de sabedoria. Eles precisam de seu perdão, libertação, restauração, poder, reconciliação e graça. Às vezes as palavras parecem insignificantes em comparação com a profundidade da dor manifestada pelas pessoas, pensamos que não há nada que possa tirar a tristeza e podemos facilmente duvidar da suficiência de Cristo nesses momentos. Mas a graça de Cristo trará a cura, consolará, fortalecerá, restabelecerá, reconciliará e capacitará essa pessoa a perseverar até o fim.
A atitude mais sábia que podemos tomar é apontá-los para o seu Salvador.
Apêndice:
Paul Tripp. Wisdom in Counseling. The Journal of Biblical Counselling, Volume 19, Number 2. Winter 2001.
John Piper. Get Wisdom. Desiring God. May 1981. www.desiringgod.org/messages/get-wisdom
Paul David Tripp and Timothy S. Lane. Instruments in the Redeemer’s Hands: How to Help Others Change. DVD Seminars. CCEF. New Growth Press. ISBN: 978-1-936768-31-8
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Vinicius Musselman Pimentel.
Original: Dumb Yet Dumber, or Smart Yet Wise 2/2.